Mais um Natal. Eu odeio Natal, sempre odiei. Na verdade, quando moleque, eu gostava. Adorava a reunião de família, me dava bem com meus primos, éramos unidos. Eu gostava da Páscoa, lembro duma vez em que meus pais fizeram um rastro de patas de coelho para que eu e o meu irmão achassemos os ovos, uma espécie de caça ao tesouro. Enfim, não sei quando começou, mas hoje eu odeio o Natal, a Páscoa e todas as outras datas comemorativas.
Eu tinha vinte anos. Era 11h da manhã, véspera de Natal. Eu estava bêbado. Era normal eu estar bêbado nas vésperas. Véspera de amanhã, eu estava bêbado, e de depois de amanhã também. Na véspera de Natal acordei frustrado, me lamentando por não ter transado na noite anterior. Eu sempre transava, era um saco não transar. Aliás, minha vida se resumia em sexo. Houve um tempo que eu amava, mas passou, daí virou só putaria. Gosto da putaria. As minhas amigas temiam que eu me reapaixonasse quando eu beijei a minha ex-namorada. Eu também temia. Mas aconteceu nada mais nada menos que o desejo intenso de fazer sexo. Não é porque ela é ex que tive vontade de transar, é justo pelo motivo de eu só pensar em sexo. Bêbado e sexual, nada mais clichê, nada mais vulgar. Quem diria que o menino prodígio se tornaria um sujeito superficial?