o império de mim desfalece como uma barragem
todo esse eu em vazamento furioso
descendo
e caindo
líquido como
um tsunami
nenhum acordo bom
só tiros no pé e a reafirmação
de ignorâncias
se apoiar em esperança
não é nada mais do que deixar
nas mãos de Deus
enquanto a gente nem tem
certeza
que Deus existe
sinto dó das
mulheres
e de mais um monte de gente
e de mim mesmo
porque só a dó
exprime a impressão
concreta
de que essa merda
tá realmente fodida
vocês estão loucos
gritando loucuras
e
sendo
escrotos
não tem mais esperança
tem um mundo inteiro de
pessoas vazias
de qualquer fio
de empatia
só sobra a paciência
e a resiliência
eu borbulho por dentro
e praticamente aceito
vomito esse poema
como eles vomitam opiniões
com a boca cheia de desprezo
apontando dedos e dizendo
que aceitem o fato de serem coniventes
com essa bomba atômica
que admitam o erro
ao invés de contornar suas memórias
dando outros sentidos
às suas palavras
eu não quero ninguém vilão
porque vilão
todo mundo
é
quero gente pensando
e concluindo que sim
isso tudo é uma grande
merda
mas não pensam
não admitem
ninguém admite
eu estou cansado de admitir
parece que só eu sou moldável
ao bel prazer
só eu que mudo de opinião
com a informação
mais lógica
parece vazio
ser sensato
porque os sensatos
não lutam
e não gritam
e não apontam dedos e palavras e armas
eu só não quero
ser enganado
e como fogos de artifício
os próprios enganadores
mostram aos enganados
que foi tudo
mais um
engano
e ainda
sou só
eu
que me sinto
enganado
toda
hora
enganado
não tem mais esperança
tem leões e tigres e onças e pavões e babuínos
desenhados por uma criança
de 4
anos
sangrando
até
que sobrem apenas
os mais espertos
e eu ainda tenho a
coragem de achar
que sou só eu
como eles pensam
que a voz
do povo
é a voz
de Deus
quinta-feira, 26 de maio de 2016
terça-feira, 24 de maio de 2016
Ninho
sou um pombo
que anda
e cisca
e anda
e voa
que se aninha
nos cantos escuros
e altos
praticamente
quieto
e resiliente
e imundo
arrulho
um som tao baixo
que me esqueço
que fui eu
esquece
mas dentro
de mim
Buda vive
um Buda em berros altos e estridentes
me explodindo em uma energia que fluidamente
entra
em mim
Buda quebra
e minha caixa toráxica
inflada e inflamada
segue como colete a prova de balas
arrulho
me aninho
quieto
cisco
que anda
e cisca
e anda
e voa
que se aninha
nos cantos escuros
e altos
praticamente
quieto
e resiliente
e imundo
arrulho
um som tao baixo
que me esqueço
que fui eu
esquece
mas dentro
de mim
Buda vive
um Buda em berros altos e estridentes
me explodindo em uma energia que fluidamente
entra
em mim
Buda quebra
e minha caixa toráxica
inflada e inflamada
segue como colete a prova de balas
arrulho
me aninho
quieto
cisco
sábado, 21 de maio de 2016
Insustentável
me enxaguei
e me ensaboei de novo
ao pegar o shampoo
percebo que eu já havia
terminado o meu banho
devolvo o frasco para o
lugar dele
a água é quente
muito quente
e lá fora
o ar é úmido
e a água congelada
entra nos fios dos cabelos
e da minha
barba
muito quente
olho para baixo
e o ralo se parece
comigo
ou a água sou eu
e eu derreto
transparente
e limpo
muito quente
como eu consigo me sentir tão bem aqui?
