Tenho reprovado todos os venenos da minha revolução. Meu ódio pelo mundo, meus rancores, minhas dores, meu eu vencido, cheio de revoltas para gritar. E gritei por dois anos. Gritei tão alto que pude sentir meus pulmões murchos, vazios como a minha revolução toda. As bebidas, os vômitos, os cigarros, os sexos, os infindáveis e imemoráveis (sobretudo imemoráveis) venenos em prol de uma mudança qualquer. Reprovado do verbo provar, não a respeito de não ser aprovado. Mais uma tentativa para, com a cabeça vazia de tristezas ou de felicidades, ter a certeza de estar no caminho certo. E vejo, mais uma vez, que todas essas merdas são plenamente reprováveis, dessa vez do ato de não ser aprovado.
Que mentira, a sua vida é uma mentira, Thomas! Ela gritava babando, uma mistura de baba e lágrima e ódio líquido e corrosivo. E eu não dizia nada, eu não me defendi, minha vida é de fato uma grande duma bosta de uma mentira. Um conto de fadas onde eu sou o príncipe: é isso, algo ou alguém precisa de um herói e é só aí que eu apareço. Na porra da minha história, eu sou o cavalheiro sem nome, gracioso, forte, temeroso, mas sem nome. Eu sou o rosto bonito e a minha vida é uma mentira. Amanda me puxava do meu mundo escuro com a maior força que ela podia, força o suficiente para arrancar meus braços fora, mas insufientes para suprir essa minha insuficiência, minha ineficiência... Deficiência.
A indiferença colada na parede, a infelicidade (não a tristeza, que fique claro) rabiscada na pele, a depressão tomando conta deste protagonista, o anti-herói fracassado. Não vejo mais sentido no gozo dispensável, a mulher como um objeto, como um objetivo. A buceta santificada e a mulher escravizada. Um escarro da boca de um feminista. Maldito feminismo e suas sapatões peludas. A porra do gozo espirrado no lençol sujo. Sujeira limpa, eu dizia, pois o suor feminino é sinônimo de limpeza; suores diferentes, fedores diferentes. Minha velha limpeza sujando a minha mentalidade embriagada. Porra de ressaca. Porra de indiferença infeliz.