pode vir que eu tô pronto
espero como para raio em um dia de sol
meus dedos se esticam como os de um mágico que confunde seu truque
espero como o alarme de tsunami numa praia calma
as palavras vem mas só vem as palavras
soltas como pedras que navegam o espaço
puxadas de astro a outro sem nunca acertar nenhum deles
os dias seguem comuns e meu corpo segue em movimento
bailando enquanto flechas e adagas e dardos me usam como alvo
me deixando com cortes aqui e ali que ignoro concentrado no próximo passo
um temporal de ocasiões multilaterais que me atropelam
toda vez que eu respiro e lembro quem sou e o que sou e o que faço aqui
danço sozinho
que sempre foi meu jeito preferido de dançar
no escuro barulhento
na obsessiva embriaguez alcóolatra
que funciona bem como óleo nas juntas
desse homem de lata enferrujado
eu que fui negando as ambições todos os dias
me sinto ambicioso demais e eu preciso me segurar
pra não acabar com essa ambição achando que estou me educando
achando que aprender a não cair é aprender a não me machucar
entre um passo rápido e outro eu rebolo e
"você rebola muito bem pra um hétero"
e isso nem é o pior de mim
que eu guardei num baú dourado sem chaves
mas que eu não abro
porque eu aprendi outras maneiras de ser
não sei se é verdade
mas às vezes eu acho
que me quero
de verdade