parecia um dia perfeito em que o sol brilha e deixa a pele confortável e o ar gelado faz a pele suportar as queimaduras do sol
a pele o sol e o vento e uma única realidade
a que dá errado como um hábito ou um vício repulsivo que confunde os desejos
mais ou menos? mais do mesmo sempre mais sempre menos sempre o mesmo hábito
sempre a saúde em primeiro lugar como se meu corpo envelhecido fosse sinônimo de auto-respeito
sem nome pro casulo grosso que suporta o que vem de fora
os olhos bem abertos e encharcados secando no vento
ou eles bem fechados evitando toda a luz que brilha num mundo branco
é claro que há conforto em saber do desconforto que faz da paciência uma peça nesse infindável jogo de xadrez
preto e branco e preto e branco e preto e branco e o meu corpo envelhecido e a pele gelada e a conformidade sempre a conformidade de existir como consequência fundamental do passado
extirpando ou extinguindo as possibilidades como um extintor de incêndio num corredor vazio
o desejo queima a paciência queima e o fogo me prende de novo numa injustificada alternativa para permanecer minimamente coerente
senil sem os anos com umas histórias que se bem contadas podem ser fascinantes
e se mal contadas são vazias como o corredor que nos leva a corredores de portas fechadas
o dia perfeito e os mesmos caminhos de todos os dias e os mesmos hábitos e vícios dispostos como um quebra cabeças solúvel nas minhas mãos suadas
e geladas
meu labirinto viciado como o vício pelas palavras e os mesmos passos e as mesmas reações e os mesmos dias com sol e chuva e calor e frio e silêncio e o som ruidoso das máquinas e a fumaça e o antepenúltimo degrau que deixa o mundo mais claro
e é claro
que o ar
acaba
e
o
cora
ção
se
perd
e
co m
medo dex
plo
dir
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
Hipnose
uma hora tudo fica explicitamente vazio
os pulmões cheios de fumaça são vazios
o cérebro cheio de reflexões está vazio
e todas as interações humanas são vazias
vazias como um oceano
infinito
e cheio
de moléculas distintas
que dependem umas das outras
tudo irrelevante
e um fio segura a própria vida
pesada e inerte
que balança como um pendulo
e nos confunde com esse vai e vem
que mais parece uma ilusão
de novos eventos viciados
sem solução
mas a esperança
de nunca escorregar
a vida humana reduzida a um único
objetivo: se segurar tão forte quanto
possível sob um título
tão vazio e tão cheio quanto todo
o resto: vencer
nada é dicotômico
e o universo se repete todos
os dias
enquanto achamos que fazemos
bem ou mal e certo ou errado
e é tudo sobre as escolhas
que fazemos
as escolhas são mentiras
é decidir se vai usar a força
nos dedos ou nos tríceps
desde que nunca
mas nunca
caia
porque a queda
é inadmissível
os pulmões cheios de fumaça são vazios
o cérebro cheio de reflexões está vazio
e todas as interações humanas são vazias
vazias como um oceano
infinito
e cheio
de moléculas distintas
que dependem umas das outras
tudo irrelevante
e um fio segura a própria vida
pesada e inerte
que balança como um pendulo
e nos confunde com esse vai e vem
que mais parece uma ilusão
de novos eventos viciados
sem solução
mas a esperança
de nunca escorregar
a vida humana reduzida a um único
objetivo: se segurar tão forte quanto
possível sob um título
tão vazio e tão cheio quanto todo
o resto: vencer
nada é dicotômico
e o universo se repete todos
os dias
enquanto achamos que fazemos
bem ou mal e certo ou errado
e é tudo sobre as escolhas
que fazemos
as escolhas são mentiras
é decidir se vai usar a força
nos dedos ou nos tríceps
desde que nunca
mas nunca
caia
porque a queda
é inadmissível
sexta-feira, 14 de outubro de 2016
Meditação e dissolução
aqui dentro é silencioso
e solitário
finalmente não tenho mais perguntas
e a incessante busca por respostas
cessa
conto o tempo como um nihilista
gosto de jamais ter lido Nietzsche
ia me identificar
como me identifiquei com Bukowski
e como Bukowski
pude aproveitar toda a dor
como combustível de escrotidão
sexo e desrespeito e cerveja
basicamente
hoje eu não preciso
nem de Bukowski
nem de Nietzsche
nem da minha própria poesia
nem de comida
nem de água
nem de banho
hoje eu evito pensar na dor
e no meu corpo morto
foco
em não
ter foco
no tempo
passando
um segundo
por vez
me perguntando quanto tempo falta
2 meses?
4 anos?
10 anos?
20? 40? 55? 120?
um milênio?
é que antes
dava pra focar
no fim do mundo
mas hoje
a gente sabe
que os humanos
destroem os humanos
só buscando
serem eternamente
humanos
e a humanidade
nunca acaba
é mais fácil que sobremos nós todos eternos
e somente nós todos
do que algum idiota apertar o botão vermelho
e explodir a porra toda
jogando pedaços de terra pelo espaço
confundindo as forças da gravidade e nos tirando de órbita
jogados em sentido ao Sol
meu corpo
morto
a solidão
e o silêncio
me diz
o que você quer
o meu corpo
vivo
era pra ser
Teu
me diz
os teus planos
que me disponho
a Você como um comovido servo
diz que me quer
e as coisas virariam luz e som
meu corpo
como cinzas
ou um papel
molhado
uma molécula
de oxigênio
vagando
pela Via
Láctea
sem uma única dúvida
só um amontoado de respostas
que me trouxe até aqui
um lugar escuro
estranho
e distante
e solitário
finalmente não tenho mais perguntas
e a incessante busca por respostas
cessa
conto o tempo como um nihilista
gosto de jamais ter lido Nietzsche
ia me identificar
como me identifiquei com Bukowski
e como Bukowski
pude aproveitar toda a dor
como combustível de escrotidão
sexo e desrespeito e cerveja
basicamente
hoje eu não preciso
nem de Bukowski
nem de Nietzsche
nem da minha própria poesia
nem de comida
nem de água
nem de banho
hoje eu evito pensar na dor
e no meu corpo morto
foco
em não
ter foco
no tempo
passando
um segundo
por vez
me perguntando quanto tempo falta
2 meses?
