sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Supervelho

eu em orbita de mim
tudo girando e eu o centro do universo
eu universo
eu entropia
eu estrela e planeta
eu satélite e lixo
eu matéria tempo e espaço
dando voltas no meu centro de gravidade
observando com todos os meus olhos e sentidos
esse enorme rombo que a explosão de uma estrela um dia deixou

o buraco me suga
meu estômago almoçando ele mesmo
o dicionário e o calendário acabam ali também
e palavras e tempo convivem com esse carnaval cotidiano
uma volta inteira de feriados sob regime de escravidão
outra volta e meia com música e luz

o mundo finge ser feliz pra ter o direito de reclamar
porque a segunda vem depois do domingo

aqui é domingo o dia inteiro
e o buraco é fundo

é dia de cachimbo
a fumaça parece um livro
tudo tem significado perto do fim

nunca é segunda
abaixo as orelhas
o regime tira meus direitos
tira meus esquerdos

em órbita da minha pele
atravessando meus pelos como a carícia de unhas compridas
uma cortina de fios que nunca se acabam
aqui fora o ar é mais úmido

o que vai ser do futuro do mundo?

natal de novo
e minha espaçonave à deriva