irrelevante era a palavra que eu tinha adotado como base da minha existência
tudo era um pouco irrelevante
um pouco ou plenamente
pouco fazia sentido e efetivamente tudo era irrelevante
irrelevante era a palavra
e isso me fazia frio e insensível
irrelevante e não importava a importância
o que quer que fosse pouco era mais que irrelevante
há tempos eu escolhia que tudo haveria de ser intenso
daí as coisas ficaram deveras intensas
e não há nada de romântico em uma bomba atômica
logo nada supria essa necessidade de intensidade
nada é intenso o suficiente
enquanto a premissa é a auto suficiência por rombos maiores
pelo caos que transborda e inunda
enxurrada de humanidade em um curto espaço de tempo
mas nada é assim
nada é intenso a ponto de mudar o eixo de rotação da Terra
nado no ar como se fosse denso a ponto de me afogar
agonizo em indiferença e irrelevância
falta ar pra todas as viagens inter atlânticas que eu quero fazer
e fico comigo nesse mesmo e curioso centro de gravidade
girando nos calcanhares pra encontrar o amor da minha vida
ou o carro que por mera ocasião me atropela e me tira a vida
falta qualquer coisa pra ser alguma coisa
e normalmente só falta
e as coisas acabam como os dias e as noites
com hora marcada pra começo e fim
irrelevante é a palavra
que se repete como cd riscado
que volta em si mesma
e se prova inútil como todo o resto
irrelevante e o mundo segue pleno
pleno e plano e bola de neve
um passo ar e outro passo
ar e a irrelevância e mais um passo
ar de novo e o mundo segue
um passo atrás do outro
e um suspiro mais longo que o anterior
ar e irrelevância
e a minha vontade de ser Deus
mais fraca que o meu desejo de
deixar de existir
passo a passo
na proposta mais nova
murmúrio indeciso
indiferente e indefeso
um mundo melhor
longe de mim
uma pessoa melhor
longe do mundo
sábado, 2 de dezembro de 2017
domingo, 26 de novembro de 2017
Satisfação
a vida ia me consumindo confusa
talvez eu mais confuso do que ela
se alimentando de mim com a mesma fome
que eu sinto
a humanidade dobrada em padrões
e se repetindo por hábito
e eu repetindo outras coisas
e sendo outro padrão
sem humano
no contorno do que é certo
só o trágico sentido da existência per se
ser porque é
desviando e me escondendo
do comum não por opção
mas um pedaço é orgulho
e o outro é vergonha
como se eu não soubesse que ambos fossem a mesma coisa
um pulo atrás do outro
que cansam mas não
me tiram do lugar
um lugar novo pra cada irrelevância
uma novidade pra cada escravo vendido
um espaço cheio e minha geladeira cheia e a vida me consumindo
um puxão pra fora de mim
sugar cair partir
vazio catástrofe dúvida
do tempo todo que atravessa
minha alma como se fosse fino
fino e nobre e ouro
quebro em pequenezas e me vejo em todos os cantos
um trovão para cada batida de coração
e um tombo para cada célula de oxigênio roubada
um suspiro e eu já sou o mesmo de novo
nenhuma notícia de que o alter ego ultrapassou o super ego
e não virei sábio por mero desprazer
a vida que consome
e as mãos abanando em sinal de rendição
pintei o sol de amarelo e ele me cegou
fiz da chuva um inimigo e da terra surgiu a flor
é manhã e noite ao mesmo tempo e o mundo continua
padrão vinte quatro horas
padrão instagram
padrão rede globo
padrão homem branco héterossexual um metro e setenta e essas coisas que dão existência a vida
como reis e patrões
o homem que meu pai quis que eu fosse
e que a vida comeu
me fiz de artista porque seria nada
senão osso e pele
mas na maioria das vezes nada faz sentido
a gente se chama do que quer se chamar
basta categorizar a auto estima e matematicamente a gente sabe quem você é pelos teus olhos
é estranho que a gente quase não se conhece
ninguém sabe ao certo se fomos feitos pra obedecer
ou pra agirmos sob a própria liberdade
livre arbítrio ou liberdade arbitrária
meu dia acabando de novo
e eu ainda não sei tocar saxofone
nem lavei o banheiro
muito menos
sobrevivi
a um
milagre
a vida arrota
satisfeita
talvez eu mais confuso do que ela
se alimentando de mim com a mesma fome
que eu sinto
a humanidade dobrada em padrões
e se repetindo por hábito
e eu repetindo outras coisas
e sendo outro padrão
sem humano
no contorno do que é certo
só o trágico sentido da existência per se
ser porque é
desviando e me escondendo
do comum não por opção
mas um pedaço é orgulho
e o outro é vergonha
como se eu não soubesse que ambos fossem a mesma coisa
um pulo atrás do outro
que cansam mas não
me tiram do lugar
um lugar novo pra cada irrelevância
uma novidade pra cada escravo vendido
um espaço cheio e minha geladeira cheia e a vida me consumindo
um puxão pra fora de mim
sugar cair partir
vazio catástrofe dúvida
do tempo todo que atravessa
minha alma como se fosse fino
fino e nobre e ouro
quebro em pequenezas e me vejo em todos os cantos
um trovão para cada batida de coração
e um tombo para cada célula de oxigênio roubada
um suspiro e eu já sou o mesmo de novo
nenhuma notícia de que o alter ego ultrapassou o super ego
e não virei sábio por mero desprazer
a vida que consome
e as mãos abanando em sinal de rendição
pintei o sol de amarelo e ele me cegou
fiz da chuva um inimigo e da terra surgiu a flor
é manhã e noite ao mesmo tempo e o mundo continua
padrão vinte quatro horas
padrão instagram
padrão rede globo
padrão homem branco héterossexual um metro e setenta e essas coisas que dão existência a vida
como reis e patrões
o homem que meu pai quis que eu fosse
e que a vida comeu
me fiz de artista porque seria nada
senão osso e pele
mas na maioria das vezes nada faz sentido
a gente se chama do que quer se chamar
basta categorizar a auto estima e matematicamente a gente sabe quem você é pelos teus olhos
é estranho que a gente quase não se conhece
ninguém sabe ao certo se fomos feitos pra obedecer
ou pra agirmos sob a própria liberdade
livre arbítrio ou liberdade arbitrária
meu dia acabando de novo
e eu ainda não sei tocar saxofone
nem lavei o banheiro
muito menos
sobrevivi
a um
milagre
a vida arrota
satisfeita
sábado, 18 de novembro de 2017
Se você não pode ter o que quer, pode me ter
a vida virou toda sensação
e tudo traz o máximo de mim
enquanto eu entendo que
eu poderia muito bem
estar disfarçado
e invisível
e insensível
sensação
uma atrás da outra
um troco errado ou um sorriso
um empurrão ou uma trombada
a sensação de estar sozinho em um mar de humanos
e todos eles indo pra cima e pra baixo como ondas
enquanto eu me preocupo com os tubarões que sei que não existem
mas eu sou bem isso
uma pergunta mais rápida que a resposta anterior
e um passo atrás por segurança
um mundo de plástico por humanos de verdade
e eu com um lança chamas pra me precaver
que nada disso é natural
as lágrimas que vazam dos olhos
antes da tristeza ou do rancor ou do que quer que traga lágrimas aos olhos
e vazam como torneiras pingando
água quente que atravessa as minhas bochechas
e se esconde dentro dos pelos da barba como um filho que se enrola com sua mãe
sem realidade
nem fantasia
mas esse meio termo maluco de coisas diferentes
e luzes diferentes
e pessoas que eu não sei quem são
eles não sabem quem eu sou
e isso me veste de uma armadura dourada
como se ouro fosse tão duro quanto fosse necessário
eu brilho
como uma estrela que morre
até que tudo apaga
e vira noite
a madrugada é a melhor amiga de quem tem medo da luz
pois as lágrimas formadas
logo perdem sentido
e tudo vira lógica e poesia
enquanto ela desce lenta e inconsciente
o amor como pedras que caem do céu
e o futuro como fábricas fora da cidade
raios e trovões de agora e daqui a pouco
e nem um sinal que ano que vem será melhor
às vezes você percebe que o coração está vivo
e de vez em quando não parece mais que uma
luminária que pisca em curto circuito
piscando vivo e piscando morto
alternando certo e errado por convenção
isso é amor
e eu tô nessa
dentro demais
desse coração
três e meia e eu nem sei o que é café da manhã
dois minutos e eu já estou num dia novo
mas hoje ainda não acaba e isso fica eterno
como todo o amor que a gente promete
isso é cegueira
muita segurança
pra muito fogo
e muito incêndio
minha vida regulada
nessa irregularidade
que sobe e desce quantas vezes você quiser
montanha russa
sem diversão
só medo
e sede
e fome
e as cores estranhas que me fazem estranho
e o arroz com ovo toda vez que nada dá certo
parece que nunca dá certo
bem rápido
eu não perco tempo
jogo fora
como se fosse open bar
cuspo em cima
pra ter certeza que esse tempo largado
não foi oferenda pra Deus nenhum
olho ele vazar como minha sujeira
e tudo parece sujo demais em volta de mim
nunca vai embora
fica comigo
porque esse sou eu
e de novo ficamos nos segurando
porque um abraço é mais gostoso
que o medo que nos ronda por aqui
vejo vazar e me engano que sou eu
se eu pudesse mudar o mundo
eu acabaria com ele
e se as crianças suplicassem
explicaria que não gostariam de existir
adotaria que tudo é ruim
porque aqui é ruim
toda luz vai embora
enquanto eu sou a sombra
e um império de sombra
me adota como imperador disso aqui
que roda
e gira
e satisfaz
o relógio
que roda
e gira
e satisfaz
o tempo
que não existe
e nos prendeu aqui
pequenas memórias me observando
e me rindo enquanto eu tento de novo
vai vazar ou vai pingar?
que sujeira que a gente preparou hoje?
separo bem e mal como o que eu já sei
pequenas memórias
fazendo funcionar esses programas
e me justificando dentro de mim
esse homem não tem um coração
mas gostaria de ter
e se tivesse
não o gostaria
é algum tipo de química que não conheço
um turista que usa roupas engraçadas
uma mistura entre majestade e escória
como alerta vermelho e um dia recorrente de verão
um dia ensolarado e uma medalha de plástico
um parabéns quatro meses atrasado
e a natureza não ligando pra quantos anos eu já fiz
ah, vida, me perdoe
mas acredito que uma hora as estrelas me encontram
e isso se explica sem dúvidas
sem dúvidas
tudo se acerta em abraços e beijos
beijos molhados com línguas duras
um sonho em um pesadelo
mas eu comigo mesmo
eu e a cura pra isso
minha melodia sem som
que não acaba e desce
como outro sonho
que se emenda em outro
e tudo traz o máximo de mim
enquanto eu entendo que
eu poderia muito bem
estar disfarçado
e invisível
e insensível
sensação
uma atrás da outra
um troco errado ou um sorriso
um empurrão ou uma trombada
a sensação de estar sozinho em um mar de humanos
e todos eles indo pra cima e pra baixo como ondas
enquanto eu me preocupo com os tubarões que sei que não existem
mas eu sou bem isso
uma pergunta mais rápida que a resposta anterior
e um passo atrás por segurança
um mundo de plástico por humanos de verdade
e eu com um lança chamas pra me precaver
que nada disso é natural
as lágrimas que vazam dos olhos
antes da tristeza ou do rancor ou do que quer que traga lágrimas aos olhos
e vazam como torneiras pingando
água quente que atravessa as minhas bochechas
e se esconde dentro dos pelos da barba como um filho que se enrola com sua mãe
sem realidade
nem fantasia
mas esse meio termo maluco de coisas diferentes
e luzes diferentes
e pessoas que eu não sei quem são
eles não sabem quem eu sou
e isso me veste de uma armadura dourada
como se ouro fosse tão duro quanto fosse necessário
eu brilho
como uma estrela que morre
até que tudo apaga
e vira noite
a madrugada é a melhor amiga de quem tem medo da luz
pois as lágrimas formadas
logo perdem sentido
e tudo vira lógica e poesia
enquanto ela desce lenta e inconsciente
o amor como pedras que caem do céu
e o futuro como fábricas fora da cidade
raios e trovões de agora e daqui a pouco
e nem um sinal que ano que vem será melhor
às vezes você percebe que o coração está vivo
e de vez em quando não parece mais que uma
luminária que pisca em curto circuito
piscando vivo e piscando morto
alternando certo e errado por convenção
isso é amor
e eu tô nessa
dentro demais
desse coração
três e meia e eu nem sei o que é café da manhã
dois minutos e eu já estou num dia novo
mas hoje ainda não acaba e isso fica eterno
como todo o amor que a gente promete
isso é cegueira
muita segurança
pra muito fogo
e muito incêndio
minha vida regulada
nessa irregularidade
que sobe e desce quantas vezes você quiser
montanha russa
sem diversão
só medo
e sede
e fome
e as cores estranhas que me fazem estranho
e o arroz com ovo toda vez que nada dá certo
parece que nunca dá certo
bem rápido
eu não perco tempo
jogo fora
como se fosse open bar
cuspo em cima
pra ter certeza que esse tempo largado
não foi oferenda pra Deus nenhum
olho ele vazar como minha sujeira
e tudo parece sujo demais em volta de mim
nunca vai embora
fica comigo
porque esse sou eu
e de novo ficamos nos segurando
porque um abraço é mais gostoso
que o medo que nos ronda por aqui
vejo vazar e me engano que sou eu
se eu pudesse mudar o mundo
eu acabaria com ele
e se as crianças suplicassem
explicaria que não gostariam de existir
adotaria que tudo é ruim
porque aqui é ruim
toda luz vai embora
enquanto eu sou a sombra
e um império de sombra
me adota como imperador disso aqui
que roda
e gira
e satisfaz
o relógio
que roda
e gira
e satisfaz
o tempo
que não existe
e nos prendeu aqui
pequenas memórias me observando
e me rindo enquanto eu tento de novo
vai vazar ou vai pingar?
que sujeira que a gente preparou hoje?
