sábado, 30 de julho de 2011

Coração

Não chegue tão perto, senão vou ter que ir embora.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Outro dia

O sol a pino esquentava a cidade. Parecia que o inverno finalmente tinha terminado. Eu estava bem, relativamente saudável e, o mais importante de tudo, sem ressaca. Na noite anterior eu decidira que pararia de beber, logo depois bebi uma tequila que me deu azia e a certeza que estava na hora de largar vícios que já não eram mais vícios. Então eu acordei bem, num dia belíssimo, com a certeza que o dia ia ser uma merda. Abri os olhos, fui ao banheiro e disse: merda...

terça-feira, 26 de julho de 2011

Playboy

Eu conseguia me apaixonar tão fácil
Os lábios dela eram tão belos
E a cintura fina me excitava
Não era fácil fingir que
Os pequenos e lindos seios dela
Não me levavam a loucura.

Apaixonado à imagem
E à beleza que ela ostenta
Nunca vi olhos mais belos
Azuis bem claros
Tão claros quanto o céu.

Era tão fácil me ver sofrendo
Pelo sorriso belíssimo
E pelo jeito de caminhar
E ela mordia os lábios
Eu sempre a amei.

Mas é tão difícil me imaginar
Numa conversa longa
E inteligente
Eu me apaixono tão fácil pela imagem
Mas eu não suporto a sua cabeça.

Como eu vou amar
E me casar
E ter uma família
Se todas as belíssimas mulheres
Mais me parecem capas de revista?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O suicida

De vez em quando eu tenho essa coisa meio mórbida. Eu sinto um desprezo pela vida e, pasmem, penso que preferia a morte a ter que acordar, a dirigir, a sorrir, a sobreviver. Você ficaria surpreso no imenso número de vezes que fechei os olhos por alguns segundos, esperando que não fosse abrir de novo, mas eu sempre abro e sempre estou vivo. As pessoas têm que dar mais valor à vida, eu penso de quando em quando, mas a realidade é que eu mesmo sinto que a vida e a morte não diferem quanto à importância e à relevância. Eu sou mórbido, de vez em quando, e quase sempre sou suicida. Mas em vez de me matar, eu passo o dia de cara fechada, esperando que um carro me atropele, que eu engasgue com a comida, que eu sofra um ataque de coração fulminante. Eu nunca morro. O que há de especial na vida, se 6 bilhões de pessoas acordam todos os dias? Não me parece um previlégio. Eu não morro e vou dormir relativamente cedo, pois não suporto nenhum tipo de convivência ou entretenimento. Até que eu acordo e é um novo dia e eu estou pronto para respirar de novo. Eu gosto de estar vivo.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Madrugada

eu acho tão estranho
quando a luz se apaga
e os sons ficam mais altos.

sempre penso que a luz
acaba abafando o som
ou coisa assim.

e o som baixinho
quase inaudível
se torna ensurdecedor.

basta a escuridão
e a música explode
nos nossos ouvidos
escuros.

domingo, 17 de julho de 2011

Gênio

Nós eramos relativamente novos.
E nós nunca brigávamos.
Quer dizer,
Eu nunca brigava com ela.
Ela adorava discutir.
E eu nunca estava nem aí pras merdas que ela dizia.
Certo dia,
A amiga dela me disse
Que ela reclamou:
Porra, o Thomas é calmo demais, ele nunca briga comigo!
O que tem na cabeça das mulheres de gostarem de homens ciumentos e briguentos e marrentos?
Depois elas apanham de um retardado desmiolado e daí é culpa do filho da puta doente.
A verdade é que eu nunca gostei de brigar.
Não por ser mole, ou sensível, ou fraco.
Simplesmente acho que sou mais inteligente que boa parte da população
E acho que uma criança loira não ia ganhar uma discussão contra mim.
Iamos gritar um com o outro,
Até que eu dissesse:
Tá, você tá certa.
Eu só preferia pular a parte do estresse desnecessário
E da minha argumentação estupidamente inválida.
Eu nunca fui calmo.
Só mais inteligente...

