quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Aftas são filhotes do Diabo
Durante certas noites, eu deitava e simplesmente ficava de boca fechada, esperando que Deus entendesse que naquela noite eu não estava disponível. Isso acontecia ou quando eu estava deitado com uma mulher, o que era bem raro, ou quando eu estava bêbado ou chapado, o que era bem comum, ou quando eu estava com aftas. Aftas, para quem não sabe, são machucados na boca que, devido à acidez da saliva, não se cicatrizam. O ácido vai corroendo a pele machucada, abrindo uma cratera na boca. Aftas não são doenças, não podem ser curadas ou transmitidas, mas com certeza podem enlouquecer um filho da puta de cabeça fraca. A dor é constante, até que ela desapareça, sete dias depois de ela aparecer. E a dor constante não nos deixa comer, nem falar, nem sorrir, nem cuspir. Então o melhor a fazer é ficar de boca bem fechada e esperar que o mundo acabe.
E o Diabo sorri orgulhoso, de pernas cruzadas e com um cigarro na boca olha para Deus e diz: Haha, acho que alguém não rezar para o Papai hoje, não é, Papai?
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
domingo, 26 de dezembro de 2010
Reversibilidade
"Ó Anjo de alegria, já viste a desgraça,
Os soluços, o tédio, o remorso, as vergonhas,
E o difuso terror dessas noites medonhas
Que o peito oprimem como um papel que se amassa?
Ó Anjo de alegria, já viste a desgraça?
Ó Anjo de bondade, já viste o rancor,
As mãos em gesto aflito e as lágrimas de fel,
Quando brande a Vingança o seu apelo cruel
E de nossas virtudes torna-se senhor?
Ó Anjo da bondade, já viste o rancor?
Ó Anjo de saúde, já viste os Delírios,
Que, ao longo das paredes do asilo alvadio,
Como exilados vão em passo tardio,
Movendo os lábios e buscando a luz dos círios?
Ó Anjo de saúde, já viste os Delírios?
Ó Anjo de beleza, as rugas já não viste,
Não viste o medo da velhice e este suplício
De ler esfíngico pavor do sacrifício
No olhar que outrora no saciou a gula triste?
Ó Anjo da beleza, as rugas já não viste?
Ó Anjo de ventura e júbilo e clarões,
Davi da morte se teria levantado
Sob os eflúvios de teu corpo enfeitiçado;
Mas a ti só imploro as tuas orações,
Ó Anjo de ventura e júbilo e clarões!"
Charles Baudelaire
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Vizinha
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Sonho
A beleza da menina contagiou o coração daquele homem. Estranhamente, ele se desesperou, sentiu medo, sentiu frio, sentiu que poderia perdê-la a qualquer instânte. Nesse medo, beijou a testa da garota, beijou as faces, beijou os lábios, beijou o nariz, beijou até cansar os músculos da boca. Ela, adormecida, não moveu um cílio, muito menos o corpo, se fazia de Bela Adormecida aos beijos do plebeu. Coitada, ela que esperava um príncipe, foi ter na cama um sujeito qualquer. Aos meus olhos o sujeito não era de todo ruim, até acho que você, leitor, gostaria de conversar com o sujeito, imagino que até eu gostaria, pois enfim, não era um príncipe, mas de que serviriam os bilhões de homens do mundo se os bons sujeitos fossem só os príncipes?
Quando o homem se deu por si ficou perplexo. Não sabia o que dera nele, perguntava-se por qual motivo estava nú, perguntava por qual motivo estava beijando desesperadamente a face da bela moça, que agora não tinha mais a beleza dos filmes, mas ainda sim era bonita, perguntava que fim dera aquele sentimento seguro que era se ter sozinho, acompanhado dele mesmo. Pensou em procurar as roupas do lado esquerdo da cama, apanhar os pertences na cabeceira direita, em fugir dali, fingir que ele não sentira nada mais que uma felicidade decrépita por ter uma bela moça ao seu lado.
Pois ele não fez nada. Acho que esqueceu dos dois pânicos que teve, primeiro do sentimento de proteção que tinha com a garota, segundo do sentimento de medo que tinha da menina. Esquecido ou não, fez que não pensou em nada. Acabou por apertar ela mais perto do corpo, já que o vão dos seios dela permitia a entrada de uma corrente gélida de ar matutino que esfriva as pernas dos dois, puxou o cobertor de lã vermelha até o pescoço, temendo que o colo dela estivesse tão frio quanto os ombros, fechou os olhos e se pôs a sonhar, como se aquele mesmo fosse o sonho.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Cena de amor, Ato XIX
- Ele não me atende... - Ela estava completamente bêbada. Eu, sóbrio. - Acho que ele não gosta mais de mim.
Pus a mão na coxa dela, eu sorria enquanto ela se lamentava. Os seios dela estavam suados e brilhavam à luz da rua. Ela tirou a minha mão da coxa dela, sorriu para mim, um sorriso amigável. Os pêlos dela eram ralos, bem curtos e charmosos. Os lábios carnudos. Talvez fora a mais bela mulher que já vira. Ela segurou a minha mão, ainda olhando para o telefone.
- Ele não gosta mais de mim, né?
- Você quer que ele goste?
- Quero.
- Por quê?
- Carência.
- Eu te amo.
- Ama?
- De certo modo, amo.
- Não serve.
- Por quê?
- Tem de ser amor completo e verdadeiro.
- Pra quê?
- Pra acabar a minha carência.
- Que besteira. - A beijei longamente, beijava seu pescoço e seus seios. Ela suspirava.
O telefone tocou, ela sorriu lindamente.
- Oi, amor! É, você não me atende! Tá, já vou praí, o Thomas me leva. Tudo bem, te amo!
- Pois é, ele ligou...
- Você me leva lá?
- Levo.
domingo, 12 de dezembro de 2010
Alguém, algum dia, fará uma loucura por você
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Depressão
Thomas Verkitsch, em O Elefante Branco ou O Imperador de Esmolas
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Catastrofe e a cura
Senão vou sentir a tua falta quando sentir um cheiro parecido com o teu.