separo bem e mal como o que eu já sei
pequenas memórias
fazendo funcionar esses programas
e me justificando dentro de mim
esse homem não tem um coração
mas gostaria de ter
e se tivesse
não o gostaria
é algum tipo de química que não conheço
um turista que usa roupas engraçadas
uma mistura entre majestade e escória
como alerta vermelho e um dia recorrente de verão
um dia ensolarado e uma medalha de plástico
um parabéns quatro meses atrasado
e a natureza não ligando pra quantos anos eu já fiz
ah, vida, me perdoe
mas acredito que uma hora as estrelas me encontram
e isso se explica sem dúvidas
sem dúvidas
tudo se acerta em abraços e beijos
beijos molhados com línguas duras
um sonho em um pesadelo
mas eu comigo mesmo
eu e a cura pra isso
minha melodia sem som
que não acaba e desce
como outro sonho
que se emenda em outro
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
A poesia de um homem que desapareceu
eu vivendo comigo
nesse relacionamento abusivo
me sentindo pior e tentando
e me deixando pior
mas tentando
me enforco enquanto penso
em mim
me agrido em palavras
e depois em promessas
e logo estou preso pra sempre
amarrado na cama
e sentindo fome
sem parar de pensar
em mim
me convencendo o
que é amor
e quanto ele vale
na balança
nada é mais lucrativo
que ficar
sozinho
mas dependo de mim
eu de mim mesmo
eu mesmo de mim
sou todo mesmo e
todo eu
feito pra mim
e por mim
meu cérebro não me deixa
em paz
me subjugo
me irrito
me condeno
meu pensamento
logo acaba no fim do mundo
e passa por toda a desgraça antes
do ponto de exclamação
FIM!
e nunca acaba
só nós dois grudados
como animais que brigam
ao se acasalar
eu e eu mesmo
nos seduzindo e nos matando
toda vez que o relógio
marca mais um
segundo
uma tortura diferente para cada ideia mal colocada
um sentimento extremo para cada fio de meada
perdido e deslocado
perdido e deslocado
perdido
em nós dois
quando pouco ou nada importa
senão a si
e eu fervo inconsciente
pisco os olhos e não sei que dia é hoje
minhas responsabilidades
sendo devoradas
pelo calendário
e eu sujo e torturado
cheiro de tudo que não convém
descrever
pisco mais vezes
pra ver se consigo chorar
me enforco de novo
e me grito
ENGOLE ESSE CHORO!
me abraço com medo
me beijo assustado
me amo de novo
hoje é um dia novo
e eu sei disso
imploro perdão
me tira daqui
te amo pra sempre
me abraço de novo
sai da minha vida
isso é pra sempre
o fim do mundo de novo
e tudo que vem antes
um conflito de cada vez
até que a vida me diga
se há algo de novo
nesse relacionamento abusivo
me sentindo pior e tentando
e me deixando pior
mas tentando
me enforco enquanto penso
em mim
me agrido em palavras
e depois em promessas
e logo estou preso pra sempre
amarrado na cama
e sentindo fome
sem parar de pensar
em mim
me convencendo o
que é amor
e quanto ele vale
na balança
nada é mais lucrativo
que ficar
sozinho
mas dependo de mim
eu de mim mesmo
eu mesmo de mim
sou todo mesmo e
todo eu
feito pra mim
e por mim
meu cérebro não me deixa
em paz
me subjugo
me irrito
me condeno
meu pensamento
logo acaba no fim do mundo
e passa por toda a desgraça antes
do ponto de exclamação
FIM!
e nunca acaba
só nós dois grudados
como animais que brigam
ao se acasalar
eu e eu mesmo
nos seduzindo e nos matando
toda vez que o relógio
marca mais um
segundo
uma tortura diferente para cada ideia mal colocada
um sentimento extremo para cada fio de meada
perdido e deslocado
perdido e deslocado
perdido
em nós dois
quando pouco ou nada importa
senão a si
e eu fervo inconsciente
pisco os olhos e não sei que dia é hoje
minhas responsabilidades
sendo devoradas
pelo calendário
e eu sujo e torturado
cheiro de tudo que não convém
descrever
pisco mais vezes
pra ver se consigo chorar
me enforco de novo
e me grito
ENGOLE ESSE CHORO!
me abraço com medo
me beijo assustado
me amo de novo
hoje é um dia novo
e eu sei disso
imploro perdão
me tira daqui
te amo pra sempre
me abraço de novo
sai da minha vida
isso é pra sempre
o fim do mundo de novo
e tudo que vem antes
um conflito de cada vez
até que a vida me diga
se há algo de novo
domingo, 12 de novembro de 2017
sexta-feira, 10 de novembro de 2017
Supervelho
eu em orbita de mim
tudo girando e eu o centro do universo
eu universo
eu entropia
eu estrela e planeta
eu satélite e lixo
eu matéria tempo e espaço
dando voltas no meu centro de gravidade
observando com todos os meus olhos e sentidos
esse enorme rombo que a explosão de uma estrela um dia deixou
o buraco me suga
meu estômago almoçando ele mesmo
o dicionário e o calendário acabam ali também
e palavras e tempo convivem com esse carnaval cotidiano
uma volta inteira de feriados sob regime de escravidão
outra volta e meia com música e luz
o mundo finge ser feliz pra ter o direito de reclamar
porque a segunda vem depois do domingo
aqui é domingo o dia inteiro
e o buraco é fundo
é dia de cachimbo
a fumaça parece um livro
tudo tem significado perto do fim
nunca é segunda
abaixo as orelhas
o regime tira meus direitos
tira meus esquerdos
em órbita da minha pele
atravessando meus pelos como a carícia de unhas compridas
uma cortina de fios que nunca se acabam
aqui fora o ar é mais úmido
o que vai ser do futuro do mundo?
natal de novo
e minha espaçonave à deriva
tudo girando e eu o centro do universo
eu universo
eu entropia
eu estrela e planeta
eu satélite e lixo
eu matéria tempo e espaço
dando voltas no meu centro de gravidade
observando com todos os meus olhos e sentidos
esse enorme rombo que a explosão de uma estrela um dia deixou
o buraco me suga
meu estômago almoçando ele mesmo
o dicionário e o calendário acabam ali também
e palavras e tempo convivem com esse carnaval cotidiano
uma volta inteira de feriados sob regime de escravidão
outra volta e meia com música e luz
o mundo finge ser feliz pra ter o direito de reclamar
porque a segunda vem depois do domingo
aqui é domingo o dia inteiro
e o buraco é fundo
é dia de cachimbo
a fumaça parece um livro
tudo tem significado perto do fim
nunca é segunda
abaixo as orelhas
o regime tira meus direitos
tira meus esquerdos
em órbita da minha pele
atravessando meus pelos como a carícia de unhas compridas
uma cortina de fios que nunca se acabam
aqui fora o ar é mais úmido
o que vai ser do futuro do mundo?
natal de novo
e minha espaçonave à deriva
terça-feira, 7 de novembro de 2017
A égua da noite
A luz acende. E assim começa uma sucessão de eventos que me voltam a memória como as de um sonho. Algo confuso e etéreo, místico e mágico, uma simulação automática e subconsciente da memória. Ou talvez tenha sido exatamente como contarei, mas o sono mistura vida e sonho e certas vezes a realidade não é o que imaginamos. Pois a luz acende.
E meu corpo acorda desacordado, sem nenhuma ajuda dos meus olhos míopes pra entender a situação, apenas um corpo pequeno do lado do interruptor, no pé da minha cama. Sento assustado, ou confuso, ou puto. As emoções se misturam e não há um nome certo pra aparição. Mas logo que sei quem é fico puto e o resto das emoções se acalmam.
- Tho, precisamos conversar. - Diz Mariana, que reconheci mais pela voz do que pelo que meus olhos viam. Pego os óculos.
Puto. Borbulhando. O corpo dela dentro do meu organismo não passava de um corpo estranho que ativava os meus anticorpos. Independente dos sentimentos eu não conseguia aceitar um estranho - quem não fosse eu - dentro do meu território, excetuando quando o estranho fosse convidado. Certa vez Mariana me pediu uma cópia das chaves da minha casa. Certas vezes. Conversamos algumas vezes sobre esse meu territorialismo estranho, mas que não, ela não podia entrar quando lhe conviesse. Esse mesmo diálogo se deu nas vezes que ela me convidou para morar com ela. "Eu te dou um quarto só pra você e a gente divide o nosso quarto." A ideia era eu ter dois quartos no apartamento dela, sem pagar aluguel. As coisas são confusas às vezes.
- O que você tá fazendo aqui, Mariana?
- A gente precisa conversar.
- Eu preciso dormir, fiquei 36h acordado e tudo que eu quero é dormir.
- Eu sei, vamos lá pra minha casa...
- Eu estou dormindo. Estava, pelo menos.
- Dorme comigo.
- Eu já tô dormindo.
- Só pega as tuas coisas e vamos comigo.
Ah, às vezes a gente se excede na raiva. Às vezes a gente a guarda por muito tempo e a explosão inevitável causa estragos fatais. Morre gente. Morre nós.
- Mariana. Me deixa dormir.
- Tho, posso dormir com você?
Ela tira as calças e a blusa e o sutiã e faz uma conchinha em mim. Ela fede a cerveja. E se os acasos tivessem sido remontados de outra maneira, certamente aquele teria sido um presente dos deuses, mas ali ela era um corpo estranho. Apaguei a luz, deitei com as costas pra ela, na ponta distante da cama. Ela beija o meu pescoço e tenta tirar o meu short.
- MARIANA! EU QUERO DORMIR, PORRA!
- Pode dormir!
- COMO ASSIM? O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI?
- Eu quero conversar.
- O QUE VOCÊ QUER CONVERSAR?
- Para de gritar.
- AAAAH, EU QUERO DORMIR!
- VOCÊ NÃO ME AMA MAIS!
- NÃO TE AMO MAIS!
Ela acende a luz. Com os olhos vermelhos bem molhados.
- Você está com sono.
- Sim...
- Você só disse isso porque está com sono.
- ...
- Thomas...
- O que?
- Isso é sono?
- Não sei. Pode ser.
- Isso é sono. Amanhã a gente conversa.
Ela começa a soluçar e pega as roupas. Faz um bolo com elas e sai do quarto. "Não tá todo mundo acordado? E essa menina vai sair pelada daqui?" Eu levanto. Ela está na sala se vestindo, as portas dos outros moradores fechadas. Assisto ela se vestir.
- Abre pra mim?
- Eu me perguntei como você ia sair.
- Hm.
Abro. Ela vai embora. Eu durmo. Foi outro sonho estranho. Ou só foi uma ocasião que eu poderia muito bem esquecer. Um punhado de coisas erradas que envolvem o passado. Por isso escrevo. Pra ver se esqueço. Do sonho que eu nunca tive.
E meu corpo acorda desacordado, sem nenhuma ajuda dos meus olhos míopes pra entender a situação, apenas um corpo pequeno do lado do interruptor, no pé da minha cama. Sento assustado, ou confuso, ou puto. As emoções se misturam e não há um nome certo pra aparição. Mas logo que sei quem é fico puto e o resto das emoções se acalmam.
- Tho, precisamos conversar. - Diz Mariana, que reconheci mais pela voz do que pelo que meus olhos viam. Pego os óculos.
Puto. Borbulhando. O corpo dela dentro do meu organismo não passava de um corpo estranho que ativava os meus anticorpos. Independente dos sentimentos eu não conseguia aceitar um estranho - quem não fosse eu - dentro do meu território, excetuando quando o estranho fosse convidado. Certa vez Mariana me pediu uma cópia das chaves da minha casa. Certas vezes. Conversamos algumas vezes sobre esse meu territorialismo estranho, mas que não, ela não podia entrar quando lhe conviesse. Esse mesmo diálogo se deu nas vezes que ela me convidou para morar com ela. "Eu te dou um quarto só pra você e a gente divide o nosso quarto." A ideia era eu ter dois quartos no apartamento dela, sem pagar aluguel. As coisas são confusas às vezes.
- O que você tá fazendo aqui, Mariana?
- A gente precisa conversar.
- Eu preciso dormir, fiquei 36h acordado e tudo que eu quero é dormir.
- Eu sei, vamos lá pra minha casa...
- Eu estou dormindo. Estava, pelo menos.
- Dorme comigo.
- Eu já tô dormindo.
- Só pega as tuas coisas e vamos comigo.
Ah, às vezes a gente se excede na raiva. Às vezes a gente a guarda por muito tempo e a explosão inevitável causa estragos fatais. Morre gente. Morre nós.
- Mariana. Me deixa dormir.
- Tho, posso dormir com você?
Ela tira as calças e a blusa e o sutiã e faz uma conchinha em mim. Ela fede a cerveja. E se os acasos tivessem sido remontados de outra maneira, certamente aquele teria sido um presente dos deuses, mas ali ela era um corpo estranho. Apaguei a luz, deitei com as costas pra ela, na ponta distante da cama. Ela beija o meu pescoço e tenta tirar o meu short.
- MARIANA! EU QUERO DORMIR, PORRA!
- Pode dormir!
- COMO ASSIM? O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI?
- Eu quero conversar.
- O QUE VOCÊ QUER CONVERSAR?
- Para de gritar.
- AAAAH, EU QUERO DORMIR!
- VOCÊ NÃO ME AMA MAIS!
- NÃO TE AMO MAIS!
Ela acende a luz. Com os olhos vermelhos bem molhados.
- Você está com sono.
- Sim...
- Você só disse isso porque está com sono.
- ...
- Thomas...
- O que?
- Isso é sono?
- Não sei. Pode ser.
- Isso é sono. Amanhã a gente conversa.
Ela começa a soluçar e pega as roupas. Faz um bolo com elas e sai do quarto. "Não tá todo mundo acordado? E essa menina vai sair pelada daqui?" Eu levanto. Ela está na sala se vestindo, as portas dos outros moradores fechadas. Assisto ela se vestir.
- Abre pra mim?
- Eu me perguntei como você ia sair.
- Hm.
