o título era o nome da música
e ela me subiu
eu queria muito
dizer o que eu sinto
mas era música
e eu subi
queria muito meus dedos dançando
agora de olhos fechados
minha mente cada vez mais longe
meu cérebro desconectado do corpo
como um ser por si só
um cérebro sozinho
como num grande vasilhame
cheio de líquido rosa
e ele ali
ele e medula espinhal
sem corpo
lá longe
bem longe desses dedos
que não escrevem nada
e nem dançam
e nem traduzem
só escrevem
porque é isso
que o cérebro manda
lá longe
só pedindo
que escreva
e registre esse momento singular
como um novo ponto no tempo
um novo lugar no espaço virtual
um paradigma
um novo capítulo
uma página nova
como se o resto fosse passado
e não houvesse futuro
senão páginas em branco
esperando que esses dedos
finalmente
escrevam
queria Deus
que me trouxesse
de volta
mas me deixa
imerso lá em cima
porque sou cérebro
e o resto
pouco importa