aqui dentro é silencioso
e solitário
finalmente não tenho mais perguntas
e a incessante busca por respostas
cessa
conto o tempo como um nihilista
gosto de jamais ter lido Nietzsche
ia me identificar
como me identifiquei com Bukowski
e como Bukowski
pude aproveitar toda a dor
como combustível de escrotidão
sexo e desrespeito e cerveja
basicamente
hoje eu não preciso
nem de Bukowski
nem de Nietzsche
nem da minha própria poesia
nem de comida
nem de água
nem de banho
hoje eu evito pensar na dor
e no meu corpo morto
foco
em não
ter foco
no tempo
passando
um segundo
por vez
me perguntando quanto tempo falta
2 meses?
4 anos?
10 anos?
20? 40? 55? 120?
um milênio?
é que antes
dava pra focar
no fim do mundo
mas hoje
a gente sabe
que os humanos
destroem os humanos
só buscando
serem eternamente
humanos
e a humanidade
nunca acaba
é mais fácil que sobremos nós todos eternos
e somente nós todos
do que algum idiota apertar o botão vermelho
e explodir a porra toda
jogando pedaços de terra pelo espaço
confundindo as forças da gravidade e nos tirando de órbita
jogados em sentido ao Sol
meu corpo
morto
a solidão
e o silêncio
me diz
o que você quer
o meu corpo
vivo
era pra ser
Teu
me diz
os teus planos
que me disponho
a Você como um comovido servo
diz que me quer
e as coisas virariam luz e som
meu corpo
como cinzas
ou um papel
molhado
uma molécula
de oxigênio
vagando
pela Via
Láctea
sem uma única dúvida
só um amontoado de respostas
que me trouxe até aqui
um lugar escuro
estranho
e distante