Sentir saudade de uma boca que eu mal toquei.
Sentir amor por alguém que nunca amei.
Mas eu vou continuar sendo legal.
E eu vou continuar pensando em você, mesmo se você esquecer de mim.
Não é amor, é um coração batendo bem alto e bem forte.
Não se preocupe, você pode viver a sua vida.
Eu vou continuar ouvindo as músicas que me lembram de você.
E vou andar pelos mesmos lugares que andamos.
E vou encostar na mesma parede que te beijei.
Não é difícil, o tempo passa e das melhores memórias só sobram fragmentos.
Estou bem perto de te esquecer.
Só peço que, quando nos vermos de novo,
Você não me beije, pois eu não quero viver
Esse caos mais uma vez.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Bola
terça-feira, 30 de novembro de 2010
O herege
Tão docemente alinhadas.
É assim que termina?
(Baseado na música The Heretic, The Sound Of Animals Fighting)
domingo, 28 de novembro de 2010
Voyeurismo
O último verso
E todo mundo têm a sua chance de amar.
Mas eu tenho essa merda de ser escolhido pelo pior.
Essa merda de ser o pior dos piores e se sentir um bosta.
O amor é uma bosta.
Um inferno tão profundo.
Teus olhos me transformam num fantasma.
Que merda estou fazendo aqui?
Porra, me apaixonei pelos teus malditos olhos.
Eles me transformam numa merda.
Uma merda que te segue até o fim.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Saudade
sábado, 20 de novembro de 2010
Palavras
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Duas caras
As mulheres sempre me foram um problema. Me apaixonei pelas erradas, outras mais erradas se apaixonaram por mim. Um enorme problema de logística. Toda vez que transava por transar, tocava um coração e a minha inconsequência se tornava alvo de um amor tolo. Elas se apaixonavam por um pênis que vinha pendurado num cara magro. Pior que o pau nem era tão grande e o cara nem era tão legal. Quando eu me apaixonava, era o menino doce e bonitinho, mas as mulheres se assustam com esses tipos. Os caras frouxos sempre se machucam e elas nunca querem machucar ninguém. Aliás, acho que pouca gente têm esse intuito. Lá estava eu, apaixonado por uma louca, enquanto ela me tratava como um doce menino frouxo. Me faltam colhões nessas horas. Só sou homem quando me convém dar uma gozada. Eu e a minha tara por loucas. E as loucas e suas taras por fio terras. Porra, tem alguma coisa errada, tem que ter alguma coisa errada. E acho que é só comigo, porque ninguém grita. Parece que estou só eu nesse mar de solidão. Que merda, apaixonado de novo.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Amor, sexo e masturbação
Outrora, o sexo me era uma religião. Era um vício repleto de magia. Eu era um cheirador de bocetas, um fumante de línguas. Um drogado inconsequente marcando nomes num caderno de vaginas para a contabilidade. Mas o excesso de sexo fodeu comigo. Hoje não sei o que as pessoas veem nesse ato incoerente de enfiar seus sexos nos sexos alheios. A população toda se esfregando em prol de mais um orgasmo. Uma orgia gigante que tem o mesmo significado que aquela masturbação no banheiro sujo de casa. É a mesma solidão, só que com cheiro de suor e saliva.
Não me lembro de como é fazer amor. E acho que quase ninguém lembra como é fazer amor. A porra do amor é uma neurose estressante desnecessária. Ninguém, dessa orgia insana, está disposto à neurose. Só queremos seguir rezando e fodendo e nos drogando. A mesma merda de sempre. Todos nus nas suas masturbações coletivas.
Tristeza
terça-feira, 16 de novembro de 2010
A mais nobre dor
Nadando em desejos e vivendo sonhos.
Esquecendo que o mundo é a bosta que é.
Acostumado com tudo isso.
Me sentindo bêbado e chapado.
Encarando as pernas e os lábios.
Inutilmente encarando os lábios.
Me sentindo cheio, mentirosamente cheio.
Eu já tinha me acostumado com o cheiro dela.
Com o cabelo preto dela tocando o meu rosto.
Com o lábio desenhado, o nariz perfeitamente fino e arrebitado.
Eu tinha me acostumado com os lábios dela tocando os meus
Eu tinha me acostumado com a loucura dela.
Minha sina, as mulheres malucas.
Muito lábio e pouca saliva, nem tudo é perfeito.
Me acostumei com as gargalhadas e a felicidade.
Eu realmente não nasci pra isso.
A solidão é minha melhor amiga.
E todo ser humano nasce pra isso.
A solidão é o medo de todo o mundo.
Sei que não nasci para evolução.
Todo homem é feito para isso.
Para procriação de uma espécie decadente.
Sou um fardo social, um peso morto.
A vida é gelada, assustadoramente vazia.
E nós, os solitários, nos agarramos a faíscas momentaneas.
Tolamente esperando que essa nobre dor suma.
Mas a solidão faz parte de nós e as pernas brancas e os lábios não vão nos salvar.
A vida é gelada e meu coração quente sente dor.
Sem a loucura dela.
Sem os beijos dela.
A mais nobre dor.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Corso
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Embriaguez
Pois enfim, vim declarar meu ódio ao amor, pois é o melhor que eu posso escrever. Talvez seja um vício, como o álcool ou como o sexo ou como outro vício qualquer. O amor é lindo, desde que se esteja de olhos fechados. Eu, de olhos fechados, tocando suas pernas finas, sentindo seus pêlos curtos e loiros, enquanto você sorri lindamente. Eu sei que você sorri. Meus olhos fechados conseguem sentir seus lábios acanhados se abrindo. Você toda se abre. Seus lábios, suas pernas, seu sexo, seu coração. Todos abertos para mais um salto às cegas. Você e todo mundo, prontos à coleção de dores e inconveniências. O amor serve para esses sofredores que não temem o sofrimento. O amor não me serve. Prefiro a solidão e meu cheiro e minhas manias. Sem cheiros e manias alheias. Sem amor ou sentimento. Sem a porra do sorriso alheio, só o meu. O amor acaba conosco e nos faz otários solitários. E vivo eu, sozinho, mas não otário, pelo menos assim penso eu. O amor como todas as armas me furando. O amor como um multirão de comunistas em prol duma utopia maior. O amor como milhões de anos de inexistência. O amor mais tolo. A infantilidade nos nossos corações. A dor nos nossos corações.
