quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Aftas são filhotes do Diabo

Toda noite, logo que deitava a cabeça no travesseiro, depois de ter escovado os dentes, tirado as minhas lentes de contato e mijado, necessariamente nessa ordem, eu rezava. Não era um sujeito religioso, um dia fui, mas eu ainda rezava. Acho que eu sentia que havia algo mais na vida que acordar, mijar, tomar banho, trabalhar, comer, transar, beber e dormir. Sempre acreditei em sonhos e em espíritos e no ódio, mas não no amor, os sentimentos podem ser traumatizantes e frustrantes de vez em quando.
Durante certas noites, eu deitava e simplesmente ficava de boca fechada, esperando que Deus entendesse que naquela noite eu não estava disponível. Isso acontecia ou quando eu estava deitado com uma mulher, o que era bem raro, ou quando eu estava bêbado ou chapado, o que era bem comum, ou quando eu estava com aftas. Aftas, para quem não sabe, são machucados na boca que, devido à acidez da saliva, não se cicatrizam. O ácido vai corroendo a pele machucada, abrindo uma cratera na boca. Aftas não são doenças, não podem ser curadas ou transmitidas, mas com certeza podem enlouquecer um filho da puta de cabeça fraca. A dor é constante, até que ela desapareça, sete dias depois de ela aparecer. E a dor constante não nos deixa comer, nem falar, nem sorrir, nem cuspir. Então o melhor a fazer é ficar de boca bem fechada e esperar que o mundo acabe.
E o Diabo sorri orgulhoso, de pernas cruzadas e com um cigarro na boca olha para Deus e diz: Haha, acho que alguém não rezar para o Papai hoje, não é, Papai?

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Sinner's serenade

Alguns pecados simplesmente não valem a pena.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Reversibilidade

"Ó Anjo de alegria, já viste a desgraça,
Os soluços, o tédio, o remorso, as vergonhas,
E o difuso terror dessas noites medonhas
Que o peito oprimem como um papel que se amassa?
Ó Anjo de alegria, já viste a desgraça?

Ó Anjo de bondade, já viste o rancor,
As mãos em gesto aflito e as lágrimas de fel,
Quando brande a Vingança o seu apelo cruel
E de nossas virtudes torna-se senhor?
Ó Anjo da bondade, já viste o rancor?

Ó Anjo de saúde, já viste os Delírios,
Que, ao longo das paredes do asilo alvadio,
Como exilados vão em passo tardio,
Movendo os lábios e buscando a luz dos círios?
Ó Anjo de saúde, já viste os Delírios?

Ó Anjo de beleza, as rugas já não viste,
Não viste o medo da velhice e este suplício
De ler esfíngico pavor do sacrifício
No olhar que outrora no saciou a gula triste?
Ó Anjo da beleza, as rugas já não viste?

Ó Anjo de ventura e júbilo e clarões,
Davi da morte se teria levantado
Sob os eflúvios de teu corpo enfeitiçado;
Mas a ti só imploro as tuas orações,
Ó Anjo de ventura e júbilo e clarões!"

Charles Baudelaire

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Vizinha

Eu estava olhando pela janela, como eu sempre faço. Vendo o tempo passar e sentindo o vento gelado bater no meu rosto. Eu estava nauseado e não bebia há séculos... Ou há quatro dias, se não me engano... E numa janela que eu nunca vi, a luz se acende. Da luz, um quarto. No quarto, uma garota. Devia ter uns 14 anos, no máximo, era loira, vestia calça jeans e uma blusa branca. Primeiro tirou a calça e sua calcinha branca acenava para mim. Depois tirou a blusa e daí seu sutien cheio de seios fartos acenava para mim. Ela me olhou e, como se eu estivesse vivendo um filme americano de pedófilos psicopatas, ela acenou para mim. De frente para a janela, tirou o sutien. Seus mamilos rosados sorriam para mim e eu sorria para eles. Eu estava vivendo um sonho infantil, afinal todo moleque sonha com uma mulher nua na janela ao lado. Depois tirou a calcinha e seus pêlos curtos sorriam para mim e eu estava em desespero. Eu precisava sentí-los nos meus lábios. Eu precisava daquela menina de, no máximo, 14 anos. Ela sorriu e apagou a luz.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sonho

Era uma quarta-feira de inverno, eu imagino que devia fazer uns 10 graus, ele nem imaginava quantos graus faziam, só sentia o frio castigando a pele desnuda. Acordou assustado, vinha nú, como veio no mundo. Olhou o teto de madeira distante, olhou a fresta de cortina que permitia um filete de luz gelada entrar no quarto, olhou quem esquentava a parte direita do corpo. Ela era linda, daquelas belezas que se veem em filmes.
A beleza da menina contagiou o coração daquele homem. Estranhamente, ele se desesperou, sentiu medo, sentiu frio, sentiu que poderia perdê-la a qualquer instânte. Nesse medo, beijou a testa da garota, beijou as faces, beijou os lábios, beijou o nariz, beijou até cansar os músculos da boca. Ela, adormecida, não moveu um cílio, muito menos o corpo, se fazia de Bela Adormecida aos beijos do plebeu. Coitada, ela que esperava um príncipe, foi ter na cama um sujeito qualquer. Aos meus olhos o sujeito não era de todo ruim, até acho que você, leitor, gostaria de conversar com o sujeito, imagino que até eu gostaria, pois enfim, não era um príncipe, mas de que serviriam os bilhões de homens do mundo se os bons sujeitos fossem só os príncipes?
Quando o homem se deu por si ficou perplexo. Não sabia o que dera nele, perguntava-se por qual motivo estava nú, perguntava por qual motivo estava beijando desesperadamente a face da bela moça, que agora não tinha mais a beleza dos filmes, mas ainda sim era bonita, perguntava que fim dera aquele sentimento seguro que era se ter sozinho, acompanhado dele mesmo. Pensou em procurar as roupas do lado esquerdo da cama, apanhar os pertences na cabeceira direita, em fugir dali, fingir que ele não sentira nada mais que uma felicidade decrépita por ter uma bela moça ao seu lado.
Pois ele não fez nada. Acho que esqueceu dos dois pânicos que teve, primeiro do sentimento de proteção que tinha com a garota, segundo do sentimento de medo que tinha da menina. Esquecido ou não, fez que não pensou em nada. Acabou por apertar ela mais perto do corpo, já que o vão dos seios dela permitia a entrada de uma corrente gélida de ar matutino que esfriva as pernas dos dois, puxou o cobertor de lã vermelha até o pescoço, temendo que o colo dela estivesse tão frio quanto os ombros, fechou os olhos e se pôs a sonhar, como se aquele mesmo fosse o sonho.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Cena de amor, Ato XIX

Era verão, dezembro, mas não fazia mais que 12º. A cidade estava nadando em uma chuva infindável e o inverno tomava conta dos dias e das noites. Estávamos no meu carro, cada um em seu assento. Meu banco estava levantado, o dela abaixado. Estávamos nus, eu olhava para ela, apaixonado; ela, para o celular.
- Ele não me atende... - Ela estava completamente bêbada. Eu, sóbrio. - Acho que ele não gosta mais de mim.
Pus a mão na coxa dela, eu sorria enquanto ela se lamentava. Os seios dela estavam suados e brilhavam à luz da rua. Ela tirou a minha mão da coxa dela, sorriu para mim, um sorriso amigável. Os pêlos dela eram ralos, bem curtos e charmosos. Os lábios carnudos. Talvez fora a mais bela mulher que já vira. Ela segurou a minha mão, ainda olhando para o telefone.
- Ele não gosta mais de mim, né?
- Você quer que ele goste?
- Quero.
- Por quê?
- Carência.
- Eu te amo.
- Ama?
- De certo modo, amo.
- Não serve.
- Por quê?
- Tem de ser amor completo e verdadeiro.
- Pra quê?
- Pra acabar a minha carência.
- Que besteira. - A beijei longamente, beijava seu pescoço e seus seios. Ela suspirava.

O telefone tocou, ela sorriu lindamente.
- Oi, amor! É, você não me atende! Tá, já vou praí, o Thomas me leva. Tudo bem, te amo!
- Pois é, ele ligou...
- Você me leva lá?
- Levo.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Alguém, algum dia, fará uma loucura por você

As memórias que tenho dela são como pesadelos. A vida foi bastante movimentada, o coração palpitou mais do que nunca. Não eram sentimentos, mas uma gama infinita de situações de adrenalina. O medo de morrer pode ser um sentimento muito mais forte do que o mais forte dos amores. E a melhor foda da sua vida pode ser um sentimento muito mais forte do que o mais forte dos amores. Todo homem merece uma louca. Elas que dão luz a nossa vida, elas que nos mostram que as coisas sempre podem piorar. É gostoso saber que estou bem... vivo... É gostoso saber que, mesmo mais sozinho do que nunca, estou só comigo. Quando se está com uma louca você percebe que nem a melhor foda vale a loucura. E você está preso a um inferno ninfomaníaco. Quando você se dá conta do caos, um pau de borracha de 10m está te vestindo. Mas, infelizmente, as loucas dão uma má impressão às mulheres. Agora fico analisando demais, cuidadoso demais. É como se todas as mulheres fossem loucas. Muito mais loucas que as mulheres normais. E por algum motivo, as mulheres normais, sumiram do planeta. Todas elas enlouqueceram comigo. Ah, esquece... Nenhum homem merece uma louca... She can drive you really fuckin' mad.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Depressão

"Morte e amor são as coisas mais complicadas que um homem pode enfrentar durante a sua vida. São duas merdas que não são bem aceitas pela psique humana, são duas merdas que passam pelas nossas vidas transformando-a, criando o caos. Duas merdas que, depois que passam, deixam o Luto preenchendo a nossa depressão e a nossa solidão macabra. Morte e amor, não desejo nem aos meus piores inimigos."
Thomas Verkitsch, em O Elefante Branco ou O Imperador de Esmolas

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Catastrofe e a cura

Só peço que, quando nos vermos de novo, não seja tão legal.
Senão vou sentir a tua falta quando sentir um cheiro parecido com o teu.
Sentir saudade de uma boca que eu mal toquei.
Sentir amor por alguém que nunca amei.

Mas eu vou continuar sendo legal.
E eu vou continuar pensando em você, mesmo se você esquecer de mim.
Não é amor, é um coração batendo bem alto e bem forte.
Não se preocupe, você pode viver a sua vida.

Eu vou continuar ouvindo as músicas que me lembram de você.
E vou andar pelos mesmos lugares que andamos.
E vou encostar na mesma parede que te beijei.
Não é difícil, o tempo passa e das melhores memórias só sobram fragmentos.

