terça-feira, 26 de outubro de 2010

Loucura

Ela era um sorriso largo, ela era um cabelo negro e cacheado que caia-lhe bem no rosto. Ela era magra de pernas finas. Mas ainda sim tinha uma bunda linda e seios devéras grandes, bastante proporcionais ao seu corpo magro, ainda que alto. Ela era inteligente, como as pessoas deixaram de ser há muito tempo. Ela era simpática com todo mundo, o que não me chateava, mesmo eu odiando ser simpático. Ela conseguia ser feliz, mesmo com as greves na Europa, os conflitos no Oriente Médio e os desastres naturais na Indonésia. Ela conseguia ser feliz mesmo sabendo que um dia ela ia sofrer de novo. E eu estava apaixonado de novo. Pela terceira ou quarta vez na vida, de um jeito que eu prometi a mim mesmo que jamais iria me apaixonar. O amor é foda, é uma faísca que finge esquentar os nossos corpos congelados. Uma faísca que se apaga ao primeiro sinal de fraqueza. O primeiro beijo, a primeira foda têm algo de dramático. As pessoas são interessantes à primeira vista. Depois, lenta, mas seguramente, todos os seus defeitos e loucuras se manifestam. E eu era um louco que me contentei com as loucuras das pessoas. E ela não era louca. Era linda. Mais linda que todas as mulheres que eu já tinha visto na tv. Mais linda que todas as mulheres que já tinham me dito não. A mais linda de todas.

- Manda.
- Quê, Tho?
- Casa comigo?
- Hahahaha.
- O que?
- Você é ridículo, Thomas.
- É sério, casa comigo.
- Thomas. É só sexo. Tá? Só sexo e você sabe disso.
- Mas eu te amo.
- Tá, então você está na merda.
- Vai ver estou.

Pela terceira ou quarta vez apaixonado. E desta vez ela não era louca. Muito pelo contrário. Era a mais sã das mulheres. A mais sã e mais bela. Casamento, amor, essas merdas todas, só existem para nos chatear. E ela sabia muito bem disso.

sábado, 23 de outubro de 2010

Vive le demócratie

Porra! Porra! Passa a vontade de democracia. Ou a vontade de ter vontade própria. Porque vontade própria, usualmente, acarreta em um sentimento de frustração. E eu to frustrado. Maldita política e seus fanfarrões. Acho que a política é feita de fanfarrões loucos pra cuspir nos nossos rostos e rir das nossas caras babadas. Babadas, por não falar ranhadas, ou uma coisa mais nojenta. Se é que a palavra ranhada existe. Enfim, a porra toda da democracia me parece um diabo que nos fode o cu enquanto achamos que nossas bundas estão protegidas por papéis higiênicos de dupla face. Tolos. Somos todos tolos. Enquanto nos limpamos, os filhos da puta que nós democratizamos, se é que a palavra democratizamos existe, estão lá, vivendo na realeza no auge do seu poder. E nós, os tolos, estamos acreditando futilmente que os filhos da puta vão mudar alguma coisa. E no fundo, não importa. Pode ser vermelho, pode ser amarelo, pode ser azul. Pode ser comunista, pode ser capitalista, pode ser nem cá nem lá. A bosta é a mesma e vai chegar nos nossos narizes e vamos todos morrer afogados em mágoas... ou em merda. Vamos votar. Em branco, em nulo, em alguém. A bosta vai ser a mesma.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

À Amanda

Sei que você não passa por aqui. Mas, caso passe, saiba que voltei a sonhar com você. Eles têm sido bastante frequentes e bastante bons. Esse último não foi.

Estavamos num show, eu, você e... pessoas... Nós só andavamos de mãos dadas e braços dados. Num certo ponto, te empurrei pra parede e tentei te beijar.
- Thomas!
- Manda...
- Tua namorada tá aqui, eu vi ela!
- Ex namorada.
- Ela é louca, você sabe disso.
- Eu não falo com ela faz muito tempo, ela já desencanou. - Daí eu te beijei.