Abro. Ela vai embora. Eu durmo. Foi outro sonho estranho. Ou só foi uma ocasião que eu poderia muito bem esquecer. Um punhado de coisas erradas que envolvem o passado. Por isso escrevo. Pra ver se esqueço. Do sonho que eu nunca tive.
sexta-feira, 15 de setembro de 2017
Nautilus
segue fundo
na escuridão plena
onde os sinais de vida são
invisíveis e só sobram
sensações
na pressão absurda
onde a vida segue monstruosa
e um corpo humano
implodiria
o monstro navegante
que não é bem vindo
o exterior faz esforço
pra expurgá-lo
sobe ao teu nível
inconscientemente o entorno me diz
você não é bem vindo
aqui
o submarino segue
desviando do fundo que sobe com a topografia
como um avião que manobra contra uma montanha
bem fundo
sem destino certo
esperando encontrar
a verdade que eu preciso
na escuridão plena
onde os sinais de vida são
invisíveis e só sobram
sensações
na pressão absurda
onde a vida segue monstruosa
e um corpo humano
implodiria
o monstro navegante
que não é bem vindo
o exterior faz esforço
pra expurgá-lo
sobe ao teu nível
inconscientemente o entorno me diz
você não é bem vindo
aqui
o submarino segue
desviando do fundo que sobe com a topografia
como um avião que manobra contra uma montanha
bem fundo
sem destino certo
esperando encontrar
a verdade que eu preciso
terça-feira, 12 de setembro de 2017
Brasil, a dicotomia política e o futebol de rua
A esquerda são os meninos que moram na rua debaixo. A rua debaixo não possui movimento e as casas são singelas e talvez algumas são pobres. O futebol acontece lá e a bola é deles. Ninguém sabe de quem exatamente é a bola. Só que a bola existe. Os gols são as havaianas de dois dos esquerdopatas. E o futebol tá sempre acontecendo. Mas não importa o quanto joguem repetidas vezes, não são bons jogadores, não possuem técnica e não se interessam pela regra. O campo não tem limite, a bola que bate no muro volta ao campo e o jogo segue. Escanteio não dá pra cobrar, pois a curvatura da rua não deixa a bola parada, então não há linha de fundo e o gol possui duas entradas, a da frente e a de trás. Ora ou outra alguém bate com a mão na bola e por mero fairplay a bola é passada para o outro time, mas sem cobrança de falta ou qualquer suspiro que paralise por um instante a partida. Os goleiros saem do gol e tentam dribles pela diversão, sem cuidado com o contra ataque eminente.
A direita é o menino que mora na rua de cima. Ele mora no condomínio da rua de cima. Estava jogando vídeo game, mas a mãe lhe deu uma bronca, pois onde já se viu ficar enfurnado em casa em um dia lindo como esse? Vai jogar bola com os meninos do bairro, filho! Ela tem boas intenções. Quer que o filho tenha amigos. Ele acha um saco, pois estava jogando com os seus amigos. O pai já não tem boas intenções. Fica preocupado quando o menino vai pra rua, pois a rua é extremamente perigosa. E se sequestram ele? Ou lhe roubam o celular? Ou coisa pior ainda? Melhor nem pensar nisso. O pai prefere que o filho brinque com os amigos da escola. Vai na casa dos amigos e passam o dia seguros dentro de condomínios. De leva uma mãe ainda cuida dessa criança.
O menino playboy não é o dono da bola. Porque ele não usaria as bolas que ele tem pra jogar na rua. Tem receio de riscá-las. Então só joga em quadras. E dentro de casa, é claro. Adora futebol. Tanto quanto MMA, que assiste com o pai ocasionalmente. E joga bem, afinal as aulinhas de futsal servem pra alguma coisa. Mas dentro de casa, só embaixadinha e pequenos dribles. Ele gosta da bola e tenta imitar o Neymar na sala de estar, quando está sozinho e lhe sobra energia. Veste a chuteira azul e a camisa 10 original do Barça, a laranja, pronto pra encarnar o Messi e dar show na rua debaixo.
Quando chega, ninguém gosta, mas ninguém fala nada. Só falam depois. O guri vai embora e a esquerda toda fica alvoroçada em reclamações. Os times estão completos. Ele pergunta em qual ele entra. O mais velho responde que espere o jogo acabar e logo formam três times e fazem uma Copinha. O mimadinho não gosta, mas não fala nada. Começa aquecer e se alongar na calçada, perto de um dos gols. Logo a bola bate num muro e o jogo continua e ele diz bem alto: "EI! LATERAL AQUI!"
Ninguém fala nada. O jogo segue. Tem um esquerdinha que não joga nada. Pequeno e magrelo, talvez o mais novo de todos ali. O direita o percebe na linha de defesa, enquanto a bola está lá longe no ataque. O guri da rua de cima chama o pequeno da debaixo, diz pra ele descansar, que ele entrava no lugar. O esquerdinha tem medo do playboy, que é mais alto, mais gordo, mais forte e mais velho, então não diz nada, só vai para casa sem ninguém perceber.
E assim que toca a bola no pé pela primeira vez, praticamente possui toda a posse de bola no restante do jogo. Ele joga bem, realmente bem. E dribla, defende e ataca. Faz gol atrás de gol. Cava falta, pisa nos pés descalços do time inimigo - porque aqui o outro time se torna inimigo, já que aquela alegria do esporte é trocada pela tensão da disputa -, reclama e xinga. Quer que os limites do campo estejam claros. Segura a bola com as mãos e sobe no meio fio: "ISSO AQUI É A LATERAL, PORRA. NÃO É PRA FICAR CORRENDO ATRÁS DA BOLA ENQUANTO ELA BATE NAS COISAS!"
Uma hora o time dele toma um gol. Xinga a zaga, xinga o goleiro, pega a bola com os pés e começa a embaixadinha. E fica nela. Ele é bom nisso. Não para. A bola não cai. Quando alguém tenta lhe tirar a bola, fica puto. Realmente puto. Ele não gosta dessa merda desse jogo. Nem soube contar quantos gols fez. Isso é fácil demais. Vocês são muito ruins. E vai embora arrastando a bola do pé.
Na frente de casa, percebe que ainda está com a bola. Uma bola feia, toda rasgada e estropiada. Chuta pra esquina e volta pra casa. Conta feliz pra mãe como jogou super bem e fez muitos gols. Ele é realmente um herói. A mãe sorri com ele.
A direita é o menino que mora na rua de cima. Ele mora no condomínio da rua de cima. Estava jogando vídeo game, mas a mãe lhe deu uma bronca, pois onde já se viu ficar enfurnado em casa em um dia lindo como esse? Vai jogar bola com os meninos do bairro, filho! Ela tem boas intenções. Quer que o filho tenha amigos. Ele acha um saco, pois estava jogando com os seus amigos. O pai já não tem boas intenções. Fica preocupado quando o menino vai pra rua, pois a rua é extremamente perigosa. E se sequestram ele? Ou lhe roubam o celular? Ou coisa pior ainda? Melhor nem pensar nisso. O pai prefere que o filho brinque com os amigos da escola. Vai na casa dos amigos e passam o dia seguros dentro de condomínios. De leva uma mãe ainda cuida dessa criança.
O menino playboy não é o dono da bola. Porque ele não usaria as bolas que ele tem pra jogar na rua. Tem receio de riscá-las. Então só joga em quadras. E dentro de casa, é claro. Adora futebol. Tanto quanto MMA, que assiste com o pai ocasionalmente. E joga bem, afinal as aulinhas de futsal servem pra alguma coisa. Mas dentro de casa, só embaixadinha e pequenos dribles. Ele gosta da bola e tenta imitar o Neymar na sala de estar, quando está sozinho e lhe sobra energia. Veste a chuteira azul e a camisa 10 original do Barça, a laranja, pronto pra encarnar o Messi e dar show na rua debaixo.
Quando chega, ninguém gosta, mas ninguém fala nada. Só falam depois. O guri vai embora e a esquerda toda fica alvoroçada em reclamações. Os times estão completos. Ele pergunta em qual ele entra. O mais velho responde que espere o jogo acabar e logo formam três times e fazem uma Copinha. O mimadinho não gosta, mas não fala nada. Começa aquecer e se alongar na calçada, perto de um dos gols. Logo a bola bate num muro e o jogo continua e ele diz bem alto: "EI! LATERAL AQUI!"
Ninguém fala nada. O jogo segue. Tem um esquerdinha que não joga nada. Pequeno e magrelo, talvez o mais novo de todos ali. O direita o percebe na linha de defesa, enquanto a bola está lá longe no ataque. O guri da rua de cima chama o pequeno da debaixo, diz pra ele descansar, que ele entrava no lugar. O esquerdinha tem medo do playboy, que é mais alto, mais gordo, mais forte e mais velho, então não diz nada, só vai para casa sem ninguém perceber.
E assim que toca a bola no pé pela primeira vez, praticamente possui toda a posse de bola no restante do jogo. Ele joga bem, realmente bem. E dribla, defende e ataca. Faz gol atrás de gol. Cava falta, pisa nos pés descalços do time inimigo - porque aqui o outro time se torna inimigo, já que aquela alegria do esporte é trocada pela tensão da disputa -, reclama e xinga. Quer que os limites do campo estejam claros. Segura a bola com as mãos e sobe no meio fio: "ISSO AQUI É A LATERAL, PORRA. NÃO É PRA FICAR CORRENDO ATRÁS DA BOLA ENQUANTO ELA BATE NAS COISAS!"
Uma hora o time dele toma um gol. Xinga a zaga, xinga o goleiro, pega a bola com os pés e começa a embaixadinha. E fica nela. Ele é bom nisso. Não para. A bola não cai. Quando alguém tenta lhe tirar a bola, fica puto. Realmente puto. Ele não gosta dessa merda desse jogo. Nem soube contar quantos gols fez. Isso é fácil demais. Vocês são muito ruins. E vai embora arrastando a bola do pé.
Na frente de casa, percebe que ainda está com a bola. Uma bola feia, toda rasgada e estropiada. Chuta pra esquina e volta pra casa. Conta feliz pra mãe como jogou super bem e fez muitos gols. Ele é realmente um herói. A mãe sorri com ele.
segunda-feira, 4 de setembro de 2017
Itinerário
Desço as escadas e encontro um vizinho. Se a segunda começa com um encontro, talvez a semana seja uma bagunça. Mania incorrigível dos humanos, vivendo em camadas de mentiras que justificam os loops da vida. Sempre prontos pra começar de novo quando vira um novo dia, uma nova semana, um novo mês ou um novo ano. Como se calendário e relógio fossem deuses que jamais ousamos duvidar da existência. E segue o processo, o de viver, ajustados a respeitar tudo isso e viver dentro dessas regras consuetudinárias. Enfim, o vizinho, um senhor pequeno e grande ao mesmo tempo, não muito baixo, um pouco menor que eu - que já sou uns dois ou três centímetros menor que a média -, nem gordo, nem forte, mas de certa forma corpulento. Chega à escadaria segundos antes de eu chegar no andar dele, pauso a música com o botão do fone de ouvido, eu sei que isso é um encontro. Eu odeio os encontros. Aqueço os músculos da face, abrindo e fechando a boca, ensaiando sorrisos porque sei que logo vou ter que usar um deles. Alguns degraus abaixo, depois do primeiro patamar, ele olha para trás. Eu sorrio, lhe dou bom dia. Ele responde bom dia e olha para frente. Talvez foi um micro encontro, talvez eu possa simplesmente dar play e ultrapasso ele com leveza e velocidade. Parece um plano. Chegamos no térreo e ele abre espaço para a ultrapassagem.
- Que dia lindo, não é mesmo? - Digo-lhe enquanto passo ao lado dele. Ele sorri pela primeira vez e diz que está maravilhoso.
Abro a porta do prédio e fico esperando ele passar. Estou atrasado, não quero esse encontro. Ele também não queria, eu acho. Mas eu crio o encontro. Ele me pergunta se faço faculdade, fico sabendo que mora ali a um ano e está aposentado e quer viajar e o destino dele é o parque do bairro, justificando o modelo fitness que vestia.
- Que ótimo, tem que aproveitar esse dia mesmo. Bom dia para o senhor, até outra hora. - Aceno e em simultaneidade, começo a música e acelero.
A música sempre faz coisas no meu cérebro. Às vezes não é bom. Às vezes a música me faz mal. Mesmo se é uma boa música. Mas outras vezes, talvez a maioria delas, é ótimo. O dia é lindo e eu estou na rua, o parque ainda faz sombra nas duas calçadas e a brisa gelada da manhã combina muito bem com o azul gritante do céu. As cores sempre são confusas com óculos escuro. Eu sei que o céu é azul, mas olho fixamente e procuro entender que cor vejo. Pois não decido. Chamo de azul. Meus olhos bem abertos, a rua viva de carros e gentes e cores. Sem o óculos não os abriria sob nenhuma justificativa. A luz viva ia entrar em mim como um ente físico violando os buracos que são minhas pupilas frágeis.
Será que alguma coisa mudou? Tudo parece tão diferente. Me sinto incrivelmente bem. Como se eu fosse de fato incrível e enquanto andasse ao ritmo da música parecesse incrível também. Incrível. O começo sempre tem cara de novo.
De novo. Isso vai ser divertido. Hoje eu posso ser o que eu quiser. Quem eu quero ser? E no mesmo lugar da mesma subida de sempre, quando estou rápido demais e sem cuidado com a respiração, meu cérebro, coração e respiração se confundem e logo o primeiro está fervendo. Na verdade as coisas começam aí, normalmente. O primeiro evento da manhã, a insuficiência de oxigênio, o coração pulando uma batida, o cérebro borbulhando. De novo tudo uma merda. Então me acostumei a me precaver. Todo dia, naquele ponto da rua, eu, pernas, tronco, música, somos um. E em ritmo, as coisas funcionam. O coração segue seguro. E hoje foi assim. O cérebro segue contente com a brisa gelada, a pele gosta desse sol quente. Um passo importante para um bom recomeço.
Será que algo mudou?