E o sexo, que se foda. O importante, é amar. Eu espero que nos encontremos no final, como as rugas encontram todo mundo. E dançaremos de novo, e de novo e de novo.
O Porco
- Hahaha. - Ela riu.
- O que foi?
- Adoro quando você arrota.
- Quê?
- Acho engraçado.
- Não acha nojento?
- Por que acharia nojento? Acho engraçado. - Sorriu.
- Você é maluca.
- Por que?
- Porque você gosta dos meus arrotos.
- Ai, Thomas, você é ridículo - Continuava a sorrir. - Eu gosto de tudo o que você faz.
- Você é maluca, muito maluca.
- Tho, te amo.
- Se eu matar alguém, vai continuar a me amar?
- Claro que vou.
- E se eu deixar de arrotar?
- Não sei. Vou sentir falta dos arrotos. Mas não é por isso que vou deixar de te amar.
- E se eu te trair?
- ... - Parou de sorrir.
- Han?
- Thomas, não brinca com essas coisas.
- Vai deixar de me amar?
- Você é um idiota.
- E você é maluca!
- Seu porco. - Saiu do quarto.
- Eu também te amo. - Disse pra mim mesmo.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Amor, o Criador nos deixou
domingo, 7 de novembro de 2010
Curitiba
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Loucura
- Manda.
- Quê, Tho?
- Casa comigo?
- Hahahaha.
- O que?
- Você é ridículo, Thomas.
- É sério, casa comigo.
- Thomas. É só sexo. Tá? Só sexo e você sabe disso.
- Mas eu te amo.
- Tá, então você está na merda.
- Vai ver estou.
Pela terceira ou quarta vez apaixonado. E desta vez ela não era louca. Muito pelo contrário. Era a mais sã das mulheres. A mais sã e mais bela. Casamento, amor, essas merdas todas, só existem para nos chatear. E ela sabia muito bem disso.
sábado, 23 de outubro de 2010
Vive le demócratie
terça-feira, 19 de outubro de 2010
À Amanda
Estavamos num show, eu, você e... pessoas... Nós só andavamos de mãos dadas e braços dados. Num certo ponto, te empurrei pra parede e tentei te beijar.
- Thomas!
- Manda...
- Tua namorada tá aqui, eu vi ela!
- Ex namorada.
- Ela é louca, você sabe disso.
- Eu não falo com ela faz muito tempo, ela já desencanou. - Daí eu te beijei.
E ficamos de namorico no show, até que, enquanto eu andava sozinho, a minha ex veio. Era uma menina com quem eu estudava no Ensino Médio, que eu não vejo há uns 5 ou 6 anos, pra mais... Vai entender os sonhos...
- Tho - Ela sorriu calmamente.
- Lu...
- Eu tenho uma notícia pra você.
- Diga.
- Acabei de ter um filho.
- NOSSA! - Me espantei.
- É teu - Continuava sorrindo.
- QUE?
- É...
Por isso, peguei meu carro e fui embora, sem nem falar com você. Teus amigos me viram falando com a ex namorada, mas nunca me viram voltando. Óbviamente, você ficou de cara, pensando que eu tinha feito alguma merda.
No dia seguinte, eu estava andando no shopping, um shopping que não existe, mas sempre que eu sonho com shopping, sonho com esse. Lá estava a minha ex e os amigos dela. Continuei andando, fingindo não os ver. Ela levanta e acena pra mim. Eu comecei a correr pro andar de cima (?).
Foi uma correria dos diabos, cada um correndo pra um lado, todo mundo querendo me pegar. Até que eu puxei a ex e comecei a conversar com ela. No fim das contas ela me mostrou o bebê e disse "Não quero ele pra mim. É seu." com aquele mesmo sorriso calmo de quando ela me deu a notícia.
Daí eu apareci na minha casa, que não tinha nada a ver com nenhuma casa que eu já morei. Você tava lá comigo. Nós nos beijavamos e o nenê chorava.
- Tho, a criança tá chorando!
- Eu não quero ser pai.
- Mas você É pai.
- Eu não sei ser pai.
- Eu vou embora.
- Eu quero você.
- Mas você tem que ser pai. Não tem que me querer. Não se preocupa, eu já to indo embora mesmo.
- Não vai, por favor.
- Eu vou sim, você tem coisa mais importante pra cuidar.
Eu apareci num outro comodo, completamente escuro. Tinha muitos cocôs de criança por todos os lados. Eu tava muito na bad. Eu tentava limpar, mas sempre aparecia mais.
De repente eu tava na rua, correndo até você. Você ia pegar um onibus pra tua cidade e eu tinha que interceptá-lo. Eu corria, corria, mas eu nunca cheguei até ele. Daí veio a notícia, "Tua vó, ao tentar pegar o ônibus, levou uma facada na cabeça, mas está bem."
O sonho mudou e eu não te encontrei.
Tenho saudades. Muitas saudades.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Psicografia
Thomas, o religioso. Que depois de surtar com noites mal dormidas, apelou pras divindades.
E meu Deus me ouviu. Era meia noite e dez quando comecei a reza. Estava bôbo de sono e eu estava crente que minha noite seria uma noite digna de domingo. Domingo é uma bosta, pois é preciso dormir cedo pra Segunda, mas você dormiu tarde no Sábado, então não tem sono no Domingo. Mas eu estava com sono e tudo indicava que a semana ia ser maravilhosa.
Depois de uma hora inflado em insônia, vou até a sala ver o que os vagabundos estavam fazendo. Moro com vagabundos, isso é um fato. Eu sou um vagabundo, esse tipo se atrai. E só duas e meia da manhã eu voltei pro meu recanto de felicidade chamado cama. Uma hora e meia de pura idiotice, inventando um sono perdido. Foda-se, pensei eu, logo durmo.