E ficamos de namorico no show, até que, enquanto eu andava sozinho, a minha ex veio. Era uma menina com quem eu estudava no Ensino Médio, que eu não vejo há uns 5 ou 6 anos, pra mais... Vai entender os sonhos...
- Tho - Ela sorriu calmamente.
- Lu...
- Eu tenho uma notícia pra você.
- Diga.
- Acabei de ter um filho.
- NOSSA! - Me espantei.
- É teu - Continuava sorrindo.
- QUE?
- É...

Por isso, peguei meu carro e fui embora, sem nem falar com você. Teus amigos me viram falando com a ex namorada, mas nunca me viram voltando. Óbviamente, você ficou de cara, pensando que eu tinha feito alguma merda.

No dia seguinte, eu estava andando no shopping, um shopping que não existe, mas sempre que eu sonho com shopping, sonho com esse. Lá estava a minha ex e os amigos dela. Continuei andando, fingindo não os ver. Ela levanta e acena pra mim. Eu comecei a correr pro andar de cima (?).
Foi uma correria dos diabos, cada um correndo pra um lado, todo mundo querendo me pegar. Até que eu puxei a ex e comecei a conversar com ela. No fim das contas ela me mostrou o bebê e disse "Não quero ele pra mim. É seu." com aquele mesmo sorriso calmo de quando ela me deu a notícia.

Daí eu apareci na minha casa, que não tinha nada a ver com nenhuma casa que eu já morei. Você tava lá comigo. Nós nos beijavamos e o nenê chorava.
- Tho, a criança tá chorando!
- Eu não quero ser pai.
- Mas você É pai.
- Eu não sei ser pai.
- Eu vou embora.
- Eu quero você.
- Mas você tem que ser pai. Não tem que me querer. Não se preocupa, eu já to indo embora mesmo.
- Não vai, por favor.
- Eu vou sim, você tem coisa mais importante pra cuidar.

Eu apareci num outro comodo, completamente escuro. Tinha muitos cocôs de criança por todos os lados. Eu tava muito na bad. Eu tentava limpar, mas sempre aparecia mais.

De repente eu tava na rua, correndo até você. Você ia pegar um onibus pra tua cidade e eu tinha que interceptá-lo. Eu corria, corria, mas eu nunca cheguei até ele. Daí veio a notícia, "Tua vó, ao tentar pegar o ônibus, levou uma facada na cabeça, mas está bem."

O sonho mudou e eu não te encontrei.

Tenho saudades. Muitas saudades.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Psicografia

"Olá, Deus. Queria agradecer pelo ... Queria pedir ... e que eu volte a escrever. Quero muito voltar a escrever. Escrever me fazia bem. ..."
Thomas, o religioso. Que depois de surtar com noites mal dormidas, apelou pras divindades.

E meu Deus me ouviu. Era meia noite e dez quando comecei a reza. Estava bôbo de sono e eu estava crente que minha noite seria uma noite digna de domingo. Domingo é uma bosta, pois é preciso dormir cedo pra Segunda, mas você dormiu tarde no Sábado, então não tem sono no Domingo. Mas eu estava com sono e tudo indicava que a semana ia ser maravilhosa.
Depois de uma hora inflado em insônia, vou até a sala ver o que os vagabundos estavam fazendo. Moro com vagabundos, isso é um fato. Eu sou um vagabundo, esse tipo se atrai. E só duas e meia da manhã eu voltei pro meu recanto de felicidade chamado cama. Uma hora e meia de pura idiotice, inventando um sono perdido. Foda-se, pensei eu, logo durmo.
E meu Deus me ouviu. Como uma desgarga de uma privada suja, pensamentos e textos e poesias eram vomitadas pra dentro da minha cabeça. Tontura. Insônia. Merda. Muita merda rodando. Eram contos, eram histórias, era a porra da vida do Thomas.
O que era pra ser uma noite agradável, se tornou um anti-tédio de horas de duração. Consegui dormir só depois das cinco da manhã. E meu Deus me ouviu. E o blog não morreu.