Percebo que estou ficando bom em caminhar rápido. Percebo que não tenho dor nenhuma. Talvez algumas fibras da planta do pé direito estejam um pouco tracionadas demais, como uma pós câimbra, mas a gente sobrevive. Um, dois, três, quatro, chimbal, caixa, chimbal, prato. A precisão do tempo dos passos com a música me impressiona. Um, dois, três, quatro. Os dedos das duas mãos batendo intensamente como um pianista empolgado, uma hora é bateria, outra baixo, outra teclado, outra são todos os metais ou as cordas ao mesmo tempo e sempre se misturam em instrumentos e notas e o corpo é a banda e o caminho é o tempo. A banda toca e o tempo passa.
"I want to know if you can help my husband. He has this terrible dream all the time where he's running, and running, but he's not getting anywhere."
Lembrei que sonhei com uma garota essa noite. Não lembro de a ter visto, aparentemente a desconheço. Mas lembro bem dela. E lembro que no sonho a procurava em uma balada. Nunca lembro de sonhos. Então eram flashs, nos quais ela não aparecia. Me pergunto como eu sabia como era o rosto dela se lembrava apenas de procurá-la. Pois lembro nitidamente. Era linda.
As pernas eram o baterista. Subitamente, o coração decide que quer ser o pianista. As pernas batendo, um, dois, um dois três quatro, um, dois, um dois três quatro. E o coração solta suas quatro notas crescentes, um dois três quatro, e para. Um dois três quatro. E para. Um dois três quatro. E para.
O cérebro se prepara para soltar o alerta. O coração não pode ser da banda, essa é a regra. Fica com a mão sobre o botão vermelho. Um dois três quatro. Respira. Inspira. Respira. Inspira.
"Feel the strain
And you see the stain
And you can't get back again"
Um dois três quatro. Respira. Inspira. Respira. Inspira. Passo, passo, passo, passo. O cérebro não segue vazio, pois é música. Passos compassados e uma tensão em volta de mim.
"- Edith...
- Yes?
- I love you...
- ... please, please!"
A música termina. O cérebro se alivia. Os olhos percebem as nuvens e que segunda deliciosa que ele vê. A música começa. Os passos se reorganizam. Segue rápido. Quase chegando. O cérebro segue um sintetizador, e antes de eu virar a cabeça para trás para saber se posso atravessar a rua, ele mesmo gira nesse sentido anti horário. Viro quase em seguida. Minha cabeça é o tecladista, pelo jeito. Quase chegando. O cérebro completa algumas voltas dentro do crânio. A primeira onda de suor é pulverizada do meu corpo quente como um Bom Ar Automático, aquele que assusta com o barulho repentino. Tss. Suor, meu Deus, que susto.
Subo as escadas e sei que a música precisa parar. Por mim andava a segunda toda. Sem parar, só sendo música. Andando em loop pra justificar repeat, sem calendário, só música. O tempo todo de música. Tiro o fone, enrolo com um pouco de pressa achando que chego na porta antes de tirar o óculos. Mas dá tempo, entro na sala clara. Me sento no canto, onde a luz do Sol não me atrapalha. Parece que alguma coisa mudou...
- Que dia lindo, não é mesmo? - Digo-lhe enquanto passo ao lado dele. Ele sorri pela primeira vez e diz que está maravilhoso.
Abro a porta do prédio e fico esperando ele passar. Estou atrasado, não quero esse encontro. Ele também não queria, eu acho. Mas eu crio o encontro. Ele me pergunta se faço faculdade, fico sabendo que mora ali a um ano e está aposentado e quer viajar e o destino dele é o parque do bairro, justificando o modelo fitness que vestia.
- Que ótimo, tem que aproveitar esse dia mesmo. Bom dia para o senhor, até outra hora. - Aceno e em simultaneidade, começo a música e acelero.
A música sempre faz coisas no meu cérebro. Às vezes não é bom. Às vezes a música me faz mal. Mesmo se é uma boa música. Mas outras vezes, talvez a maioria delas, é ótimo. O dia é lindo e eu estou na rua, o parque ainda faz sombra nas duas calçadas e a brisa gelada da manhã combina muito bem com o azul gritante do céu. As cores sempre são confusas com óculos escuro. Eu sei que o céu é azul, mas olho fixamente e procuro entender que cor vejo. Pois não decido. Chamo de azul. Meus olhos bem abertos, a rua viva de carros e gentes e cores. Sem o óculos não os abriria sob nenhuma justificativa. A luz viva ia entrar em mim como um ente físico violando os buracos que são minhas pupilas frágeis.
Será que alguma coisa mudou? Tudo parece tão diferente. Me sinto incrivelmente bem. Como se eu fosse de fato incrível e enquanto andasse ao ritmo da música parecesse incrível também. Incrível. O começo sempre tem cara de novo.
De novo. Isso vai ser divertido. Hoje eu posso ser o que eu quiser. Quem eu quero ser? E no mesmo lugar da mesma subida de sempre, quando estou rápido demais e sem cuidado com a respiração, meu cérebro, coração e respiração se confundem e logo o primeiro está fervendo. Na verdade as coisas começam aí, normalmente. O primeiro evento da manhã, a insuficiência de oxigênio, o coração pulando uma batida, o cérebro borbulhando. De novo tudo uma merda. Então me acostumei a me precaver. Todo dia, naquele ponto da rua, eu, pernas, tronco, música, somos um. E em ritmo, as coisas funcionam. O coração segue seguro. E hoje foi assim. O cérebro segue contente com a brisa gelada, a pele gosta desse sol quente. Um passo importante para um bom recomeço.
Será que algo mudou?
Percebo que estou ficando bom em caminhar rápido. Percebo que não tenho dor nenhuma. Talvez algumas fibras da planta do pé direito estejam um pouco tracionadas demais, como uma pós câimbra, mas a gente sobrevive. Um, dois, três, quatro, chimbal, caixa, chimbal, prato. A precisão do tempo dos passos com a música me impressiona. Um, dois, três, quatro. Os dedos das duas mãos batendo intensamente como um pianista empolgado, uma hora é bateria, outra baixo, outra teclado, outra são todos os metais ou as cordas ao mesmo tempo e sempre se misturam em instrumentos e notas e o corpo é a banda e o caminho é o tempo. A banda toca e o tempo passa.
"I want to know if you can help my husband. He has this terrible dream all the time where he's running, and running, but he's not getting anywhere."
Lembrei que sonhei com uma garota essa noite. Não lembro de a ter visto, aparentemente a desconheço. Mas lembro bem dela. E lembro que no sonho a procurava em uma balada. Nunca lembro de sonhos. Então eram flashs, nos quais ela não aparecia. Me pergunto como eu sabia como era o rosto dela se lembrava apenas de procurá-la. Pois lembro nitidamente. Era linda.
As pernas eram o baterista. Subitamente, o coração decide que quer ser o pianista. As pernas batendo, um, dois, um dois três quatro, um, dois, um dois três quatro. E o coração solta suas quatro notas crescentes, um dois três quatro, e para. Um dois três quatro. E para. Um dois três quatro. E para.
O cérebro se prepara para soltar o alerta. O coração não pode ser da banda, essa é a regra. Fica com a mão sobre o botão vermelho. Um dois três quatro. Respira. Inspira. Respira. Inspira.
"Feel the strain
And you see the stain
And you can't get back again"
Um dois três quatro. Respira. Inspira. Respira. Inspira. Passo, passo, passo, passo. O cérebro não segue vazio, pois é música. Passos compassados e uma tensão em volta de mim.
"- Edith...
- Yes?
- I love you...
- ... please, please!"
A música termina. O cérebro se alivia. Os olhos percebem as nuvens e que segunda deliciosa que ele vê. A música começa. Os passos se reorganizam. Segue rápido. Quase chegando. O cérebro segue um sintetizador, e antes de eu virar a cabeça para trás para saber se posso atravessar a rua, ele mesmo gira nesse sentido anti horário. Viro quase em seguida. Minha cabeça é o tecladista, pelo jeito. Quase chegando. O cérebro completa algumas voltas dentro do crânio. A primeira onda de suor é pulverizada do meu corpo quente como um Bom Ar Automático, aquele que assusta com o barulho repentino. Tss. Suor, meu Deus, que susto.
Subo as escadas e sei que a música precisa parar. Por mim andava a segunda toda. Sem parar, só sendo música. Andando em loop pra justificar repeat, sem calendário, só música. O tempo todo de música. Tiro o fone, enrolo com um pouco de pressa achando que chego na porta antes de tirar o óculos. Mas dá tempo, entro na sala clara. Me sento no canto, onde a luz do Sol não me atrapalha. Parece que alguma coisa mudou...
sexta-feira, 1 de setembro de 2017
Saturação
o dia era cinza
todo cinza
tinha cores de cinza
e cheiros de cinza
os sons eram cinzas
e tudo que meu corpo tocava
também
quando ficasse noite
será cinza também
apenas mais escuro
mas carente de qualquer
outra cor ou espectro
ou entidade que não seja
cinza
me pergunto se as pessoas estão cinzas
afinal não as vi em nenhum momento
mas as ouço de longe enquanto as ruas
fazem o som do mar distante
águas cinzas de espumas cinzentas
tento lembrar do que veio antes
pra tentar supor o que pode vir depois
mas minhas memórias também tem a mesma cor
e de cor julgo que não posso julgar
a cor do mundo não convence minha retina
meus ouvidos dóem como minhas pernas e
tudo parece cinza de novo
de novo
um eterno e repetitivo de novo
cinza e escuro de novo
a galinha
ou o ovo
tudo cinza
suas penas
e sua casca
os seus órgãos
e sua clara e sua gema
vivendo a eterna dúvida
será que o azul que você vê
é o mesmo azul que eu vejo?
o meu também é cinza
eu toco o céu
ele se desfaz
e cai leve e gentil
com a gravidade
todo cinza
tinha cores de cinza
e cheiros de cinza
os sons eram cinzas
e tudo que meu corpo tocava
também
quando ficasse noite
será cinza também
apenas mais escuro
mas carente de qualquer
outra cor ou espectro
ou entidade que não seja
cinza
me pergunto se as pessoas estão cinzas
afinal não as vi em nenhum momento
mas as ouço de longe enquanto as ruas
fazem o som do mar distante
águas cinzas de espumas cinzentas
tento lembrar do que veio antes
pra tentar supor o que pode vir depois
mas minhas memórias também tem a mesma cor
e de cor julgo que não posso julgar
a cor do mundo não convence minha retina
meus ouvidos dóem como minhas pernas e
tudo parece cinza de novo
de novo
um eterno e repetitivo de novo
cinza e escuro de novo
a galinha
ou o ovo
tudo cinza
suas penas
e sua casca
os seus órgãos
e sua clara e sua gema
vivendo a eterna dúvida
será que o azul que você vê
é o mesmo azul que eu vejo?
