domingo, 28 de novembro de 2010
Voyeurismo
Fui à cozinha pegar cerveja para o pessoal que estava na casa da Amanda. Ela entrou e parou na minha frente, entre a geladeira e eu. Todo mundo zombava de mim, pois a fama dela era de me dar selinhos. Ela sempre me dava selinhos. Quando eu queria um beijo, um abraço, um amor. Ela me dava selinhos. Olhou pra mim e deu o sorriso dela, só ela tinha aquele sorriso. Eu sorri. Ela me deu um selinho, depois outro. Tentei beijá-la, enquanto ela ia entrando na geladeira. Puxei ela dali, fechei a geladeira e encostei ela na parede, beijando-a forçadamente. Ela me empurrou e deu aquele sorriso. Uma merda de sorriso que eu sempre tento desvendar, mas eu nunca entendo o que ele quer dizer. Uma merda de um sorriso maravilhoso, talvez o mais lindo que alguém já tenha sorrido pra mim. Que merda de sorriso sem sentido. Ela me deu outro selinho e foi até a porta da cozinha. Olhou para o pessoal, que estava na sala ao lado, e disse Eu vou fechar aqui. E o cochichar e as provocações tomaram a casa, todos riam, ela também, menos eu. Não vamos fazer nada, só vou fechar a porta... É sério!, ela respondeu. Eu estava encostado numa porta sem trinco, que não dava pra lugar nenhum, ou dava, mas eu não sabia. Ela veio em minha direção e me beijou. Ela vestia um short branco, uma blusa verde decotada e uma blusinha cinza por baixo da verde decotada. E eu, pela primeira vez na vida, ganhei alguma coisa. Ela me beijava e não era mais um dos infinitos selinhos. Eu finalmente tinha o abraço, o amor. Me puxou e trocou de lados comigo, encostando as costas na porta sem trinco. O que tem atrás dessa porta?, perguntei. Nada, ela respondeu. Achei que era uma passagem pra Hogwarts, ou o quarto de um duende, eu falei. Que?, fez careta. Nada não, e beijei-a, enquanto riamos da merda que falei. Ela pôs a perna atrás da minha e tentou me derrubar. Eu me vinguei, derrubando-a no chão. Estavamos sobre o chão gelado, nos amando, sentindo que o mundo é belo. Estou com frio, vou ver se tem um edredon ali na área de serviço, ela disse. Trouxe um lençol, que estendeu no chão, e uma coberta de lã vermelha. Improvisamos uma cama e ela tirou o short, eu tirei meu moleton e minha camiseta branca. Nos beijávamos e o pessoal entrou na cozinha, tiraram uma foto e sairam. Eles riam. Nós também. Eu tinha meus motivos.