meu cérebro em ebulição
e as palavras se formando como bolhas
subindo à superfície
pra explodir
e se perder na atmosfera
sem nem saber
o que
pensei.
sábado, 23 de março de 2013
terça-feira, 12 de março de 2013
terça-feira, 5 de março de 2013
sábado, 2 de março de 2013
Servidão
Ele fumava um charuto fedorento que adensava em fumaça roxa a atmosfera do escritório escuro, sentado como um rei no seu trono de couro. Mamava aquilo fazendo barulhos de criança chupando mamilo de plástico, uma mamadeira de fumo cubano. Um homem grandemente baixo e careca, parecendo um porco bem nutrido. Eu, sem me sentar havia muito tempo, segurava um monte de arquivos e relatórios e apresentava uma dívida. A dívida era dum cliente que ganhou um processo judiciário, no qual ele suga a herança da ex mulher numa série de justificativas complexamente vazias. O cara acabou sendo sequestrado um tempo depois. A mandante do sequestro era a própria ex mulher, mas nunca sequer imaginou-se a possibilidade d'aquela senhora tão boa e nobre enlutada pela perda dos seus bens mais nobres, os da família, machucar um pobre passarinho. Então o cara acaba tendo quase todo o dinheiro roubado sem que nem mesmo o banco percebesse o rombo monetário, sobrando apenas dois imóveis de alto padrão que ele se recusa a vender. Vive acampado numa mansão, sem grana pra pagar a gasolina do condomínio no subúrbio ao trabalho no centro.
- Você já ligou pra esse filho da puta?
- Ninguém consegue falar com ele. Parece que teve os telefones cortados.
- Cortados o caralho. Esse porco tá me fazendo de idiota.
Faço silêncio. Enquanto a grande cinza do charuto se quebra e cai no colo dele. "Caralho..."
- Essa sociedade está toda fodida...
- Com certeza está. Embora eu entenda que ele foi sequestrado.
- Aposto que foi armado. E se não foi, que ele vendesse aquela casa de campo. Que merda! Ah, não tem jeito de jogar uma escravidão por dívida em cima desse idiota? Tinha tanto trabalho prum vagabundo desses.
Dei um passo pra trás, tentando não esboçar nenhuma reação.
- Tá, chama o Cruzes.
O Cruzes era um sujeito imenso, com cara de idiota e óculos de idiota. Era uma mistura de detetive e capanga e assassino ou qualquer coisa que minha criatividade cinematográfica pudesse inventar. Só vestia regata, destoando de toda aquela corja de engravatados do escritório. Entra o Cruzes na sala, dando passos com os pés abertos para fora, numa marcha chapliniana militarizada, a barriga vazando do fim da regata e por cima das calças.
- Você vai descobrir o que esse cara tá fazendo. Converse com ele. Fale que estamos tentando ligar há uma caralhada de tempo. Quero o número novo dele. E o meu dinheiro!
O homem grande dá meia volta e sai da sala na mesma marchinha maquinal.
- Some daqui.
- Senhor?
- Pode ir pra casa.
- Boa noite, senhor.
De repente eu estou andando pelas ruas escuras com a sensação de que estou protegendo merdas enquanto sobrevivo. Paro no bar da esquina de casa, interrompendo meus conflitos éticos, e peço uma tequila e uma cerveja. Por lá fico, pois é mais importante viver.
- Você já ligou pra esse filho da puta?
- Ninguém consegue falar com ele. Parece que teve os telefones cortados.
- Cortados o caralho. Esse porco tá me fazendo de idiota.
Faço silêncio. Enquanto a grande cinza do charuto se quebra e cai no colo dele. "Caralho..."
- Essa sociedade está toda fodida...
- Com certeza está. Embora eu entenda que ele foi sequestrado.
- Aposto que foi armado. E se não foi, que ele vendesse aquela casa de campo. Que merda! Ah, não tem jeito de jogar uma escravidão por dívida em cima desse idiota? Tinha tanto trabalho prum vagabundo desses.
Dei um passo pra trás, tentando não esboçar nenhuma reação.
- Tá, chama o Cruzes.
O Cruzes era um sujeito imenso, com cara de idiota e óculos de idiota. Era uma mistura de detetive e capanga e assassino ou qualquer coisa que minha criatividade cinematográfica pudesse inventar. Só vestia regata, destoando de toda aquela corja de engravatados do escritório. Entra o Cruzes na sala, dando passos com os pés abertos para fora, numa marcha chapliniana militarizada, a barriga vazando do fim da regata e por cima das calças.
- Você vai descobrir o que esse cara tá fazendo. Converse com ele. Fale que estamos tentando ligar há uma caralhada de tempo. Quero o número novo dele. E o meu dinheiro!
O homem grande dá meia volta e sai da sala na mesma marchinha maquinal.
- Some daqui.
- Senhor?
- Pode ir pra casa.
- Boa noite, senhor.
De repente eu estou andando pelas ruas escuras com a sensação de que estou protegendo merdas enquanto sobrevivo. Paro no bar da esquina de casa, interrompendo meus conflitos éticos, e peço uma tequila e uma cerveja. Por lá fico, pois é mais importante viver.
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