4 anos?
10 anos?
20? 40? 55? 120?
um milênio?
é que antes
dava pra focar
no fim do mundo
mas hoje
a gente sabe
que os humanos
destroem os humanos
só buscando
serem eternamente
humanos
e a humanidade
nunca acaba
é mais fácil que sobremos nós todos eternos
e somente nós todos
do que algum idiota apertar o botão vermelho
e explodir a porra toda
jogando pedaços de terra pelo espaço
confundindo as forças da gravidade e nos tirando de órbita
jogados em sentido ao Sol
meu corpo
morto
a solidão
e o silêncio
me diz
o que você quer
o meu corpo
vivo
era pra ser
Teu
me diz
os teus planos
que me disponho
a Você como um comovido servo
diz que me quer
e as coisas virariam luz e som
meu corpo
como cinzas
ou um papel
molhado
uma molécula
de oxigênio
vagando
pela Via
Láctea
sem uma única dúvida
só um amontoado de respostas
que me trouxe até aqui
um lugar escuro
estranho
e distante
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
As coisas mais estranhas
eu vejo tudo
cometas e pedaços de pedra se chocando com o chão
rasgando toda a atmosfera que vem antes
e carros e postos de gasolina explodindo
e a fiação derretendo e infestando a casa de chamas famintas
e socos e chutes e bombas e armas
e fome e loucura e dentes amarelados e olhos amarelados
eu vejo tudo
e não sei escrever
o que vejo não vem em palavra escrita
mas em curtas alucinações
rápidas e pouco sadias
eu vejo tudo
e não quero me defender
pra tentar provar
o que vi
viro culpado
e logo prisioneiro
sempre muito bem definido
por uma fina amostra do que sou eu
sub humano
super herói
santo são sábio só
sinto humilhado
sílabas como um hino
sem hipérboles
só
isso
um estranho isso
estranho como todo o resto
estranhamente bom
e estranhamente ruim
eu vejo tudo
e é
estranho
cometas e pedaços de pedra se chocando com o chão
rasgando toda a atmosfera que vem antes
e carros e postos de gasolina explodindo
e a fiação derretendo e infestando a casa de chamas famintas
e socos e chutes e bombas e armas
e fome e loucura e dentes amarelados e olhos amarelados
eu vejo tudo
e não sei escrever
o que vejo não vem em palavra escrita
mas em curtas alucinações
rápidas e pouco sadias
eu vejo tudo
e não quero me defender
pra tentar provar
o que vi
viro culpado
e logo prisioneiro
sempre muito bem definido
por uma fina amostra do que sou eu
sub humano
super herói
santo são sábio só
sinto humilhado
sílabas como um hino
sem hipérboles
só
isso
um estranho isso
estranho como todo o resto
estranhamente bom
e estranhamente ruim
eu vejo tudo
e é
estranho
sábado, 27 de agosto de 2016
Fotossíntese
tudo pela
cura
temos sintomas
todos eles
e às vezes os conhecemos
às vezes nem os percebemos
e outras sabemos os nomes
de cor
como uma
lista de medalhas
que são só
nossas
uma porção de nomes
que explicitam
o que é
ser
o ser humano
é julgado
pelo que consome
mas deveria
ser julgado
pela lista
dos seus
problemas
o ser é o seu fardo
a vida é uma longa queda
e a morte é o impacto
final
que horror
e com esse amontoado de sintomas
priorizamos uns ou outros
e nos moldamos para sermos
sempre melhores
e melhores
até que esses sintomas
selecionados
façam parte de um
passado de histórias
de uma pessoa
pior
mas nunca é bom
o suficiente
nunca é certo
o suficiente
nunca nos cura
o suficiente
e os outros sintomas ficam todos ali
como crostas de fumaça
de longos e inexpressivos anos
de existência
e respiração
e contaminação
nos pulmões
a lista é atualizada
pois precisamos
da cura
e ela faz parte
do nosso propósito
a felicidade não é o propósito da vida
mas a felicidade pode ser a própria cura
ou algo parecido
ou só mais uma ilusão
ninguém
nunca
vai me provar
que é um
ou outro
lutamos
mais
e sempre
fingindo
que é pelos nossos filhos
e netos e bisnetos
que é sobre nossos pais e avós e bisavós
que é sobre a humanidade
ou sobre a vida na Terra
resilientes como a hera
que sobe as outras árvores
e faz sombra sobre elas
e as sufoca
sempre trepando e crescendo e indo em direção ao Sol como se ele pudesse nos alimentar a alma inclusive
sobrevivemos
cura
temos sintomas
todos eles
e às vezes os conhecemos
às vezes nem os percebemos
e outras sabemos os nomes
de cor
como uma
lista de medalhas
que são só
nossas
uma porção de nomes
que explicitam
o que é
ser
o ser humano
é julgado
pelo que consome
mas deveria
ser julgado
pela lista
dos seus
problemas
o ser é o seu fardo
a vida é uma longa queda
e a morte é o impacto
final
que horror
e com esse amontoado de sintomas
priorizamos uns ou outros
e nos moldamos para sermos
sempre melhores
e melhores
até que esses sintomas
selecionados
façam parte de um
passado de histórias
de uma pessoa
pior
mas nunca é bom
o suficiente
nunca é certo