E meu Deus me ouviu. Como uma desgarga de uma privada suja, pensamentos e textos e poesias eram vomitadas pra dentro da minha cabeça. Tontura. Insônia. Merda. Muita merda rodando. Eram contos, eram histórias, era a porra da vida do Thomas.
O que era pra ser uma noite agradável, se tornou um anti-tédio de horas de duração. Consegui dormir só depois das cinco da manhã. E meu Deus me ouviu. E o blog não morreu.
domingo, 17 de outubro de 2010
Thomas, o apaixonado
sábado, 16 de outubro de 2010
Charles Bukowski
Mulheres, de Charles Bukowski
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Allegro con brio
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Belonofobia
Eu amei por três anos. Três anos em que eu fui nada pra ninguém, exceto um bêbado inconveniente, o cara que faz a merda pelo gosto bom que errar tem. Acho que isso explica muita coisa. Amar é como morrer, só que vivo. Se o amor é dos bons amores, é o paraíso. Se não o é, é um inferno. E eu vivi muito do inferno, sendo sugado por um amor incoerente e incompreensivo. E agora me amam. Ela vive um inferno, mesmo achando que o amor que ela sente por mim é coerente e compreensivo, claro que não é. Eu costumava viver sozinho, enquanto esses malditos três anos se passaram. E eu queria continuar sendo sozinho, pois eu aprendi uma coisa muito simples com o amor: mate ou morra, antes que seja tarde demais.
Eu não sei mais escrever. Não sei mais dormir. Eu sei me esconder atrás de máscaras, quase sempre máscaras sorridentes e engraçadas. Enquanto eu estou na maior merda, ou na merda de sempre. Talvez, se me permitisse o leitor, eu cometeria um suicídio, antes que me furem mais uma vez.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Amor platônico
- Não posso dizer o mesmo. - Ela sorriu.
- Ah, você tem que parar com essas besteiras.
- Que besteiras?
- Tá, talvez eu não seja o cara certo. Mas foda-se, você não tem como saber quem vai ser o cara certo.
- Eu sei.
- E você sabe que não sou eu?
- Ai, Tho, eu não sei de nada.
- Me dá uma chance!
Ela me olhou fundo nos olhos. Pus a mão no pescoço dela. Na hora certa, o Sol me fode os olhos.
De novo, de ressaca, sonhando com ela.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Welcome, Golden Boy
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Adultério
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Khaled Hosseini
O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini
Egoísmo
Tenho visto muita gente morrer. Tenho visto muito sofrimento. A gente cresce e vai percebendo que a porra da vida é foda. Quando somos crianças, achamos que a morte é personagem de quadrinhos da Turma da Mônica, a morte é de mentira e tudo o que sabemos é que amanhã é outro dia. A gente cresce e, na maioria das vezes, vemos os bons morrerem. Certa vez uma dupla de porcos morreram, uns caras que eu não gostava. Eu disse: que bom que morreram. É um pensamento pútrefe que me deixa envergonhado. Aposto que os pais deles choraram. Aposto que os amigos deles choraram. Mas eram maus, como a maioria dos homens. Os maus merecem morrer, mas nunca morrem.
Os bons morrem. Os bons sofrem. Os bons não nasceram para viver a vida. Eu não nasci para viver essa bosta. E não, eu não sou nem um pouco bom. Minha podridão é comparável à podridão dos filhos da puta que morreram. Eu merecia morrer. Eu queria morrer. Acordar, para mim, é tão complicado. Acordar e comer e escovar os dentes e viver. Tanta merda desnecessária. Tanto sofrimento desnecessário. Tanta gente. Eu odeio gente. Bando de egoístas hipócritas. Bando de bastardos orgulhosos das atitudes e escolhas mecânicas. Bando de macacos de circo seguindo um cronograma pré-planejado. Eu odeio gente.
Eu estudo numa das melhores escolas de engenharia do Brasil. Eu falo inglês fluente. Estou estudando francês. Eu faço academia, vou em festas e tenho um computador. Eu ouço muita música. Eu faço muito sexo. Eu sou um cara, como muitos outros caras, que vive uma vida honorável. Uma vida que muita gente merecia viver, mas precisa catar lixo ou pedir esmola. Eu tenho uma vida boa e sem tristezas. Mas ver o mundo inteiro acabando em volta de mim, já é motivo. Não se trata de um comunista que quer igualdade, nem dum naturalista que não usa sacolas plásticas. Se trata de um egoísta que cansou de ver o mundo sofrer. Dum egoísta que cansou de sofrer pelo mundo todo.
Mulher Maravilha
Charles Bukowski
Cheguei a uma breve conclusão: a mulher perfeita é aquela que voa. Pelo menos consigo imaginar a Mulher Maravilha, depois de salvar o mundo, sedenta por sexo com aqueles enormes seios tocando o meu peito. Uma vez, há algum tempo atrás, namorei uma mulher que qualquer cara ia achar perfeita. Ela era morena, cintura fina, seios fartos, bundão. Uma puta de uma gostosa. Seus olhos, sua boca, seu cabelo, toda linda, toda perfeita. A mulher perfeita, o cu. Era burra como uma porta; soava como ninfomaniaca, mas o sexo, para ela, soava como um passatempo, como assistir a novela das oito ou jogar paciência. Tenha paciência, mulher. Transar não precisa ser mágico, nunca precisou. Mas transar é alguma coisa mais sagrada que a própria reza. Imperfeita que é o diabo. Maravilhosamente imperfeita. Burra. Que merda. Joguei fora, como se jogam as gordas, as fedidas e as chatas.
