segunda-feira, 17 de maio de 2021

O álbum de fotos da morte do Sol

and we cried
over pyramids and castles
centuries of glooming monarchs spent to this overlapse of ruining democracy

and we cried
over sand pyramids and sand castles
stepped a bunch of times by older boys and sunken by the tide to be forever forgotten

and we cried
over thousands and millions of unknown lives
crushed by a billion years of destruction through this failed sense of evolution sponsored by our owners

and we cried
over our minutes passing by over and over
as we stand naked and perpetually immobilized carrying alone a ton of sorrow and shame

and we cried
over the pain and the jynx
licking our bruises as hungry stray dogs living in solitude forever searching its pack

and we've been spinning
laughing in circles and patting our hearts
as we manage to always forget todays to be allowed to live the moment in a minor sense of peace

cruisers of pasture rolling rubber above asphalt
climbers of trees sitting sixteen hours a day in uncomfortable chairs
evolution of the senses and the emotions and the language
leads us to tearing apart in anxiety or panic attacks

and we cried
to smile again

terça-feira, 4 de maio de 2021

Aquário

esse mundo impresso de impressões digitais
encosto no vidro meus dedos enrugados
sem saber se gostaria de deixar a minha impressão
ou se estou tentando limpar as impressões alheias
esfrego o dedo no vidro
que faz aquele barulho bem específico

bato a unha no vidro tentando chamar atenção
e dou um sorriso lembrando das placas
não bata no vidro
aqui o peixe pede a atenção

aqui vario nadar de 
cima a baixo
e baixo a cima
um lado a outro
ou de outro lado a um

impressão minha ou lá fora o mundo gira?
e só esse mundinho aquático fica estático
como o olho do furacão ou o centro do universo
o ponto focal onde efetivamente
nada acontece?

ou será que esse aquário gira também?
e toda essa turbulência é física em prática:
força centrífuga, centrípeta, gravidade, comorbidade, 
força de vontade, autopreservação, Newton e a maçã
matéria puxando matéria, empuxo me apertando de todos os lados

eu já vi o sol nascer tantas mas tantas vezes
quantas vezes mais pra eu me acostumar?
algumas belezas não são acostumáveis
quantas vezes percebi os detalhes da lua
ou o brilho intermitente das estrelas?

aqui é molhado e gelado
e lá fora tudo parece bonito
até que me tiram da água
e eu me debato sem ar

é muito estranho saber o seu lugar
e que não existe futuro, só passado
que se passou e continuou pra sempre
nesse mesmo eu que sigo sendo