o suficiente
nunca nos cura
o suficiente
e os outros sintomas ficam todos ali
como crostas de fumaça
de longos e inexpressivos anos
de existência
e respiração
e contaminação
nos pulmões
a lista é atualizada
pois precisamos
da cura
e ela faz parte
do nosso propósito
a felicidade não é o propósito da vida
mas a felicidade pode ser a própria cura
ou algo parecido
ou só mais uma ilusão
ninguém
nunca
vai me provar
que é um
ou outro
lutamos
mais
e sempre
fingindo
que é pelos nossos filhos
e netos e bisnetos
que é sobre nossos pais e avós e bisavós
que é sobre a humanidade
ou sobre a vida na Terra
resilientes como a hera
que sobe as outras árvores
e faz sombra sobre elas
e as sufoca
sempre trepando e crescendo e indo em direção ao Sol como se ele pudesse nos alimentar a alma inclusive
sobrevivemos
domingo, 14 de agosto de 2016
sábado, 13 de agosto de 2016
Bomba relógio
deleitosamente mergulhava nos mesmos motes
escolhendo fonemas distintos que simultaneamente me traziam de volta a quem eu
verdadeiramente
sou
talvez não evolua por falta de prática
ou estou num processo evolutivo incessante
sempre mais velho
e mais barbado
defenestrar meu presente não me soa consciente
ou sábio sob qualquer
instância
mas sigo num jogo de adivinhações em que
eu não paro de ganhar
experiência
sempre me debatendo na mesma poça de lama
buscando ar onde não há
me arranho todo e eu não faço questão de sentir dor
qualquer surto é demais
fecho os olhos e não surto
porque de certa forma
o surto
não vale
o sofrimento
amarro forte as minhas viseiras
e seriamente evito olhares
e contatos
sempre resiliente
esperando
explodir às 11h de uma terça feira
escolhendo fonemas distintos que simultaneamente me traziam de volta a quem eu
verdadeiramente
sou
talvez não evolua por falta de prática
ou estou num processo evolutivo incessante
sempre mais velho
e mais barbado
defenestrar meu presente não me soa consciente
ou sábio sob qualquer
instância
mas sigo num jogo de adivinhações em que
eu não paro de ganhar
experiência
sempre me debatendo na mesma poça de lama
buscando ar onde não há
me arranho todo e eu não faço questão de sentir dor
qualquer surto é demais
fecho os olhos e não surto
porque de certa forma
o surto
não vale
o sofrimento
amarro forte as minhas viseiras
e seriamente evito olhares
e contatos
sempre resiliente
esperando
explodir às 11h de uma terça feira
quarta-feira, 3 de agosto de 2016
A atualidade da história, a extinção do agora e o imediatismo do futuro distante
sinceramente
não gostaria
de ir pra
frente
sinceramente
não gostaria
de me mover
nem
um
centímetro
mas a maré
do mar de gentes
me leva
para lá
e para cá
me afundando em suas próprias
ondas
tomo um longo fôlego
e me satisfaço
boiando
de lá
para cá
sem mais que o esforço necessário
a corrente me leva
e eu participo
e sou mais uma pequena
e fundamental
e substituível
molécula
que dá corpo
à sociedade
o mundo evolui
rápido
demais
e eu assisto tudo isso
com meus próprios olhos
e eu compreendo
o significado
de História
sinceramente
eu não quero participar
dessa sociedade
sinceramente
eu não quero
mudar o mundo
nem vê-lo mudar
nem coisas velhas
nem novas
nem pouca coisa qualquer
sinceramente
eu boio
e a correnteza me leva
e os humanos já não são
mais os mesmos
as relaçoes
e a economia
e a política
e as cidades
e as culturas
e as tecnologias
não são mais
as mesmas
eu não sou o mesmo faz tempo
eu não quero ser
e sou
os anos estão passando mais rápido?
o futuro parece agora
mais um segundo
que significa muita coisa
pra construçao da
humanidade
é o tempo
de eu observar
as texturas
do vidro
com os olhos fixos
até que uma onda
me leve para cima
ou para baixo
e faça de mim
um ser humano melhor
ou
pior
não gostaria
de ir pra
frente
sinceramente
não gostaria
de me mover
nem
um
centímetro
mas a maré
do mar de gentes
me leva
para lá
e para cá
me afundando em suas próprias
ondas
tomo um longo fôlego
e me satisfaço
boiando
de lá
para cá
sem mais que o esforço necessário
a corrente me leva
e eu participo
e sou mais uma pequena
e fundamental
e substituível
molécula
que dá corpo
à sociedade
o mundo evolui
rápido
demais
e eu assisto tudo isso
com meus próprios olhos
e eu compreendo
o significado
de História
sinceramente
eu não quero participar
dessa sociedade
sinceramente
eu não quero
mudar o mundo
nem vê-lo mudar
nem coisas velhas
nem novas
nem pouca coisa qualquer
sinceramente
eu boio
e a correnteza me leva
e os humanos já não são
mais os mesmos
as relaçoes
e a economia
e a política
e as cidades
e as culturas
e as tecnologias
não são mais
as mesmas
eu não sou o mesmo faz tempo
eu não quero ser
e sou
os anos estão passando mais rápido?
