sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Meditação e dissolução

aqui dentro é silencioso



e solitário



finalmente não tenho mais perguntas



e a incessante busca por respostas
cessa



conto o tempo como um nihilista
gosto de jamais ter lido Nietzsche
ia me identificar
como me identifiquei com Bukowski




e como Bukowski
pude aproveitar toda a dor
como combustível de escrotidão
sexo e desrespeito e cerveja
basicamente




hoje eu não preciso




nem de Bukowski
nem de Nietzsche
nem da minha própria poesia




nem de comida
nem de água
nem de banho




hoje eu evito pensar na dor
e no meu corpo morto




foco
em não
ter foco

no tempo
passando
um segundo
por vez

me perguntando quanto tempo falta

2 meses?
4 anos?
10 anos?
20? 40? 55? 120?

um milênio?




é que antes
dava pra focar
no fim do mundo

mas hoje
a gente sabe
que os humanos
destroem os humanos
só buscando
serem eternamente
humanos

e a humanidade
nunca acaba

é mais fácil que sobremos nós todos eternos
e somente nós todos
do que algum idiota apertar o botão vermelho
e explodir a porra toda
jogando pedaços de terra pelo espaço
confundindo as forças da gravidade e nos tirando de órbita
jogados em sentido ao Sol

meu corpo
morto

a solidão
e o silêncio

me diz
o que você quer

o meu corpo
vivo
era pra ser
Teu

me diz
os teus planos

que me disponho
a Você como um comovido servo

diz que me quer

e as coisas virariam luz e som





meu corpo
como cinzas
ou um papel
molhado
uma molécula
de oxigênio
vagando
pela Via
Láctea

sem uma única dúvida
só um amontoado de respostas
que me trouxe até aqui

um lugar escuro
estranho
e distante