o meu também é cinza
eu toco o céu
ele se desfaz
e cai leve e gentil
com a gravidade
terça-feira, 15 de agosto de 2017
A corrida de bigas ou o santuário de Ka'bah
me rasgo
abrindo essa pele elástica
que resiste às pressões internas
pra aliviar o estresse
pra me limpar com meu próprio sangue
pra fingir harmonia
porque aparentemente esse tipo de mentira
é importante para a sociedade
eu vejo as forças
e as resistências
vejo os átomos se comprimindo
e se reorganizando em um sólido de aparência pastosa
denso porém de formato orgânico enganando moleza
eu vejo as manchas
que seguem mais eternas que minha própria consciência
como borrões enfeitando a realidade como a síntese do descaso
respingos de histórias imundas e ora ou outra irrelevantes
comida, sujeira, a luz nas minhas retinas confusas
eu vejo a história
e tudo que fiz
e tudo que sou
e como o mundo ficou
mas não tem como voltar atrás
o sangue vaza
e os órgãos vazam
eu aplico pressão
o desespero nos meus olhos espelhados
eu aberto e invisível
ou queria que fosse
os olhos me encontram
vendo o que eu imagino ser meu corpo banhado em escarlate
aberto e vazio
irresoluto de qualquer valor
não dá pra voltar atrás
uma hora o impacto vem
e outra hora ele volta
mas não se trata de uma repetição da primeira vez
só que uma nova e singular segunda vez
as coisas não voltam
os impactos só seguem
no mesmo corpo
no mesmo espírito
e na mesma alma
olhos arregalados
sempre arregalados
procurando preocupações sempre mais suaves
vasculhando a matemática do universo
em busca de uma constante
vasculhando a matemática do universo
em busca de uma constante
caminhando rápido
pra sempre
chegar no
fim do mundo
chegar no
fim do mundo
quinta-feira, 10 de agosto de 2017
O átrio
Quando estou na ponta
A poesia vem
Como se soubesse sozinha
Que esses são momentos
Singulares e específicos
Que poucos tem a oportunidade
De viver
Vem como os falecidos parentes
No leito de morte
Um sinal claro e dotado de fidedignidade
Nesse amontoado de saberes que a sociedade
Vem guardando
Vem me mostrando que o fim é próximo
Com a clareza do rápido flashback de toda a vida
Mas nunca é rápido
É sempre um vai e volta de memórias pintadas com a criatividade dos anos
E essa coisa de reviver e ressentir e reescrever essa experiência
O fim que nunca vem
Nunca convém
Nunca pontua esses parágrafos
Que só seguem o fluxo
De um filete de consciência
Eu já deixei de esperar o fim
Segue reto
Toda vida
E vivo essa magnitude de sensações
Que possuem cores e formas que se misturam
Um filtro de psicodelia carregada na minha
Jamais monótona realidade
Um cotidiano de surrealidades
Que convivo com certo desdém
Em um cérebro de quem já há pouco
Sonhava em perceber o impossível
E hoje convivo com o imperceptível
Ou irresoluto ou até incrível
Mas certamente indescritível
Me massageando as pernas como
Uma multidão que me usa como caminho
E esse monte de gente andando em ondas entre meus músculos e pele
Não sei se faz sentido
Mas eu tento
As palavras não sabem nem definir angústia
Isso me angustia
Esse exército caminhando sobre mim
E nenhuma palavra define
Isso me angustia
E como explicar fechar os olhos e aparecer em outro lugar
E abrir os olhos e estar no mesmo lugar
E fechar os olhos de novo com a pretensão de nunca mais abrir pra ficar lá pra sempre
E o receio de não voltar
Como que preso em todas as cordas de relacionamentos e responsabilidades
E abrir os olhos com o coração ardendo em batidas longas como ecos
As palavras que não explicam
A memória que não traduz
A sensação de estar na ponta dos dedos de um gigante esqueleto
Escorregando as falanges amareladas com medo de prender os dedos em um simples mover da mão
A certeza de que longe desses dedos mal polidos só resta uma eterna e incômoda luz branca
E eu me agarro de olhos fechados e molhados
O coração
Sempre confuso
Entre o que é realidade
E o que não é
Um comando sem resposta
Querer e fazer em sua mais distante separação
Quem dera fosse desentendimento
Pois assim logo se resolviam em pazes
Pouco mais me bastava pra eu me enfurnar em sonhos magnânimos e magníficos
Mas a magnitude da distância
Só me faz observar de longe
Abismado com a escala das coisas todas
Tudo imenso
Gigante como metrópoles que se desprendem do continente e se dissolvem no oceano como pedaços de gelo em água quente
A pergunta do milhão
A poesia sem fim
O parágrafo de introdução no meio do texto
O fade out entre duas inspirações
Ou no meio da expiração
The End nas minhas cortinas e eu não sei se é dia ou noite porque a regra é que a janela não abre
Tenho medo lá de fora
Coisas horríveis acontecem lá fora
Monstros e moedas e sacos de lixo
Fios e postes e fios e postes
Condomínios vazios abandonados por joãos de barro
O som de uma e duas e três motos que buzinam pra todas as mulheres do mundo sem nenhum ser humano perceber
A poesia vem
Como se soubesse sozinha
Que esses são momentos
Singulares e específicos
Que poucos tem a oportunidade
De viver
Vem como os falecidos parentes
No leito de morte
Um sinal claro e dotado de fidedignidade
Nesse amontoado de saberes que a sociedade
Vem guardando
Vem me mostrando que o fim é próximo
Com a clareza do rápido flashback de toda a vida
Mas nunca é rápido
É sempre um vai e volta de memórias pintadas com a criatividade dos anos
E essa coisa de reviver e ressentir e reescrever essa experiência
O fim que nunca vem
Nunca convém
Nunca pontua esses parágrafos
Que só seguem o fluxo
De um filete de consciência
Eu já deixei de esperar o fim
Segue reto
Toda vida
E vivo essa magnitude de sensações
Que possuem cores e formas que se misturam
Um filtro de psicodelia carregada na minha
Jamais monótona realidade
Um cotidiano de surrealidades
Que convivo com certo desdém
Em um cérebro de quem já há pouco
Sonhava em perceber o impossível
E hoje convivo com o imperceptível
Ou irresoluto ou até incrível
Mas certamente indescritível
Me massageando as pernas como
Uma multidão que me usa como caminho
E esse monte de gente andando em ondas entre meus músculos e pele
Não sei se faz sentido
Mas eu tento
As palavras não sabem nem definir angústia
Isso me angustia
Esse exército caminhando sobre mim
E nenhuma palavra define
Isso me angustia
E como explicar fechar os olhos e aparecer em outro lugar
E abrir os olhos e estar no mesmo lugar
E fechar os olhos de novo com a pretensão de nunca mais abrir pra ficar lá pra sempre
E o receio de não voltar
Como que preso em todas as cordas de relacionamentos e responsabilidades
E abrir os olhos com o coração ardendo em batidas longas como ecos
As palavras que não explicam
A memória que não traduz
A sensação de estar na ponta dos dedos de um gigante esqueleto
Escorregando as falanges amareladas com medo de prender os dedos em um simples mover da mão
A certeza de que longe desses dedos mal polidos só resta uma eterna e incômoda luz branca
E eu me agarro de olhos fechados e molhados
O coração
Sempre confuso
Entre o que é realidade
E o que não é
Um comando sem resposta
Querer e fazer em sua mais distante separação
Quem dera fosse desentendimento
Pois assim logo se resolviam em pazes
Pouco mais me bastava pra eu me enfurnar em sonhos magnânimos e magníficos
Mas a magnitude da distância
Só me faz observar de longe
Abismado com a escala das coisas todas
Tudo imenso
Gigante como metrópoles que se desprendem do continente e se dissolvem no oceano como pedaços de gelo em água quente
A pergunta do milhão
A poesia sem fim
O parágrafo de introdução no meio do texto
O fade out entre duas inspirações
Ou no meio da expiração
The End nas minhas cortinas e eu não sei se é dia ou noite porque a regra é que a janela não abre
Tenho medo lá de fora
Coisas horríveis acontecem lá fora
Monstros e moedas e sacos de lixo
Fios e postes e fios e postes
Condomínios vazios abandonados por joãos de barro
O som de uma e duas e três motos que buzinam pra todas as mulheres do mundo sem nenhum ser humano perceber
terça-feira, 1 de agosto de 2017
Feche os olhos, relaxe os ombros. Você se sente cansado.
os objetivos se transvestem de coisas únicas
porque há um tsunami de individualidade
que obriga a exclusividade de um objetivo singular
um objetivo próprio
mas o que meus néscios olhos veem
são poucas pessoas fugindo do objetivo a que estamos todos
programados
um único grande objetivo
o de equilibrar com abundância
felicidade e dinheiro
e as coisas se misturam
sucesso é dinheiro
e felicidade é almejada
enquanto um intenso e inacabável debate
de certo e errado
prova que há um pouco de selvagem
em cada um de nós
felicidade e dinheiro
e uma dose de selvageria
em nome da liberdade
e da democracia
um voto ao vendido
outro ao comprador
uma esperança inteira
em ser o melhor
moralmente melhor
me preocupo com as pessoas
que não veem os objetivos
e os diluem na realidade
ora acreditando que se tornarão assim realidade
ora apagando sinais de desejo contra possíveis fracassos
ora se libertando dos fardos que a humanidade trouxe consigo nesses longos anos de evolução
vejo ironia
na obrigação humana
de perseguir um único objetivo supremo
e na minha obrigação como gente
de ter planos para que o objetivo seja consumado
o niilismo organizando o meu cérebro sem eu jamais ter lido qualquer coisa sobre o tema
com receio de lê-los por puro medo de encontrar um dogma que dita meus pensamentos
de me ler onde há vazio e me sentir assim predisposto a ser mais vazio do que agora
a vida segue
e eu colo o objetivo humano na parede
me lembrando que não importa o tamanho do rombo
que suga e me suga
eu simplesmente
preciso vencer
porque há um tsunami de individualidade
que obriga a exclusividade de um objetivo singular
um objetivo próprio
mas o que meus néscios olhos veem
são poucas pessoas fugindo do objetivo a que estamos todos
programados
um único grande objetivo
o de equilibrar com abundância
felicidade e dinheiro
e as coisas se misturam
sucesso é dinheiro
e felicidade é almejada
enquanto um intenso e inacabável debate
de certo e errado
prova que há um pouco de selvagem
em cada um de nós
felicidade e dinheiro
e uma dose de selvageria
em nome da liberdade
e da democracia
um voto ao vendido
outro ao comprador
uma esperança inteira
em ser o melhor
moralmente melhor
me preocupo com as pessoas
que não veem os objetivos
e os diluem na realidade
ora acreditando que se tornarão assim realidade
ora apagando sinais de desejo contra possíveis fracassos
ora se libertando dos fardos que a humanidade trouxe consigo nesses longos anos de evolução
vejo ironia
na obrigação humana
de perseguir um único objetivo supremo
e na minha obrigação como gente
de ter planos para que o objetivo seja consumado
o niilismo organizando o meu cérebro sem eu jamais ter lido qualquer coisa sobre o tema
com receio de lê-los por puro medo de encontrar um dogma que dita meus pensamentos
de me ler onde há vazio e me sentir assim predisposto a ser mais vazio do que agora
a vida segue
e eu colo o objetivo humano na parede
me lembrando que não importa o tamanho do rombo
que suga e me suga
eu simplesmente
preciso vencer
domingo, 30 de julho de 2017
Mais do novo
é curiosa a sensação de que a poesia acalma a alma
e se fosse verdade
eu mesmo teria a alma pura e calma
porque aqui tudo funciona em estrofes
o tempo como estrofe
uma atrás da outra
que a gente lê e relê
buscando novos significados
pra experiências viciadas
porque o poeta é viciado em seus próprios versos
eles vem prontos
como se estivessem preparados
pra se jogar em espaço disponível
e se fazerem letra e palavra e oração e significado
como se estivesse guardada
todo esse tempo
só que ao ler outras poesias do poeta
as palavras estão lá
as mesmas palavras
o mesmo ritmo
o mesmo jeito de se criar poesia
o mesmo jeito de todas as vezes tentar tirar isso de dentro
como se fosse catarro preso
que se pigarreia
e cospe
e pigarreia
e cospe
num processo infindável e inútil
o catarro preso na alma
a palavra que não faz nada senão estar presente
a palavra que a gente finge que cura
mas se a poesia fosse a cura
seria eu mesmo um médico
ou talvez um exímio pedaço de saúde que anda por aí e corre e vive e vibra
não há saúde nesse pedaço de carne
e eu não ando
nem corro
nem vibro
apenas trato de dividir o tempo em estrofe
e inventar novas palavras
pra me desconectar de tudo que sou eu mesmo
porque tudo que a gente quer
é mudar
sempre pra melhor
ninguém espera mudar pra pior
mas as pessoas mudam
a maturidade não vem como um depósito sagrado mensal
que não falha nem sob as maiores crises
que nos faz mais seguros da vida sobre a terra
mas vai e vem como a própria conta do banco
que uma hora ou outra ultrapassa o significado de vazia
e se torna muito pior do que a nulidade
a divida de ser humano
com outros seres humanos
pode ser enorme
de modo a isso nunca ser pago
e como dívida comum
se torna ódio ou raiva
e logo nós
humanos
estamos presos nesses contratos
monetizados do que é certo
e é errado
a felicidade segue o mesmo ritmo
um ritmo arritmado de ups and downs
e a eficiência de o amanhã ser tão misterioso quanto
o futuro distante
daqui 100 anos não quero estar vivo
porque esse sobe e desce de extratos de vida
bem espremidos em ocasiões aparentemente
singulares
não passam de uma mesmice constante
e de novo eu
escrevendo as mesmas palavras
e as mesmas ideias
uma coisa que não sai do lugar
mas que reclama em si própria
essa monotonia e esse debater incontrolado
de tentar mover e ser movido
sentir e ser sentido
a solidão corrói como todas as outras coisas
o ar corrói e tudo parece vermelho
vermelho ferrugem da cor dos meus olhos cansados
e de todo esse vai e vem e vai e vem e esse monte de Es voltando aqui
dizendo que sou isso
um balbuciar sem fim
uma enrolação sem sentido
um futuro aleatório
no qual o destino
não é mais que
o cotidiano inseguro
e se fosse verdade
eu mesmo teria a alma pura e calma
porque aqui tudo funciona em estrofes
o tempo como estrofe
uma atrás da outra
que a gente lê e relê
buscando novos significados
pra experiências viciadas
porque o poeta é viciado em seus próprios versos
eles vem prontos
como se estivessem preparados
pra se jogar em espaço disponível
e se fazerem letra e palavra e oração e significado
como se estivesse guardada
todo esse tempo
só que ao ler outras poesias do poeta
as palavras estão lá
as mesmas palavras
o mesmo ritmo
o mesmo jeito de se criar poesia
o mesmo jeito de todas as vezes tentar tirar isso de dentro
como se fosse catarro preso
que se pigarreia
e cospe
e pigarreia
e cospe
num processo infindável e inútil
o catarro preso na alma
a palavra que não faz nada senão estar presente
