a poesia girava dentro de mim
e nos meus ouvidos eu ouvia
claramente o som de um
liquidificador
misturando essas estrofes
mutilando essas palavras e engrossando
esse caldo vitaminado de
sentimentos e inseguranças
apóstrofes e taumaturgias
poesia vira prosa e vira
livro e biblioteca e vira suco
as letras em pedaços cada vez
menores enquanto balanço
a cabeça no ritmo da música
tudo que sei e sinto derretendo
tornando-se líquido e girando
e girando eu não preciso de mais nada
não acredito mais em reis
meus olhos moribundos
brilham de esperança
vazia e hipotética
eu sou o meu melhor ator
e derreto sozinho
a razão porque eu não me vejo
é que os espelhos me fizeram invisível
e não tem como explicar que fiquei
confuso com todo esse mar de mentiras
que o mundo se acostumou a
banhar-se eu nunca fui rei
ninguém pode me transformar num homem morto
eu vim de longe
pra continuar longe
e longe eu vou indo
enquanto derreto
odiando as presas e as pressas
as jaulas e as cadeias
vou tecendo a minha prisão com
todo o meu sincero amor
teus olhos felinos
ficam sorrindo para os
meus
é mais fácil quando nem os próprios
olhos se veem
mas teus olhos brilham
eu derreto
e bebo dessa poesia
completo e contente
ela me puxa de volta
apareço como fantasma
meus olhos
moribundos
sorrindo