sábado, 16 de julho de 2011

Dreyer

A garotinha nasceu. Amanda queria chamar a menina de Mariana, minha opinião não era válida, então a menina Mariana tinha um nome, um belo nome. Loira e sorridente, Mariana me lembrava muito a mãe, mas todos diziam que ela era a minha cara. Amanda estava nas núvens, pois era o grande gênio por trás dessa vida humana, como uma Deusa que engordou 22kg para dar a luz a uma coisa pequena e linda e que logo logo estaria grande e linda.
Enquanto Amanda descansava no quarto do Hospital, fui a um bar de esquina ali perto. O lugar fedia e as pessoas eram realmente mal encaradas.
- Vai beber alguma coisa, patrão? - O barman me pergunta.
- Sei lá, qualquer coisa forte. Estou comemorando o nascimento da minha filha.
- Parabéns cara! Por conta da casa, o nosso melhor whisky. - Encheu um copo com Dreyer e pôs duas pedras de gelo. - Mas você não parece muito contente.
- Pois é, estou preocupado.
- Com o quê?
- Com a minha menina. Com a minha mulher. Comigo. Com a responsabilidade de ser pai. Estou me sentindo péssimo. Eu criei, com o meu esperma inconsequente, um ser belíssimo. Esse ser vai crescer e vai me deixar feliz quando aprender a andar e quando trouxer um desenho que fez na escola enquanto eu tive um péssimo dia de trabalho, e quando ela fizer 15 anos ela não vai querer mais saber de mim e eu vou ser um velho chato que ela não gosta. Ela vai ter um cachorrinho lindo que vou dar a ela, o cão morrerá e ela vai sofrer. Ela vai amar algumas vezes, ela vai se decepcionar todas essas vezes. Na melhor das hipóteses, ela vai se casar e vai se entediar e vai morrer sozinha. Enfim, vai ver os pais morrerem, os amigos morrerem, o seu amor morrer. Eu não queria ser o culpado disso tudo, mas fui eu que comecei essa merda toda. Tenho que conviver com essa culpa toda vez que a ver chorando. - Eu olhava para o copo cheio enquanto girava em círculos o conhaque, fazendo o gelo tilintar.
- Caraca, meu irmão! Você tá fodido! Cara, não é bem assim que as coisas funcionam! Pô, eu sou pai de uma ninhada. Cinco filhos. E acho que foi a única coisa boa que já fiz na vida. Meu maior orgulho é essa filharada, que as vezes passa fome, que as vezes tem saudade do pai que tem que trabalhar até de madrugada, que as vezes tem saudade da mãe que trabalha o dia todo, mas toda vez que eu os vejo sorrir... Cara... a vida vale a pena. Eles sabem que a vida vale a pena, pois é isso que eu ensinei pra eles. A minha vida vale a pena, pois eles estão vivos. E a vida deles vale a pena, justo porquê estão vivos. Não sei se eu tô conseguindo dizer o que eu quero dizer... - Deu uma gargalhada gostosa. - Irmão, tô te falando... Hoje é o dia em que você se torna o homem mais feliz do mundo. A partir de hoje, você vai ver que nada, até agora, fez sentido. Agora você tá completo... - Ele tinha esse sorriso orgulhoso estampado na cara, mostrando bem os dentes amarelados e apodrecidos. Enquanto falava, limpava o balcão grudento.
- Obrigado pelo apoio. Vou tentar lembrar disso... - Eu sorri pra ele.
- Você vai lembrar. Aliás, você vai aprender!
- Ah, e obrigado pelo conhaque... - Bebi tudo em um gole.
- O whisky, você quis dizer...
- Isso, o whisky. - Ri com ele. Foi uma longa risada que já não fazia mais parte da nossa conversa sobre a bebida. Ficamos em silêncio por alguns segundos, eu olhando o gelo no copo, ele olhando o pano sujo e fedorento, nós dois com um sorriso ingênuo no rosto.
- Mais alguma coisa, chefe?
- Me vê uma Skol. Tirar esse gosto forte da boca pra ver a minha pequena sorrindo.
- Viu? Tá pegando o jeito! Três pilas, meu querido. - Dei-lhe uma nota de cinco, ele me deu uma de dois, sorriu de novo e foi sentar-se com um grupo de pé rapados numa mesa que dava para a rua. Eu tomei um gole da cerveja, que estava geladíssima e congelou o meu cérebro. Olhei para o Dreyer e sorri.