a palavra que a gente finge que cura
mas se a poesia fosse a cura
seria eu mesmo um médico
ou talvez um exímio pedaço de saúde que anda por aí e corre e vive e vibra
não há saúde nesse pedaço de carne
e eu não ando
nem corro
nem vibro
apenas trato de dividir o tempo em estrofe
e inventar novas palavras
pra me desconectar de tudo que sou eu mesmo
porque tudo que a gente quer
é mudar
sempre pra melhor
ninguém espera mudar pra pior
mas as pessoas mudam
a maturidade não vem como um depósito sagrado mensal
que não falha nem sob as maiores crises
que nos faz mais seguros da vida sobre a terra
mas vai e vem como a própria conta do banco
que uma hora ou outra ultrapassa o significado de vazia
e se torna muito pior do que a nulidade
a divida de ser humano
com outros seres humanos
pode ser enorme
de modo a isso nunca ser pago
e como dívida comum
se torna ódio ou raiva
e logo nós
humanos
estamos presos nesses contratos
monetizados do que é certo
e é errado
a felicidade segue o mesmo ritmo
um ritmo arritmado de ups and downs
e a eficiência de o amanhã ser tão misterioso quanto
o futuro distante
daqui 100 anos não quero estar vivo
porque esse sobe e desce de extratos de vida
bem espremidos em ocasiões aparentemente
singulares
não passam de uma mesmice constante
e de novo eu
escrevendo as mesmas palavras
e as mesmas ideias
uma coisa que não sai do lugar
mas que reclama em si própria
essa monotonia e esse debater incontrolado
de tentar mover e ser movido
sentir e ser sentido
a solidão corrói como todas as outras coisas
o ar corrói e tudo parece vermelho
vermelho ferrugem da cor dos meus olhos cansados
e de todo esse vai e vem e vai e vem e esse monte de Es voltando aqui
dizendo que sou isso
um balbuciar sem fim
uma enrolação sem sentido
um futuro aleatório
no qual o destino
não é mais que
o cotidiano inseguro
quinta-feira, 13 de julho de 2017
Ressolução
abro a folha em branco e espero vir
essa é a proposta
luz cor e som
dia dia a dia
três dois um
e já passou da hora duas vezes
duas uma sou
tão bom
que tudo
é certo
a qualidade
de ser
a vaidade
de ser
o experimentar
do cotidiano
e essa consequente
secura
o peito vazio e os sentimentos rasteiros
o suspiro mais breve me parece a eternidade
toda
respiro e suspiro
intenso repenso
pra que fim do mundo
se ele nunca vai
acabar
já faz tempo
que o fogo
se faz alma
e a alma
se faz fraca
e o incêndio
se apaga como
uma hora atrás
da outra
mais ou menos
uma coisa ou outra
nunca tudo
nunca o melhor
nunca nada vale
o valor de tudo monetizado em tempo
a mais poderosa das moedas
e o meu dinheiro vazando pelo ralo
enquanto escrevo essa poesia vazia
de tudo que sou eu
porque eu sou vazio
e toda ela
a poesia e o amor pela vida
a paixão por todas as coisas
e a essência da existência humana
dentro de uma caixa de fósforos
chacoalha
e me ouve escondido
me arrasta
e me vê em chamas
me olha nos olhos
e vê que nesses olhos
tem um buraco tão grande
que ele poderia muito bem
te levar
eu tenho medo de olhar
e sugar tudo que há de humano
em quem vive
e quer viver
abaixo os olhos
olho ao lado
e evito o que sei de melhor
meus olhos como uma arma
um canhão encostado nas têmporas
como um basta para viver
e me amar e ser tudo o que eu
quiser
repenso o artifício
e sei que acho que sou
melhor
as coisas caem como
prédios implodidos
edifícios imaginários
que nunca passaram de ideia
casas que nunca foram de ninguém
porque nunca existiram
sincopes criativas de um suposto futuro conciso
o presente é inconsistente
a vida é inconsistente
falta muito pra valer
o custo
o pior dos negócios
em que vende-se
a viagem dos sonhos
e compra-se
um dia atrás do outro
e são todos as mesmas
e sistemáitcas
torturas
o quanto
você
aguentar
porque Deus não dá mais do que o espírito merece
o espírito deve feder
o espírito não deve ser mais
que fina folha de papel
fina folha dos nossos narizes
fina folha de tudo o que eu sonhei
e o que eu realizei
fina folha de esperança que
fica sob o meu corpo deitado
imóvel
restrito
ao respirar
com receio
que tudo rasgue
e todo esse longo e enuviante processo
tenha sido plenamente vão
pode ser que ser tenha sido uma triste saída
pode ser que só tenha sido essa saída
pode ser que só seja simples
e simples seja sutil
e saio sábio desse meio termo de começo e fim
como se sapiência
significasse mais que
solidão
e só isso fosse tudo
um dia após o outro
e a tentativa irrestrita
de chegar até o fim
e perceber que de certa forma
alguma coisa valeu
me pergunto como pagam os pobres
me subjugo
nisso sou bom
me colocar pra baixo
justificando a gravidade que eu já não acho que é maior para mim
apenas sei como sei de coisas que ninguém sabe
e sei como sei de coisas que todos sabem
porque sou um sábio e de praticamente nada sei
já que quando não sei
estou sabendo
uma piada pronta
as formigas tomando conta
a fome tomando conta
o que é vira a verdade
e a verdade é irresoluta
e essa busca irônica de resoluções no passado
como se a história pudesse me contar coisas
que eu não sei
os eventos do que eu era me explicando o que sou
e quem hoje as pessoas são
e como tudo isso chegou até aqui
aqui é grave
é pesado
me subjugo
acho que sou eu
que fico procurando
motivos pra me esconder em toda sombra
aqui é grave
é pesado
conclamo
a
greve
essa é a proposta
luz cor e som
dia dia a dia
três dois um
e já passou da hora duas vezes
duas uma sou
tão bom
que tudo
é certo
a qualidade
de ser
a vaidade
de ser
o experimentar
do cotidiano
e essa consequente
secura
o peito vazio e os sentimentos rasteiros
o suspiro mais breve me parece a eternidade
toda
respiro e suspiro
intenso repenso
pra que fim do mundo
se ele nunca vai
acabar
já faz tempo
que o fogo
se faz alma
e a alma
se faz fraca
e o incêndio
se apaga como
uma hora atrás
da outra
mais ou menos
uma coisa ou outra
nunca tudo
nunca o melhor
nunca nada vale
o valor de tudo monetizado em tempo
a mais poderosa das moedas
e o meu dinheiro vazando pelo ralo
enquanto escrevo essa poesia vazia
de tudo que sou eu
porque eu sou vazio
e toda ela
a poesia e o amor pela vida
a paixão por todas as coisas
e a essência da existência humana
dentro de uma caixa de fósforos
chacoalha
e me ouve escondido
me arrasta
e me vê em chamas
me olha nos olhos
e vê que nesses olhos
tem um buraco tão grande
que ele poderia muito bem
te levar
eu tenho medo de olhar
e sugar tudo que há de humano
em quem vive
e quer viver
abaixo os olhos
olho ao lado
e evito o que sei de melhor
meus olhos como uma arma
um canhão encostado nas têmporas
como um basta para viver
e me amar e ser tudo o que eu
quiser
repenso o artifício
e sei que acho que sou
melhor
as coisas caem como
prédios implodidos
edifícios imaginários
que nunca passaram de ideia
casas que nunca foram de ninguém
porque nunca existiram
sincopes criativas de um suposto futuro conciso
o presente é inconsistente
a vida é inconsistente
falta muito pra valer
o custo
o pior dos negócios
em que vende-se
a viagem dos sonhos
e compra-se
um dia atrás do outro
e são todos as mesmas
e sistemáitcas
torturas
o quanto
você
aguentar
porque Deus não dá mais do que o espírito merece
o espírito deve feder
o espírito não deve ser mais
que fina folha de papel
fina folha dos nossos narizes
fina folha de tudo o que eu sonhei
e o que eu realizei
fina folha de esperança que
fica sob o meu corpo deitado
imóvel
restrito
ao respirar
com receio
que tudo rasgue
e todo esse longo e enuviante processo
tenha sido plenamente vão
pode ser que ser tenha sido uma triste saída
pode ser que só tenha sido essa saída
pode ser que só seja simples
e simples seja sutil
e saio sábio desse meio termo de começo e fim
como se sapiência
significasse mais que
solidão
e só isso fosse tudo
um dia após o outro
e a tentativa irrestrita
de chegar até o fim
e perceber que de certa forma
alguma coisa valeu
me pergunto como pagam os pobres
me subjugo
nisso sou bom
me colocar pra baixo
justificando a gravidade que eu já não acho que é maior para mim
apenas sei como sei de coisas que ninguém sabe
e sei como sei de coisas que todos sabem
porque sou um sábio e de praticamente nada sei
já que quando não sei
estou sabendo
uma piada pronta
as formigas tomando conta
a fome tomando conta
o que é vira a verdade
e a verdade é irresoluta
e essa busca irônica de resoluções no passado
como se a história pudesse me contar coisas
que eu não sei
os eventos do que eu era me explicando o que sou
e quem hoje as pessoas são
e como tudo isso chegou até aqui
aqui é grave
é pesado
me subjugo
acho que sou eu
que fico procurando
motivos pra me esconder em toda sombra
aqui é grave
é pesado
conclamo
a
greve
domingo, 9 de julho de 2017
O inseto, a religião e os pormenores
ocasionalmente o cérebro para
e escolhe outros focos aleatórios
numa viagem psicodélica que mistura
sonho e realidade
uma hora as coisas ficam extremamente confusas
quando de repente não se sabe o que se está fazendo
em uma curva abrupta estou ciente que sou viciado pela palavra
a palavra e a língua e a lógica infalível
que falha intermitentemente
e logo creio que a língua é a melhor das leis
e misturo as coisas como se direito e legislação e linguagem
conseguissem nos organizar
nessa sociedade de caos
a melhor das leis
que convive com a liberdade que o mundo exige
as palavras que saem confusas porém livres
é que as pessoas esquecem do valor da palavra
e as balbuciam como se fossem heresias rotineiras
aqui a palavra pesa como todo o resto
uma atmosfera de toneladas que me obriga escolhe-las com o cuidado
de quem escolhe produtos de limpeza
quando vale o mais barato
o mais bonito
e o mais cheiroso
vale a palavra que pouco fere mas que muito diz
a que me conforta quando o desespero surge e explode
pois em um segundo toda a calma acaba
como a chama da cabeça de um fósforo
e dessa extinção surge algo muito maior
com a intensidade do fim dos tempos
o fim vem como um caminhão sem freios
e atropela tudo que há de coerente
e num processo vazio
me esvazio
e escolho as leis
e as palavras
e no próximo segundo
sou vazio
sem medo nem coragem
sem qualquer esperança ou exaltação
sem paixão ou carinho ou verdade ou justiça
só a palavra
que exprime tudo
espreme tudo
sobra o bagaço
seco e esturricado
ensaio um sorriso
que sai apenas no lado direito da boca
parece que não tem fim
parece que não é um túnel
pra que haja qualquer sinal de luz
no fim dele
e a metáfora nos convir
e a palavra se torna esperança
a palavra é escuridão
e a escuridão é a realidade
o negro verdadeiro que absorve toda luz
perdido de sentidos
todos confusos enquanto me debato
entre desespero e prazer
o prazer de ver e sentir e ser
porque há certa beleza nas coisas todas
há beleza na palavra
e na imagem
e na lei
há beleza no sofrimento
e na desgraça
e na morte
definitivamente há beleza em todos os cantos
onde nenhum dos sentidos faz sentido
onde nada de nenhum modo faz sentido algum
essa hora estranha em que as coisas se confundem
mentira
e verdade
e palavra
a palavra verdade que é a ordem de Deus
os versos viciados que remontam milênios de abrigo
de guerra e discórdia
de voláteis agrados e desagrados
e eu relutando em lutar
lutando em relutar
lutando a luta por hábito inseguro
inseguro de mim
e do mundo todo
e da palavra
que sai como verdade
e dessas voltas que não me levam a nada
senão ao cul-de-sac
volta meia volta volta e meia volta aqui e me salva
ctrl + s antes de me perder
porque me perder é inevitável
o arquivo se corrompe
a palavra se esgota
a verdade se apavora
o mundo continua e vence
os pobres perdem
me sinto pobre
pobre de tudo
pobre de alma
pobre de grana
pobre de dignidade
e de esforço
pobre de mim que
não se aguenta mais
enquanto julga e é julgado
o julgamento começa e eu me apego
culpado por favor
me prende e me tira daqui
a palavra
só tenho a palavra
e a verdade
e essa confusão abstrata
que me faz
perder
e escolhe outros focos aleatórios
numa viagem psicodélica que mistura
sonho e realidade
uma hora as coisas ficam extremamente confusas
quando de repente não se sabe o que se está fazendo
em uma curva abrupta estou ciente que sou viciado pela palavra
a palavra e a língua e a lógica infalível
que falha intermitentemente
e logo creio que a língua é a melhor das leis
e misturo as coisas como se direito e legislação e linguagem
conseguissem nos organizar
nessa sociedade de caos
a melhor das leis
que convive com a liberdade que o mundo exige
as palavras que saem confusas porém livres
é que as pessoas esquecem do valor da palavra
e as balbuciam como se fossem heresias rotineiras
aqui a palavra pesa como todo o resto
uma atmosfera de toneladas que me obriga escolhe-las com o cuidado
de quem escolhe produtos de limpeza
quando vale o mais barato
o mais bonito
e o mais cheiroso
vale a palavra que pouco fere mas que muito diz
a que me conforta quando o desespero surge e explode
pois em um segundo toda a calma acaba
como a chama da cabeça de um fósforo
e dessa extinção surge algo muito maior
com a intensidade do fim dos tempos
o fim vem como um caminhão sem freios
e atropela tudo que há de coerente
e num processo vazio
me esvazio
e escolho as leis
e as palavras
e no próximo segundo
sou vazio
sem medo nem coragem
sem qualquer esperança ou exaltação
sem paixão ou carinho ou verdade ou justiça
só a palavra
que exprime tudo
espreme tudo
sobra o bagaço
seco e esturricado
ensaio um sorriso
que sai apenas no lado direito da boca
parece que não tem fim
parece que não é um túnel
pra que haja qualquer sinal de luz
no fim dele
e a metáfora nos convir
e a palavra se torna esperança
a palavra é escuridão
e a escuridão é a realidade
o negro verdadeiro que absorve toda luz
perdido de sentidos
todos confusos enquanto me debato
entre desespero e prazer
o prazer de ver e sentir e ser
porque há certa beleza nas coisas todas
há beleza na palavra
e na imagem
e na lei
há beleza no sofrimento
e na desgraça
e na morte
definitivamente há beleza em todos os cantos
onde nenhum dos sentidos faz sentido
onde nada de nenhum modo faz sentido algum
essa hora estranha em que as coisas se confundem
mentira
e verdade
e palavra
a palavra verdade que é a ordem de Deus
os versos viciados que remontam milênios de abrigo
de guerra e discórdia
de voláteis agrados e desagrados
e eu relutando em lutar
lutando em relutar
lutando a luta por hábito inseguro
inseguro de mim
e do mundo todo
e da palavra
que sai como verdade
e dessas voltas que não me levam a nada
senão ao cul-de-sac
volta meia volta volta e meia volta aqui e me salva
ctrl + s antes de me perder
porque me perder é inevitável
o arquivo se corrompe
a palavra se esgota
a verdade se apavora
