abro a folha em branco e espero vir
essa é a proposta
luz cor e som
dia dia a dia
três dois um
e já passou da hora duas vezes
duas uma sou
tão bom
que tudo
é certo
a qualidade
de ser
a vaidade
de ser
o experimentar
do cotidiano
e essa consequente
secura
o peito vazio e os sentimentos rasteiros
o suspiro mais breve me parece a eternidade
toda
respiro e suspiro
intenso repenso
pra que fim do mundo
se ele nunca vai
acabar
já faz tempo
que o fogo
se faz alma
e a alma
se faz fraca
e o incêndio
se apaga como
uma hora atrás
da outra
mais ou menos
uma coisa ou outra
nunca tudo
nunca o melhor
nunca nada vale
o valor de tudo monetizado em tempo
a mais poderosa das moedas
e o meu dinheiro vazando pelo ralo
enquanto escrevo essa poesia vazia
de tudo que sou eu
porque eu sou vazio
e toda ela
a poesia e o amor pela vida
a paixão por todas as coisas
e a essência da existência humana
dentro de uma caixa de fósforos
chacoalha
e me ouve escondido
me arrasta
e me vê em chamas
me olha nos olhos
e vê que nesses olhos
tem um buraco tão grande
que ele poderia muito bem
te levar
eu tenho medo de olhar
e sugar tudo que há de humano
em quem vive
e quer viver
abaixo os olhos
olho ao lado
e evito o que sei de melhor
meus olhos como uma arma
um canhão encostado nas têmporas
como um basta para viver
e me amar e ser tudo o que eu
quiser
repenso o artifício
e sei que acho que sou
melhor
as coisas caem como
prédios implodidos
edifícios imaginários
que nunca passaram de ideia
casas que nunca foram de ninguém
porque nunca existiram
sincopes criativas de um suposto futuro conciso
o presente é inconsistente
a vida é inconsistente
falta muito pra valer
o custo
o pior dos negócios
em que vende-se
a viagem dos sonhos
e compra-se
um dia atrás do outro
e são todos as mesmas
e sistemáitcas
torturas
o quanto
você
aguentar
porque Deus não dá mais do que o espírito merece
o espírito deve feder
o espírito não deve ser mais
que fina folha de papel
fina folha dos nossos narizes
fina folha de tudo o que eu sonhei
e o que eu realizei
fina folha de esperança que
fica sob o meu corpo deitado
imóvel
restrito
ao respirar
com receio
que tudo rasgue
e todo esse longo e enuviante processo
tenha sido plenamente vão
pode ser que ser tenha sido uma triste saída
pode ser que só tenha sido essa saída
pode ser que só seja simples
e simples seja sutil
e saio sábio desse meio termo de começo e fim
como se sapiência
significasse mais que
solidão
e só isso fosse tudo
um dia após o outro
e a tentativa irrestrita
de chegar até o fim
e perceber que de certa forma
alguma coisa valeu
me pergunto como pagam os pobres
me subjugo
nisso sou bom
me colocar pra baixo
justificando a gravidade que eu já não acho que é maior para mim
apenas sei como sei de coisas que ninguém sabe
e sei como sei de coisas que todos sabem
porque sou um sábio e de praticamente nada sei
já que quando não sei
estou sabendo
uma piada pronta
as formigas tomando conta
a fome tomando conta
o que é vira a verdade
e a verdade é irresoluta
e essa busca irônica de resoluções no passado
como se a história pudesse me contar coisas
que eu não sei
os eventos do que eu era me explicando o que sou
e quem hoje as pessoas são
e como tudo isso chegou até aqui
aqui é grave
é pesado
me subjugo
acho que sou eu
que fico procurando
motivos pra me esconder em toda sombra
aqui é grave
é pesado
conclamo
a
greve