fechado dentro do box do banheiro enquanto treme nu
esperando que tudo vá embora pela porta da frente
as oportunidades, os amores, tudo que te carrega
a vida e por favor: tranque quando sair
como é mesmo a sensação da solidão sem estar sozinho?
amando e sendo amado e reprimindo tudo que é bom
pra degustar as dores do corpo e da alma e levantando bandeiras amarelas
só pra dizer: eu não me suicido porque aqui é sempre um domingo setembrino
como é mesmo a sensação da tristeza que deixa tudo absolutamente escuro?
sem nenhuma perspectiva de um sinal de clareza ou sorriso ou esperança de qualquer coisa
esperando um pânico repentino, às 5h da manhã de um domingo de setembro
beijos abraços e orgasmos desesperados pra eu me convencer que não é ausência de mim
era ausência de mim...
visto um pijama largo demais e sorrio, pensando que estou vestido de pai e sou de novo criança
vejo a fumaça saindo da chaminé da pizzaria numa tarde de quarta e sorrio, afinal "habemus papam!"
invento solos dos mais diferentes instrumentos pra acompanhar o vento que faz um galho bater repetidamente na minha janela
essa sensação quase estranha de vez em quando me sentir completo.
ou às vezes no mínimo em paz.
saindo pela porta da frente atrás do que um dia foi embora
e voltando porque gosto tanto daqui
essa sensação quase estranha de amar sem se sentir desesperado.
às vezes sozinho, mas nunca em solidão.
amando e sendo amado e me permitindo me permitir.
e me permitindo perceber: eu não quero morrer.
aqui tem dias que é uma noite escura e fria
outros são quentes e ensolarados
e eu me preocupo com as plantas
será que vai gear amanhã?