segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Egoísmo

Uma tristeza sempre morou dentro do meu peito. Eu sempre fui diferente de todo o resto. E sempre odiei o resto todo. Mas, ultimamente, a tristeza tem me fodido mais do que me fodia antes. Outrora, um desgosto, um gosto ruim na boca que me fazia escarrar, pensando naqueles filhos da puta que queriam escarrar em mim. Agora é pior. Me dói o peito. Fico louco de vontade de chorar. Ontem, ou anteontem, chorei. Porra, foi a segunda vez em quatro dias que eu chorei pelo mesmo motivo. Talvez o mais tolo dos motivos. Mas foi o meu motivo: o ser humano.
Tenho visto muita gente morrer. Tenho visto muito sofrimento. A gente cresce e vai percebendo que a porra da vida é foda. Quando somos crianças, achamos que a morte é personagem de quadrinhos da Turma da Mônica, a morte é de mentira e tudo o que sabemos é que amanhã é outro dia. A gente cresce e, na maioria das vezes, vemos os bons morrerem. Certa vez uma dupla de porcos morreram, uns caras que eu não gostava. Eu disse: que bom que morreram. É um pensamento pútrefe que me deixa envergonhado. Aposto que os pais deles choraram. Aposto que os amigos deles choraram. Mas eram maus, como a maioria dos homens. Os maus merecem morrer, mas nunca morrem.
Os bons morrem. Os bons sofrem. Os bons não nasceram para viver a vida. Eu não nasci para viver essa bosta. E não, eu não sou nem um pouco bom. Minha podridão é comparável à podridão dos filhos da puta que morreram. Eu merecia morrer. Eu queria morrer. Acordar, para mim, é tão complicado. Acordar e comer e escovar os dentes e viver. Tanta merda desnecessária. Tanto sofrimento desnecessário. Tanta gente. Eu odeio gente. Bando de egoístas hipócritas. Bando de bastardos orgulhosos das atitudes e escolhas mecânicas. Bando de macacos de circo seguindo um cronograma pré-planejado. Eu odeio gente.
Eu estudo numa das melhores escolas de engenharia do Brasil. Eu falo inglês fluente. Estou estudando francês. Eu faço academia, vou em festas e tenho um computador. Eu ouço muita música. Eu faço muito sexo. Eu sou um cara, como muitos outros caras, que vive uma vida honorável. Uma vida que muita gente merecia viver, mas precisa catar lixo ou pedir esmola. Eu tenho uma vida boa e sem tristezas. Mas ver o mundo inteiro acabando em volta de mim, já é motivo. Não se trata de um comunista que quer igualdade, nem dum naturalista que não usa sacolas plásticas. Se trata de um egoísta que cansou de ver o mundo sofrer. Dum egoísta que cansou de sofrer pelo mundo todo.