Estou bem perto de te esquecer.
Só peço que, quando nos vermos de novo,
Você não me beije, pois eu não quero viver
Esse caos mais uma vez.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Bola

O problema é que todo mundo se preocupa demais com as coisas. Como se as outras pessoas REALMENTE valessem a pena. É tudo sobre amor e ódio e uma série de sentimentos fúteis que movem a econômia mundial. Porra, o amor não passa de um inferno na Terra. E todos estão dispostos a amar o próximo. Que babaquice. Deus deve estar envergonhado dos cristãos que amam, sorte que eles são raros, a grande maioria vai à Igreja ao domingo para poder pecar na segunda, afinal a vizinha gordinha de 15 anos do andar de cima paga um boquete sensacional. E não me venha com sensacionalismos e viadagens, pois nada supera um bom boquete, nem mesmo a melhor das fodas. Malditos critãos, preocupados com seu Deus e esquecendo que o bom da vida é a escória do Velho Mundo, cheio de indiferenças e solidões bem planejadas. Sexos casuais e uma boa e caprichada dose de tequila, e uma cerveja bem gelada para rebater. Entremos em pânico enquanto a sociedade se martiriza em prantos, relembrando as suas desgraças e sentindo que o ódio e o rancor lhes fazem mais completos. É o inferno da Terra, atormentando nossas vidas desde o minuto em que nascemos.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O herege

Inevitavelmente começou a sangrar.
Uma hora tinha de sangrar, isso é Justiça.
Que sorte, levantar-me e espantar-me
A vida é curiosa...

Já cansei de pensar nas tuas belezas alinhadas,
Tão docemente alinhadas.
Não tenha medo, não tenha medo,
Eu tenho medo...

É assim que termina?
Afinal, que cruel você se tornou.
Eu, sentindo falta das tuas mãos,
Enquanto você faz uma carnificina.
E antes você estava morta!
E antes eu estava vivo!
Você fica linda quando estou na merda.

Nossas almas tão agitadas.
Que tipo de orgulho é esse?
Se queimar a carne significa encontrar Deus...

(Baseado na música The Heretic, The Sound Of Animals Fighting)

domingo, 28 de novembro de 2010

Voyeurismo

Fui à cozinha pegar cerveja para o pessoal que estava na casa da Amanda. Ela entrou e parou na minha frente, entre a geladeira e eu. Todo mundo zombava de mim, pois a fama dela era de me dar selinhos. Ela sempre me dava selinhos. Quando eu queria um beijo, um abraço, um amor. Ela me dava selinhos. Olhou pra mim e deu o sorriso dela, só ela tinha aquele sorriso. Eu sorri. Ela me deu um selinho, depois outro. Tentei beijá-la, enquanto ela ia entrando na geladeira. Puxei ela dali, fechei a geladeira e encostei ela na parede, beijando-a forçadamente. Ela me empurrou e deu aquele sorriso. Uma merda de sorriso que eu sempre tento desvendar, mas eu nunca entendo o que ele quer dizer. Uma merda de um sorriso maravilhoso, talvez o mais lindo que alguém já tenha sorrido pra mim. Que merda de sorriso sem sentido. Ela me deu outro selinho e foi até a porta da cozinha. Olhou para o pessoal, que estava na sala ao lado, e disse Eu vou fechar aqui. E o cochichar e as provocações tomaram a casa, todos riam, ela também, menos eu. Não vamos fazer nada, só vou fechar a porta... É sério!, ela respondeu. Eu estava encostado numa porta sem trinco, que não dava pra lugar nenhum, ou dava, mas eu não sabia. Ela veio em minha direção e me beijou. Ela vestia um short branco, uma blusa verde decotada e uma blusinha cinza por baixo da verde decotada. E eu, pela primeira vez na vida, ganhei alguma coisa. Ela me beijava e não era mais um dos infinitos selinhos. Eu finalmente tinha o abraço, o amor. Me puxou e trocou de lados comigo, encostando as costas na porta sem trinco. O que tem atrás dessa porta?, perguntei. Nada, ela respondeu. Achei que era uma passagem pra Hogwarts, ou o quarto de um duende, eu falei. Que?, fez careta. Nada não, e beijei-a, enquanto riamos da merda que falei. Ela pôs a perna atrás da minha e tentou me derrubar. Eu me vinguei, derrubando-a no chão. Estavamos sobre o chão gelado, nos amando, sentindo que o mundo é belo. Estou com frio, vou ver se tem um edredon ali na área de serviço, ela disse. Trouxe um lençol, que estendeu no chão, e uma coberta de lã vermelha. Improvisamos uma cama e ela tirou o short, eu tirei meu moleton e minha camiseta branca. Nos beijávamos e o pessoal entrou na cozinha, tiraram uma foto e sairam. Eles riam. Nós também. Eu tinha meus motivos.

Clarice

Sinto cada vez mais que
Você me esqueceu.

O último verso

O amor pode ser uma bosta.
E todo mundo têm a sua chance de amar.
Mas eu tenho essa merda de ser escolhido pelo pior.
Essa merda de ser o pior dos piores e se sentir um bosta.
O amor é uma bosta.
Um inferno tão profundo.
Teus olhos me transformam num fantasma.
Que merda estou fazendo aqui?
Porra, me apaixonei pelos teus malditos olhos.
Eles me transformam numa merda.
Uma merda que te segue até o fim.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Saudade

Estava deitado na cama, no escuro. A tv estava ligada, mas eu não assisto tv. Ela apareceu no meu quarto e sorriu. Sua pele branca brilhava com a luz do televisor. Oi, ela disse. Eu sorri. Sentou na borda da cama e se inclinou sobre mim para me cumprimentar. Beijou o canto da minha boca. Eu sorri. Desculpa, ficou vermelha, de novo. E me deu um selinho. Desculpa de novo, dessa vez riu. Sua franja cobria metade do seu rosto, as pontas do cabelo dela tocavam meu peito quente. Beijei-a. O beijo mais longo e caloroso que eu jamais dei. Não tão longo, nem tão caloroso quanto ela merecia. Fiz meu melhor. Lá estavamos, desarrumando a minha cama. O edredon caiu no chão, o meu pé ficou preso nos lençois. Cai no chão frio e lentamente a puxei para cima de mim. Tirei a blusa branca decotada, enquanto ela mordia meu lábio inferior e arranhava minha barriga. Os olhos semi cerrados dela me fascinavam e eu era o rei do mundo, ou do meu coração, eu era feliz. Ela parou de me beijar, me olhou e sorriu. Oi, eu disse. Estava com saudades, ela respondeu. Eu também, respondi.

sábado, 20 de novembro de 2010

Palavras

Eu gosto do barulho do teclado quando digito rápido. Tec-tec-tec. E isso me motiva a escrever. O som suave do tec-tec de plano de fundo, atrás das minhas músicas calmas, ou não. Ah, se minha cabeça fosse mais auto-suficiente e conseguisse organizar os pensamentos jogados. No fundo, meu cérebro é uma pasta líquida que fica girando e girando e girando, como a descarga de uma privada, só que a merda não vai pra nenhum lugar, fica ali, girando e girando e girando. De vez em quando, eu vomito a merda toda e: Ta-Da, eu escrevi. Mas eu escrevo tão pouco. Meus dedos agitados sempre pedem mais, eu sempre quero mais. E eu sei que se meu cérebro fosse um armário cheio de gavetas com meus pensamentos organizadamente guardados, eu escreveria mais, mais e melhor. Mas não, tenho que viver com essa tontura. Girando e girando e girando.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Duas caras

Vinte e um anos e eu estava me sentindo um velho solitário. Um velho sem amigos, sem amores e sem histórias. As pessoas me cansavam e eu não conseguia sorrir para qualquer um, dia após dia. Os amigos não surgem dos bueiros, loucos para inflar nossas vidas medíocres com amor e amizade.
As mulheres sempre me foram um problema. Me apaixonei pelas erradas, outras mais erradas se apaixonaram por mim. Um enorme problema de logística. Toda vez que transava por transar, tocava um coração e a minha inconsequência se tornava alvo de um amor tolo. Elas se apaixonavam por um pênis que vinha pendurado num cara magro. Pior que o pau nem era tão grande e o cara nem era tão legal. Quando eu me apaixonava, era o menino doce e bonitinho, mas as mulheres se assustam com esses tipos. Os caras frouxos sempre se machucam e elas nunca querem machucar ninguém. Aliás, acho que pouca gente têm esse intuito. Lá estava eu, apaixonado por uma louca, enquanto ela me tratava como um doce menino frouxo. Me faltam colhões nessas horas. Só sou homem quando me convém dar uma gozada. Eu e a minha tara por loucas. E as loucas e suas taras por fio terras. Porra, tem alguma coisa errada, tem que ter alguma coisa errada. E acho que é só comigo, porque ninguém grita. Parece que estou só eu nesse mar de solidão. Que merda, apaixonado de novo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Amor, sexo e masturbação

Passei muitos meses transando. Transando várias vezes por dia. Isso acabou comigo. Me fez um peso morto nesse país fodido.
Outrora, o sexo me era uma religião. Era um vício repleto de magia. Eu era um cheirador de bocetas, um fumante de línguas. Um drogado inconsequente marcando nomes num caderno de vaginas para a contabilidade. Mas o excesso de sexo fodeu comigo. Hoje não sei o que as pessoas veem nesse ato incoerente de enfiar seus sexos nos sexos alheios. A população toda se esfregando em prol de mais um orgasmo. Uma orgia gigante que tem o mesmo significado que aquela masturbação no banheiro sujo de casa. É a mesma solidão, só que com cheiro de suor e saliva.
Não me lembro de como é fazer amor. E acho que quase ninguém lembra como é fazer amor. A porra do amor é uma neurose estressante desnecessária. Ninguém, dessa orgia insana, está disposto à neurose. Só queremos seguir rezando e fodendo e nos drogando. A mesma merda de sempre. Todos nus nas suas masturbações coletivas.

Tristeza

Finalmente eu estava infeliz. Depois de meses fodendo com o Brasil e tornando a vida das pessoas o caos, eu estava infeliz. Finalmente cheio de lágrimas nos olhos e uma dor intragável no peito. A solidão finalmente me doia. E esse meu demônio ria-se. O mundo nem sempre é justo e eu concordo com esse jeito dele ser. Eu nunca pedi para que o vazio se tornasse cheio, ou para que eu fosse curado. Só queria continuar a viver. Mas ganhei esse peito ardido, essa explosão infâme de sentimentos infâmes. O vazio chupou a minha felicidade, ou a minha vida, pois a felicidade não me era presente. Não era feliz, nem infeliz, nem nada. Eu era um ser perfeito, finamente perfeito. E agora sou um mendigo carente. O mais triste dos solitários sentindo o medo de todo mundo: morrer assim, sozinho.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A mais nobre dor

Eu nunca tinha dormido tão bem.
Nadando em desejos e vivendo sonhos.
Esquecendo que o mundo é a bosta que é.
Acostumado com tudo isso.

