eu louco por exposição
me expondo louco
como quem não tem vergonha de segurar cartazes
normalmente eu tenho
guardo minhas ideias em arquivos salvos de poesia secreta
em pedaços escuros do cérebro que só eu sei chegar
em suspiros que vão embora pra sempre carregados por todas as moléculas do ar
racionalmente não tenho escolhas preferidas
razoavelmente convivo com o que me convém
como quem não tem vergonha de abrir o peito em intimidade exagerada
eu abro
e sangra
e uso esse sangue como artifício
do meu grande espetáculo
é sempre um espetáculo sincero
mas normalmente eu me fecho
me irrito comigo sendo discreto
mas sou
ou procuro ser
com o maior dos cuidados
andando com as pontas dos pés
fantasiado de capa de invisibilidade
sem respirar um pouco sequer
atravessando um mar de gentes sem ser tocado
ou sentido
ou observado
e por espontaneidade
subo no palco
eu sempre subo
e de lá eu grito verdades
e arranco sorrisos
mostro tudo
sem dó de ser
aplausos
as cortinas sempre se demoram pra fechar
e o espetáculo não tem mais fim
pois quando fecham
eu fecho também
e eu me sinto bem
com o que fiz
e com o que sou
o fim nunca acaba