E a mulher perfeita não é ninfomaniaca, como todos os homens acham que é. Algo que eu não desejo para nenhum homem: uma ninfomaniaca. A ninfo acaba te destruindo, te sugando até os ossos. A minha não era perfeita, mas era magra, tinha um puta dum rabo, mas era ninfo. Sabe, um dia eu achei que eu era ninfomaniaco. Eu achava que eu era viciado em sexo, que eu realmente precisava de sexo. Isso acontece com a molecada que acha que transa bastante. É que eu sempre transei mais do que os meus amigos. Sempre fodi bastante. Bastante em termos. A real é que a ninfo me deixou meio desnorteado, com a cabeça do pau latejando e uma dúvida: será que sou viado? Parece que você nunca é homem o suficiente para uma ninfomaniaca. Ela sempre tá ali para te foder, em todos os sentidos, tanto te comer como te deixar para baixo. Porra, um homem precisa de paz.
A mulher perfeita não é gostosa, muito menos ninfomaniaca. Não é uma doce virgem, afinal ela não transa, caralho. A mulher perfeita é a que voa. A mulher perfeita é uma Maravilha. Que merda, é isso que me desanima. Ou você acha que eu tenho chances com uma gostosa voadora?
Prostituição literária
Acredite em mim, o fogo se foi
Mãe, te amo
amor: s. m. Afeição profunda; objeto dessa afeição; conjunto de fenômenos cerebrais e afetivos que constituem o instinto sexual; afeto a pessoas ou coisas; paixão; entusiasmo.
afeto: s. m. Afeição; amizade, simpatia; paixão; adj. amigo; afeiçoado.
paixão: s. f. Sentimento excessivo; afeto violento; amor ardente; entusiasmo; grande mágoa; cólera; objeto de afeição intensa; parcialidade; sofrimento prolongado; o martírio de Cristo.
Como é fácil amar. Olhos e bocas e mãos se entrelaçando como uma trepadeira. Amar é dar uma flor para uma mulher nua e suada, enquanto a mãe dela está em casa com o coração partido de saudades. É fácil amar os estranhos, mas ninguém mais ama os pais. Grande consideração. E aquela mulher nua e suada vai mudar, ela vai embora como todas as outras já se foram. E qualquer dias desses o amor será outra flor para outra mulher nua, desta vez não suada, pois o frio constrói o sentimento fugáz e imponente: o amor sob cobertores, a pele quente sob o ar congelado. O amor reciclável e apaixonado. Um afeto incoerente e animalesco. As mães não amam. As mães não são apaixonadas e não sentem afeto. As mães não estão nuas e não nos beijam. As mães estão no escuro, sozinhas. Sozinhas como todo mundo dessa porra desse mundo. Um mundo cheio de amor, de ódio e de solidão.
Oi, amor
- Ah...
Ela me acordou acariciando meu rosto. Minha ressaca era tanta que eu estava prestes a vomitar ali mesmo, na nossa cama. Minha cabeça sendo marteladas pelo meu coração batendo. Eu precisava vomitar.
- Você tá bem?
- Puta... Acho que eu vou morrer...
- A ressaca tá braba?
- Braba é pouco!
- Eu também to ruim. Vomite, você vai ficar melhor.
- Odeio vomitar.
- Tá, vou pegar um analgésico e um remédio prá você não vomitar.
- Por favor.
Eu adormeci. A melhor receita contra a ressaca é dormir. Eu sei, uma hora você vai acordar e a ressaca vai estar lá. Mas, porra, dormir é uma coisa simplesmente sensacional. A maior invenção do homem foi a cama. É, eu dormi. Ela me acordou de novo, daquele mesmo jeito carinhoso dela. Isso me irritava, as vezes. Ela não podia me acordar com uma chupeta? Ou quem sabe com um tapa na cara? Um balde de água fria, talvez? A real é que ela era meio mole, cheia desses romantismos baratos. E no fim eu tava ficando assim também.
- Oi, amor.
- Ah...
- Tó o teu remédio. A água tá geladíssima, você vai gostar.
- Água, que delícia!
- Eu vou tomar banho. Dorme mais um pouco, daí você toma o teu banho.
E instantâneamente eu dormi. Eu tinha tomado o remédio para a náusea, acabei esquecendo do analgésico. Talvez o dia inteiro tenha passado, ou só 20 minutos.
Lá estava ela, nua e molhada. Com os olhos vermelhos, o pescoço vermelho, as olheiras gigantes avançando às bochechas, como um deserto avançando ao descampado.
- Você tá bem?
- Mais ou menos. Acho que vou dormir.
- Deita aí.
- Vai tomar banho. Estou com fome.
- Ok. Melhore, tá?
E daí sim, o dia inteiro passou. Ou só uns 30 minutos. Cheguei no quarto e lá estava ela. Nua e molhada. Branca como a neve. Gelada como a neve.
- Você tá bem?
Toquei nela, tentei acordá-la, virei-a. E deitada inerte, ela dormia, sem ao menos respirar. Abri os olhos dela e eles estavam fixos no teto, como se conseguissem ver o céu, as núvens, Deus. E os olhos ficaram abertos, libertando uma alma pecadora, porém feliz.
Vomitei no chão. Parecia que o remédio não surtira efeito.
- ACORDA! MEU, LEVANTA! Por favor... acorda... acorda...
E eu desisti. Deitei ao lado dela e esperei a vida passar.
Preconceito
Esses dias estava conversando com uma amiga sobre um corno podre de rico que mora aqui pelas redondezas:
- Ele é maravilhoso, né, Tho?
- Porra, maravilhoso?
- Ele é lindo!
- Ele parece um dedão.
- Como assim?
- Um dedão com cabelo. Olha o cara: orelhas pequenas, pescoço largo, rosto oval. Um dedão com cabelo.
- Idiota. Vocês homens são ridículos com esse machismo.
- Como assim?
- Você não admite que o cara é bonito, admitir que um homem é bonito é coisa de bicha, né?
- Porra, guria, você é ridícula. O filho da puta do teu ex namorado, como é mesmo o nome?
- Ele não era filho da puta, Thomas.
- Não falei isso, minha linda.
- Falou que ele era um filho da puta.
- Não, eu falei que ele É um filho da puta.
- Ai, Thomas. Que implicancia com o cara.
- Tá, foda-se. O filho da puta era bonito. Aquele cara era maravilhoso!
- Haha. Sua bicha. Olha o jeito que você fala dele!
