Achei que fui eu.
"- Ele para no terminal?
- Não.
- Não vai pro TISAN?
- Santo Antônio."
Um casal tira as suas dúvidas.
Ele é rude. Aparentemente puto com o atraso que tais perguntas vão gerar lá no ponto final.
"- Mas vai pro terminal?
- Sim, claro."
Ele resmunga. Eu ouço ele resmungar. Eu sinto ele resmungar. O resmungo dele arranha minhas costas. Eu explodo como uma estrela. Longe e silenciosa explosão. Não viro pra ele.
"- Porra."
Ele diz bem alto, para que eu e o casal ouçamos.
O semáforo fecha.
Eu abro meu sorriso e cumprimento o cobrador. Converso e extraio dele toda a simpatia que seus jovens bigodes são capazes de fornecer.
Me sinto bem.
Achei que fui eu.
E numa rápida conferência, vejo que meu próximo ônibus está marcado para daqui uma hora e meia.
Sorrio de novo.
As maldades se multiplicando como um vírus.
Achei que fui eu.
segunda-feira, 20 de abril de 2015
Fidelidade
ela me olha uma vez.
eu nao desvio o olhar.
o meu olhar veio primeiro
depois veio ela
e numa aparente inconveniência
burlamos uma importante lei que impede que dois objetos ocupem o mesmo espaço.
o meu olhar
e o olhar dela
e por experiência em lutar por minhas terras
ela desvia o olhar.
olha de novo.
sorri.
passa a catraca.
passa um senhor
passa um cabeludo
passam pessoas até que o espaço se esvazie
e o movimento se torne paisagem
a vejo outra vez, agora no terminal
ela é bonita
estudo o tempo
e o trajeto até meu conforto
entramos no mesmo ônibus
ela primeiro
eu atrás
ela me procura
ela me encontra
ela sorri
respondo com um sorriso de olhos
sento lá no fundo.
me pergunto se quebro outras leis
e acostumado com a qualidade de ser um condolecente foragido
organizo em sistemas complexos quais sao prioridade
tudo legislado
certos e errados
sob leis e decretos e retificaçoes facilmente transmutáveis
respeitando dogmas e princípios
infelizmente os da sociedade
e daí me faço criminoso lá e cá
esqueci a cor dos cabelos dela
dela a do ônibus
fico com vontade dos cabelos
ora escuros como a sombra daqui na Lua
ora claros como a penumbra que nos deixa achar que estamos imaginando o resto do astro
será que manter o olhar e responder o sorriso me faz um criminoso?
nao consigo me concentrar no próprio livro.
os cabelos
ora grossos e pesados
ora finos e leves
imagino ela nas festas com amigos
os amigos dela
os meus amigos
imagino ela bêbada
gritando alto
gesticulando pra cima
aumentando sua pequenez
transformando-se numa fada barulhenta
uma fada de loucura
e imagino todos aqueles que sentem o que eu sinto quando eu a vejo
guardadas as devidas proporçoes
imagino o olhar sincero
a simpatia sutil
imagino ela como uma fada
sorrindo com orgulho de ser bela
bela como ela nunca precisou querer ser
mas que um continente inteiro de pessoas gostaria de ser
voando de lá pra cá
com movimentos graciosos feito uma dança de uma gata que se retira por falta de interesse
sorrio com essa ideia
fico achando que ela sabe ser bela
e sabe sobreviver nesse mundo estranho
fico achando que minha mente e a dela estao em plena sincronia
mas quem pode dizer o que pensa o outro?
vai ver ela nao voa como uma fada
nao seduz sem querer
nao sorri de orgulho
vai ver se ofende
e foge
e empurra
e sente saudades de mim
saudades como um protetor
nao queria esse tipo de saudades
queria a saudade boa
estou lendo o mesmo paragrafo pela quarta vez.
diz sobre o infinito. o deserto e o fundo do mar como o infinito.
concluo que o infinito é Deus
e que talvez Deus nao seja infinito
a ponte brilha
sempre brilha
como uma grande árvore de natal
que brilha o ano todo
vai ver somos nós
e nós estamos concluindo coisas erradas sobre a evoluçao da sociedade
nós
quem somos nós?
só vejo elevados que se expandem com o pulsar da cidade
as vias vazias se entortando pra chegar no mesmo ponto
uma corrida de células sedentárias de armadura até os dentes
vermelho e verde e carro e gente
quem somos nós?
