quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

On The Road

Lá estava eu tentando agir, sentir, evoluir. Num ônibus caindo aos pedaços, lendo Jack Kerouac (On the road, 1957) e sentindo frio no ar condicionado a 18º. Eu precisava provar mais uma coisa pra mim e eu tinha certeza que só provaria o que sabia: Eu não vou sentir. Eu ia sobreviver. É o que eu faço desde que a vida começou. Não há nada demais em sobreviver, todo mundo faz isso todos os dias. Eu imaginei que estava tomando a atitude mais romântica de toda minha vida, quando estava apenas viajando mais uma vez, fugindo da realidade escrota que assola o meu peito impossivelmente vazio. Um vazio que ora dói, ora sara. Era como estar em outra vida, sentindo que os pêlinhos das costas dela que brilhavam com a luz da televisão sentiam alguma coisa. Sentindo que havia sentimento e sentido em tudo. Os olhos fechados, a boca brilhando, ela estava pronta para o meu sentimento. E havia sentimento em tudo, inclusive a revolta dolorida do meu coração. Ele apreensivo, batendo mais forte por esperar bater mais forte. Batendo forte de raiva e decepção. Coração vazio. E das certezas, aprendi com essa trigésima tentativa: pare, Thomas, você não precisa disso...