- Meu, vou te estuprar aqui mesmo. Enfim, o cara tem o sorriso maravilhoso, olhos claros, cílios compridos. Até aquele cabelo de fruta dele é lindo, aquele topetinho de filhinho de papai.
- Ai, Thomas, só você. - e riu.
Eu conheço um cara (eu ia falar "tem um amigo meu (...)", mas porra, falar que é amigo é apelação) que é todo macho. Não pode por álcool na boca que já tá louco para dar uma surra em uns caras com cara de otário. Faz bochecho com anti-sépticos bucais com álcool e já quer briga. Ele só bate em cabaço, coisa de cabaço, de covarde. Mas enfim, ele é macho, bate em todo mundo. Briga a torto e a direita. Daí, quando toma soco, fica de xororô, para ver se alguma mulher cuida dele. Nessa de estar sangrando, tasca um beijo na idiota que acha que ele é macho. É o jeito dele de mostrar que é o macho alfa: lutando e beijando a fêmea.
Só que além de macho, o cara tem uma esquisitisse: gosta de se travestir, só por diversão. Uma coisa é a galera se vestir de mulher para sair festar, zoar com a galera, outra coisa é o cara pôr uma peruca loira, batom vermelho e fingir que é mulher. Também gosta de comer traveco, faz isso para o pessoal rir dele. E todo mundo acha o máximo, ele come os travecos e depois bate neles. Maluquice sem tamanho, idiotice sem tamanho.
E no fundo, o fodido sou eu. Escrevendo merda, vivendo de trocados depositados pela mamãe e fugindo de briguinhas de super mercado. Pé rapado, covarde. Feioso viadinho, como a maioria dos otários que se casam, viram pais, se tornam bons avôs e morrem sem nunca ter posto o pau no cu de um outro homem.
Charles Bukowski
Fabulário Geral do Delírio Cotidiano, de Charles Bukowski
Casa comigo?
Suicidio
Olhei para 9mm que eu comprei, mas nunca tinha usado. Aliás, comprei prá me defender, andava com ela pendurada na cintura, daí eu tinha um pau de meio metro, mas ninguém sabia disso. Quando eu tava sem ela, eu era um broxa, um merda. Pois voltemos prá 9. Eu olhei prá ela e decidi que era a hora. Destravei-a, pus em minha boca, o gosto sujo do metal me deixou mais depressivo. Tirei da boca e achei aquele gosto uma merda. Pus embaixo do queixo, apontando pro topo da cabeça, mas logo me perguntei se eu ficaria paraplégico com aquela estupidez toda. Era foda, eu queria morrer, não me machucar.
Deixei a arma na mesa e fiquei encarando-a.
- Que bosta, eu não tenho colhões prá isso. - E fiquei pensando sobre isso. - Porra, ia fazer uma sujeira... Deixa prá lá.
Guardei-a na gaveta e liguei prá uma amiga minha, gorda que é o diabo. Eu também era gordo, então foda-se.
- E daí?
- Thomas?
- É.
- Tudo bem?
- Quero te comer.
- Tá, vem cá.
Desliguei o telefone, peguei o celular, a carteira, dei um gole na vodka que eu deixava na mesa. Olhei para a 9:
- Você fica, sua filha da puta. - Ela queria me matar.
Tirei o coldre da cintura e sai, esquecendo o apartamento destrancado.
Buquê de rosas
- Pois é, quanto tempo? Cinco, seis meses? - Eu respondi, meio envergonhado com a nova sensação de ser um semi-desconhecido dela.
- Sei lá, tempo o suficiente prá eu ter saudade! - Ela sorriu, eu tambem - E daí, vamos fazer alguma?
- Opa, vamos sim! Se quiser chamar o pessoal... Ia curtir vê-los.
- Então, estava pensando em tomarmos um porre. Só eu e você.
- Putz - Parei para tentar explicar - É que eu parei de beber.
- Caralho! Como assim?
- Sei lá, prá melhorar a qualidade do sexo.
- Porra, mas você bêbado fode tão... melhor... Você realmente fodia quando estava bêbado. Horas intermináveis de suor e desgaste físico, infindáveis orgasmos múltiplos que me deixavam louca por água prá repor os líquidos que eu perdi.
- É que era um combustível; sem álcool até dava, mas não tão bem.
- E agora?
- Agora meu combustível é mais puro, tipo dormir, comer...
- Então tá fodendo melhor?
- Sei lá, é o que dizem.
- Então podemos foder.
- Ai, é que... Então... Também não rola... Mas podemos sair prá jantar.
- Porra, o que aconteceu com o velho Thomas?
- Haha, eu sou o velho Thomas - Senti meu rosto corando, minhas costas suando.
- Que nada, esse novo Thomas sugou o velho Thomas.
- Ah, certas mudanças vem prá melhor.
- Como assim, prá melhor? Você nem quer me comer! Eu engordei?
- Não não, claro que não. Está maravilhosa como sempre! - E de fato era a mais maravilhosa que eu já tinha comido em toda a minha vida.
- Não sente saudade dos meus peitos? - Seus olhos estavam mareados de indignação.
- ... Claro... É... - Não sabia o que responder.
- Você não quer nem ao menos lamber meus peitos? - Baixou o tomara que caia mostrando os seios fartos e durinhos, pequenas rodelas claras desenhavam seus mamilos perfeitos. Os mamilos olhando para mim, eu olhando para eles.
- É que... Puta... Que merda... - Meu pau ia ficando cada vez mais duro, mesmo que eu me sentisse mal por isso.
- Tá, Thomas. Daqui cinco, seis meses a gente se vê, se você voltar a ser homem. - Levantou a blusa.
- É que...
- Bixa imprestável. O que aconteceu? Não bebe, não fode. Ah, vai tomar no meio do seu cu. - Deu as costas para mim e foi embora empinando o mais alto possível o seu rabo espetacular.
- É... Puta, que merda... - O telefone tocou - Desculpa, amor, já já estou chegando. - Entrei no carro, passei na floricultura para comprar rosas e fingi que nada daquilo tinha acontecido.
