Que experiência escatológica: o retrocesso e o resumo da vida. Grande bosta, fui ver no final das contas. Fiz pouco nesses anos milenares da minha incoerente existência. Esperei tanto de mim, quando pequeno quis ser astrônomo e conhecer o universo inteiro, quis ser veterinário e salvar todos os pobres animais jogados pelas ruas, quis ser rico. E até hoje, tudo o que fiz, foi passar na merda do vestibular. Acho que muita gente já fez isso. Grande coisa, passar no vestibular. E foi tudo o que eu fiz.
Eu queria ter salvo o mundo, ter fechado o meu primeiro milhão aos 20 anos. Queria ter desenvolvido a mediunidade, prá, como um medium, ajudar as pessoas e os espiritos que precisam ser ajudados. Mas não, não fiz nada disso. Não fiz nada por mim, nem por ninguém. Talvez conte o fato que eu amei. Amei e sofri. No fundo, amor é sofrimento. Amei e fui amado. E quem me amou, sofreu. Se valeu a pena? Claro, é tudo sobre a felicidade e sobre o amor. Mas acaba, tudo acaba. Acaba em cinzas como um cigarro sujo de batom pisado numa sarjeta qualquer. A chuva leva o cigarro. E leva o amor e a felicidade. A chuva leva a minha felicidade.
Essa viagem transtornante me trouxe um singular sentimento: vazio. Vazio como a solidão. Vazio como o escuro. Vazio como o frio. Vazio como toda essa dor. E preencho esse vácuo com merdas. Jogo sexo e drogas e música alta e umas mentiras para eu curtir um segundo de paz interior, mas essas merdas também passam. Vazio. Vazio como isso que você lê. Vazio.