esse mundo impresso de impressões digitais
encosto no vidro meus dedos enrugados
sem saber se gostaria de deixar a minha impressão
ou se estou tentando limpar as impressões alheias
esfrego o dedo no vidro
que faz aquele barulho bem específico
bato a unha no vidro tentando chamar atenção
e dou um sorriso lembrando das placas
não bata no vidro
aqui o peixe pede a atenção
aqui vario nadar de
cima a baixo
e baixo a cima
um lado a outro
ou de outro lado a um
impressão minha ou lá fora o mundo gira?
e só esse mundinho aquático fica estático
como o olho do furacão ou o centro do universo
o ponto focal onde efetivamente
nada acontece?
ou será que esse aquário gira também?
e toda essa turbulência é física em prática:
força centrífuga, centrípeta, gravidade, comorbidade,
força de vontade, autopreservação, Newton e a maçã
matéria puxando matéria, empuxo me apertando de todos os lados
eu já vi o sol nascer tantas mas tantas vezes
quantas vezes mais pra eu me acostumar?
algumas belezas não são acostumáveis
quantas vezes percebi os detalhes da lua
ou o brilho intermitente das estrelas?
aqui é molhado e gelado
e lá fora tudo parece bonito
até que me tiram da água
e eu me debato sem ar
é muito estranho saber o seu lugar
e que não existe futuro, só passado
que se passou e continuou pra sempre
nesse mesmo eu que sigo sendo