Acabou o cigarro
Que mentira, a sua vida é uma mentira, Thomas! Ela gritava babando, uma mistura de baba e lágrima e ódio líquido e corrosivo. E eu não dizia nada, eu não me defendi, minha vida é de fato uma grande duma bosta de uma mentira. Um conto de fadas onde eu sou o príncipe: é isso, algo ou alguém precisa de um herói e é só aí que eu apareço. Na porra da minha história, eu sou o cavalheiro sem nome, gracioso, forte, temeroso, mas sem nome. Eu sou o rosto bonito e a minha vida é uma mentira. Amanda me puxava do meu mundo escuro com a maior força que ela podia, força o suficiente para arrancar meus braços fora, mas insufientes para suprir essa minha insuficiência, minha ineficiência... Deficiência.
A indiferença colada na parede, a infelicidade (não a tristeza, que fique claro) rabiscada na pele, a depressão tomando conta deste protagonista, o anti-herói fracassado. Não vejo mais sentido no gozo dispensável, a mulher como um objeto, como um objetivo. A buceta santificada e a mulher escravizada. Um escarro da boca de um feminista. Maldito feminismo e suas sapatões peludas. A porra do gozo espirrado no lençol sujo. Sujeira limpa, eu dizia, pois o suor feminino é sinônimo de limpeza; suores diferentes, fedores diferentes. Minha velha limpeza sujando a minha mentalidade embriagada. Porra de ressaca. Porra de indiferença infeliz.
Morte
Sem preocupações,
Sem planos,
Sem ninguém.
O Agora como uma Lei inexorável.
O Ontem como um crime delicioso.
Rancor e mágoa de alguém tão bom.
Uma solidão segura, eu seguro.
No escuro, agora.
Como uma ônix preciosa.
Tão forte, tão segura.
Crime contra o inexorável.
Meu peito despreocupado,
Que ontem desejou tanto.
Parado.
Sozinho.
Cigarro
Will Self
Como vivem os mortos, de Will Self
Batimento
E teu peito pedindo por perdão.
Vazio como o voo de um abutre.
Vazio como estar aqui de novo.
Olhando esta intensa loucura.
Testando meus sentimentos.
Avaliando todo o meu potencial.
Sentindo que meu coração não bate mais.
Enquanto tambores destroem o teu peito.
Nenhuma verdade.
Nenhuma mentira.
Nada de mais.
Além de um coração.
Vaso quebrado
Eu queria ter salvo o mundo, ter fechado o meu primeiro milhão aos 20 anos. Queria ter desenvolvido a mediunidade, prá, como um medium, ajudar as pessoas e os espiritos que precisam ser ajudados. Mas não, não fiz nada disso. Não fiz nada por mim, nem por ninguém. Talvez conte o fato que eu amei. Amei e sofri. No fundo, amor é sofrimento. Amei e fui amado. E quem me amou, sofreu. Se valeu a pena? Claro, é tudo sobre a felicidade e sobre o amor. Mas acaba, tudo acaba. Acaba em cinzas como um cigarro sujo de batom pisado numa sarjeta qualquer. A chuva leva o cigarro. E leva o amor e a felicidade. A chuva leva a minha felicidade.
Essa viagem transtornante me trouxe um singular sentimento: vazio. Vazio como a solidão. Vazio como o escuro. Vazio como o frio. Vazio como toda essa dor. E preencho esse vácuo com merdas. Jogo sexo e drogas e música alta e umas mentiras para eu curtir um segundo de paz interior, mas essas merdas também passam. Vazio. Vazio como isso que você lê. Vazio.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Apologia às amantes
terça-feira, 11 de maio de 2010
Consumismo
Claro nas linhas
Ou prescritos nas entrelinhas.
Um olhar que seduzia,
Que chamava, pedia.
Um encanto sem espanto.
Escondido nos cantos,
Cantos de bocas,
Que se calam prá dizer.
E dizem muito,
Muito "ah!" para pouco "a".
As coisas jogadas no chão,
Sem muito cuidado.
As pernas entrelaçadas
Que diziam mais, muito mais,
Do que aquele silêncio.
Silêncio quebrado por suspiros.
Suspiros e sorrisos.
E depois o suspiro.
E o gozo.
E o riso.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Outro emprego
Eu operava uma máquina de fazer fundação de obras. Era algo parecido com um guindaste, que segurava um bloco pesado de algum material que eu não conheço, esse bloco subia e descia com o motor que ficava do outro lado da máquina, batendo no topo da viga da fundação da obra. Um trabalho fácil e monótono, o que me dava tempo prá fumar e beber enquanto mexia com o trambolho amarelo. Prós e contras, tudo tem seus prós e contras. Quando chovia muito, iamos embora, pois era impossível fazer um buraco na lama. Quando chovia pouco, tinhamos que nadar naquela terra nojenta, com o vômito da cidade que cai do céu, enquanto tentávamos fazer aquela máquina velha funcionar. Era bom, pois eu não precisava acordar cedo, podia ir aos bares todos os dias e me embebedar infinitamente. Era ruim, pois o barulho da máquina estuprando o chão era ensurdecedor, chacoalhava a minha cabeça ressaqueada. Dia sim, dia não, eu procurava um emprego melhor, mas nenhum deles pagava mais do que a mixaria que eu recebia pelas quatro vagabundas horas de trabalho.
Um dia choveu pouco. A chuva ácida empoçando a terra cuspida pela máquina. Eu, bêbado e num humor deplorável, resolvi ir embora. Os caras que me ajudavam com o maquinário (eramos 4, revesávamos na parte complicada, que era fazer girar o motor manualmente) tentaram me impedir, mas logo os filhos das putas estavam atrás de mim, perguntando o que fariamos. É um estereótipo estúpido, todos eles com a mesma cara que a minha. Carecas com cara de retardado, nariz grande, voz grossa, babávamos enquanto falávamos. Babacas, não conseguiam pensar por si só. Bando de babacas.