Me sentindo bêbado e chapado.
Encarando as pernas e os lábios.
Inutilmente encarando os lábios.
Me sentindo cheio, mentirosamente cheio.

Eu já tinha me acostumado com o cheiro dela.
Com o cabelo preto dela tocando o meu rosto.
Com o lábio desenhado, o nariz perfeitamente fino e arrebitado.
Eu tinha me acostumado com os lábios dela tocando os meus

Eu tinha me acostumado com a loucura dela.
Minha sina, as mulheres malucas.
Muito lábio e pouca saliva, nem tudo é perfeito.
Me acostumei com as gargalhadas e a felicidade.

Eu realmente não nasci pra isso.
A solidão é minha melhor amiga.
E todo ser humano nasce pra isso.
A solidão é o medo de todo o mundo.

Sei que não nasci para evolução.
Todo homem é feito para isso.
Para procriação de uma espécie decadente.
Sou um fardo social, um peso morto.

A vida é gelada, assustadoramente vazia.
E nós, os solitários, nos agarramos a faíscas momentaneas.
Tolamente esperando que essa nobre dor suma.
Mas a solidão faz parte de nós e as pernas brancas e os lábios não vão nos salvar.

A vida é gelada e meu coração quente sente dor.
Sem a loucura dela.
Sem os beijos dela.
A mais nobre dor.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Corso

Muita gente morre antes de morrer. E morre há muito tempo. Tempo suficiente pra perder uma vida. Pra perder um amor. Um amor vale muita merda. E a gente vive essa merda toda, cheia de amor e cheia de merda. A gente vive, enquanto eu olho tuas pernas finas. Meus olhos me enganando e me enxendo de uma vida desnecessária. Uma vida cheia de estupidez.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Embriaguez

Eu nunca escrevi bêbado, mas porque não a tentativa? Bukowski escrevia bêbado. Muita gente vive bêbado. Acho que há um certo glamour nos vícios. Acho que há charme no alcoólatra. Acho que há charme no fumante. Eu fumaria, caso suportasse o gosto nojento do tabaco na minha boca. Eu fumaria, caso não tivesse problemas de infância com cigarros. Acho vícios bonitos, pois vícios deixam as pessoas mais humanas. Elas tentam se tornar deuses sem comer carne, ou tentando ser celibatários, ou fingindo ser boas. Mas todas elas são assassinas e hipócritas. Os vícios tiram essa maldade das pessoas, as tornam pessoas de verdade.
Pois enfim, vim declarar meu ódio ao amor, pois é o melhor que eu posso escrever. Talvez seja um vício, como o álcool ou como o sexo ou como outro vício qualquer. O amor é lindo, desde que se esteja de olhos fechados. Eu, de olhos fechados, tocando suas pernas finas, sentindo seus pêlos curtos e loiros, enquanto você sorri lindamente. Eu sei que você sorri. Meus olhos fechados conseguem sentir seus lábios acanhados se abrindo. Você toda se abre. Seus lábios, suas pernas, seu sexo, seu coração. Todos abertos para mais um salto às cegas. Você e todo mundo, prontos à coleção de dores e inconveniências. O amor serve para esses sofredores que não temem o sofrimento. O amor não me serve. Prefiro a solidão e meu cheiro e minhas manias. Sem cheiros e manias alheias. Sem amor ou sentimento. Sem a porra do sorriso alheio, só o meu. O amor acaba conosco e nos faz otários solitários. E vivo eu, sozinho, mas não otário, pelo menos assim penso eu. O amor como todas as armas me furando. O amor como um multirão de comunistas em prol duma utopia maior. O amor como milhões de anos de inexistência. O amor mais tolo. A infantilidade nos nossos corações. A dor nos nossos corações.
E o sexo, que se foda. O importante, é amar. Eu espero que nos encontremos no final, como as rugas encontram todo mundo. E dançaremos de novo, e de novo e de novo.

O Porco

Arrotei bem alto.
- Hahaha. - Ela riu.
- O que foi?
- Adoro quando você arrota.
- Quê?
- Acho engraçado.
- Não acha nojento?
- Por que acharia nojento? Acho engraçado. - Sorriu.
- Você é maluca.
- Por que?
- Porque você gosta dos meus arrotos.
- Ai, Thomas, você é ridículo - Continuava a sorrir. - Eu gosto de tudo o que você faz.
- Você é maluca, muito maluca.
- Tho, te amo.
- Se eu matar alguém, vai continuar a me amar?
- Claro que vou.
- E se eu deixar de arrotar?
- Não sei. Vou sentir falta dos arrotos. Mas não é por isso que vou deixar de te amar.
- E se eu te trair?
- ... - Parou de sorrir.
- Han?
- Thomas, não brinca com essas coisas.
- Vai deixar de me amar?
- Você é um idiota.
- E você é maluca!
- Seu porco. - Saiu do quarto.
- Eu também te amo. - Disse pra mim mesmo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Amor, o Criador nos deixou

Sempre achei que meu problema fosse esse meu vazio, mas a verdade é que eu nunca o tinha vivido por completo. Sempre foi um vazio com um quê de conteúdo, logo, não era vazio porra nenhuma. Depois que acabei o namoro com uma louca, me tornei vazio por inteiro, completamente vazio. A louca me amava infinitamente enquanto eu estava apaixonado pelos melhores sexos da minha vida. O amor é foda, pode acabar com a vida de muita gente saudável. E a louca era louca e eu estava em constante perigo. O meu vazio era cheio de sexo e medo de morrer. Logo, não era vazio porra nenhuma. Mas eu sobrevivi. Vivo e batendo punheta. Sem meu melhor sexo e sem o medo de morrer. Sem nada. Sem saudades ou sentimento de culpa por jamais ter amado. Só com um vazio completo. Um vazio seco e obscuro. Sem dor. Sem medo. Sozinho e vazio, como um Deus inabalável, como uma divindade superior livre dos problemas da humanidade. Sem humanidade. Vazio.

domingo, 7 de novembro de 2010

Curitiba

Eu amo Curitiba. Um amor maior que todos os amores. Mas uma coisa me enoja nessa cidade maravilhosa. Pode parecer idiotice, ou viadagem, como quiser entender... Mas a beleza das mulheres dessa cidade me irrita. Todas elas belíssimas e gostosíssimas e superiores. Todas elas sorridentes e charmosas com seus cabelos lisos, seus olhos pintados e seus cílios bem pretos. Todas elas usando calças deliciosamente justas e blusinhas brancas decotadas. Todas elas inalcansáveis enquanto eu vivo essa minha incoerente, ainda que merecida, solidão. Sozinho como todo mundo nesse mundo. Mas acima de tudo, triste, por jamais ter sentido o gosto das salivas dessas belíssimas mulheres que Curitiba ostenta. Curitiba belíssima. Curitiba que esfrega na minha cara a minha incapacidade de caçar. Curitiba que me mostra que de homem, só tenho o pau pendurado. Curitiba da minha solidão.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Loucura

Ela era um sorriso largo, ela era um cabelo negro e cacheado que caia-lhe bem no rosto. Ela era magra de pernas finas. Mas ainda sim tinha uma bunda linda e seios devéras grandes, bastante proporcionais ao seu corpo magro, ainda que alto. Ela era inteligente, como as pessoas deixaram de ser há muito tempo. Ela era simpática com todo mundo, o que não me chateava, mesmo eu odiando ser simpático. Ela conseguia ser feliz, mesmo com as greves na Europa, os conflitos no Oriente Médio e os desastres naturais na Indonésia. Ela conseguia ser feliz mesmo sabendo que um dia ela ia sofrer de novo. E eu estava apaixonado de novo. Pela terceira ou quarta vez na vida, de um jeito que eu prometi a mim mesmo que jamais iria me apaixonar. O amor é foda, é uma faísca que finge esquentar os nossos corpos congelados. Uma faísca que se apaga ao primeiro sinal de fraqueza. O primeiro beijo, a primeira foda têm algo de dramático. As pessoas são interessantes à primeira vista. Depois, lenta, mas seguramente, todos os seus defeitos e loucuras se manifestam. E eu era um louco que me contentei com as loucuras das pessoas. E ela não era louca. Era linda. Mais linda que todas as mulheres que eu já tinha visto na tv. Mais linda que todas as mulheres que já tinham me dito não. A mais linda de todas.

- Manda.
- Quê, Tho?
- Casa comigo?
- Hahahaha.
- O que?
- Você é ridículo, Thomas.
- É sério, casa comigo.
- Thomas. É só sexo. Tá? Só sexo e você sabe disso.
- Mas eu te amo.
- Tá, então você está na merda.
- Vai ver estou.

Pela terceira ou quarta vez apaixonado. E desta vez ela não era louca. Muito pelo contrário. Era a mais sã das mulheres. A mais sã e mais bela. Casamento, amor, essas merdas todas, só existem para nos chatear. E ela sabia muito bem disso.

sábado, 23 de outubro de 2010

Vive le demócratie

Porra! Porra! Passa a vontade de democracia. Ou a vontade de ter vontade própria. Porque vontade própria, usualmente, acarreta em um sentimento de frustração. E eu to frustrado. Maldita política e seus fanfarrões. Acho que a política é feita de fanfarrões loucos pra cuspir nos nossos rostos e rir das nossas caras babadas. Babadas, por não falar ranhadas, ou uma coisa mais nojenta. Se é que a palavra ranhada existe. Enfim, a porra toda da democracia me parece um diabo que nos fode o cu enquanto achamos que nossas bundas estão protegidas por papéis higiênicos de dupla face. Tolos. Somos todos tolos. Enquanto nos limpamos, os filhos da puta que nós democratizamos, se é que a palavra democratizamos existe, estão lá, vivendo na realeza no auge do seu poder. E nós, os tolos, estamos acreditando futilmente que os filhos da puta vão mudar alguma coisa. E no fundo, não importa. Pode ser vermelho, pode ser amarelo, pode ser azul. Pode ser comunista, pode ser capitalista, pode ser nem cá nem lá. A bosta é a mesma e vai chegar nos nossos narizes e vamos todos morrer afogados em mágoas... ou em merda. Vamos votar. Em branco, em nulo, em alguém. A bosta vai ser a mesma.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

À Amanda

Sei que você não passa por aqui. Mas, caso passe, saiba que voltei a sonhar com você. Eles têm sido bastante frequentes e bastante bons. Esse último não foi.

