um boato branco
e trivial
como um tiro no escuro
que desvia por ruelas
e toca a pele
por descuido
o medo incontrolável
de dormir
em público
e os sonhos
confundem a realidade
e os olhos fecham por um breve
segundo
e nasce-se outra vez
uma golfada de ar
para todo o medo
que conscientemente
juro
não sentir
um raio
e um percurso
e um trovão
uma refeição
bem preparada
que te mata
um piso
errado
e
bang
é tudo novo
golfo de novo
se é que essa palavra
existe
o ar me incomoda
não tenho medo
de nada
exceto do tempo
e da luz
e da louça
e do desemprego
e do passado
e do presente
e do futuro
e de todas essas catástrofes que não param de girar em torno de mim
como se eu fosse um imã de caos
o terreno é depilado
as fumaças negras e densas surgem esporadicamente
os carros se engavetam com lentidão absurda
um choque
atrás do
outro
acho que tem mais ambulâncias
e mais vítimas
e mais corpos sem rostos
sempre seus corpos
deitados
e uma multidão
ou um policial
ou um bombeiro
ou uma porta
sempre esconde
o rosto
da vítima
o mundo anda lindo
o céu e suas cores
e as árvores e suas folhas e flores
e o amor
o amor nos deixa cego
e nos sentimos gratos
pela vida
conscientes desse sufoco nessa merda toda
conscientemente calmos
e gratos
e vivos
sexta-feira, 29 de julho de 2016
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