o futuro parece agora
mais um segundo
que significa muita coisa
pra construçao da
humanidade
é o tempo
de eu observar
as texturas
do vidro
com os olhos fixos
até que uma onda
me leve para cima
ou para baixo
e faça de mim
um ser humano melhor
ou
pior
sexta-feira, 29 de julho de 2016
O desespero e a calma
um boato branco
e trivial
como um tiro no escuro
que desvia por ruelas
e toca a pele
por descuido
o medo incontrolável
de dormir
em público
e os sonhos
confundem a realidade
e os olhos fecham por um breve
segundo
e nasce-se outra vez
uma golfada de ar
para todo o medo
que conscientemente
juro
não sentir
um raio
e um percurso
e um trovão
uma refeição
bem preparada
que te mata
um piso
errado
e
bang
é tudo novo
golfo de novo
se é que essa palavra
existe
o ar me incomoda
não tenho medo
de nada
exceto do tempo
e da luz
e da louça
e do desemprego
e do passado
e do presente
e do futuro
e de todas essas catástrofes que não param de girar em torno de mim
como se eu fosse um imã de caos
o terreno é depilado
as fumaças negras e densas surgem esporadicamente
os carros se engavetam com lentidão absurda
um choque
atrás do
outro
acho que tem mais ambulâncias
e mais vítimas
e mais corpos sem rostos
sempre seus corpos
deitados
e uma multidão
ou um policial
ou um bombeiro
ou uma porta
sempre esconde
o rosto
da vítima
o mundo anda lindo
o céu e suas cores
e as árvores e suas folhas e flores
e o amor
o amor nos deixa cego
e nos sentimos gratos
pela vida
conscientes desse sufoco nessa merda toda
conscientemente calmos
e gratos
e vivos
e trivial
como um tiro no escuro
que desvia por ruelas
e toca a pele
por descuido
o medo incontrolável
de dormir
em público
e os sonhos
confundem a realidade
e os olhos fecham por um breve
segundo
e nasce-se outra vez
uma golfada de ar
para todo o medo
que conscientemente
juro
não sentir
um raio
e um percurso
e um trovão
uma refeição
bem preparada
que te mata
um piso
errado
e
bang
é tudo novo
golfo de novo
se é que essa palavra
existe
o ar me incomoda
não tenho medo
de nada
exceto do tempo
e da luz
e da louça
e do desemprego
e do passado
e do presente
e do futuro
e de todas essas catástrofes que não param de girar em torno de mim
como se eu fosse um imã de caos
o terreno é depilado
as fumaças negras e densas surgem esporadicamente
os carros se engavetam com lentidão absurda
um choque
atrás do
outro
acho que tem mais ambulâncias
e mais vítimas
e mais corpos sem rostos
sempre seus corpos
deitados
e uma multidão
ou um policial
ou um bombeiro
ou uma porta
sempre esconde
o rosto
da vítima
o mundo anda lindo
o céu e suas cores
e as árvores e suas folhas e flores
e o amor
o amor nos deixa cego
e nos sentimos gratos
pela vida
conscientes desse sufoco nessa merda toda
conscientemente calmos
e gratos
e vivos
terça-feira, 28 de junho de 2016
Datilógrafo
de novo os dedos
urgiam por escrever
as mesmas palavras
e as mesmas estrofes
viciadas
que diziam
sempre
a mesma coisa
amarrei-os
e o cérebro deu uma volta nele mesmo
como se por revolta
girasse no sentido horário
morre aqui
a capacidade
de bater em teclas
e dizer
alguma
coisa
urgiam por escrever
as mesmas palavras
e as mesmas estrofes
viciadas
que diziam
sempre
a mesma coisa
amarrei-os
e o cérebro deu uma volta nele mesmo
como se por revolta
girasse no sentido horário
morre aqui
a capacidade
de bater em teclas
e dizer
alguma
coisa
domingo, 19 de junho de 2016
O dado de 20 faces e a revolução do planeta
um prelúdio
de um dia novo
a experiência de experimentar a inovação
cultivando a ideia como um processo
de seguir em frente
e quebrar o código
5h da manhã
e o meu vizinho
faz barulhos
me pergunto se o acordei
ou se ele está acordando os outros
vizinhos
aqui eu tenho sono
e a curiosidade
às vezes parece que há um fio de esperança
às vezes parece que ha um mar inteiro
às vezes a palavra sequer
existe
eu nem sei ao certo
o que hoje é
certo
não sei dizer
se algo que não começa
precisa ter fim
preso nos meus próprios vícios de linguagem
meu dicionário de páginas amarelas
meu pacote de regras
que dizem
quem sou
eu
primeiro um primata
depois um elefante branco
assim um caranguejo
ou um passarinho
ou uma planta em um
pequeno vaso
sufocada
em suas próprias
raízes
eco
dos meus próprios
barulhos
eco de mim nas superfícies todas
o som bate e rebate e a gata mia pedindo amor
eu mio
pedindo
amor
minha âncora
me suporta
ou me
afunda
minhas asas
me fazem voar
ou dificultam
o meu
caminhar
meu canto
é ode
e
ódio
de um dia novo
a experiência de experimentar a inovação
cultivando a ideia como um processo
de seguir em frente
e quebrar o código
5h da manhã
e o meu vizinho
faz barulhos
me pergunto se o acordei
ou se ele está acordando os outros
vizinhos
aqui eu tenho sono
e a curiosidade
às vezes parece que há um fio de esperança
às vezes parece que ha um mar inteiro
às vezes a palavra sequer
existe
eu nem sei ao certo
o que hoje é
certo
não sei dizer
se algo que não começa
precisa ter fim
preso nos meus próprios vícios de linguagem
meu dicionário de páginas amarelas
meu pacote de regras
que dizem
quem sou
eu
primeiro um primata
depois um elefante branco
assim um caranguejo
ou um passarinho
ou uma planta em um
pequeno vaso
sufocada