sozinho num retângulo de noventa por um e
dez
o tempo para
nada importa
o mundo não
tem mais sons
o mundo nem
existe
mais
só o som da água no meu corpo
e nas paredes
e na janela
e no piso
e o chuveiro
me cantando
em um contínuo
som gutural
muito quente - eu importo - e a água queima minha pele feliz
meu corpo feliz
minha vida feliz
tenho medo do banho
de entrar e não sair mais
nunca mais
despejando toda a represa do Córrego Grande
nas minhas costas
sem perceber
que gastei
toda a água
do mundo
muito quente
só calor
e o som
dali
de dentro
girei a torneira para a direita
pouco o suficiente
pra ficar mais quente
e eu conto até dez
e eu conto até dez
e eu conto até dez
e eu esqueço que estava contando
e estou no 241
giro mais
e fica mais quente
não consigo
mais
respirar
o vapor
que sai
de mim
desligo o chuveiro
e o mundo lá fora
volta a fazer barulho
enquanto o ralo
chora
e o chuveiro chora
o ar gruda
em mim
como o próximo
e gelado
segundo
e me ensaboei de novo
ao pegar o shampoo
percebo que eu já havia
terminado o meu banho
devolvo o frasco para o
lugar dele
a água é quente
muito quente
e lá fora
o ar é úmido
e a água congelada
entra nos fios dos cabelos
e da minha
barba
muito quente
olho para baixo
e o ralo se parece
comigo
ou a água sou eu
e eu derreto
transparente
e limpo
muito quente
como eu consigo me sentir tão bem aqui?
sozinho num retângulo de noventa por um e
dez
o tempo para
nada importa
o mundo não
tem mais sons
o mundo nem
existe
mais
só o som da água no meu corpo
e nas paredes
e na janela
e no piso
e o chuveiro
me cantando
em um contínuo
som gutural
muito quente - eu importo - e a água queima minha pele feliz
meu corpo feliz
minha vida feliz
tenho medo do banho
de entrar e não sair mais
nunca mais
despejando toda a represa do Córrego Grande
nas minhas costas
sem perceber
que gastei
toda a água
do mundo
muito quente
só calor
e o som
dali
de dentro
girei a torneira para a direita
pouco o suficiente
pra ficar mais quente
e eu conto até dez
e eu conto até dez
e eu conto até dez
e eu esqueço que estava contando
e estou no 241
giro mais
e fica mais quente
não consigo
mais
respirar
o vapor
que sai
de mim
desligo o chuveiro
e o mundo lá fora
volta a fazer barulho
enquanto o ralo
chora
e o chuveiro chora
o ar gruda
em mim
como o próximo
e gelado
segundo
quarta-feira, 18 de maio de 2016
Os meus patamares são pontas de agulha no meio da multidão
mais um impulso
ele vem e fica na minha nuca e nos meus ombros
até eu pular
mais um córrego
obscuro
de pensamentos
sinceros
complexos
e vazios
meu espírito
acima de mim
se empurrando pra fora
pra me deixar
aqui
ele fica
e eu não sei
se gosto
é bom
mas eu não sei
se gosto
mais um impulso
e ele não significa
muita
coisa
ele vem e fica na minha nuca e nos meus ombros
até eu pular
mais um córrego
obscuro
de pensamentos
sinceros
complexos
e vazios
meu espírito
acima de mim
se empurrando pra fora
pra me deixar
aqui
ele fica
e eu não sei
se gosto
é bom
mas eu não sei
se gosto
mais um impulso
e ele não significa
muita
coisa
domingo, 15 de maio de 2016
Vestido de paetê
solta os dedos
e deixa dançarem
porque alguém precisa dançar
nem os tímpanos dançam mais
o silêncio não existe
ficam os sons do mundo
mas com eles
a gente dança outro tipo
de dança
deixa que façam o que fazem melhor
é que outra hora achei que eram bons pra outra
coisa
duvido muito
que possam fazer ao menos
isto
a dança
dedos
pra lá
e pra cá
que te amam e caem
sempre caem
e sobem e descem
numa dança que pouco
faz
sentido
é só como eu aprendi a
viver
com amor
e
sem cerveja
mas quando tínhamos cerveja
dançávamos
mais
e todo o ódio gerado pelo glúten
vazava por eles
os dedos
com uma agilidade
despudorada
quase inconsciente
de tão rústico
rude
ríspido
escroto
muito
escroto
vai ver
a cerveja foi por um bem
maior
a paz no mundo
porque ele se autodestrói
sem que eu precise tirar meu rosto
pra cidade