o mundo continua e vence
os pobres perdem
me sinto pobre
pobre de tudo
pobre de alma
pobre de grana
pobre de dignidade
e de esforço
pobre de mim que
não se aguenta mais
enquanto julga e é julgado
o julgamento começa e eu me apego
culpado por favor
me prende e me tira daqui
a palavra
só tenho a palavra
e a verdade
e essa confusão abstrata
que me faz
perder
segunda-feira, 26 de junho de 2017
Dos bastidores
eu louco por exposição
me expondo louco
como quem não tem vergonha de segurar cartazes
normalmente eu tenho
guardo minhas ideias em arquivos salvos de poesia secreta
em pedaços escuros do cérebro que só eu sei chegar
em suspiros que vão embora pra sempre carregados por todas as moléculas do ar
racionalmente não tenho escolhas preferidas
razoavelmente convivo com o que me convém
como quem não tem vergonha de abrir o peito em intimidade exagerada
eu abro
e sangra
e uso esse sangue como artifício
do meu grande espetáculo
é sempre um espetáculo sincero
mas normalmente eu me fecho
me irrito comigo sendo discreto
mas sou
ou procuro ser
com o maior dos cuidados
andando com as pontas dos pés
fantasiado de capa de invisibilidade
sem respirar um pouco sequer
atravessando um mar de gentes sem ser tocado
ou sentido
ou observado
e por espontaneidade
subo no palco
eu sempre subo
e de lá eu grito verdades
e arranco sorrisos
mostro tudo
sem dó de ser
aplausos
as cortinas sempre se demoram pra fechar
e o espetáculo não tem mais fim
pois quando fecham
eu fecho também
e eu me sinto bem
com o que fiz
e com o que sou
o fim nunca acaba
me expondo louco
como quem não tem vergonha de segurar cartazes
normalmente eu tenho
guardo minhas ideias em arquivos salvos de poesia secreta
em pedaços escuros do cérebro que só eu sei chegar
em suspiros que vão embora pra sempre carregados por todas as moléculas do ar
racionalmente não tenho escolhas preferidas
razoavelmente convivo com o que me convém
como quem não tem vergonha de abrir o peito em intimidade exagerada
eu abro
e sangra
e uso esse sangue como artifício
do meu grande espetáculo
é sempre um espetáculo sincero
mas normalmente eu me fecho
me irrito comigo sendo discreto
mas sou
ou procuro ser
com o maior dos cuidados
andando com as pontas dos pés
fantasiado de capa de invisibilidade
sem respirar um pouco sequer
atravessando um mar de gentes sem ser tocado
ou sentido
ou observado
e por espontaneidade
subo no palco
eu sempre subo
e de lá eu grito verdades
e arranco sorrisos
mostro tudo
sem dó de ser
aplausos
as cortinas sempre se demoram pra fechar
e o espetáculo não tem mais fim
pois quando fecham
eu fecho também
e eu me sinto bem
com o que fiz
e com o que sou
o fim nunca acaba
quinta-feira, 22 de junho de 2017
Paz interior
existe uma sensação que a pouco era nova
mas que hoje é meu jeito de sobreviver
o desespero de sempre
mas o controle de si
um desespero controlado
eu sinto esse desespero nas minhas olheiras
que mais parecem uma sombra de olho invertida
um tom de roxo que puxa minhas pálpebras para baixo
mais a esquerda que a direita
o desespero calmo
como um dia que não para de chover uma chuva fina
aquela que não cai e nem molha
mas que levita no ar como poeira contra a luz
o dia que nada acontece
nem bom
nem ruim
mas um tédio supremo que irrita e incomoda
e um receio de má sorte
a sensação de estar a um passo de uma tragédia
com a consciência de que tal tragédia não acontecerá
olho bem em volta e procuro a tragédia
e o mundo claro e cinza vive em monotonia dinâmica
um eterno vai e vem de corações e mentes
que nos faz continuar onde estamos
eu começo a urgir pela tragédia
me convenço de novo
que ela não passa de
fantasia
fantasiado de humano
sou a tragédia
meu desespero não diminui
não some
não é esquecido
mas eu fico calmo
desesperadamente calmo
consciente e desesperadamente calmo
que bom se a vida continuasse
e fosse simples assim
mas que hoje é meu jeito de sobreviver
o desespero de sempre
mas o controle de si
um desespero controlado
eu sinto esse desespero nas minhas olheiras
que mais parecem uma sombra de olho invertida
um tom de roxo que puxa minhas pálpebras para baixo
mais a esquerda que a direita
o desespero calmo
como um dia que não para de chover uma chuva fina
aquela que não cai e nem molha
mas que levita no ar como poeira contra a luz
o dia que nada acontece
nem bom
nem ruim
mas um tédio supremo que irrita e incomoda
e um receio de má sorte
a sensação de estar a um passo de uma tragédia
com a consciência de que tal tragédia não acontecerá
olho bem em volta e procuro a tragédia
e o mundo claro e cinza vive em monotonia dinâmica
um eterno vai e vem de corações e mentes
que nos faz continuar onde estamos
eu começo a urgir pela tragédia
me convenço de novo
que ela não passa de
fantasia
fantasiado de humano
sou a tragédia
meu desespero não diminui
não some
não é esquecido
mas eu fico calmo
desesperadamente calmo
consciente e desesperadamente calmo
que bom se a vida continuasse
e fosse simples assim
quarta-feira, 31 de maio de 2017
Hoje o Sol apareceu para nós
Ou ótimo demais
Ou péssimo demais
Nunca um meio termo que diz que o dia é dia e tudo bem
Que dia é hoje?
Provavelmente de se sentir péssimo
Como a maioria dos outros dias
Como se tudo fosse possível
Tudo mesmo
Desde um prato cheio à felicidade plena
Embora há quem sinta numa coisa a outra
Pois por um curto período de tempo
Me sinto ótimo
E não muito melhor do que eu normalmente me sinto
Mas muito melhor que uma grande maioria do planeta inteiro
E quando percebo essa pré potência toda
Me desmonto como um quebra cabeça que não significa nada
Nada significa nada tudo significa tudo e é sempre esse vício absurdo entre mesma coisa e um mundo plenamente velho
Como se tudo fosse regra
Mas ninguém as conhecesse
Como ser fosse divino
E humano fosse escória
Como se eu fosse humano e não fosse de nenhum modo
Como se a dúvida que aparentemente não aparece a ninguém ficasse pulsando no meu cérebro pulsante
E se não existo de nenhum modo?
Meu coração não consegue mais seguir um ritmo
Segue o que lhe convém
E logo tenho que trabalhar conscientemente com os pulmões
É tudo sobre ser microscopicamente cuidadoso com o verbo ser
E não ser de nenhum modo
Modo
Nenhum
Modo
Nenhum
Nada
Nisso
Tem
Sentido
Exceto o tempo que segue lógico como um meteoro que logo se despedaça em pouco mais que ar
Ser livre
Ser livre
Ar livre
Ar condicionado
Ser condicionado
Ser senhor de si e só de si
E um punhado de dó para cada um de nós que não apenas se sente sozinho mas que reconhece efetivamente a solidão
O sexo pulsa na minha pele e nas minhas têmporas
O sexo pulsa como meu coração
Como se fossemos um só
Peito corpo alma
O coração pulsa
Tão estranho
Que me pergunto se não vou morrer
Bate muitas vezes seguidas muito rapidamente
E as batidas sobem o peito e o pescoço e o cérebro e isso tudo pulsa como arrependimentos ou tsunamis ou remorsos ou bombas atômicas
Bate desesperado
Completamente desesperado
E eu
Logicamente
Me convenço de verdades infalíveis
Que falham como um reino de prédios de cartas de baralho
Baralho caralho minha cabeça tremendo toda
Eu nadando em orgulho
Enquanto embaralho a realidade para ver algo inusitado
Comigo me sentindo uma delícia
Comigo ótimo até o céu ruir
E tudo volta outra vez
Ou péssimo demais
Nunca um meio termo que diz que o dia é dia e tudo bem
Que dia é hoje?
Provavelmente de se sentir péssimo
Como a maioria dos outros dias
Como se tudo fosse possível
Tudo mesmo
Desde um prato cheio à felicidade plena
Embora há quem sinta numa coisa a outra
Pois por um curto período de tempo
Me sinto ótimo
E não muito melhor do que eu normalmente me sinto
Mas muito melhor que uma grande maioria do planeta inteiro
E quando percebo essa pré potência toda
Me desmonto como um quebra cabeça que não significa nada
Nada significa nada tudo significa tudo e é sempre esse vício absurdo entre mesma coisa e um mundo plenamente velho
Como se tudo fosse regra
Mas ninguém as conhecesse
Como ser fosse divino
E humano fosse escória
Como se eu fosse humano e não fosse de nenhum modo
Como se a dúvida que aparentemente não aparece a ninguém ficasse pulsando no meu cérebro pulsante
E se não existo de nenhum modo?
Meu coração não consegue mais seguir um ritmo
Segue o que lhe convém
E logo tenho que trabalhar conscientemente com os pulmões
É tudo sobre ser microscopicamente cuidadoso com o verbo ser
E não ser de nenhum modo
Modo
Nenhum
Modo
Nenhum
Nada
Nisso
Tem
Sentido
Exceto o tempo que segue lógico como um meteoro que logo se despedaça em pouco mais que ar
Ser livre
Ser livre
Ar livre
Ar condicionado
Ser condicionado
Ser senhor de si e só de si
E um punhado de dó para cada um de nós que não apenas se sente sozinho mas que reconhece efetivamente a solidão
O sexo pulsa na minha pele e nas minhas têmporas
O sexo pulsa como meu coração
Como se fossemos um só
Peito corpo alma
O coração pulsa
Tão estranho
Que me pergunto se não vou morrer
Bate muitas vezes seguidas muito rapidamente
E as batidas sobem o peito e o pescoço e o cérebro e isso tudo pulsa como arrependimentos ou tsunamis ou remorsos ou bombas atômicas
Bate desesperado
Completamente desesperado
E eu
Logicamente
Me convenço de verdades infalíveis
Que falham como um reino de prédios de cartas de baralho
Baralho caralho minha cabeça tremendo toda
Eu nadando em orgulho
Enquanto embaralho a realidade para ver algo inusitado
Comigo me sentindo uma delícia
Comigo ótimo até o céu ruir
E tudo volta outra vez
segunda-feira, 17 de abril de 2017
Não há o que ver
a constante perseguição de ser melhor
como se melhor significasse efetivamente
melhor
tá tudo bem perceber que não há melhor?
entre revoluções a gente percebe que há muito pouco de evolução
e muita luta e guerra e sangue e o conceito de honra sempre mudando
mas ele sempre fundamental e estratégico
tudo pela honra do que é ser
não melhora
só vem mais um dia
e ele significa pouco senão mais uma volta em si mesmo
trezentos e sessenta e cinco dias girando e girando e girando
se apegando em propósitos que dão significado à vida
muito significa pouco e vice-versa
os versos viciados em significados, significativos e significadores
propostas fundamentais de organizar em parâmetros o dia a dia
justificando as próprias atitudes presentes, passadas e futuras
tudo pela justificativa para ser
a convulsão de viver é mais confusa em algumas pessoas
isso eu já percebi
há quem leve as coisas numa boa
e eu gosto disso
sem ciúmes, rancor ou inveja
só a liberdade de me sentir confortável por alguém
quase ninguém tá confortável
todo mundo se justificando por justificar
sem se apegar a memórias, conceitos e posições
mas presos em éticas duvidáveis e sonhos impossíveis
por que me apedrejar?
pra viver em literatura o sofrimento destilado soletrado
coitado quanta ilusão
pra me empedrejar e me fazer estátua e obra de arte
e sozinho serei multidão
impede já o que já foi dito
e me serve pra eu engolir tudo
sem medo de passar mal
de modo algum
comer tem tudo a ver com prazer
engolindo as letras uma a uma
e arrotar isso bem orgulhoso
de que tudo deixou de passar
nada
vai
passar
a obesidade nas minhas bochechas
espremendo meus lábios em bico
e nenhuma palavra me foge
tal que engulo com fome todas elas
vai passar
confortavelmente
vai passar
como se melhor significasse efetivamente
melhor
tá tudo bem perceber que não há melhor?
entre revoluções a gente percebe que há muito pouco de evolução
e muita luta e guerra e sangue e o conceito de honra sempre mudando
mas ele sempre fundamental e estratégico
tudo pela honra do que é ser
não melhora
só vem mais um dia
e ele significa pouco senão mais uma volta em si mesmo
trezentos e sessenta e cinco dias girando e girando e girando
se apegando em propósitos que dão significado à vida
muito significa pouco e vice-versa
os versos viciados em significados, significativos e significadores
propostas fundamentais de organizar em parâmetros o dia a dia
justificando as próprias atitudes presentes, passadas e futuras
tudo pela justificativa para ser
a convulsão de viver é mais confusa em algumas pessoas
isso eu já percebi
há quem leve as coisas numa boa
e eu gosto disso
sem ciúmes, rancor ou inveja
só a liberdade de me sentir confortável por alguém
quase ninguém tá confortável
todo mundo se justificando por justificar
sem se apegar a memórias, conceitos e posições
mas presos em éticas duvidáveis e sonhos impossíveis
por que me apedrejar?
pra viver em literatura o sofrimento destilado soletrado
coitado quanta ilusão
pra me empedrejar e me fazer estátua e obra de arte
e sozinho serei multidão
impede já o que já foi dito
e me serve pra eu engolir tudo
sem medo de passar mal
de modo algum
comer tem tudo a ver com prazer
engolindo as letras uma a uma
e arrotar isso bem orgulhoso
de que tudo deixou de passar
nada
vai
passar
a obesidade nas minhas bochechas
espremendo meus lábios em bico
e nenhuma palavra me foge
tal que engulo com fome todas elas
vai passar
confortavelmente
vai passar
terça-feira, 4 de abril de 2017
Tratado de Tordesilhas
Um passo pra trás e não existem verdades
Só perspectivas de camadas sobre camadas de realidade
Que se confundem e se espremem nos nossos
Vícios mais ignorantes
Vou ver a vida vazando
Enquanto vagueio vadio
Atolado de memórias e histórias
Responsabilidades e vulnerabilidades
Afogado em ser e estar
To be or not to be
Razoavelmente ou radicalmente
Me despi das razões pois são outras mentiras
Que contamos a nós mesmos
Enquanto buscamos justificar a verdade
A verdade não precisa de justificativa
É e pronto
Ser ou não ser
É porque é
E se ninguém a conhece
Continua sendo
Razões pra viver como todo mundo
Esperando salvar o planeta ou comprar sem sentir dor
Inventar alguma coisa nova
E sucessivamente acumular vitórias seguidas
Ser a verdade
Não ser de verdade
A verdade que não é
Sem razão
O que os olhos veem e o coração não sente
O coração sente o peso desses anos estranhos
Dessas mágoas disfarçadas de memórias
E dessas memórias disfarçadas de deja vus
A realidade sempre distinta e objetivamente mais obscura e mais real
Como se todo pulo pudesse me matar
E eu sentisse medo do pulo
Suicída
Covarde
Ou corajoso
Eu continuo
Crendo cegamente que sou um
Moto perpétuo
Tal que a energia
Nunca acaba
Eu sei que é mentira
Mas eu minto pra mim quando reconheço a escuridão ardida da realidade
E sou bom contador de história
E me fascino com minhas próprias fantasias
Quando é noite é tarde
Quando é dia
É tarde
É sempre tarde e eu acredito em coisas que sei que não existem
O mundo me julga
E eu me finjo surpreso
Quem me julga? Por quê? O que aconteceu?
