abrindo essa pele elástica
que resiste às pressões internas
pra aliviar o estresse
pra me limpar com meu próprio sangue
pra fingir harmonia
porque aparentemente esse tipo de mentira
é importante para a sociedade
eu vejo as forças
e as resistências
vejo os átomos se comprimindo
e se reorganizando em um sólido de aparência pastosa
denso porém de formato orgânico enganando moleza
eu vejo as manchas
que seguem mais eternas que minha própria consciência
como borrões enfeitando a realidade como a síntese do descaso
respingos de histórias imundas e ora ou outra irrelevantes
comida, sujeira, a luz nas minhas retinas confusas
eu vejo a história
e tudo que fiz
e tudo que sou
e como o mundo ficou
mas não tem como voltar atrás
o sangue vaza
e os órgãos vazam
eu aplico pressão
o desespero nos meus olhos espelhados
eu aberto e invisível
ou queria que fosse
os olhos me encontram
vendo o que eu imagino ser meu corpo banhado em escarlate
aberto e vazio
irresoluto de qualquer valor
não dá pra voltar atrás
uma hora o impacto vem
e outra hora ele volta
mas não se trata de uma repetição da primeira vez
só que uma nova e singular segunda vez
as coisas não voltam
os impactos só seguem
no mesmo corpo
no mesmo espírito
e na mesma alma
olhos arregalados
sempre arregalados
procurando preocupações sempre mais suaves
vasculhando a matemática do universo
em busca de uma constante
vasculhando a matemática do universo
em busca de uma constante
caminhando rápido
pra sempre
chegar no
fim do mundo
chegar no
fim do mundo