segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Deus te traz de volta

o título era o nome da música

e ela me subiu
eu queria muito
dizer o que eu sinto

mas era música
e eu subi

queria muito meus dedos dançando

agora de olhos fechados
minha mente cada vez mais longe
meu cérebro desconectado do corpo
como um ser por si só

um cérebro sozinho
como num grande vasilhame
cheio de líquido rosa
e ele ali

ele e medula espinhal
sem corpo
lá longe

bem longe desses dedos
que não escrevem nada
e nem dançam
e nem traduzem

só escrevem
porque é isso
que o cérebro manda

lá longe

só pedindo
que escreva

e registre esse momento singular
como um novo ponto no tempo
um novo lugar no espaço virtual

um paradigma
um novo capítulo
uma página nova

como se o resto fosse passado
e não houvesse futuro
senão páginas em branco

esperando que esses dedos
finalmente
escrevam

queria Deus
que me trouxesse
de volta

mas me deixa
imerso lá em cima

porque sou cérebro

e o resto

pouco importa