domingo, 17 de outubro de 2010

Thomas, o apaixonado

A primeira paixão a gente nunca esquece. E por algum motivo, ela me ressurgiu na pele. Ela estava lá, como sempre esteve, belíssima, seios fartos, cintura fina, rosto de menina e mais alta do que eu. Era uma musa que eu me continha a olhar, como os homens olham revistas masculinas. Por algum motivo, o nariz dela tocou a minha bochecha e, embriagada, ela disse que sofria. Não sei se é a tara de sofredor ou se é de bêbado, mas, ou o sofrimento, ou a embriaguez, me fez um bêbado maior. Um bêbado menos bêbado e mais bonito. A beleza conta muito nesses casos perdidos em que a mulher é a mais bela de todas as mulheres, e pode acreditar, eu não sou bonito. Aqui vou eu, me aventurar num caos criado pela minha mente. Bem vindos, sonhos libidinosos e pensamentos surreais. Bem vinda inútil esperança. E que eu saiba me contentar com o arrependimento posterior. Ou com as transar vazias. Ou com os tragos intermináveis.

sábado, 16 de outubro de 2010

Charles Bukowski

"Apenas isso, o amor é uma névoa que queima com a primeira luz de realidade."
Mulheres, de Charles Bukowski

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Allegro con brio

Eu nunca fui fã de música clássica. Sempre tive curiosidade, mas nunca me pus a buscar isso. Acho que é uma coisa melodramática demais, teatral demais. Não existe ninguém que, naturalmente, ouça música clássica. Pelo menos era assim que eu pensava, até que, em meio ao meu tédio infinito, sintonizei na rádio que só toca música orquestrada. E foi a primeira vez que eu entendi o motivo das coisas, como funcionam as modas e seus ritmos. A música clássica é feita por e para os sofredores natos. Estou falando dos fodidos. Depois de semanas só tomando no cu e nadando na merda, deixei Beethoven suprir minhas necessidades de algo que me fizesse mais completo. Um sofredor nato. Acho que todos têm o direito de sofrer, mas que encontrem o agradável e reconfortante sentimento de ser feliz em sofrer. Finalmente completo, cheio de dores e esperanças e música clássica. Finalmente sorrindo, depois de litros de cerveja e quilos de maconha. Finalmente sozinho, como eu sempre quis.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Belonofobia

As pequenas coisas estão acabando comigo. Pequenas como pontos, compridas como fios de cabelo, agulhas me furando. Eu tenho fobia de agulhas. Pequenas coisas me furando como agulhas. E eu, me sentindo um nada, fico esperando que o verão chegue logo e que eu possa vomitar tudo isso e apertar a descarga para nunca mais ver meus problemas de novo. Problemas, nós somos movidos a problemas. Será que um porre adianta? Ou será que eu já estou ciente demais, a ponto de saber que um porre não vai me livrar de nenhum problema?
Eu amei por três anos. Três anos em que eu fui nada pra ninguém, exceto um bêbado inconveniente, o cara que faz a merda pelo gosto bom que errar tem. Acho que isso explica muita coisa. Amar é como morrer, só que vivo. Se o amor é dos bons amores, é o paraíso. Se não o é, é um inferno. E eu vivi muito do inferno, sendo sugado por um amor incoerente e incompreensivo. E agora me amam. Ela vive um inferno, mesmo achando que o amor que ela sente por mim é coerente e compreensivo, claro que não é. Eu costumava viver sozinho, enquanto esses malditos três anos se passaram. E eu queria continuar sendo sozinho, pois eu aprendi uma coisa muito simples com o amor: mate ou morra, antes que seja tarde demais.
Eu não sei mais escrever. Não sei mais dormir. Eu sei me esconder atrás de máscaras, quase sempre máscaras sorridentes e engraçadas. Enquanto eu estou na maior merda, ou na merda de sempre. Talvez, se me permitisse o leitor, eu cometeria um suicídio, antes que me furem mais uma vez.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Amor platônico

- Você tá linda hoje.
- Não posso dizer o mesmo. - Ela sorriu.
- Ah, você tem que parar com essas besteiras.
- Que besteiras?
- Tá, talvez eu não seja o cara certo. Mas foda-se, você não tem como saber quem vai ser o cara certo.
- Eu sei.
- E você sabe que não sou eu?
- Ai, Tho, eu não sei de nada.
- Me dá uma chance!
Ela me olhou fundo nos olhos. Pus a mão no pescoço dela. Na hora certa, o Sol me fode os olhos.
De novo, de ressaca, sonhando com ela.