o império de mim desfalece como uma barragem
todo esse eu em vazamento furioso
descendo
e caindo
líquido como
um tsunami
nenhum acordo bom
só tiros no pé e a reafirmação
de ignorâncias
se apoiar em esperança
não é nada mais do que deixar
nas mãos de Deus
enquanto a gente nem tem
certeza
que Deus existe
sinto dó das
mulheres
e de mais um monte de gente
e de mim mesmo
porque só a dó
exprime a impressão
concreta
de que essa merda
tá realmente fodida
vocês estão loucos
gritando loucuras
e
sendo
escrotos
não tem mais esperança
tem um mundo inteiro de
pessoas vazias
de qualquer fio
de empatia
só sobra a paciência
e a resiliência
eu borbulho por dentro
e praticamente aceito
vomito esse poema
como eles vomitam opiniões
com a boca cheia de desprezo
apontando dedos e dizendo
que aceitem o fato de serem coniventes
com essa bomba atômica
que admitam o erro
ao invés de contornar suas memórias
dando outros sentidos
às suas palavras
eu não quero ninguém vilão
porque vilão
todo mundo
é
quero gente pensando
e concluindo que sim
isso tudo é uma grande
merda
mas não pensam
não admitem
ninguém admite
eu estou cansado de admitir
parece que só eu sou moldável
ao bel prazer
só eu que mudo de opinião
com a informação
mais lógica
parece vazio
ser sensato
porque os sensatos
não lutam
e não gritam
e não apontam dedos e palavras e armas
eu só não quero
ser enganado
e como fogos de artifício
os próprios enganadores
mostram aos enganados
que foi tudo
mais um
engano
e ainda
sou só
eu
que me sinto
enganado
toda
hora
enganado
não tem mais esperança
tem leões e tigres e onças e pavões e babuínos
desenhados por uma criança
de 4
anos
sangrando
até
que sobrem apenas
os mais espertos
e eu ainda tenho a
coragem de achar
que sou só eu
como eles pensam
que a voz
do povo
é a voz
de Deus