quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

e de novo e de novo e de novo
eu tinha me perdido de novo
me perdido em desesperança
e de novo tinha me perdido 

a tristeza e o pânico de mãos dadas
assumindo que a fome que eu sinto
é a fome que eu mereço
meu estômago se come
porque é de mim que se alimenta
na desesperança de um dia acabar por dentro
gota ácida por gota ácida que corrói e corrói

e de novo e de novo e de novo
eu me perdi de novo nas minhas ruas escuras
e solitárias e solidário me sinto porque eu
me perdi de novo e de novo essa fome
e essa tristeza
e esse pânico de pura desesperança

eu derreto
por dentro eu derreto
de novo
eu derreto

eu repito
sempre volto
porque é sempre o meu lugar
um lugar que é só meu
eu derreto
de novo eu derreto

de novo eu repito
e não sei o que será do amanhã
porque faz tempo que o tempo dá sinais
que não tá certo e que vai dar errado

o que será do amanhã
queria que não houvesse
de novo
eu repito
eu não queria

eu derreto
sem querer

me alimento de mim
e como canibal
me torno mais eu

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Sopa de letrinhas

um púlpito para o meu inconsciente
as palavras rugindo como santos
presas no meu corpo sem sentidos

avalio bem as letras porque não há
o que ser escrito senão letras atrás
de letras e palavras sem sentidos

um palco para a minha memória
atolada de esperança e felicidade
transbordando ceticismo e depressão

escolho bem o que dizer
porque o bem dito é inteligente
e o que vem a toa pulsa solidão

nuvens escuras atropelam meu corpo
e meus dizeres
não encontram
nada