No dia seguinte, nosso chefe nos perguntou o motivo da parada na furação. Eu fui claro:
- Choveu.
- Choveu? É isso que você tem a me dizer? CHOVEU O CARALHO! EU TRABALHEI NAQUELA CHUVA, VOCÊ, QUE É UM FILHO DA PUTA DE UM BÊBADO, NÃO PODE TRABALHAR?
- Choveu, o que eu posso fazer? Não posso mexer na máquina enquanto chove, você, que é o chefe, devia saber que o motor pode estragar com a água.
- ... - Os olhos dele estavam vermelhos da cor do inferno.
- Tá, quanto eu tenho que receber?
- Quanto tua mãe cobra? Tenho que pagar ela... - Ele sorriu. Eu também, gostei da insolência daquele gordo que fedia a couro suado. Cuspi na barriga dele e sai.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
À guerra
Um tênis 46, ou maior, se é que existe pé maior que 46 tomou conta da terra que eu observava cautelosamente. Olhei para cima e vi um velho de aparência bastante saudável, muitíssimo mais saudável que eu. Vestia uma roupa de caminhar: tênis da Reebok, short azul marinho, regata branca e uma faixa de tenista na cabeça.
- O que foi, meu filho?
- Nada.
- De que lado você está?
- Lado nenhum. Estou do meu lado.
- Que bobeira, ninguém está sozinho.
- Eu estou sozinho e não dou a mínima.
- Vai prá guerra, filho, não fica de besteira ai. Apaga esse cigarro, joga fora essa pinga, vai tomar um rumo.
- Quem é você prá ficar me dando ordens? Cuida da tua vida, parece bem mais interessante.
- Eu sou seu pai, tenho o direito de opinar.
- Opine sobre a vida da tua mulher, que fica te corneando com o porteiro do prédio.
Ele se virou, sem falar nada, e continuou correndo. Velho idiota, acha que eu sou uma criança. Eu só era vago, pelo menos quando eu bebia. Eu só era um animal barulhento e arisco. Não queria uma mão para me acariciar, nem uma mão para me alimentar. Eu sabia me cuidar. Só cansei das mesmas lutas, das mesmas batalhas, do mesmo dia-a-dia. Não sou mais o esquerdóide que queria transformar o mundo em um lugar justo. Nem sou mais o direitóide revoltado com o governo de esquerda que tomou o poder e fez de gato e sapato o contribuinte. Não sou mais o torcedor fanático, nem o cristão fiel. Não sou mais o herói da família, muito menos o gênio. Sou o cara que senta na praça para ficar louco e chorar. Choro para caralho, não tenho vergonha disso. Tenho vergonha é de não saber mais amar a vida. Grande bosta a vida.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Natal
Eu tinha vinte anos. Era 11h da manhã, véspera de Natal. Eu estava bêbado. Era normal eu estar bêbado nas vésperas. Véspera de amanhã, eu estava bêbado, e de depois de amanhã também. Na véspera de Natal acordei frustrado, me lamentando por não ter transado na noite anterior. Eu sempre transava, era um saco não transar. Aliás, minha vida se resumia em sexo. Houve um tempo que eu amava, mas passou, daí virou só putaria. Gosto da putaria. As minhas amigas temiam que eu me reapaixonasse quando eu beijei a minha ex-namorada. Eu também temia. Mas aconteceu nada mais nada menos que o desejo intenso de fazer sexo. Não é porque ela é ex que tive vontade de transar, é justo pelo motivo de eu só pensar em sexo. Bêbado e sexual, nada mais clichê, nada mais vulgar. Quem diria que o menino prodígio se tornaria um sujeito superficial?
segunda-feira, 29 de março de 2010
Elefante Branco
Elefante Branco: subst. masc. 1. Presente que, não sendo mau, dá muito trabalho, muita importunação. 2. Coisa de pouca ou nenhuma importância prática.
A expressão surgiu do Reino de Sião, onde hoje fica a Tailândia. Naquela época, os elefantes brancos eram animais raros e sagrados, então todo elefante branco encontrado era enviado para o rei. O rei, quando estava na vibe, presenteava alguns suditos com o animal. O súdito, fodido, não podia recusar o presente real e sagrado, então tinha que cuidar, alimentar, enfeitar e pentear o pequeno bicho. De quando em quando, o rei, filho da puta para caralho, visitava o seu súdito para ver como andava o presente. Elefante branco: um presente que não servia para absolutamente nada, exceto gasto de comida e tempo para alegrar um porco chuvinista que não tinha o que fazer.
domingo, 28 de março de 2010
Um começo cheio de explicações
Thomas Verkitsch é uma espécie de Máscara, ou até mesmo de Escudo. Arthur Schopenhauer dizia que os anônimos são, essencialmente, covardes. O escritor de verdade mostra a cara, grita alto para ser ouvido. Mas eu, escritor de mentira, acabei percebendo que o sujeito que mostra a cara está sujeito a tomar umas bofetadas nas bochechas que ficam vulneráveis aos leitores violentos. Esse é o meu maior desgosto pela escrita: os leitores. O Sol de todo escritor é o elogio, por mais simplório, de um texto que escreveu. Os leitores que reclamam são como espinhas no rosto, atrapalham, dão vontade de esconder. Como não podemos esconder os leitores, escondemos os textos.
Leitores são pessoas, tem sentimentos, acham que o texto sempre fala deles. Leitores são pessoas e tornam tudo muito pessoal. Não é que eu não goste de pessoas, só me sinto muito bem longe delas (imitando Henry Chinaski, personagem autobiográfico de Charles Bukowski).
Esse blog existe para eu pôr a boca no trombone. Falar todas as merdas e caralhos que eu quero falar, mas não posso. Eu quero é falar mais alto que todo mundo. Quero digitar todas as palavras que passam pela minha cabeça, não só as palavras que estão sujeitas a um moderador que descarta os palavrões, os comentários estúpidos e as reclamações claras sobre outras pessoas com que convivo. Esse é um blog para o leitor ler contos, não é um diário virtual.
Sejam bem vindos à esta merda, queridos leitores desconhecidos.