Estavamos num show, eu, você e... pessoas... Nós só andavamos de mãos dadas e braços dados. Num certo ponto, te empurrei pra parede e tentei te beijar.
- Thomas!
- Manda...
- Tua namorada tá aqui, eu vi ela!
- Ex namorada.
- Ela é louca, você sabe disso.
- Eu não falo com ela faz muito tempo, ela já desencanou. - Daí eu te beijei.

E ficamos de namorico no show, até que, enquanto eu andava sozinho, a minha ex veio. Era uma menina com quem eu estudava no Ensino Médio, que eu não vejo há uns 5 ou 6 anos, pra mais... Vai entender os sonhos...
- Tho - Ela sorriu calmamente.
- Lu...
- Eu tenho uma notícia pra você.
- Diga.
- Acabei de ter um filho.
- NOSSA! - Me espantei.
- É teu - Continuava sorrindo.
- QUE?
- É...

Por isso, peguei meu carro e fui embora, sem nem falar com você. Teus amigos me viram falando com a ex namorada, mas nunca me viram voltando. Óbviamente, você ficou de cara, pensando que eu tinha feito alguma merda.

No dia seguinte, eu estava andando no shopping, um shopping que não existe, mas sempre que eu sonho com shopping, sonho com esse. Lá estava a minha ex e os amigos dela. Continuei andando, fingindo não os ver. Ela levanta e acena pra mim. Eu comecei a correr pro andar de cima (?).
Foi uma correria dos diabos, cada um correndo pra um lado, todo mundo querendo me pegar. Até que eu puxei a ex e comecei a conversar com ela. No fim das contas ela me mostrou o bebê e disse "Não quero ele pra mim. É seu." com aquele mesmo sorriso calmo de quando ela me deu a notícia.

Daí eu apareci na minha casa, que não tinha nada a ver com nenhuma casa que eu já morei. Você tava lá comigo. Nós nos beijavamos e o nenê chorava.
- Tho, a criança tá chorando!
- Eu não quero ser pai.
- Mas você É pai.
- Eu não sei ser pai.
- Eu vou embora.
- Eu quero você.
- Mas você tem que ser pai. Não tem que me querer. Não se preocupa, eu já to indo embora mesmo.
- Não vai, por favor.
- Eu vou sim, você tem coisa mais importante pra cuidar.

Eu apareci num outro comodo, completamente escuro. Tinha muitos cocôs de criança por todos os lados. Eu tava muito na bad. Eu tentava limpar, mas sempre aparecia mais.

De repente eu tava na rua, correndo até você. Você ia pegar um onibus pra tua cidade e eu tinha que interceptá-lo. Eu corria, corria, mas eu nunca cheguei até ele. Daí veio a notícia, "Tua vó, ao tentar pegar o ônibus, levou uma facada na cabeça, mas está bem."

O sonho mudou e eu não te encontrei.

Tenho saudades. Muitas saudades.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Psicografia

"Olá, Deus. Queria agradecer pelo ... Queria pedir ... e que eu volte a escrever. Quero muito voltar a escrever. Escrever me fazia bem. ..."
Thomas, o religioso. Que depois de surtar com noites mal dormidas, apelou pras divindades.

E meu Deus me ouviu. Era meia noite e dez quando comecei a reza. Estava bôbo de sono e eu estava crente que minha noite seria uma noite digna de domingo. Domingo é uma bosta, pois é preciso dormir cedo pra Segunda, mas você dormiu tarde no Sábado, então não tem sono no Domingo. Mas eu estava com sono e tudo indicava que a semana ia ser maravilhosa.
Depois de uma hora inflado em insônia, vou até a sala ver o que os vagabundos estavam fazendo. Moro com vagabundos, isso é um fato. Eu sou um vagabundo, esse tipo se atrai. E só duas e meia da manhã eu voltei pro meu recanto de felicidade chamado cama. Uma hora e meia de pura idiotice, inventando um sono perdido. Foda-se, pensei eu, logo durmo.
E meu Deus me ouviu. Como uma desgarga de uma privada suja, pensamentos e textos e poesias eram vomitadas pra dentro da minha cabeça. Tontura. Insônia. Merda. Muita merda rodando. Eram contos, eram histórias, era a porra da vida do Thomas.
O que era pra ser uma noite agradável, se tornou um anti-tédio de horas de duração. Consegui dormir só depois das cinco da manhã. E meu Deus me ouviu. E o blog não morreu.

domingo, 17 de outubro de 2010

Thomas, o apaixonado

A primeira paixão a gente nunca esquece. E por algum motivo, ela me ressurgiu na pele. Ela estava lá, como sempre esteve, belíssima, seios fartos, cintura fina, rosto de menina e mais alta do que eu. Era uma musa que eu me continha a olhar, como os homens olham revistas masculinas. Por algum motivo, o nariz dela tocou a minha bochecha e, embriagada, ela disse que sofria. Não sei se é a tara de sofredor ou se é de bêbado, mas, ou o sofrimento, ou a embriaguez, me fez um bêbado maior. Um bêbado menos bêbado e mais bonito. A beleza conta muito nesses casos perdidos em que a mulher é a mais bela de todas as mulheres, e pode acreditar, eu não sou bonito. Aqui vou eu, me aventurar num caos criado pela minha mente. Bem vindos, sonhos libidinosos e pensamentos surreais. Bem vinda inútil esperança. E que eu saiba me contentar com o arrependimento posterior. Ou com as transar vazias. Ou com os tragos intermináveis.

sábado, 16 de outubro de 2010

Charles Bukowski

"Apenas isso, o amor é uma névoa que queima com a primeira luz de realidade."
Mulheres, de Charles Bukowski

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Allegro con brio

Eu nunca fui fã de música clássica. Sempre tive curiosidade, mas nunca me pus a buscar isso. Acho que é uma coisa melodramática demais, teatral demais. Não existe ninguém que, naturalmente, ouça música clássica. Pelo menos era assim que eu pensava, até que, em meio ao meu tédio infinito, sintonizei na rádio que só toca música orquestrada. E foi a primeira vez que eu entendi o motivo das coisas, como funcionam as modas e seus ritmos. A música clássica é feita por e para os sofredores natos. Estou falando dos fodidos. Depois de semanas só tomando no cu e nadando na merda, deixei Beethoven suprir minhas necessidades de algo que me fizesse mais completo. Um sofredor nato. Acho que todos têm o direito de sofrer, mas que encontrem o agradável e reconfortante sentimento de ser feliz em sofrer. Finalmente completo, cheio de dores e esperanças e música clássica. Finalmente sorrindo, depois de litros de cerveja e quilos de maconha. Finalmente sozinho, como eu sempre quis.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Belonofobia

As pequenas coisas estão acabando comigo. Pequenas como pontos, compridas como fios de cabelo, agulhas me furando. Eu tenho fobia de agulhas. Pequenas coisas me furando como agulhas. E eu, me sentindo um nada, fico esperando que o verão chegue logo e que eu possa vomitar tudo isso e apertar a descarga para nunca mais ver meus problemas de novo. Problemas, nós somos movidos a problemas. Será que um porre adianta? Ou será que eu já estou ciente demais, a ponto de saber que um porre não vai me livrar de nenhum problema?
Eu amei por três anos. Três anos em que eu fui nada pra ninguém, exceto um bêbado inconveniente, o cara que faz a merda pelo gosto bom que errar tem. Acho que isso explica muita coisa. Amar é como morrer, só que vivo. Se o amor é dos bons amores, é o paraíso. Se não o é, é um inferno. E eu vivi muito do inferno, sendo sugado por um amor incoerente e incompreensivo. E agora me amam. Ela vive um inferno, mesmo achando que o amor que ela sente por mim é coerente e compreensivo, claro que não é. Eu costumava viver sozinho, enquanto esses malditos três anos se passaram. E eu queria continuar sendo sozinho, pois eu aprendi uma coisa muito simples com o amor: mate ou morra, antes que seja tarde demais.
Eu não sei mais escrever. Não sei mais dormir. Eu sei me esconder atrás de máscaras, quase sempre máscaras sorridentes e engraçadas. Enquanto eu estou na maior merda, ou na merda de sempre. Talvez, se me permitisse o leitor, eu cometeria um suicídio, antes que me furem mais uma vez.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Amor platônico

- Você tá linda hoje.
- Não posso dizer o mesmo. - Ela sorriu.
- Ah, você tem que parar com essas besteiras.
- Que besteiras?
- Tá, talvez eu não seja o cara certo. Mas foda-se, você não tem como saber quem vai ser o cara certo.
- Eu sei.
- E você sabe que não sou eu?
- Ai, Tho, eu não sei de nada.
- Me dá uma chance!
Ela me olhou fundo nos olhos. Pus a mão no pescoço dela. Na hora certa, o Sol me fode os olhos.
De novo, de ressaca, sonhando com ela.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Welcome, Golden Boy

Welcome, Golden Boy, to this new World. The so called Paradise feels nice, isn't it? So, how do you feel, Golden Boy? Are you scared or feeling alone? The so called Paradise feels nice, like the freaking Hell itself. Welcome to this old bullshit, Golden Boy. Now you can fight with yourself and know who you really are. Golden Boy, The Sucker, that's ok. For me it's ok. Like all those fucking freaks fucking little kids. Like the sad man killing his neighbor for no reason. You're a sucker, Golden Boy, aren't you? Hell you are, Golden Boy! Feels nice, the Paradise, isnt't it? Now you can look back and see who you really are. How do you feel? Can you see all the sadness you put inside of all those hearts? Can you see all the blood you spread with your little white hands, little fucking Golden Boy? Why can't you shut up and stop crying, you little motherfucker. As I know, you've fucked your mother, haven't you? How does it feels fucking mama? How does it feels fucking everyone around, including yourself? Feel free too feel this living dead experience, Golden Boy. Because this shit will last forever and you will realize that your precious life ended how started, freak. When did you give up? Didn't you have plans? I can see you promissing your lovely fucked mother: Mom, I'll be back for you and I'll be the richest man and I'll buy you a castle, so you can run it like a hotel in some French village! And the fucked mom, with her bright and ridiculously religious eyes, started to cry and laugh at the same time. She loved you, Golden Boy. When do you stoped loving her? Why do you did that? Freaking Golden Boy. Wasn't enough hating your own father? Welcome to the so called Paradise, Golden Boy. Now you can cry. You'll stop trying, like you tried all those fucking years of your useless and stupid life. Congratulations, Golden Boy. Feel free to live sad, die sad and keep being sad like a depressing kid. Welcome, Golden Boy. How does it feels to realize you're no Golden at all?

