Foi-se meu tempo.
Fui visitar a Lua e me perdi.
Virei na esquina errada.
Os suspiros me atropelam.
As minhas ideias não me protegem.
Meu estômago arde.
Não sei dizer se é fome.
Ou vontade de morrer.
Sede.
De amor.
De sexo.
De água.
As ruas eu não conheço.
Sei que sou uma barata.
Vivendo pra comer de restos.
A Lua diz que me espera.
Perdi o meu assento.
Nem sei mais como sorrir.
Lá foi o meu tempo.
Fiquei preso no engarrafamento.
Com meus braços em cruz, apertados com corda.
O importante em receber chibatadas é nunca chorar.
O choro é o fim do orgulho.
O orgulho é a mãe das ideias.
Mente vazia.
Mentecapto.
Mentiroso. Sorri gostoso.
Mente cheia.
Transbordam fatos
e esquecemos do número exato de cigarros fumados.
E quem começou com essa merda toda.
Cristovão Colombo.
Índios escravos. Negros escravos. Brancos escravos. Meus avós escravos e meus pais escravos.
Escrevo. Escravo.
Escarro.
Estrago.
Fecho os olhos e busco voltar no passado.
Mudar tudo desde o começo.
Cortar o cordão umbilical antes da hora.
Sem comida.
Sem vida.
Não sei em quem dói.
Se em Jesus.
Omolú.
Ou São Sebastião.
Se é só azia, ou gastrite,
cirrose
câncer
ou morte.
Fecho os olhos e quero voltar pro futuro.
Que futuro é esse que não existe?
Erraram a data. Me jogaram pra longe.
Errei a Lua.
Entrei na
esquina
errada.
Esperança.