minha vida em uma caverna
quente como a minha pele
suja como a minha mente
e os dedos ficam calmos
e eu nem tenho vergonha em dizer
que parei de
beber
acho que nunca fui bonito
acabei dando muito valor pra coisas que hoje
não importam
me importa mais do mesmo
o meu umbigo
cheio de pés de
alface
"eu precisava de cocaína para acordar"
eu precisava dormir
toda hora
porque esse sono todo já teve muitos nomes
essa vida já teve muitos significados
eu já expliquei tudo
e mudei as explicações
pois tudo
precisa
ser sempre lógico
fico mais lógico
mais lógico
muito lógico
tudo é lógica
eu não acredito no meu poder
poder
é opressão
e eu não estou interessado em
oprimir
me oprimo
guardando toda essa
força
pra quando
algo fizer sentido
porque tudo é lógico
mas raramente faz sentido
os dedos batem
teclas
e é lógico
as palavras
tudo sobre palavras
porque elas definem o indefinível
houve uma época em que eu
simplesmente acreditava que as
coisas existiam independentemente
das palavras
portanto as coisas seriam
nomeadas por diferentes
palavras
uma coisa com vários nomes
em várias línguas
que se interceptam e se confundem e se mesclam
a palavra perdia sua importância
pois seria vulgar
comum
popular
mas a palavra tem poder
solto os dedos
e eles dançam
não é meu poder
eu não tenho poderes
é o poder da palavra
de espremer
tudo o que ficou aqui
as histórias
e as memórias
e os sonhos
que são feitos de trigo
recheados de doce de leite
e creme
e nutella
e sabores tão doces quanto a própria farsa de existir
e deixa dançarem
porque alguém precisa dançar
nem os tímpanos dançam mais
o silêncio não existe
ficam os sons do mundo
mas com eles
a gente dança outro tipo
de dança
deixa que façam o que fazem melhor
é que outra hora achei que eram bons pra outra
coisa
duvido muito
que possam fazer ao menos
isto
a dança
dedos
pra lá
e pra cá
que te amam e caem
sempre caem
e sobem e descem
numa dança que pouco
faz
sentido
é só como eu aprendi a
viver
com amor
e
sem cerveja
mas quando tínhamos cerveja
dançávamos
mais
e todo o ódio gerado pelo glúten
vazava por eles
os dedos
com uma agilidade
despudorada
quase inconsciente
de tão rústico
rude
ríspido
escroto
muito
escroto
vai ver
a cerveja foi por um bem
maior
a paz no mundo
porque ele se autodestrói
sem que eu precise tirar meu rosto
pra cidade
minha vida em uma caverna
quente como a minha pele
suja como a minha mente
e os dedos ficam calmos
e eu nem tenho vergonha em dizer
que parei de
beber
acho que nunca fui bonito
acabei dando muito valor pra coisas que hoje
não importam
me importa mais do mesmo
o meu umbigo
cheio de pés de
alface
"eu precisava de cocaína para acordar"
eu precisava dormir
toda hora
porque esse sono todo já teve muitos nomes
essa vida já teve muitos significados
eu já expliquei tudo
e mudei as explicações
pois tudo
precisa
ser sempre lógico
fico mais lógico
mais lógico
muito lógico
tudo é lógica
eu não acredito no meu poder
poder
é opressão
e eu não estou interessado em
oprimir
me oprimo
guardando toda essa
força
pra quando
algo fizer sentido
porque tudo é lógico
mas raramente faz sentido
os dedos batem
teclas
e é lógico
as palavras
tudo sobre palavras
porque elas definem o indefinível
houve uma época em que eu
simplesmente acreditava que as
coisas existiam independentemente
das palavras
portanto as coisas seriam
nomeadas por diferentes
palavras
uma coisa com vários nomes
em várias línguas
que se interceptam e se confundem e se mesclam
a palavra perdia sua importância
pois seria vulgar
comum
popular
mas a palavra tem poder
solto os dedos
e eles dançam
não é meu poder
eu não tenho poderes
é o poder da palavra
de espremer
tudo o que ficou aqui
as histórias
e as memórias
e os sonhos
que são feitos de trigo
recheados de doce de leite
e creme
e nutella
e sabores tão doces quanto a própria farsa de existir
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