em suas próprias
raízes
eco
dos meus próprios
barulhos
eco de mim nas superfícies todas
o som bate e rebate e a gata mia pedindo amor
eu mio
pedindo
amor
minha âncora
me suporta
ou me
afunda
minhas asas
me fazem voar
ou dificultam
o meu
caminhar
meu canto
é ode
e
ódio
quinta-feira, 26 de maio de 2016
Dicotomia sem dialética
o império de mim desfalece como uma barragem
todo esse eu em vazamento furioso
descendo
e caindo
líquido como
um tsunami
nenhum acordo bom
só tiros no pé e a reafirmação
de ignorâncias
se apoiar em esperança
não é nada mais do que deixar
nas mãos de Deus
enquanto a gente nem tem
certeza
que Deus existe
sinto dó das
mulheres
e de mais um monte de gente
e de mim mesmo
porque só a dó
exprime a impressão
concreta
de que essa merda
tá realmente fodida
vocês estão loucos
gritando loucuras
e
sendo
escrotos
não tem mais esperança
tem um mundo inteiro de
pessoas vazias
de qualquer fio
de empatia
só sobra a paciência
e a resiliência
eu borbulho por dentro
e praticamente aceito
vomito esse poema
como eles vomitam opiniões
com a boca cheia de desprezo
apontando dedos e dizendo
que aceitem o fato de serem coniventes
com essa bomba atômica
que admitam o erro
ao invés de contornar suas memórias
dando outros sentidos
às suas palavras
eu não quero ninguém vilão
porque vilão
todo mundo
é
quero gente pensando
e concluindo que sim
isso tudo é uma grande
merda
mas não pensam
não admitem
ninguém admite
eu estou cansado de admitir
parece que só eu sou moldável
ao bel prazer
só eu que mudo de opinião
com a informação
mais lógica
parece vazio
ser sensato
porque os sensatos
não lutam
e não gritam
e não apontam dedos e palavras e armas
eu só não quero
ser enganado
e como fogos de artifício
os próprios enganadores
mostram aos enganados
que foi tudo
mais um
engano
e ainda
sou só
eu
que me sinto
enganado
toda
hora
enganado
não tem mais esperança
tem leões e tigres e onças e pavões e babuínos
desenhados por uma criança
de 4
anos
sangrando
até
que sobrem apenas
os mais espertos
e eu ainda tenho a
coragem de achar
que sou só eu
como eles pensam
que a voz
do povo
é a voz
de Deus
todo esse eu em vazamento furioso
descendo
e caindo
líquido como
um tsunami
nenhum acordo bom
só tiros no pé e a reafirmação
de ignorâncias
se apoiar em esperança
não é nada mais do que deixar
nas mãos de Deus
enquanto a gente nem tem
certeza
que Deus existe
sinto dó das
mulheres
e de mais um monte de gente
e de mim mesmo
porque só a dó
exprime a impressão
concreta
de que essa merda
tá realmente fodida
vocês estão loucos
gritando loucuras
e
sendo
escrotos
não tem mais esperança
tem um mundo inteiro de
pessoas vazias
de qualquer fio
de empatia
só sobra a paciência
e a resiliência
eu borbulho por dentro
e praticamente aceito
vomito esse poema
como eles vomitam opiniões
com a boca cheia de desprezo
apontando dedos e dizendo
que aceitem o fato de serem coniventes
com essa bomba atômica
que admitam o erro
ao invés de contornar suas memórias
dando outros sentidos
às suas palavras
eu não quero ninguém vilão
porque vilão
todo mundo
é
quero gente pensando
e concluindo que sim
isso tudo é uma grande
merda
mas não pensam
não admitem
ninguém admite
eu estou cansado de admitir
parece que só eu sou moldável
ao bel prazer
só eu que mudo de opinião
com a informação
mais lógica
parece vazio
ser sensato
porque os sensatos
não lutam
e não gritam
e não apontam dedos e palavras e armas
eu só não quero
ser enganado
e como fogos de artifício
os próprios enganadores
mostram aos enganados
que foi tudo
mais um
engano
e ainda
sou só
eu
que me sinto
enganado
toda
hora
enganado
não tem mais esperança
tem leões e tigres e onças e pavões e babuínos
desenhados por uma criança
de 4
anos
sangrando
até
que sobrem apenas
os mais espertos
e eu ainda tenho a
coragem de achar
que sou só eu
como eles pensam
que a voz
do povo
é a voz
de Deus
terça-feira, 24 de maio de 2016
Ninho
sou um pombo
que anda
e cisca
e anda
e voa
que se aninha
nos cantos escuros
e altos
praticamente
quieto
e resiliente
e imundo
arrulho
um som tao baixo
que me esqueço
que fui eu
esquece
mas dentro
de mim
Buda vive
um Buda em berros altos e estridentes
me explodindo em uma energia que fluidamente
entra
em mim
Buda quebra
e minha caixa toráxica
inflada e inflamada
segue como colete a prova de balas
arrulho
me aninho
quieto
cisco
que anda
e cisca
e anda
e voa
que se aninha
nos cantos escuros
e altos
praticamente
quieto
e resiliente
e imundo
arrulho
um som tao baixo
que me esqueço
que fui eu
esquece
mas dentro
de mim
Buda vive
um Buda em berros altos e estridentes
me explodindo em uma energia que fluidamente
entra
em mim
Buda quebra
e minha caixa toráxica
inflada e inflamada
segue como colete a prova de balas
arrulho
me aninho
quieto
cisco
sábado, 21 de maio de 2016
Insustentável
me enxaguei
e me ensaboei de novo
ao pegar o shampoo
percebo que eu já havia
terminado o meu banho
devolvo o frasco para o
lugar dele
a água é quente
muito quente
e lá fora
o ar é úmido
e a água congelada
entra nos fios dos cabelos
e da minha
barba
muito quente
olho para baixo
e o ralo se parece
comigo
ou a água sou eu
e eu derreto
transparente
e limpo
muito quente
como eu consigo me sentir tão bem aqui?
