Sempre sonho com ela. Me sinto o maior dos idiotas, quando a ereção pós despertar se acaba. Vou almoçar infeliz. O almoço é sempre infeliz. Fico fingindo que não senti nada, nem sequer uma ereção.
Dessa última vez, estávamos no meu antigo colégio, eu, ela, mais uns amigos. Nós todos discutíamos o significado da palavra kampf, que eu dizia que deveria ser alemão, ela, francês. Mas não tem nada a ver com francês. Ela tira o iPhone branco de capa colorida e começa a procurar num aplicativo qualquer o que a palavra significava. Não era francês. Era óbvio que não era francês. Mas ela teimava. Nos meus sonhos, as ereções sempre vem de cenas óbvias de relação sexual, e por relação sexual digo uma foda épica ou um simples beijo na boca. Nesse sonho ela vestia um short e nossas pernas meio entrelaçadas enquanto apoiávamos nossos cotovelos numa espécie de palco alto, que nos batia na altura do peito. Minha perna direita entre as duas dela. As pernas dela com pelos ralos, das coxas ao tornozelos. Minhas pernas, também, mas com eles um pouco mais compridos e grossos. Eu não gosto de pelos. Então podemos classificar a perna dela como peluda. Mas isso é coisa de definição estética, de que as mulheres precisam de pernas lisas e axilas lisas e buços lisos. Penso que devem ter tudo liso. Nossas pernas entrelaçadas e ela procurando a porra da kampf naquele aplicativo que de repente se torna mágico. Ela se desata a escrever e tudo que ela escreve segue em uma linha única e infinita, enquanto a tela muda de cor e imagens de sóis e luas e cavalos trotantes e praias e flores se envolvem e desenvolvem num ritmo tão rápido quanto a digitação dela. O sonho se tornou aquela longa linha. O que era a tela do iPhone se tornou toda a minha visão e as imagens pulsando nos meus olhos enquanto as palavras se formavam tão rapidamente quanto a minha respiração ofegante.
Acordei frustrado, pois a ereção vinha do toque das nossas pernas de pelos curtos, a dela peluda, a minha depilada. No almoço, infeliz. Na internet, kampf era alemão, luta.
Devia ter fingido que não senti nada.