sábado, 9 de julho de 2011

Passado

Essa tarde reencontrei uma garota que fui apaixonado aos 17 anos. Amanda tinha a minha altura, cabelos loiros ondulados, um sorriso magnífico e olhos que imitavam os de um gato. Na época eu namorava uma garota estranhamente feia, o amor é cego e vivi essa máxima no peito (ia escrever que vivi na pele, mas o problema era mais profundo). Então eu e Amanda fomos ao cinema e nos beijamos uma vez, ou melhor, eu a beijei uma vez. Ela dizia que eu amava a minha namorada feiosa e que a traição não era certa. Duas horas de um jogo delicioso de beijos de canto de boca e no pescoço. E eu voltei à minha nada bela amada, apaixonado por um beijo e uma promessa de que íamos dar certo. Ela me enrolou por séculos dizendo que não ficaríamos juntos enquanto eu não terminasse o romance com a feia. Eu terminei e ela continuou me enrolando. As mulheres belíssimas têm esse dom, o de enrolar. E ela era uma das três mulheres mais linda que já vi na vida. E todas as três me enrolaram para caralho. Ela acabou sumindo da minha vida. Namorou um cara realmente bonito que diziam ser parecido comigo, vai ver era um Thomas melhorado. Agora namora um filho da puta peludo. Enfim, Amanda estava lá, sentada e languida e bela com os seios mais belos do Brasil. Eu acho que é sorte, afinal nosso romance de duas horas aconteceu quando éramos crianças. Hoje eu ficaria depressivo com todo o vazio que aquele corpo fantástico me faria e eu me tornaria um homossexual frustrado, pois jamais beijaria uma mulher mais bela que ela, jamais seguraria tão perfeitos seios. Todas as outras poderiam ser mais engraçadas ou mais inteligentes (não precisa muito, beleza e inteligência raramente andam de mãos dadas) ou mais interessantes, mas nunca mais belas ou mais gostosas...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Papel em branco

Nunca tive problemas com a tela branca, vazia, esperando letras.
Meus dedos sempre foram mais rápidos.
Mas hoje eu não sabia como escrever o que passa por aqui.
Eu não consigo saber se quero escrever prosa
Ou poesia.
Eu não consigo saber se quero beijo
Ou abraço
Ou sexo
Ou solidão.
Eu não consigo saber se quero sorrir
Ou chorar
Ou continuar com essa cara de cu.

Hoje estou mais complicado e acho que não estou conseguindo acompanhar as minhas próprias mudanças. Eu mudei, para melhor, mas continuo apaixonadamente estúpido.

Como eu posso escrever o que eu sinto?
Se não sei bem ao certo
O que sinto?

O frio, aqui dentro, está insuportável.
Lá fora faz sol
E o dia está realmente lindo.
Quando te vejo,
Me sinto o maior idiota do Brasil.
E acho que estamos bem.

Eu acho que estou bem...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Filósofo

Eu era diferente. Ouvia o que ninguém ouvia e lia o que ninguém lia. Escrevia o que ninguém escrevia e pensava o que ninguém pensava. Eu sabia que era diferente e eu realmente gostava disso. Eu acabava sentindo que tinha um pouco de atitude e de cabeça. Hoje as pessoas são como ovelhas ou vacas no pasto seguindo ordens de um cão pastor. A opinião de todo mundo é a opinião de TODO MUNDO e todo mundo está bem com suas cabeças robóticas e vazias. Me acham estranho e maluco e eu acho que isso é uma prova de que estou no caminho certo, pensando. E quando vejo que alguém se diz louco ou estranho, trato de odiá-lo, visto que essa loucura é uma pose de pensador. Não me passa pela cabeça que outras pessoas além de mim conseguem pensar e agir e discutir e, algo que eu não tenho capacidade, mudar o mundo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Literatura

