e num segundo
que veio depois de outro
tão pouco significante
o imperador sobe
ao seu púlpito
e abre seus braços
como asas que abraçariam
o mundo inteiro
ou o amassaria
como uma lata de refri
foi um segundo
como tantos outros
em que a poesia julga
e me julga
e me expõe
como algo melhor
do que eu sou
fui
serei
um frasco de veneno
um baú de moedas
uma bomba atômica
uma única vez
que o mundo
finalmente
acaba
o começo de tudo
antes de Deus e seus sete dias
eu sinto a coroa
me apertando as têmporas
e o manto pesando
meus ombros cansados
eu sinto minha voz
tremendo as paredes
eu sinto minha saliva
fugindo dos lábios
enquanto falo tão alto
quanto a maior das colinas
e tão profundo
quanto o mais escuro poço
essa que um dia eu subi
pra ver o que havia em cima
e esse que um dia eu cavei
pra saber como era morar
ali no fundo
nesse segundo
imperador
sou enorme
sou incêndio
sou ódio
sou raiva
um segundo que passa
como todo outro segundo
e derreto dentro de mim
para contar as esmolas
do meu império
viro água
e com o vento
tremo em silêncio