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Adultério

Paixão. Sentimento pútrefe. Há tempos me apaixonei e senti uma mulher inflando meu peito fraco. Arregaçando minhas costelas e se tornando onipresente nos meus sonhos. Apaixonado. Finalmente apaixonado. Finalmente destroçado e desiludido. Finalmente gente. Apaixonado como os policiais. Apaixonado como os vagabundos. Apaixonado como os sofredores. Apaixonado como os pais. Apaixonado como os dentistas, os médicos, os advogados, os engenheiros. Apaixonado como os poetas e os escritores. Apaixonado como as estrelas. Apaixonado como o mundo. Apaixonado como os homens. Como um ser humano. Apaixonado como os maridos. Exatamente como os maridos. Que sonham com as suas paixões, enquanto dormem ao lado de suas esposas mal amadas. Exatamente como os maridos sentem um vazio quando olham para si mesmos, quando olham para as suas esposas, mas sentem seu mundo mais completo quando seus olhos se unem com os olhos das suas paixões. Apaixonado como os infiéis e seus sonhos libidinosos. A vulva dela. A bunda dela tocando a minha barriga. Os sonhos que eu não podia ter. Apaixonado como todos os infiéis da porra do mundo. Apaixonado pelo rabo enorme, pelas pernas enormes. Apaixonado pela cintura fina e seus seios escondidos pelo top preto. Apaixonado pelo seu cabelo cacheado pendendo nos ombros. Apaixonado pelos seus olhos borrados de maquiagem carregada. Caralho, que olhos. Vidrados de álcool, de vontade de mim, só de mim. Apaixonado pelo nariz delicado e pela boca seca que ela morde quando ela me vê. Ela morde os lábios por mim. Só por mim. Prá nenhum filho da puta. Só pros meus lábios mordidos quando eu vejo ela. E nossos olhos se encontram e eu quero morrer. Quero deixar de sentir o mundo para sentir a pele dela sob a minha. Quero você mais perto.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Khaled Hosseini

"É claro que casar com uma poeta era uma coisa, mas ter um filho que preferia meter a cara em livros de poesia a ir caçar... bem, não era exatamente o que baba tinha imaginado, suponho eu. Um homem de verdade não lê poesia, e Deus permita que nunca venha a escrever versos! Homens de verdade - meninos de verdade - jogam futebol, exatamente como meu pai fazia quando era jovem. Isso sim, era algo digno de paixão."
O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini

Cronos

Qual a vantagem de antecipar o amanhã?
Futuro: uma boa desculpa para o pasado.
Pra mim, é Hoje.
Estático, parado, nada aconteceu, nada acontecerá.
Está tudo aqui, só não conseguimos ver ainda,
Muito menos sentir.

Egoísmo

Uma tristeza sempre morou dentro do meu peito. Eu sempre fui diferente de todo o resto. E sempre odiei o resto todo. Mas, ultimamente, a tristeza tem me fodido mais do que me fodia antes. Outrora, um desgosto, um gosto ruim na boca que me fazia escarrar, pensando naqueles filhos da puta que queriam escarrar em mim. Agora é pior. Me dói o peito. Fico louco de vontade de chorar. Ontem, ou anteontem, chorei. Porra, foi a segunda vez em quatro dias que eu chorei pelo mesmo motivo. Talvez o mais tolo dos motivos. Mas foi o meu motivo: o ser humano.
Tenho visto muita gente morrer. Tenho visto muito sofrimento. A gente cresce e vai percebendo que a porra da vida é foda. Quando somos crianças, achamos que a morte é personagem de quadrinhos da Turma da Mônica, a morte é de mentira e tudo o que sabemos é que amanhã é outro dia. A gente cresce e, na maioria das vezes, vemos os bons morrerem. Certa vez uma dupla de porcos morreram, uns caras que eu não gostava. Eu disse: que bom que morreram. É um pensamento pútrefe que me deixa envergonhado. Aposto que os pais deles choraram. Aposto que os amigos deles choraram. Mas eram maus, como a maioria dos homens. Os maus merecem morrer, mas nunca morrem.
Os bons morrem. Os bons sofrem. Os bons não nasceram para viver a vida. Eu não nasci para viver essa bosta. E não, eu não sou nem um pouco bom. Minha podridão é comparável à podridão dos filhos da puta que morreram. Eu merecia morrer. Eu queria morrer. Acordar, para mim, é tão complicado. Acordar e comer e escovar os dentes e viver. Tanta merda desnecessária. Tanto sofrimento desnecessário. Tanta gente. Eu odeio gente. Bando de egoístas hipócritas. Bando de bastardos orgulhosos das atitudes e escolhas mecânicas. Bando de macacos de circo seguindo um cronograma pré-planejado. Eu odeio gente.
Eu estudo numa das melhores escolas de engenharia do Brasil. Eu falo inglês fluente. Estou estudando francês. Eu faço academia, vou em festas e tenho um computador. Eu ouço muita música. Eu faço muito sexo. Eu sou um cara, como muitos outros caras, que vive uma vida honorável. Uma vida que muita gente merecia viver, mas precisa catar lixo ou pedir esmola. Eu tenho uma vida boa e sem tristezas. Mas ver o mundo inteiro acabando em volta de mim, já é motivo. Não se trata de um comunista que quer igualdade, nem dum naturalista que não usa sacolas plásticas. Se trata de um egoísta que cansou de ver o mundo sofrer. Dum egoísta que cansou de sofrer pelo mundo todo.

Mulher Maravilha

"Todo homem acredita que pode domar uma ninfo, mas isso só tem como resultado a sepultura - a do homem."
Charles Bukowski

Cheguei a uma breve conclusão: a mulher perfeita é aquela que voa. Pelo menos consigo imaginar a Mulher Maravilha, depois de salvar o mundo, sedenta por sexo com aqueles enormes seios tocando o meu peito. Uma vez, há algum tempo atrás, namorei uma mulher que qualquer cara ia achar perfeita. Ela era morena, cintura fina, seios fartos, bundão. Uma puta de uma gostosa. Seus olhos, sua boca, seu cabelo, toda linda, toda perfeita. A mulher perfeita, o cu. Era burra como uma porta; soava como ninfomaniaca, mas o sexo, para ela, soava como um passatempo, como assistir a novela das oito ou jogar paciência. Tenha paciência, mulher. Transar não precisa ser mágico, nunca precisou. Mas transar é alguma coisa mais sagrada que a própria reza. Imperfeita que é o diabo. Maravilhosamente imperfeita. Burra. Que merda. Joguei fora, como se jogam as gordas, as fedidas e as chatas.
E a mulher perfeita não é ninfomaniaca, como todos os homens acham que é. Algo que eu não desejo para nenhum homem: uma ninfomaniaca. A ninfo acaba te destruindo, te sugando até os ossos. A minha não era perfeita, mas era magra, tinha um puta dum rabo, mas era ninfo. Sabe, um dia eu achei que eu era ninfomaniaco. Eu achava que eu era viciado em sexo, que eu realmente precisava de sexo. Isso acontece com a molecada que acha que transa bastante. É que eu sempre transei mais do que os meus amigos. Sempre fodi bastante. Bastante em termos. A real é que a ninfo me deixou meio desnorteado, com a cabeça do pau latejando e uma dúvida: será que sou viado? Parece que você nunca é homem o suficiente para uma ninfomaniaca. Ela sempre tá ali para te foder, em todos os sentidos, tanto te comer como te deixar para baixo. Porra, um homem precisa de paz.
A mulher perfeita não é gostosa, muito menos ninfomaniaca. Não é uma doce virgem, afinal ela não transa, caralho. A mulher perfeita é a que voa. A mulher perfeita é uma Maravilha. Que merda, é isso que me desanima. Ou você acha que eu tenho chances com uma gostosa voadora?

Prostituição literária

De novo sentado na frente do computador. De novo nauseado de tanto beber vodka, whisky, tequila, cerveja, na noite interior. De novo de ressaca. Sempre de ressaca. Os bilhões de remédios jogados sobre a minha mesa. Todos que eu deveria tomar. Mas, porra, foda-se a minha saúde. Engraçado, entre os comprimidos, ao lado do celular, um cigarro de maconha, um pouco na frente uma caneca suja fedendo a cerveja velha. Saúde, meus queridos. A porra da saúde batendo na minha cabeça ressaqueada. De novo querendo escrever, como todos os dias. Escrever é tão complicado, um trabalho tão árduo. Não sei como todo mundo escreve. Afinal, o mundo inteiro é escritor. E todo mundo escreve bem. É tão fácil. Um mundo cheio de elogios sobre uma subliteratura desprezível. E esses escritores de merda ganham dinheiro para escrever merda. Nessas horas que percebo que não sou bom escritor. Acho que nunca ia ganhar um puto com a porra da minha escrita. Puto. Em compensação, acho que eu ganharia uns trocados como puto. Eu sou um puto. Um puto que dá o seu corpo. Que elas me comam quando quiserem. É tudo sobre o desejo feminino. É tudo sobre uma boceta molhada na ponta da minha língua. Um puto apaixonado pela vulva. Um puto que nunca se apaixona nem escreve nada bom. Porra, que vida.

Acredite em mim, o fogo se foi

Reza, reza pela tua alma enquanto o mundo lá fora queima de dentro para fora. Sangrando pelos seus machucados mal cicatrizados. Chorando pelos olhos dos 6,8 bilhões fodidos. Eu nunca choro. Nunca. Mas, porra, chega uma hora em que o cansaço explode dentro do peito e o único jeito de sobreviver é deixando a lágrima salgada cair no rosto. Eu nunca choro. Preferiria morrer logo. O cansaço tá explodindo na porra do meu peito. Quero é dormir para sempre. Um fim. Escuro. Um ponto final. Chega de esperança, chega de Deus, chega de amor. Chega de perder e ganhar. Chega dessa vida em que nada é para sempre. Merda, eu não quero chorar. Merda. As vezes é difícil acreditar nas coisas, em nós mesmos. E quando deixamos de nos acreditar, significa que finalmente a bosta chegou no nariz e vamos todos morrer afogados por merda. Reza por um Deus que nos esqueceu há 2000 anos nos deixando um pau de borracha de 2000 cm para comer os nossos rabos. Reza numa Igreja que tá te comendo o cu enquanto você gasta dez por cento do teu salário medíocre. Reza pela tua alma, que foi chupada como um pinto mole chupado por uma puta velha desdentada. Porra, chega de esperança. Chega de ter medo. Chega de viver essa porra toda.