Falei de Bukowski a ela como se fosse um anjo caído. Um Deus incompreendido e fodido pela própria vida. Ela sorriu e eu senti que consegui vender bem o meu peixe. Ela me pediu para que anotasse o nome dele para que ela pudesse pesquisá-lo e lê-lo e sentir o mesmo prazer que eu sinto. Ela era sorridente e gordinha e um pouco bonita, muitíssimo engraçada e inteligente e interessante. Disse a ela que tomasse cuidado: Buk é um cafageste, fala de putaria e alcoolismo e a desgraça da vida. Ela, que não parava de sorrir, me olhou torto: Quer dizer que não posso ler putaria? Riu e mordeu os lábios. Corei as bochechas e ri também, é claro que ela devia ler Buk. Passaram-se alguns dias e ela me ligou: Thomas, o Bukowski é um gênio!

domingo, 3 de julho de 2011

Início, meio e fim

Acabei me acostumando com a solidão e acho que estou cada vez melhor. Mais sozinho e mais vazio e mais contente com o jeito que as coisas andam. Eu não suporto a ideia de amar, ou de sofrer, ou de ser traído. Eu sou o cara que as pessoas escolhem pra trair. Essa é a minha maior vocação. E eu sempre fui compreensivo e Deus sempre gostou das minhas atitudes e Jesus aprovaria todas as vezes que eu desculpei. Eu sou bastante rancoroso, mas escolho largar o rancor e o remorso no passado e acabo esquecendo tudo. As pessoas sabem que serão desculpadas e que o meu remorso passa logo e que eu estou pronto para uma nova traição. Meu coração é mole e irracional e ele gosta de pensar que o mundo está apaixonado por ele. Eu estou contente. E eu nunca estive contente antes. Já fui feliz e infeliz, já amei e já odiei, já sofri o suficiente para eu entender o que é o amor. Estar contente é tão agradável quanto estar morto e o amor é mais uma droga em que os seres humanos são viciados. E todos ficamos doentes amando e procurando amor e sentindo a solidão bater enquanto alguém pensa em você. E você está sozinho, pensando em outra pessoa. E a outra pessoa está transando e sorrindo e amando e realmente está feliz. Pois eu acabei sofrendo demais com essa droga. Todas as vezes que eu amei e odiei e sofri resultaram num cara que não espera transar tão cedo, nem beijar tão cedo, nem sorrir tão cedo. Nem sentar num bar e crer o mundo é magnífico. Eu fui traido. Eu não acredito no amor. Eu não acredito em amizade. Eu não acredito em felicidade. Eu estou vivo e isso não importa nem um pouco. E eu não tenho grandes planos para amanhã e acho que nunca vou me casar. Vou murchando a cada traição. E do grande homem sobra uma casca fina e minhas costelas estão bem dispostas e eu estou saudável e eu não sinto mais que um porre de tequila vai me tornar menos solitário. Eu estou de saco cheio. E não espero que o mundo seja um lugar melhor daqui dez anos. Eu realmente não dou a mínima para o espelho e para as mulheres e para os homens e para o dinheiro e para qualquer coisa que tenha a tendência de me deixar. Eu vou morrer sozinho e acho que estou cada vez mais ciente desse FIM.

sábado, 2 de julho de 2011

É o amor

Um dia eu achei
que eu seria o maior dos homens.
E eu sou grande
como uma bosta
de uma formiga.
E a vida vem passando
e eu vou crescendo.
Centímetro
e centímetro
e centímetro
e eu estou morto
e andando por aí
como se fosse
um filho da puta
qualquer.
Eu me matei hoje
e acho que era assim que
eu precisava viver.
Uma vida nova.
Mais uma vida nova.
E nós dois
fomos escolhidos
pra morrer
juntos.
Tão juntos
quanto estrelas
e amores
e esperanças
e a vida toda
e o vinho
e todo o sofrimento
de todos os otários dos seres humanos.
Menos o teu sofrimento.
E
que
merda...
Eu
te
amo
pra
sempre.