O que aconteceu aqui?
Me acostumei com os juízes
E seus martelos
E suas sentenças
De plena e pura verdade transparente
A verdade é sempre transparente
E some
E eu já nem ligo mais
Finjo que não é comigo
A realidade que vejo já me comprime com força
Não preciso fazer esforço para procurar a verdade
Pois eu sei
Que toda ela
É invisível
Só perspectivas de camadas sobre camadas de realidade
Que se confundem e se espremem nos nossos
Vícios mais ignorantes
Vou ver a vida vazando
Enquanto vagueio vadio
Atolado de memórias e histórias
Responsabilidades e vulnerabilidades
Afogado em ser e estar
To be or not to be
Razoavelmente ou radicalmente
Me despi das razões pois são outras mentiras
Que contamos a nós mesmos
Enquanto buscamos justificar a verdade
A verdade não precisa de justificativa
É e pronto
Ser ou não ser
É porque é
E se ninguém a conhece
Continua sendo
Razões pra viver como todo mundo
Esperando salvar o planeta ou comprar sem sentir dor
Inventar alguma coisa nova
E sucessivamente acumular vitórias seguidas
Ser a verdade
Não ser de verdade
A verdade que não é
Sem razão
O que os olhos veem e o coração não sente
O coração sente o peso desses anos estranhos
Dessas mágoas disfarçadas de memórias
E dessas memórias disfarçadas de deja vus
A realidade sempre distinta e objetivamente mais obscura e mais real
Como se todo pulo pudesse me matar
E eu sentisse medo do pulo
Suicída
Covarde
Ou corajoso
Eu continuo
Crendo cegamente que sou um
Moto perpétuo
Tal que a energia
Nunca acaba
Eu sei que é mentira
Mas eu minto pra mim quando reconheço a escuridão ardida da realidade
E sou bom contador de história
E me fascino com minhas próprias fantasias
Quando é noite é tarde
Quando é dia
É tarde
É sempre tarde e eu acredito em coisas que sei que não existem
O mundo me julga
E eu me finjo surpreso
Quem me julga? Por quê? O que aconteceu?
O que aconteceu aqui?
Me acostumei com os juízes
E seus martelos
E suas sentenças
De plena e pura verdade transparente
A verdade é sempre transparente
E some
E eu já nem ligo mais
Finjo que não é comigo
A realidade que vejo já me comprime com força
Não preciso fazer esforço para procurar a verdade
Pois eu sei
Que toda ela
É invisível
segunda-feira, 27 de março de 2017
O poeta e a hipnose para acordar mais uma vez
a poesia pulsa em mim como cânticos
em tons orientais
as vozes dançando como
cobras hipnotizadas
sem uma palavra
uma nota
atrás da outra
que por si só
já são o verso
não consigo escrevê-la
as notas que em português
nada significam
apenas com melodia
significam quase tudo
e é assim que quero escrever
com quase tudo
como quem domina com
precisão a arte
da língua
dentro da minha cabeça
a poesia pulsa
não consigo escrevê-la
ela me vem em notas
e significa
quase tudo
certo de que sei coisas demais
e que só esse saber fosse mais
que o suficiente para ser
e estar
e escrever
e emocionar
e entrar tão profundamente
no coração dos leitores
que eles mesmos se sentiriam
escritores
com a poesia pulsando
dentro das próprias cabeças
dizendo quase tudo
que eu sei
em tons orientais
as vozes dançando como
cobras hipnotizadas
sem uma palavra
uma nota
atrás da outra
que por si só
já são o verso
não consigo escrevê-la
as notas que em português
nada significam
apenas com melodia
significam quase tudo
e é assim que quero escrever
com quase tudo
como quem domina com
precisão a arte
da língua
dentro da minha cabeça
a poesia pulsa
não consigo escrevê-la
ela me vem em notas
e significa
quase tudo
certo de que sei coisas demais
e que só esse saber fosse mais
que o suficiente para ser
e estar
e escrever
e emocionar
e entrar tão profundamente
no coração dos leitores
que eles mesmos se sentiriam
escritores
com a poesia pulsando
dentro das próprias cabeças
dizendo quase tudo
que eu sei
terça-feira, 21 de março de 2017
O haikai de uma nota só
é dia mundial da poesia
vejo minha vida
e todo o universo
interno e externo
a mim
como versos
ilegíveis
enxergo de longe os versos
formando estrofes
amorfas
como linhas de códigos
que definem
o que a vida
é
tudo isso descendo
em velocidade
como um computador
que instala alguma coisa
e traços mutantes
tomam espaço da linha
anterior
aumentando a poesia
num papiro virtual
que não possui começo
nem fim
só
enter
e letras
e enter
e letras
numa tela ora branca
ora preta
e as letras
ora pretas
ora brancas
enter e letras
e essa mudança de cores
pulsando positivo
e negativo
enquanto eu não leio
uma palavra
sequer
isso me incomoda
a poesia segue
como uma cachoeira invertida
que sei que lá
estão os segredos
e significados
que já dei
à existência
e sabendo o que lá está escrito
saberia de tudo que sei
com consciência
segurando um fio de esperança
como o fio que segura
um balão de hélio
tendo a certeza que uma hora
o balão vai respeitar
tudo o que deve ser respeitado
e vai subir também
a poesia segue
todos os dias
e no dia mundial
a vida segue
misturando vícios e novidades
como versos que se contradizem
todos os dias iguais e diferentes
e todos eles dias mundias de poesia
os eventos todos nesse planeta em crise
dissolvendo em literatura
como se ao próximo segundo
não merecesse o julgamento
de merecer ser ou não ser escrito
mas da inevitabilidade dele
tornar-se história
verso estrofe e poesia
vejo minha vida
e todo o universo
interno e externo
a mim
como versos
ilegíveis
enxergo de longe os versos
formando estrofes
amorfas
como linhas de códigos
que definem
o que a vida
é
tudo isso descendo
em velocidade
como um computador
que instala alguma coisa
e traços mutantes
tomam espaço da linha
anterior
aumentando a poesia
num papiro virtual
que não possui começo
nem fim
só
enter
e letras
e enter
e letras
numa tela ora branca
ora preta
e as letras
ora pretas
ora brancas
enter e letras
e essa mudança de cores
pulsando positivo
e negativo
enquanto eu não leio
uma palavra
sequer
isso me incomoda
a poesia segue
como uma cachoeira invertida
que sei que lá
estão os segredos
e significados
que já dei
à existência
e sabendo o que lá está escrito
saberia de tudo que sei
com consciência
segurando um fio de esperança
como o fio que segura
um balão de hélio
tendo a certeza que uma hora
o balão vai respeitar
tudo o que deve ser respeitado
e vai subir também
a poesia segue
todos os dias
e no dia mundial
a vida segue
misturando vícios e novidades
como versos que se contradizem
todos os dias iguais e diferentes
e todos eles dias mundias de poesia
os eventos todos nesse planeta em crise
dissolvendo em literatura
como se ao próximo segundo
não merecesse o julgamento
de merecer ser ou não ser escrito
mas da inevitabilidade dele
tornar-se história
verso estrofe e poesia
quarta-feira, 15 de março de 2017
Louco motivo
as possibilidades me irritam
é como se eu estivesse esperando mudanças
desde a primeira vez que bati no peito e disse
quero ser foda
o mundo é uma caixinha de surpresas
ao passo que muito depende-se da sorte
e de maturidade e esforço e habilidade
e as coisas são monótonas há muito tempo
o tempo todo trens vindo em minha direção
e me estraçalhando ocasião atrás de ocasião
como se meus pés fossem imãs
e eu não pudesse sair desses trilhos
que só me levam
cansei de apontar pro destino dizendo
eu quero
como uma criança que escolhe um presente
os atropelamentos recorrentes me mostram que nada é fruto do esforço
embora eu ainda me apegue a estes termos
porque a sociedade assim pede
e senão eu deixaria de me esforçar
e esperaria que as correntes de vento
me levassem para o melhor futuro possível
as possibilidades se abrem nos meus olhos
eu gosto delas e ocasionalmente me pego apegado
apaixonado por uma ideia hipotética que está longe do meu trilho
sou atropelado
mas as possibilidades existem
e eu atropelo algumas delas
e agradeço a sorte
e o acaso
como se nenhum dos quilômetros ultrapassados
contassem em nenhum momento
como se o caminho não fosse a causa do presente
as possibilidades me irritam
as estudo como um matemático
e depois como um psicólogo
e só então um arquiteto
e logo um cozinheiro
e um doente
e por fim morador
de rua
as possibilidades não dependem desses estudos
mas de outras possibilidades que dependeram de possibilidades mais antigas
e minha análise profunda nada mais é que justificar a mim mesmo minhas próprias escolhas
possivelmente
nada disso
faz sentido
sigo no trilho
parado
e andando
na maior monotonia
que um atropelamento
pode ter
é como se eu estivesse esperando mudanças
desde a primeira vez que bati no peito e disse
quero ser foda
o mundo é uma caixinha de surpresas
ao passo que muito depende-se da sorte
e de maturidade e esforço e habilidade
e as coisas são monótonas há muito tempo
o tempo todo trens vindo em minha direção
e me estraçalhando ocasião atrás de ocasião
como se meus pés fossem imãs
e eu não pudesse sair desses trilhos
que só me levam
cansei de apontar pro destino dizendo
eu quero
como uma criança que escolhe um presente
os atropelamentos recorrentes me mostram que nada é fruto do esforço
embora eu ainda me apegue a estes termos
porque a sociedade assim pede
e senão eu deixaria de me esforçar
e esperaria que as correntes de vento
me levassem para o melhor futuro possível
as possibilidades se abrem nos meus olhos
eu gosto delas e ocasionalmente me pego apegado
apaixonado por uma ideia hipotética que está longe do meu trilho
sou atropelado
mas as possibilidades existem
e eu atropelo algumas delas
e agradeço a sorte
e o acaso
como se nenhum dos quilômetros ultrapassados
contassem em nenhum momento
como se o caminho não fosse a causa do presente
as possibilidades me irritam
as estudo como um matemático
e depois como um psicólogo
e só então um arquiteto
e logo um cozinheiro
e um doente
e por fim morador
de rua
as possibilidades não dependem desses estudos
mas de outras possibilidades que dependeram de possibilidades mais antigas
e minha análise profunda nada mais é que justificar a mim mesmo minhas próprias escolhas
possivelmente
nada disso
faz sentido
sigo no trilho
parado
e andando
na maior monotonia
que um atropelamento
pode ter
sábado, 4 de março de 2017
O restaurante
Pratos do dia
A invenção da humanidade
A devoção pela ignorância
Asfalto com tinta e terra e buracos e marcas de pneus
Um pensamento etéreo e vazio como a existência
A esperança de amanhã havermos um prato melhor
O golpe
E a fome
Se esbanjar em frieza enquanto a pimenta abre os poros que vazam e se tornam um com toda a umidade desse ar quente
A fusão da pele com a atmosfera e toda a natureza dissolvida nela mesma
Pairando sobre o vento de ares quentes
Lavar os pratos
Antes que os olhos explodam maiores que a barriga
E o estômago exploda em excesso de carga
A água fria acalma a alma
A esponja que desliza em movimentos circulares me mostra o caminho de ser
A espuma vai e eu
Também
Abandona a cozinha
A memória
E fica com esse desconforto sem motivo
Borbulhando arrotos e julgando que o mundo não está bem
A invenção da humanidade
A devoção pela ignorância
Asfalto com tinta e terra e buracos e marcas de pneus
Um pensamento etéreo e vazio como a existência
A esperança de amanhã havermos um prato melhor
O golpe
E a fome
Se esbanjar em frieza enquanto a pimenta abre os poros que vazam e se tornam um com toda a umidade desse ar quente
A fusão da pele com a atmosfera e toda a natureza dissolvida nela mesma
Pairando sobre o vento de ares quentes
Lavar os pratos
Antes que os olhos explodam maiores que a barriga
E o estômago exploda em excesso de carga
A água fria acalma a alma
A esponja que desliza em movimentos circulares me mostra o caminho de ser
A espuma vai e eu
Também
Abandona a cozinha
A memória
E fica com esse desconforto sem motivo
Borbulhando arrotos e julgando que o mundo não está bem
sábado, 25 de fevereiro de 2017
Por que você parece tão triste?
A
fé vaza das mãos como cartas de amor que nunca foram escritas
Explicando
que mais uma vez a gravidade impera
Imperatriz
de tudo, obriga as revoluções do próprio planeta
E
logo estamos girando em confusa mutabilidade incessante e monótona
O
mais do mesmo. Sempre o mais do mesmo.
Mas
o mesmo é cada vez mais intenso ou mais pior
Porque
sempre pode ficar mais pior
E
logo o termo se justifica
A
fé vaza e logo temos o mais pior nas mãos
E o
mais pior vaza também como todo o resto
Se
vaza sólido ou líquido não importa
O que
importa é que sempre vaza
E
se é grande o suficiente pra não vazar
Vazo
eu e o mundo muda em revolução
Como
se os próprios músculos se tornassem gelatinosos
E
as fibras se dissolvem nelas mesmas
Então
o que quer que esteja nas mãos já não importa
Se leve
ou pesado
Líquido
ou sólido
Quem
vazo sou eu
Por
dentro
Por
inteiro
De
cima
A
baixo
Paciência,
esperança e fé se confundem em uma só
Porque
nada é certo e confiamos que nada é certo
E
confiamos em ilusões sadias que nos fazem suportar o insuportável
Garantia
absoluta de resignação diária
Todo
dia submisso e misturando respeito e aceitação e estima e amor
Enfrentando
possibilidades e probabilidades para encontrar algo certo
Num
mundo lotado de pessoas que possuem certezas maiores que a própria inteligência
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