Mãe, te amo

Do Dicionário Silveira Bueno
amor: s. m. Afeição profunda; objeto dessa afeição; conjunto de fenômenos cerebrais e afetivos que constituem o instinto sexual; afeto a pessoas ou coisas; paixão; entusiasmo.
afeto: s. m. Afeição; amizade, simpatia; paixão; adj. amigo; afeiçoado.
paixão: s. f. Sentimento excessivo; afeto violento; amor ardente; entusiasmo; grande mágoa; cólera; objeto de afeição intensa; parcialidade; sofrimento prolongado; o martírio de Cristo.

Como é fácil amar. Olhos e bocas e mãos se entrelaçando como uma trepadeira. Amar é dar uma flor para uma mulher nua e suada, enquanto a mãe dela está em casa com o coração partido de saudades. É fácil amar os estranhos, mas ninguém mais ama os pais. Grande consideração. E aquela mulher nua e suada vai mudar, ela vai embora como todas as outras já se foram. E qualquer dias desses o amor será outra flor para outra mulher nua, desta vez não suada, pois o frio constrói o sentimento fugáz e imponente: o amor sob cobertores, a pele quente sob o ar congelado. O amor reciclável e apaixonado. Um afeto incoerente e animalesco. As mães não amam. As mães não são apaixonadas e não sentem afeto. As mães não estão nuas e não nos beijam. As mães estão no escuro, sozinhas. Sozinhas como todo mundo dessa porra desse mundo. Um mundo cheio de amor, de ódio e de solidão.

Oi, amor

- Oi, amor.
- Ah...
Ela me acordou acariciando meu rosto. Minha ressaca era tanta que eu estava prestes a vomitar ali mesmo, na nossa cama. Minha cabeça sendo marteladas pelo meu coração batendo. Eu precisava vomitar.
- Você tá bem?
- Puta... Acho que eu vou morrer...
- A ressaca tá braba?
- Braba é pouco!
- Eu também to ruim. Vomite, você vai ficar melhor.
- Odeio vomitar.
- Tá, vou pegar um analgésico e um remédio prá você não vomitar.
- Por favor.
Eu adormeci. A melhor receita contra a ressaca é dormir. Eu sei, uma hora você vai acordar e a ressaca vai estar lá. Mas, porra, dormir é uma coisa simplesmente sensacional. A maior invenção do homem foi a cama. É, eu dormi. Ela me acordou de novo, daquele mesmo jeito carinhoso dela. Isso me irritava, as vezes. Ela não podia me acordar com uma chupeta? Ou quem sabe com um tapa na cara? Um balde de água fria, talvez? A real é que ela era meio mole, cheia desses romantismos baratos. E no fim eu tava ficando assim também.
- Oi, amor.
- Ah...
- Tó o teu remédio. A água tá geladíssima, você vai gostar.
- Água, que delícia!
- Eu vou tomar banho. Dorme mais um pouco, daí você toma o teu banho.
E instantâneamente eu dormi. Eu tinha tomado o remédio para a náusea, acabei esquecendo do analgésico. Talvez o dia inteiro tenha passado, ou só 20 minutos.
Lá estava ela, nua e molhada. Com os olhos vermelhos, o pescoço vermelho, as olheiras gigantes avançando às bochechas, como um deserto avançando ao descampado.
- Você tá bem?
- Mais ou menos. Acho que vou dormir.
- Deita aí.
- Vai tomar banho. Estou com fome.
- Ok. Melhore, tá?
E daí sim, o dia inteiro passou. Ou só uns 30 minutos. Cheguei no quarto e lá estava ela. Nua e molhada. Branca como a neve. Gelada como a neve.
- Você tá bem?
Toquei nela, tentei acordá-la, virei-a. E deitada inerte, ela dormia, sem ao menos respirar. Abri os olhos dela e eles estavam fixos no teto, como se conseguissem ver o céu, as núvens, Deus. E os olhos ficaram abertos, libertando uma alma pecadora, porém feliz.
Vomitei no chão. Parecia que o remédio não surtira efeito.
- ACORDA! MEU, LEVANTA! Por favor... acorda... acorda...
E eu desisti. Deitei ao lado dela e esperei a vida passar.

Preconceito

Eu fico meio emputecido quando vejo esse pessoal rotulando os filhos da puta de hoje em dia. Se o cara tem grana, ele é bonito. Se o cara é briguento, é macho. São detalhezinhos esquisitos que dão toda a forma para o conceito do sujeito. Porra, ficam me dizendo que eu sou viadinho, comunista, beberrão, só por ser escritor. Bando de porcos, me julgando por eu cagar pelas mãos umas palavras desprezíveis.

Esses dias estava conversando com uma amiga sobre um corno podre de rico que mora aqui pelas redondezas:
- Ele é maravilhoso, né, Tho?
- Porra, maravilhoso?
- Ele é lindo!
- Ele parece um dedão.
- Como assim?
- Um dedão com cabelo. Olha o cara: orelhas pequenas, pescoço largo, rosto oval. Um dedão com cabelo.
- Idiota. Vocês homens são ridículos com esse machismo.
- Como assim?
- Você não admite que o cara é bonito, admitir que um homem é bonito é coisa de bicha, né?
- Porra, guria, você é ridícula. O filho da puta do teu ex namorado, como é mesmo o nome?
- Ele não era filho da puta, Thomas.
- Não falei isso, minha linda.
- Falou que ele era um filho da puta.
- Não, eu falei que ele É um filho da puta.
- Ai, Thomas. Que implicancia com o cara.
- Tá, foda-se. O filho da puta era bonito. Aquele cara era maravilhoso!
- Haha. Sua bicha. Olha o jeito que você fala dele!
- Meu, vou te estuprar aqui mesmo. Enfim, o cara tem o sorriso maravilhoso, olhos claros, cílios compridos. Até aquele cabelo de fruta dele é lindo, aquele topetinho de filhinho de papai.
- Ai, Thomas, só você. - e riu.

Eu conheço um cara (eu ia falar "tem um amigo meu (...)", mas porra, falar que é amigo é apelação) que é todo macho. Não pode por álcool na boca que já tá louco para dar uma surra em uns caras com cara de otário. Faz bochecho com anti-sépticos bucais com álcool e já quer briga. Ele só bate em cabaço, coisa de cabaço, de covarde. Mas enfim, ele é macho, bate em todo mundo. Briga a torto e a direita. Daí, quando toma soco, fica de xororô, para ver se alguma mulher cuida dele. Nessa de estar sangrando, tasca um beijo na idiota que acha que ele é macho. É o jeito dele de mostrar que é o macho alfa: lutando e beijando a fêmea.
Só que além de macho, o cara tem uma esquisitisse: gosta de se travestir, só por diversão. Uma coisa é a galera se vestir de mulher para sair festar, zoar com a galera, outra coisa é o cara pôr uma peruca loira, batom vermelho e fingir que é mulher. Também gosta de comer traveco, faz isso para o pessoal rir dele. E todo mundo acha o máximo, ele come os travecos e depois bate neles. Maluquice sem tamanho, idiotice sem tamanho.

E no fundo, o fodido sou eu. Escrevendo merda, vivendo de trocados depositados pela mamãe e fugindo de briguinhas de super mercado. Pé rapado, covarde. Feioso viadinho, como a maioria dos otários que se casam, viram pais, se tornam bons avôs e morrem sem nunca ter posto o pau no cu de um outro homem.

Charles Bukowski

"Uma garota tinha saído de um canto na parede e dançava em cima do balcão; não parava de sacudir a calcinha vermelha na minha cara, mas vai ver que era apenas uma conspiração comunista; então não interessava, porra."
Fabulário Geral do Delírio Cotidiano, de Charles Bukowski

Casa comigo?

Eu casaria com uma mulher daquelas. Loira de verdade - porra, é difícil encontrar uma loira de verdade, são todas oxigenadas e tão burras quanto as loiras de verdade - cabelos cacheados. Se tem uma coisa que me excita, são cachos, as vezes acho que sou meio viado por me excitar com belos cabelos. Foda-se. Peitões, uma bundinha redondinha, não tão grande, mas é justo disso que eu gosto: bundas delicadas e pernas finas. Nariz delicado, arrebitado. Ela tinha pose, tinha estilo, toda bem vestida enquanto decorava leis trabalhistas, ou criminais, ou qualquer coisa que estudantes de Direito decoram. Olhei para ela, ela olhou para mim. Naqueles olhos azuis - azuis de verdade, tipo o céu - tinha uma coisa gostosa, que vontade de mergulhar naquela infinidade de sentimento. Eu sorri, ela sorriu amarelo, sem querer sorrir, sabe? Porra, eu queria casar ali mesmo. Levar ela para casa e apresentar para os vinte e quatro primos, para os onze tios, para os avós, para os pais. Transar com ela por horas a fio, sem ver o tempo passar, só secando o sémen de dentro das minhas bolas. Ela sorriu, bem amarelo, mas sorriu. Eu casava com ela, mas ela não casava comigo.

Suicidio

Tudo ia uma merda. A minha vida ia uma merda. Nada do que eu fazia ia prá frente e, mais uma vez, eu estava sozinho. Sozinho no nada, uma merda. Eu era um merda. Tá, tudo sempre foi assim, minha vida sempre estava uma merda. Era tudo uma grande merda havia muito tempo. Que merda.
Olhei para 9mm que eu comprei, mas nunca tinha usado. Aliás, comprei prá me defender, andava com ela pendurada na cintura, daí eu tinha um pau de meio metro, mas ninguém sabia disso. Quando eu tava sem ela, eu era um broxa, um merda. Pois voltemos prá 9. Eu olhei prá ela e decidi que era a hora. Destravei-a, pus em minha boca, o gosto sujo do metal me deixou mais depressivo. Tirei da boca e achei aquele gosto uma merda. Pus embaixo do queixo, apontando pro topo da cabeça, mas logo me perguntei se eu ficaria paraplégico com aquela estupidez toda. Era foda, eu queria morrer, não me machucar.
Deixei a arma na mesa e fiquei encarando-a.
- Que bosta, eu não tenho colhões prá isso. - E fiquei pensando sobre isso. - Porra, ia fazer uma sujeira... Deixa prá lá.
Guardei-a na gaveta e liguei prá uma amiga minha, gorda que é o diabo. Eu também era gordo, então foda-se.
- E daí?
- Thomas?
- É.
- Tudo bem?
- Quero te comer.
- Tá, vem cá.
Desliguei o telefone, peguei o celular, a carteira, dei um gole na vodka que eu deixava na mesa. Olhei para a 9:
- Você fica, sua filha da puta. - Ela queria me matar.
Tirei o coldre da cintura e sai, esquecendo o apartamento destrancado.