pelo menos os elevados passam sobre as árvores
é claro,
elas devem se sentir amaldiçoadas por conviver com uma quantidade de sombra que de repente nao respeita mais a rotaçao dos astros
mas antes um ser amaldiçoado do que um nao ser
nao sei
vejo as árvores sendo destroçadas por escavadeiras
que estupram a terra
e planificam o monte
uma faixa para onibus
um progresso sustentável
nao ser
maiores veias
para mais células
chego a conclusao que nao gostaria de ver o que imaginei
ver no sentido de assistir
repleto de visao e consciência
e muito menos pequena ou severamente inconsciente,
a imaginaçao é a semente para todo fruto de pensamento
admito que gostaria que ela fosse a fada
mas nao na minha frente
longe de mim
enquanto eu nao puder me abraçar gostosamente aos braços dela
enquanto isso
deixo elas sorrirem
e elogiarem
e gostarem de mim
é o meu ponto
surfando em pé
vejo que a menina ainda está lá
e seus cabelos sao castanho claros
eu nao desvio o olhar.
o meu olhar veio primeiro
depois veio ela
e numa aparente inconveniência
burlamos uma importante lei que impede que dois objetos ocupem o mesmo espaço.
o meu olhar
e o olhar dela
e por experiência em lutar por minhas terras
ela desvia o olhar.
olha de novo.
sorri.
passa a catraca.
passa um senhor
passa um cabeludo
passam pessoas até que o espaço se esvazie
e o movimento se torne paisagem
a vejo outra vez, agora no terminal
ela é bonita
estudo o tempo
e o trajeto até meu conforto
entramos no mesmo ônibus
ela primeiro
eu atrás
ela me procura
ela me encontra
ela sorri
respondo com um sorriso de olhos
sento lá no fundo.
me pergunto se quebro outras leis
e acostumado com a qualidade de ser um condolecente foragido
organizo em sistemas complexos quais sao prioridade
tudo legislado
certos e errados
sob leis e decretos e retificaçoes facilmente transmutáveis
respeitando dogmas e princípios
infelizmente os da sociedade
e daí me faço criminoso lá e cá
esqueci a cor dos cabelos dela
dela a do ônibus
fico com vontade dos cabelos
ora escuros como a sombra daqui na Lua
ora claros como a penumbra que nos deixa achar que estamos imaginando o resto do astro
será que manter o olhar e responder o sorriso me faz um criminoso?
nao consigo me concentrar no próprio livro.
os cabelos
ora grossos e pesados
ora finos e leves
imagino ela nas festas com amigos
os amigos dela
os meus amigos
imagino ela bêbada
gritando alto
gesticulando pra cima
aumentando sua pequenez
transformando-se numa fada barulhenta
uma fada de loucura
e imagino todos aqueles que sentem o que eu sinto quando eu a vejo
guardadas as devidas proporçoes
imagino o olhar sincero
a simpatia sutil
imagino ela como uma fada
sorrindo com orgulho de ser bela
bela como ela nunca precisou querer ser
mas que um continente inteiro de pessoas gostaria de ser
voando de lá pra cá
com movimentos graciosos feito uma dança de uma gata que se retira por falta de interesse
sorrio com essa ideia
fico achando que ela sabe ser bela
e sabe sobreviver nesse mundo estranho
fico achando que minha mente e a dela estao em plena sincronia
mas quem pode dizer o que pensa o outro?
vai ver ela nao voa como uma fada
nao seduz sem querer
nao sorri de orgulho
vai ver se ofende
e foge
e empurra
e sente saudades de mim
saudades como um protetor
nao queria esse tipo de saudades
queria a saudade boa
estou lendo o mesmo paragrafo pela quarta vez.
diz sobre o infinito. o deserto e o fundo do mar como o infinito.
concluo que o infinito é Deus
e que talvez Deus nao seja infinito
a ponte brilha
sempre brilha
como uma grande árvore de natal
que brilha o ano todo
vai ver somos nós
e nós estamos concluindo coisas erradas sobre a evoluçao da sociedade
nós
quem somos nós?
só vejo elevados que se expandem com o pulsar da cidade
as vias vazias se entortando pra chegar no mesmo ponto
uma corrida de células sedentárias de armadura até os dentes
vermelho e verde e carro e gente
quem somos nós?
pelo menos os elevados passam sobre as árvores
é claro,
elas devem se sentir amaldiçoadas por conviver com uma quantidade de sombra que de repente nao respeita mais a rotaçao dos astros
mas antes um ser amaldiçoado do que um nao ser
nao sei
vejo as árvores sendo destroçadas por escavadeiras
que estupram a terra
e planificam o monte
uma faixa para onibus
um progresso sustentável
nao ser
maiores veias
para mais células
chego a conclusao que nao gostaria de ver o que imaginei
ver no sentido de assistir
repleto de visao e consciência
e muito menos pequena ou severamente inconsciente,
a imaginaçao é a semente para todo fruto de pensamento
admito que gostaria que ela fosse a fada
mas nao na minha frente
longe de mim
enquanto eu nao puder me abraçar gostosamente aos braços dela
enquanto isso
deixo elas sorrirem
e elogiarem
e gostarem de mim
é o meu ponto
surfando em pé
vejo que a menina ainda está lá
e seus cabelos sao castanho claros
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