existe uma sensação que a pouco era nova
mas que hoje é meu jeito de sobreviver
o desespero de sempre
mas o controle de si
um desespero controlado
eu sinto esse desespero nas minhas olheiras
que mais parecem uma sombra de olho invertida
um tom de roxo que puxa minhas pálpebras para baixo
mais a esquerda que a direita
o desespero calmo
como um dia que não para de chover uma chuva fina
aquela que não cai e nem molha
mas que levita no ar como poeira contra a luz
o dia que nada acontece
nem bom
nem ruim
mas um tédio supremo que irrita e incomoda
e um receio de má sorte
a sensação de estar a um passo de uma tragédia
com a consciência de que tal tragédia não acontecerá
olho bem em volta e procuro a tragédia
e o mundo claro e cinza vive em monotonia dinâmica
um eterno vai e vem de corações e mentes
que nos faz continuar onde estamos
eu começo a urgir pela tragédia
me convenço de novo
que ela não passa de
fantasia
fantasiado de humano
sou a tragédia
meu desespero não diminui
não some
não é esquecido
mas eu fico calmo
desesperadamente calmo
consciente e desesperadamente calmo
que bom se a vida continuasse
e fosse simples assim