terça-feira, 15 de maio de 2018

o som do Sol em suas sílabas

nas minhas reticências guardo o universo
e trago com elas minhas históricas histórias
que solto a todo vapor gesticulando com o corpo
todo em silêncio da verdade que escondo ali

escondo das minhas teclas de letras com esse
semblante passivo e viajando por milhas
me afasto de quem não é da orquestra que
toca entre os três pontos

os grilos cantam depois os pássaros
e logo as cigarras rasgam o ar
e meu cérebro como um tear reduz as reticências
à quase eterna dança de estrelas duplas

jogo tudo pro alto por segurança
e afogado em um mar de araucárias
minero no silêncio todas as verdades
que Deus nunca conseguiu me dar

escadas e andaimes fios cabos e arames
e um alvo nas costas pra me fazer correr
mais rápido que a velhice então subo longe
ultrapasso o céu e encontro as estrelas

Mintaka, Alnilan e Alnitak
três estrelas, três reis e um cinturão
três mulheres Marias
me escondendo lá no céu

três pontos e um universo entre e
dentro
de cada um deles

ora atravessando desertos
ora carregando cruzes
e normalmente puxado pela corda do
pescoço como um burro triste numa terra seca

erras duas vezes é burrice
mas não há mal em ser burro
você é um homem ou um rato?
e não há tampouco mal em ser um rato

mal há na maldade e na verdade que guardo em mim

as chaves escondidas esqueci onde escondi
me escondi junto
e o esconderijo
se tornou minha prisão

do espaço
vejo o mundo
e o mundo
sente saudades