tem gente que vê a prisão em suas paredes
eu vejo a prisão em diferentes escalas: da pele à atmosfera
tem gente que fecha os olhos para as imparáveis mortes
eu vejo os pequenos suicídios dentro de cada um
tem gente que experimenta e repete
eu não paro enquanto não passo mal
tem gente que ganha e afirma que lutou com garra
eu apanho dia após dia, segurando um troféu de cobre que também é apontador
tem gente que aumenta
eu diminuo até virar pó
o pó gira em espiral e pinta no chão com os meus cabelos caídos a minha bibliografia
queria dizer que ignoro como um segurança de museu já muito acostumado com as obras de arte
mas fico encarando as dobras e as texturas até que de alguma maneira eu entenda a criação do tempo
anoto os entendimentos numa caderneta e os levo para o confessionário
e espero perdão porque eu não aprendi a voltar e fazer tudo diferente
repetiria o tempo até resolver os últimos detalhes e essa seria a minha missão
tem gente que acredita que nasceu com uma missão
eu ganho e cancelo várias ao longo do dia
queria eu ter uma única missão pra poder focar bem nisso
ao invés de voltar nessa corrente de memórias achando que fiz e não deveria ter feito
já passou
eu relevo
revelo
reitero
já passou
e lembro
já passou
fechei as portas daquela indecisão: escolher não escolher pra não ser responsável
quem não escolhe também é responsável
já passou
mas eu lembro
só não lembro
muito bem