Buquê de rosas

- Nossa, que saudade! - Ela me abraçou.
- Pois é, quanto tempo? Cinco, seis meses? - Eu respondi, meio envergonhado com a nova sensação de ser um semi-desconhecido dela.
- Sei lá, tempo o suficiente prá eu ter saudade! - Ela sorriu, eu tambem - E daí, vamos fazer alguma?
- Opa, vamos sim! Se quiser chamar o pessoal... Ia curtir vê-los.
- Então, estava pensando em tomarmos um porre. Só eu e você.
- Putz - Parei para tentar explicar - É que eu parei de beber.
- Caralho! Como assim?
- Sei lá, prá melhorar a qualidade do sexo.
- Porra, mas você bêbado fode tão... melhor... Você realmente fodia quando estava bêbado. Horas intermináveis de suor e desgaste físico, infindáveis orgasmos múltiplos que me deixavam louca por água prá repor os líquidos que eu perdi.
- É que era um combustível; sem álcool até dava, mas não tão bem.
- E agora?
- Agora meu combustível é mais puro, tipo dormir, comer...
- Então tá fodendo melhor?
- Sei lá, é o que dizem.
- Então podemos foder.
- Ai, é que... Então... Também não rola... Mas podemos sair prá jantar.
- Porra, o que aconteceu com o velho Thomas?
- Haha, eu sou o velho Thomas - Senti meu rosto corando, minhas costas suando.
- Que nada, esse novo Thomas sugou o velho Thomas.
- Ah, certas mudanças vem prá melhor.
- Como assim, prá melhor? Você nem quer me comer! Eu engordei?
- Não não, claro que não. Está maravilhosa como sempre! - E de fato era a mais maravilhosa que eu já tinha comido em toda a minha vida.
- Não sente saudade dos meus peitos? - Seus olhos estavam mareados de indignação.
- ... Claro... É... - Não sabia o que responder.
- Você não quer nem ao menos lamber meus peitos? - Baixou o tomara que caia mostrando os seios fartos e durinhos, pequenas rodelas claras desenhavam seus mamilos perfeitos. Os mamilos olhando para mim, eu olhando para eles.
- É que... Puta... Que merda... - Meu pau ia ficando cada vez mais duro, mesmo que eu me sentisse mal por isso.
- Tá, Thomas. Daqui cinco, seis meses a gente se vê, se você voltar a ser homem. - Levantou a blusa.
- É que...
- Bixa imprestável. O que aconteceu? Não bebe, não fode. Ah, vai tomar no meio do seu cu. - Deu as costas para mim e foi embora empinando o mais alto possível o seu rabo espetacular.
- É... Puta, que merda... - O telefone tocou - Desculpa, amor, já já estou chegando. - Entrei no carro, passei na floricultura para comprar rosas e fingi que nada daquilo tinha acontecido.

Acabou o cigarro

Tenho reprovado todos os venenos da minha revolução. Meu ódio pelo mundo, meus rancores, minhas dores, meu eu vencido, cheio de revoltas para gritar. E gritei por dois anos. Gritei tão alto que pude sentir meus pulmões murchos, vazios como a minha revolução toda. As bebidas, os vômitos, os cigarros, os sexos, os infindáveis e imemoráveis (sobretudo imemoráveis) venenos em prol de uma mudança qualquer. Reprovado do verbo provar, não a respeito de não ser aprovado. Mais uma tentativa para, com a cabeça vazia de tristezas ou de felicidades, ter a certeza de estar no caminho certo. E vejo, mais uma vez, que todas essas merdas são plenamente reprováveis, dessa vez do ato de não ser aprovado.

Que mentira, a sua vida é uma mentira, Thomas! Ela gritava babando, uma mistura de baba e lágrima e ódio líquido e corrosivo. E eu não dizia nada, eu não me defendi, minha vida é de fato uma grande duma bosta de uma mentira. Um conto de fadas onde eu sou o príncipe: é isso, algo ou alguém precisa de um herói e é só aí que eu apareço. Na porra da minha história, eu sou o cavalheiro sem nome, gracioso, forte, temeroso, mas sem nome. Eu sou o rosto bonito e a minha vida é uma mentira. Amanda me puxava do meu mundo escuro com a maior força que ela podia, força o suficiente para arrancar meus braços fora, mas insufientes para suprir essa minha insuficiência, minha ineficiência... Deficiência.

A indiferença colada na parede, a infelicidade (não a tristeza, que fique claro) rabiscada na pele, a depressão tomando conta deste protagonista, o anti-herói fracassado. Não vejo mais sentido no gozo dispensável, a mulher como um objeto, como um objetivo. A buceta santificada e a mulher escravizada. Um escarro da boca de um feminista. Maldito feminismo e suas sapatões peludas. A porra do gozo espirrado no lençol sujo. Sujeira limpa, eu dizia, pois o suor feminino é sinônimo de limpeza; suores diferentes, fedores diferentes. Minha velha limpeza sujando a minha mentalidade embriagada. Porra de ressaca. Porra de indiferença infeliz.

Morte

No escuro,
Sem preocupações,
Sem planos,
Sem ninguém.

O Agora como uma Lei inexorável.
O Ontem como um crime delicioso.
Rancor e mágoa de alguém tão bom.
Uma solidão segura, eu seguro.

No escuro, agora.
Como uma ônix preciosa.
Tão forte, tão segura.
Crime contra o inexorável.

Meu peito despreocupado,
Que ontem desejou tanto.
Parado.
Sozinho.

Cigarro

Ela fumava para caralho. Conseguia fumar um cigarro em 4 minutos, quando fazia isso com esse simples intuito. Quando estava conversando, sua velocidade de sugação caia e seus cigarros sobreviviam quase 18 minutos. Era um cigarro após o outro, parecendo uma Maria Fumaça. Seu hálito era repugnante e beijar a boca dela dava a mesma sensação de lamber um cinzeiro. Antes de por o cigarro na boca, ela queimava o seu filtro. Era como uma mania obsessiva: queimar filtros de cigarro. Ela dizia que o cigarro era cortado por vidro, então o filtro e a ponta podiam ter pedacinhos de vidro impregnados. Grande merda, eu pensava. Ela suga veneno para dentro dos pulmões e está preocupada com um fiapo ridículo e exdruchulo de vidro. É como eu tirar a baioneta da minha espingarda. A porra da faquinha da ponta da arma pode machucar pessoas. Puta hipocrisia do caralho, se vai se matar, que ao menos se machuque! Ou vai ficar de viadagem? A morte dramática e lenta, sem uma porra de uma afta na boca causada por um pedaço ridículo de vidro. Aliás, quem diabos inventou essa história escrota de fiapos de vidro em filtro de cigarro? Daqui a pouco vão dizer que camisinhas dificultam a circulação do sangue peniano, então que transem sem camisinha e se fodam com uma maldita AIDS nos seus sangues. Pelo menos eles vão fluir naturalmente, sem nenhuma camisinha para impedir-lhes o fluxo.

Will Self

"Por fim, se enfiaram na pensão e Natasha chupou Miles até ele secar. Debaixo da colcha áspera, ele perguntou se ela o amava. Natasha estremeceu, apesar da malha preta que se recusou a tirar - sentia os arrepios do convalescente. "Claro, bobo", ela disse. Mas realmente ele é que era bobo, claro."
Como vivem os mortos, de Will Self

Batimento

A tua mão se fundindo ao meu peito.
E teu peito pedindo por perdão.
Vazio como o voo de um abutre.
Vazio como estar aqui de novo.
Olhando esta intensa loucura.
Testando meus sentimentos.
Avaliando todo o meu potencial.
Sentindo que meu coração não bate mais.
Enquanto tambores destroem o teu peito.
Nenhuma verdade.
Nenhuma mentira.
Nada de mais.
Além de um coração.

Vaso quebrado

Que experiência escatológica: o retrocesso e o resumo da vida. Grande bosta, fui ver no final das contas. Fiz pouco nesses anos milenares da minha incoerente existência. Esperei tanto de mim, quando pequeno quis ser astrônomo e conhecer o universo inteiro, quis ser veterinário e salvar todos os pobres animais jogados pelas ruas, quis ser rico. E até hoje, tudo o que fiz, foi passar na merda do vestibular. Acho que muita gente já fez isso. Grande coisa, passar no vestibular. E foi tudo o que eu fiz.
Eu queria ter salvo o mundo, ter fechado o meu primeiro milhão aos 20 anos. Queria ter desenvolvido a mediunidade, prá, como um medium, ajudar as pessoas e os espiritos que precisam ser ajudados. Mas não, não fiz nada disso. Não fiz nada por mim, nem por ninguém. Talvez conte o fato que eu amei. Amei e sofri. No fundo, amor é sofrimento. Amei e fui amado. E quem me amou, sofreu. Se valeu a pena? Claro, é tudo sobre a felicidade e sobre o amor. Mas acaba, tudo acaba. Acaba em cinzas como um cigarro sujo de batom pisado numa sarjeta qualquer. A chuva leva o cigarro. E leva o amor e a felicidade. A chuva leva a minha felicidade.
Essa viagem transtornante me trouxe um singular sentimento: vazio. Vazio como a solidão. Vazio como o escuro. Vazio como o frio. Vazio como toda essa dor. E preencho esse vácuo com merdas. Jogo sexo e drogas e música alta e umas mentiras para eu curtir um segundo de paz interior, mas essas merdas também passam. Vazio. Vazio como isso que você lê. Vazio.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Apologia às amantes

Inválido como um turbilhão de inexperiências, um vômito de más notícias que toma o chão imundo. Mais uma vez, cruelmente, venho dizer que não ligo mais. É essa indiferença que deixava todo mundo espantado. Um espanto que tomava os copos sujos de cerveja vencida, que transbordava pela privada e pelas pias sujas de urina (sim, a pia estava suja de urina, não me pergunte o motivo). Grande coisa, eu pensava. Eu podia ficar andando por ai, sem rumo, sem vontade, sem um planejamento dessa minha vida insuficientemente monótona. Ah, que ingratidão com os amores. Todas aquelas que, por bem, ou por mal, me carregaram, têm de suportar o desgosto de me ver assim. Juro que não fiz por mal, só não sei ser diferente.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Consumismo

