às vezes eu só queria ser mais triste
pra justificar a minha tristeza
eu queria que as coisas fossem piores
que meu corpo não aguentasse mais um segundo
e que tudo ao meu entorno fosse um grande
caos insuportável e minhas veias pulsassem de ódio por
tudo isso aí
as coisas são suportáveis
a vida parece uma eterna tortura
mas uma tortura suportável
uma afta uma patela deslocada
um pós cirúrgico complicado
nada machuca o suficiente
pra ultrapassar o absurdo
porque o absurdo tá aí todo dia
e essa porra toda é confusa pra caralho
eu queria chorar
e gemer em desespero sincero
a vida não é cruel assim
a gente chora de vez em quando
e ora ou outra quebra porque não nos sobra
nada além de quebrar
mas nunca é ruim o suficiente
como ossos recalcificamos
e tortos e cicatrizados seguimos
cada vez mais frágeis
e cada vez mais mais fortes
e qualquer coisa entre
e vale admitir nessa poesia
que pouco quero ser feliz
a alegria me parece efusiva
como os dedos que trombam
na quina do móvel
por um segundo aquilo é grande como a própria existência
mas logo não é armazenada nem mesmo como memória
ou será que subjugo a alegria
ao transformá-la em uma pequeneza
cotidiana?
a alegria e a felicidade e esses conceitos coloridos
ficam todos confusos e logo não sei se são ao menos reais
vai ver sou pessimista demais
e só vejo a merda toda
vazando e gotejando em tudo que é pleno
e por favor me perdoe se pareço
exclusivamente pessimista
como um poço de sincero pesar e
coisas escuras e humilhantes
sou alegre também e vejo cor nas coisas
e às vezes confundo paixão e amor
amizade e amor
solidão e amor
e ora ou outra o amor sou todo eu e
só o amor importa
o mundo segue e a gente não é
pouco mais que o sobe e desce de
humores incompreendidos
como a maré que muda à luz da lua
reclamo
e fumo
e bebo
e sei que não é assim
que compro meu ingresso
para o Céu
sábado, 1 de dezembro de 2018
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