se fosse pra escrever uma poesia
escreveria sobre a esperança
que é algo que eu não tenho
mas que anda comigo
como um carrapato
grudado fundo na minha pele
corroendo os meus ossos
enquanto eu sigo em frente
ou melhor
sigo parado
enquanto o mundo gira
e a esperança da humanidade se destrói
e se constrói
toda vez
que um novo homem nasce
e outro morre
e a bomba atômica não acaba com a vida
e o pastor não renuncia
e a velhinha na rua dá um sorriso de gratidão porque ela pode atravessar
enquanto você esquenta a bunda quente no assento quente do carro quente
e lá fora faz frio
e tanta gente sente os ossos arderem
e rangirem
como portões de aço enferrujados
com frio
e fome
e tudo o que eu tenho é a esperança
que amanhã
eu acorde
bem