quinta-feira, 22 de junho de 2017

Paz interior

existe uma sensação que a pouco era nova
mas que hoje é meu jeito de sobreviver

o desespero de sempre
mas o controle de si

um desespero controlado

eu sinto esse desespero nas minhas olheiras
que mais parecem uma sombra de olho invertida

um tom de roxo que puxa minhas pálpebras para baixo
mais a esquerda que a direita

o desespero calmo

como um dia que não para de chover uma chuva fina
aquela que não cai e nem molha
mas que levita no ar como poeira contra a luz

o dia que nada acontece
nem bom
nem ruim

mas um tédio supremo que irrita e incomoda
e um receio de má sorte
a sensação de estar a um passo de uma tragédia
com a consciência de que tal tragédia não acontecerá

olho bem em volta e procuro a tragédia
e o mundo claro e cinza vive em monotonia dinâmica
um eterno vai e vem de corações e mentes
que nos faz continuar onde estamos

eu começo a urgir pela tragédia

me convenço de novo
que ela não passa de
fantasia

fantasiado de humano
sou a tragédia

meu desespero não diminui
não some
não é esquecido

mas eu fico calmo

desesperadamente calmo

consciente e desesperadamente calmo

que bom se a vida continuasse
e fosse simples assim