sozinho num retângulo de noventa por um e
dez
o tempo para
nada importa
o mundo não
tem mais sons
o mundo nem
existe
mais
só o som da água no meu corpo
e nas paredes
e na janela
e no piso
e o chuveiro
me cantando
em um contínuo
som gutural
muito quente - eu importo - e a água queima minha pele feliz
meu corpo feliz
minha vida feliz
tenho medo do banho
de entrar e não sair mais
nunca mais
despejando toda a represa do Córrego Grande
nas minhas costas
sem perceber
que gastei
toda a água
do mundo
muito quente
só calor
e o som
dali
de dentro
girei a torneira para a direita
pouco o suficiente
pra ficar mais quente
e eu conto até dez
e eu conto até dez
e eu conto até dez
e eu esqueço que estava contando
e estou no 241
giro mais
e fica mais quente
não consigo
mais
respirar
o vapor
que sai
de mim
desligo o chuveiro
e o mundo lá fora
volta a fazer barulho
enquanto o ralo
chora
e o chuveiro chora
o ar gruda
em mim
como o próximo
e gelado
segundo
e me ensaboei de novo
ao pegar o shampoo
percebo que eu já havia
terminado o meu banho
devolvo o frasco para o
lugar dele
a água é quente
muito quente
e lá fora
o ar é úmido
e a água congelada
entra nos fios dos cabelos
e da minha
barba
muito quente
olho para baixo
e o ralo se parece
comigo
ou a água sou eu
e eu derreto
transparente
e limpo
muito quente
como eu consigo me sentir tão bem aqui?
sozinho num retângulo de noventa por um e
dez
o tempo para
nada importa
o mundo não
tem mais sons
o mundo nem
existe
mais
só o som da água no meu corpo
e nas paredes
e na janela
e no piso
e o chuveiro
me cantando
em um contínuo
som gutural
muito quente - eu importo - e a água queima minha pele feliz
meu corpo feliz
minha vida feliz
tenho medo do banho
de entrar e não sair mais
nunca mais
despejando toda a represa do Córrego Grande
nas minhas costas
sem perceber
que gastei
toda a água
do mundo
muito quente
só calor
e o som
dali
de dentro
girei a torneira para a direita
pouco o suficiente
pra ficar mais quente
e eu conto até dez
e eu conto até dez
e eu conto até dez
e eu esqueço que estava contando
e estou no 241
giro mais
e fica mais quente
não consigo
mais
respirar
o vapor
que sai
de mim
desligo o chuveiro
e o mundo lá fora
volta a fazer barulho
enquanto o ralo
chora
e o chuveiro chora
o ar gruda
em mim
como o próximo
e gelado
segundo
quarta-feira, 18 de maio de 2016
Os meus patamares são pontas de agulha no meio da multidão
mais um impulso
ele vem e fica na minha nuca e nos meus ombros
até eu pular
mais um córrego
obscuro
de pensamentos
sinceros
complexos
e vazios
meu espírito
acima de mim
se empurrando pra fora
pra me deixar
aqui
ele fica
e eu não sei
se gosto
é bom
mas eu não sei
se gosto
mais um impulso
e ele não significa
muita
coisa
ele vem e fica na minha nuca e nos meus ombros
até eu pular
mais um córrego
obscuro
de pensamentos
sinceros
complexos
e vazios
meu espírito
acima de mim
se empurrando pra fora
pra me deixar
aqui
ele fica
e eu não sei
se gosto
é bom
mas eu não sei
se gosto
mais um impulso
e ele não significa
muita
coisa
domingo, 15 de maio de 2016
Vestido de paetê
solta os dedos
e deixa dançarem
porque alguém precisa dançar
nem os tímpanos dançam mais
o silêncio não existe
ficam os sons do mundo
mas com eles
a gente dança outro tipo
de dança
deixa que façam o que fazem melhor
é que outra hora achei que eram bons pra outra
coisa
duvido muito
que possam fazer ao menos
isto
a dança
dedos
pra lá
e pra cá
que te amam e caem
sempre caem
e sobem e descem
numa dança que pouco
faz
sentido
é só como eu aprendi a
viver
com amor
e
sem cerveja
mas quando tínhamos cerveja
dançávamos
mais
e todo o ódio gerado pelo glúten
vazava por eles
os dedos
com uma agilidade
despudorada
quase inconsciente
de tão rústico
rude
ríspido
escroto
muito
escroto
vai ver
a cerveja foi por um bem
maior
a paz no mundo
porque ele se autodestrói
sem que eu precise tirar meu rosto
pra cidade
minha vida em uma caverna
quente como a minha pele
suja como a minha mente
e os dedos ficam calmos
e eu nem tenho vergonha em dizer
que parei de
beber
acho que nunca fui bonito
acabei dando muito valor pra coisas que hoje
não importam
me importa mais do mesmo
o meu umbigo
cheio de pés de
alface
"eu precisava de cocaína para acordar"
eu precisava dormir
toda hora
porque esse sono todo já teve muitos nomes
essa vida já teve muitos significados
eu já expliquei tudo
e mudei as explicações
pois tudo
precisa
ser sempre lógico
fico mais lógico
mais lógico
muito lógico
tudo é lógica
eu não acredito no meu poder
poder
é opressão
e eu não estou interessado em
