sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Rancor

Eu, nu, cantava a ela: Não vou mais te deixar sem mim, pequena musa. E ela, também nua, sorria infantilmente, de olhos mareados e uma felicidade estrondosa. Cantava-lhe achando que não queria dizer o que dizia, tentando recusar o amor que de fato sentia. Ela dizia: Canta de novo! Canta, Tho! Por favor! Fazendo cara de criança mimada e sorrindo como quando a gente se esconde atrás das palmas das mãos para reaparecer com um BU! Eu corava as faces e dizia que não cantaria novamente, mas eu cantava.
De todos os amores, esse foi o mais estranho. Era tão difícil admitir que havia um pingo de sentimento dentro do meu peito. E era tão fácil traí-la com as mais frígidas mulheres, enquanto ela era uma ninfomaníaca. Vai entender o que se passa na cabeça de um homem ressentido com o amor, do mesmo modo que as pessoas normalmente se ressentem com Deus e suas injustiças.