Sobretudo: vulgar.
Claro nas linhas
Ou prescritos nas entrelinhas.
Um olhar que seduzia,
Que chamava, pedia.
Um encanto sem espanto.
Escondido nos cantos,
Cantos de bocas,
Que se calam prá dizer.
E dizem muito,
Muito "ah!" para pouco "a".
As coisas jogadas no chão,
Sem muito cuidado.
As pernas entrelaçadas
Que diziam mais, muito mais,
Do que aquele silêncio.
Silêncio quebrado por suspiros.
Suspiros e sorrisos.
E depois o suspiro.
E o gozo.
E o riso.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Outro emprego

Eu tinha conseguido arranjar um emprego miserável. Trabalhava só no turno da tarde, mas ganhava menos do que o porteiro do prédio do lado de casa. Não que eu esteja desmerecendo os porteiros, só acho que eles fazem muito menos coisa do que eu fazia. Porteiros precisam fingir que não estão dormindo, precisam atender o interfone, avisar o morador que alguém chegou, daí apertar o botão de abrir o portão. Talvez, na pior das hipóteses, ele tenha que anotar alguma coisa, assinar alguma coisa, mas não passa disso.
Eu operava uma máquina de fazer fundação de obras. Era algo parecido com um guindaste, que segurava um bloco pesado de algum material que eu não conheço, esse bloco subia e descia com o motor que ficava do outro lado da máquina, batendo no topo da viga da fundação da obra. Um trabalho fácil e monótono, o que me dava tempo prá fumar e beber enquanto mexia com o trambolho amarelo. Prós e contras, tudo tem seus prós e contras. Quando chovia muito, iamos embora, pois era impossível fazer um buraco na lama. Quando chovia pouco, tinhamos que nadar naquela terra nojenta, com o vômito da cidade que cai do céu, enquanto tentávamos fazer aquela máquina velha funcionar. Era bom, pois eu não precisava acordar cedo, podia ir aos bares todos os dias e me embebedar infinitamente. Era ruim, pois o barulho da máquina estuprando o chão era ensurdecedor, chacoalhava a minha cabeça ressaqueada. Dia sim, dia não, eu procurava um emprego melhor, mas nenhum deles pagava mais do que a mixaria que eu recebia pelas quatro vagabundas horas de trabalho.
Um dia choveu pouco. A chuva ácida empoçando a terra cuspida pela máquina. Eu, bêbado e num humor deplorável, resolvi ir embora. Os caras que me ajudavam com o maquinário (eramos 4, revesávamos na parte complicada, que era fazer girar o motor manualmente) tentaram me impedir, mas logo os filhos das putas estavam atrás de mim, perguntando o que fariamos. É um estereótipo estúpido, todos eles com a mesma cara que a minha. Carecas com cara de retardado, nariz grande, voz grossa, babávamos enquanto falávamos. Babacas, não conseguiam pensar por si só. Bando de babacas.
No dia seguinte, nosso chefe nos perguntou o motivo da parada na furação. Eu fui claro:
- Choveu.
- Choveu? É isso que você tem a me dizer? CHOVEU O CARALHO! EU TRABALHEI NAQUELA CHUVA, VOCÊ, QUE É UM FILHO DA PUTA DE UM BÊBADO, NÃO PODE TRABALHAR?
- Choveu, o que eu posso fazer? Não posso mexer na máquina enquanto chove, você, que é o chefe, devia saber que o motor pode estragar com a água.
- ... - Os olhos dele estavam vermelhos da cor do inferno.
- Tá, quanto eu tenho que receber?
- Quanto tua mãe cobra? Tenho que pagar ela... - Ele sorriu. Eu também, gostei da insolência daquele gordo que fedia a couro suado. Cuspi na barriga dele e sai.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

À guerra

Até o barulho de uma manifestação se apaga se você abaixa a cabeça e ignora o que está acontecendo. O chuvisco não fazia nenhum efeito, nem os choros das mulheres sofrendo ao ver seus filhos sendo esbofeteados pelos policiais, nem as balas de borracha que zuniam pelo ar. Eu, sentado na praça, esperando o mundo acabar enquanto o mundo acabava em volta de mim, acendi um cigarro, abri uma garrafa de pinga e fiquei olhando para os vãos de terra entre as pedras do piso de cimento. Sempre me perguntei se os boxeadores choravam, eles apanham, apanham, apanham, devem chorar. Eu pensava, quando moleque, que eles choravam sempre, mas ninguém percebia, já que suas faces estavam sempre molhadas de suor. Era o suor com a lágrima, assim o lutador continuava imponente, forte, homem de verdade. Na praça, eu me sentia seguro, afinal, era a chuva que molhava meu rosto. Chuva e lágrima, assim eu continuava bêbado, chapado, um zé ninguém, um zero a esquerda.
Um tênis 46, ou maior, se é que existe pé maior que 46 tomou conta da terra que eu observava cautelosamente. Olhei para cima e vi um velho de aparência bastante saudável, muitíssimo mais saudável que eu. Vestia uma roupa de caminhar: tênis da Reebok, short azul marinho, regata branca e uma faixa de tenista na cabeça.
- O que foi, meu filho?
- Nada.
- De que lado você está?
- Lado nenhum. Estou do meu lado.
- Que bobeira, ninguém está sozinho.
- Eu estou sozinho e não dou a mínima.
- Vai prá guerra, filho, não fica de besteira ai. Apaga esse cigarro, joga fora essa pinga, vai tomar um rumo.
- Quem é você prá ficar me dando ordens? Cuida da tua vida, parece bem mais interessante.
- Eu sou seu pai, tenho o direito de opinar.
- Opine sobre a vida da tua mulher, que fica te corneando com o porteiro do prédio.
Ele se virou, sem falar nada, e continuou correndo. Velho idiota, acha que eu sou uma criança. Eu só era vago, pelo menos quando eu bebia. Eu só era um animal barulhento e arisco. Não queria uma mão para me acariciar, nem uma mão para me alimentar. Eu sabia me cuidar. Só cansei das mesmas lutas, das mesmas batalhas, do mesmo dia-a-dia. Não sou mais o esquerdóide que queria transformar o mundo em um lugar justo. Nem sou mais o direitóide revoltado com o governo de esquerda que tomou o poder e fez de gato e sapato o contribuinte. Não sou mais o torcedor fanático, nem o cristão fiel. Não sou mais o herói da família, muito menos o gênio. Sou o cara que senta na praça para ficar louco e chorar. Choro para caralho, não tenho vergonha disso. Tenho vergonha é de não saber mais amar a vida. Grande bosta a vida.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Natal

Mais um Natal. Eu odeio Natal, sempre odiei. Na verdade, quando moleque, eu gostava. Adorava a reunião de família, me dava bem com meus primos, éramos unidos. Eu gostava da Páscoa, lembro duma vez em que meus pais fizeram um rastro de patas de coelho para que eu e o meu irmão achassemos os ovos, uma espécie de caça ao tesouro. Enfim, não sei quando começou, mas hoje eu odeio o Natal, a Páscoa e todas as outras datas comemorativas.
Eu tinha vinte anos. Era 11h da manhã, véspera de Natal. Eu estava bêbado. Era normal eu estar bêbado nas vésperas. Véspera de amanhã, eu estava bêbado, e de depois de amanhã também. Na véspera de Natal acordei frustrado, me lamentando por não ter transado na noite anterior. Eu sempre transava, era um saco não transar. Aliás, minha vida se resumia em sexo. Houve um tempo que eu amava, mas passou, daí virou só putaria. Gosto da putaria. As minhas amigas temiam que eu me reapaixonasse quando eu beijei a minha ex-namorada. Eu também temia. Mas aconteceu nada mais nada menos que o desejo intenso de fazer sexo. Não é porque ela é ex que tive vontade de transar, é justo pelo motivo de eu só pensar em sexo. Bêbado e sexual, nada mais clichê, nada mais vulgar. Quem diria que o menino prodígio se tornaria um sujeito superficial?

segunda-feira, 29 de março de 2010

Elefante Branco

Do Dicionário Aurélio:
Elefante Branco: subst. masc. 1. Presente que, não sendo mau, dá muito trabalho, muita importunação. 2. Coisa de pouca ou nenhuma importância prática.

A expressão surgiu do Reino de Sião, onde hoje fica a Tailândia. Naquela época, os elefantes brancos eram animais raros e sagrados, então todo elefante branco encontrado era enviado para o rei. O rei, quando estava na vibe, presenteava alguns suditos com o animal. O súdito, fodido, não podia recusar o presente real e sagrado, então tinha que cuidar, alimentar, enfeitar e pentear o pequeno bicho. De quando em quando, o rei, filho da puta para caralho, visitava o seu súdito para ver como andava o presente. Elefante branco: um presente que não servia para absolutamente nada, exceto gasto de comida e tempo para alegrar um porco chuvinista que não tinha o que fazer.

domingo, 28 de março de 2010

Um começo cheio de explicações

Me chamo Thomas Verkitsch, O Elefante Branco. Ou Thomas Verkitsch, O Imperador de Esmolas. Ou Thomas Verkitsch, e qualquer adjetivo esdrúxulo.

Thomas Verkitsch é uma espécie de Máscara, ou até mesmo de Escudo. Arthur Schopenhauer dizia que os anônimos são, essencialmente, covardes. O escritor de verdade mostra a cara, grita alto para ser ouvido. Mas eu, escritor de mentira, acabei percebendo que o sujeito que mostra a cara está sujeito a tomar umas bofetadas nas bochechas que ficam vulneráveis aos leitores violentos. Esse é o meu maior desgosto pela escrita: os leitores. O Sol de todo escritor é o elogio, por mais simplório, de um texto que escreveu. Os leitores que reclamam são como espinhas no rosto, atrapalham, dão vontade de esconder. Como não podemos esconder os leitores, escondemos os textos.
Leitores são pessoas, tem sentimentos, acham que o texto sempre fala deles. Leitores são pessoas e tornam tudo muito pessoal. Não é que eu não goste de pessoas, só me sinto muito bem longe delas (imitando Henry Chinaski, personagem autobiográfico de Charles Bukowski).
Esse blog existe para eu pôr a boca no trombone. Falar todas as merdas e caralhos que eu quero falar, mas não posso. Eu quero é falar mais alto que todo mundo. Quero digitar todas as palavras que passam pela minha cabeça, não só as palavras que estão sujeitas a um moderador que descarta os palavrões, os comentários estúpidos e as reclamações claras sobre outras pessoas com que convivo. Esse é um blog para o leitor ler contos, não é um diário virtual.

Sejam bem vindos à esta merda, queridos leitores desconhecidos.