oprimir
me oprimo
guardando toda essa
força
pra quando
algo fizer sentido
porque tudo é lógico
mas raramente faz sentido
os dedos batem
teclas
e é lógico
as palavras
tudo sobre palavras
porque elas definem o indefinível
houve uma época em que eu
simplesmente acreditava que as
coisas existiam independentemente
das palavras
portanto as coisas seriam
nomeadas por diferentes
palavras
uma coisa com vários nomes
em várias línguas
que se interceptam e se confundem e se mesclam
a palavra perdia sua importância
pois seria vulgar
comum
popular
mas a palavra tem poder
solto os dedos
e eles dançam
não é meu poder
eu não tenho poderes
é o poder da palavra
de espremer
tudo o que ficou aqui
as histórias
e as memórias
e os sonhos
que são feitos de trigo
recheados de doce de leite
e creme
e nutella
e sabores tão doces quanto a própria farsa de existir
e deixa dançarem
porque alguém precisa dançar
nem os tímpanos dançam mais
o silêncio não existe
ficam os sons do mundo
mas com eles
a gente dança outro tipo
de dança
deixa que façam o que fazem melhor
é que outra hora achei que eram bons pra outra
coisa
duvido muito
que possam fazer ao menos
isto
a dança
dedos
pra lá
e pra cá
que te amam e caem
sempre caem
e sobem e descem
numa dança que pouco
faz
sentido
é só como eu aprendi a
viver
com amor
e
sem cerveja
mas quando tínhamos cerveja
dançávamos
mais
e todo o ódio gerado pelo glúten
vazava por eles
os dedos
com uma agilidade
despudorada
quase inconsciente
de tão rústico
rude
ríspido
escroto
muito
escroto
vai ver
a cerveja foi por um bem
maior
a paz no mundo
porque ele se autodestrói
sem que eu precise tirar meu rosto
pra cidade
minha vida em uma caverna
quente como a minha pele
suja como a minha mente
e os dedos ficam calmos
e eu nem tenho vergonha em dizer
que parei de
beber
acho que nunca fui bonito
acabei dando muito valor pra coisas que hoje
não importam
me importa mais do mesmo
o meu umbigo
cheio de pés de
alface
"eu precisava de cocaína para acordar"
eu precisava dormir
toda hora
porque esse sono todo já teve muitos nomes
essa vida já teve muitos significados
eu já expliquei tudo
e mudei as explicações
pois tudo
precisa
ser sempre lógico
fico mais lógico
mais lógico
muito lógico
tudo é lógica
eu não acredito no meu poder
poder
é opressão
e eu não estou interessado em
oprimir
me oprimo
guardando toda essa
força
pra quando
algo fizer sentido
porque tudo é lógico
mas raramente faz sentido
os dedos batem
teclas
e é lógico
as palavras
tudo sobre palavras
porque elas definem o indefinível
houve uma época em que eu
simplesmente acreditava que as
coisas existiam independentemente
das palavras
portanto as coisas seriam
nomeadas por diferentes
palavras
uma coisa com vários nomes
em várias línguas
que se interceptam e se confundem e se mesclam
a palavra perdia sua importância
pois seria vulgar
comum
popular
mas a palavra tem poder
solto os dedos
e eles dançam
não é meu poder
eu não tenho poderes
é o poder da palavra
de espremer
tudo o que ficou aqui
as histórias
e as memórias
e os sonhos
que são feitos de trigo
recheados de doce de leite
e creme
e nutella
e sabores tão doces quanto a própria farsa de existir
sexta-feira, 22 de abril de 2016
Alógica
A avaliação do cenário, aplicada sob metodologia que se embasa na neutralidade, é clara: catástrofe. Sol, suor, vento, chuva e frio. Em um suspiro tão breve quanto um ano inteiro de fantasias, ou quatro meses. O planeta inteiro em ritmo de halloween. Cada um com a sua, uma mais diferente da outra. Existem as geniais, as criativas, as ofensivas e as de sexy shop. E as mais profundas verdades, tornam-se fantasia. A realidade é uma fantasia que eu simplesmente não aguento. Fujo. Procuro outras realidades. Vivo viajando por mundos de fantasias.
Oscilo e balanço. Mesmo sem música, há música. O cenário muda, aos poucos, bem poucos. Os atos se demoram. A Terra me puxa para dentro, como se a natureza me quisesse dentro dela. Do ventre da minha mãe, para o ventre da Mãe Natureza. Numa queda orgânica e grotesca, que começa em uma corrida entre espermatozoides, ou mais cedo, na produção daquele espermatozoide daquele dia, ou do óvulo daquele mês, ou ainda mais cedo desde o início da vida na Terra, findando em uma reciclagem de componentes. Manufatura, produto, vida útil, lixo.
O que fazemos com o nosso lixo? A vida útil dos nossos produtos é longa o suficiente para que não se produza lixo sobre lixo? O lixo depende exatamente da vida útil? Existem coisas vivas que são lixos? Lixos orgânicos, vivos, opressores ou oprimidos?
Me pergunto qual o propósito dessas perguntas aleatórias. Não paro de me perguntar as coisas. É que a gravidade é tão pesada que sobra tempo para se pensar. O tempo vai embora. Vai como quem vira fantasma. Some para sempre. Não deixa nada senão saudades vazias e insignificantes, a longo prazo. Não sei se o tempo que se foi está melhor sem mim. Me subjugo. O jogo de perguntas e respostas sempre me subjugam. Sempre eu na pior escala, só assim eu entendo os lados. Quero entender tudo e todos. Mas não me entendo. Falta tempo.
E muito sinceramente, nem o quero mais, o tempo. Por mim, deixava de existir. E o conceito de tempo se extinguiria como as obrigações básicas da vida. Viveria como um animal, fazendo o básico por necessidade. E eu me conheço, ficaria cada vez mais só e introvertido. Minha vida seria dedicada ao exclusivo esforço mental. E muito provavelmente, entenderia tudo que temos o privilégio de não saber. A ignorância como privilégio forma seres bonitos e saudáveis. Ou não tão saudáveis. Quem me dera fosse saudável.
Catástrofe. Nem cabe mais pensar em solução. Nem a fama e o sucesso, nem o suicídio, me parecem propostas formalmente adequadas. E sou só quebra de decoro, formalidades dispensadas no tratar de absolutamente tudo, mas a lógica da situação pede precaução, no mínimo. Raízes mimadas, tronco rebelde, galhos frágeis. O vento me leva. A correnteza me leva. O tempo me leva. E a gravidade me deixa aqui, presa por orgulho, comprimindo todos os meus valores e me obrigando a contínua, incansável e, inerentemente, humilhante autoavaliação. O cenário é de catástrofe.
E a fantasia de que o mundo vai acabar ainda parece fazer parte dos pelos que nos nascem dos braços.
Oscilo e balanço. Mesmo sem música, há música. O cenário muda, aos poucos, bem poucos. Os atos se demoram. A Terra me puxa para dentro, como se a natureza me quisesse dentro dela. Do ventre da minha mãe, para o ventre da Mãe Natureza. Numa queda orgânica e grotesca, que começa em uma corrida entre espermatozoides, ou mais cedo, na produção daquele espermatozoide daquele dia, ou do óvulo daquele mês, ou ainda mais cedo desde o início da vida na Terra, findando em uma reciclagem de componentes. Manufatura, produto, vida útil, lixo.
O que fazemos com o nosso lixo? A vida útil dos nossos produtos é longa o suficiente para que não se produza lixo sobre lixo? O lixo depende exatamente da vida útil? Existem coisas vivas que são lixos? Lixos orgânicos, vivos, opressores ou oprimidos?
Me pergunto qual o propósito dessas perguntas aleatórias. Não paro de me perguntar as coisas. É que a gravidade é tão pesada que sobra tempo para se pensar. O tempo vai embora. Vai como quem vira fantasma. Some para sempre. Não deixa nada senão saudades vazias e insignificantes, a longo prazo. Não sei se o tempo que se foi está melhor sem mim. Me subjugo. O jogo de perguntas e respostas sempre me subjugam. Sempre eu na pior escala, só assim eu entendo os lados. Quero entender tudo e todos. Mas não me entendo. Falta tempo.
E muito sinceramente, nem o quero mais, o tempo. Por mim, deixava de existir. E o conceito de tempo se extinguiria como as obrigações básicas da vida. Viveria como um animal, fazendo o básico por necessidade. E eu me conheço, ficaria cada vez mais só e introvertido. Minha vida seria dedicada ao exclusivo esforço mental. E muito provavelmente, entenderia tudo que temos o privilégio de não saber. A ignorância como privilégio forma seres bonitos e saudáveis. Ou não tão saudáveis. Quem me dera fosse saudável.
Catástrofe. Nem cabe mais pensar em solução. Nem a fama e o sucesso, nem o suicídio, me parecem propostas formalmente adequadas. E sou só quebra de decoro, formalidades dispensadas no tratar de absolutamente tudo, mas a lógica da situação pede precaução, no mínimo. Raízes mimadas, tronco rebelde, galhos frágeis. O vento me leva. A correnteza me leva. O tempo me leva. E a gravidade me deixa aqui, presa por orgulho, comprimindo todos os meus valores e me obrigando a contínua, incansável e, inerentemente, humilhante autoavaliação. O cenário é de catástrofe.
E a fantasia de que o mundo vai acabar ainda parece fazer parte dos pelos que nos nascem dos braços.
sábado, 2 de abril de 2016
Dialética, retórica e introversão
As palavras já não saem mais. De nenhum jeito. Não há receita que as tirem daqui. Ficam girando numa massa espessa, se esbarrando e me fazendo me entender. O atrito das letras gerando ruídos harmônicos e desarmônicos, atiçando os meus olhos nas cores que vejo e as minhas narinas com os odores que inspiro. Indefinido, me conheço cada vez mais. Me reconheço só. Ninguém me lê. Ninguém me entende. Porque as palavras não formam orações, mas cânticos primitivos. Os nossos deuses já não são os mesmos. As nossas ideias não são mais as mesmas. Eu não digo. Me guardo. Penso em suicídio mais vezes do que me sinto ótimo. Mas estou bem. As palavras me confortam. Girando como uma estrela, confinando e consumindo combustível num centro gravitacional. O som da estrela girando, como um coração pulsando, como asas batendo, como o ronronar de um gato. Me deito, inspiro, expiro. As palavras me confortam, mas eu não sei escrever.
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