segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Me ame!

- E... o que você acha do amor?
- Como assim?
- Qual a sua opinião sobre o amor?
- Não entendi. Qual é a sua opinião sobre o amor?
- Ai, deixa pra lá. Esquece.
- Vai, ouvindo a tua resposta, eu entendo a tua pergunta...
- O amor é complicado.
- Hm.
- Ele é complexo. Ora dói, ora cura, ora entristece, ora alegra. O amor constrói e destrói. O amor é o mais forte dos sentimentos.
- Maior que o medo?
- Acho que sim.
- Você já sentiu medo?
- Claro que já. Todo mundo já sentiu medo. Mas nem todo mundo sentiu o amor.
- Tem certeza?
- Tenho. Medo a gente tem todo dia. Amor, é coisa rara, única.
- Hm...
- Entendeu?
- Aham.
- O que você acha sobre o amor? - Ela virou o rosto para ele, deitando a cabeça nos ombros. Ele tira o cabelo dela que lhe encomoda a respiração. Ela vira os olhos para ele. Ela sorri.
- Não sei.
- Claro que sabe. Você sabe de tudo. - Ri.
- Eu não sei de nada! - Ele sorri.
- Fala!
- Eu não sei se você tá preparada pra ouvir o que eu penso sobre o amor.
- Nossa...
- É, tenho uma opinião meio ácida sobre ele. E não quero acidezes na minha cama. Não agora. - Olha para o teto e passa os dedos na orelha dela, tão levemente que ela estremece e todos os pêlos das costas se eriçam.
- Quero te conhecer por completo. Acho que mereço saber o que você pensa sobre mim.
- Penso que você é minha sorte.
- Não sou seu amor? - Ela levanta o corpo e olha para ele, sorrindo. Ele olha para ela, olha para o rádio relógio do criado mudo, 3:54, não se lembra se trancou o carro, mas a essa hora isso já não importa, ou não tanto quanto o amor.
- Ai, meu Deus...
- Fala!
- Eu não acredito em amor. - Ela apaga o sorriso, sem mover mais um músculo sequer, senão as sobrancelhas que sobem um pouco, muito pouco.
- Como assim não acredita em amor? - Ela senta na pélvis dele. Ele olha o corpo dela, pensa que deveria acreditar em amor, pelo menos para não perder a sorte. Ele não era feio, nem bonito, ela era uma delícia, era sorte.
- Ah, amor. Deixa quieto... outra hora a gente tem essa conversa...
- Você não acredita em amor e eu sou o seu amor? - Os olhos delas se abrem de espanto e aos poucos se umedecem. Ele percebe a cagada que fez, tenta puxá-la para uma abraço, mas ela desce da pélvis e se senta de pernas cruzadas, ao lado dele.
- O amor é que nem religião. Eu respeito todas as religiões e respeito todos os que amam. Eu não acredito em amor. O conceito de amor, de paixão, de felicidade a dois, se confundem, é tudo muito subjetivo. O amor não existe, são reações biológicas e psicológicas que acontecem no nosso corpo, que algumas pessoas tendem a crer que é amor. Pode ser alegria, pode ser satisfação, pode ser prazer, pode ser a mistura disso tudo.
- Você pode acreditar em Deus ou não acreditar em Deus, afinal é impossível provar que existe ou não existe um Deus. Mas o sentimento... todo mundo sente! Fome, você sente fome. É um sentimento. Você não pode dizer que não acredita na fome...
- A fome é clara. Você sabe o que a fome, eu sei o que é a fome, todos sentimos fome, pessoas morrem de fome. Não é um sentimento, é uma sensação.
- Amor, as pessoas sentem amor... - Ela já levantava a voz, apoiada nos joelhos. Ele estava sentado ao lado dela, costas apoiada nos travesseiros apoiados na cabeceira da cama.
- Algumas sentem, outras não. É difícil definir amor.
- Você nunca vai me amar, né? - Ela olha para baixo, começa a chorar. Ele tem a impressão que ela está olhando para o pênis dele, mas não passa de uma impressão (que infelizmente o excita, ele sente vergonha dessa excitação).
- Não...
- Eu não posso amar alguém que não pode amar. Você acabou com toda a minha segurança!
- Não posso amar, mas isso não significa que eu não sinta!
- Amor? - Olhou para ele, o rosto vermelho.
- Sentimentos, todos eles. Você me faz feliz!
- Amor, quero saber de amor!
- É claro que não posso sentir amor. Eu nem sei o que é amor. Provavelmente eu sinta todo dia, quando o cachorro me acorda de manhã, ou quando minha mãe me liga pra dizer que sente saudades, ou quando eu te vejo entrar no carro e tua saia levanta um pouquinho. - Ele fala sorrindo.
- ISSO NÃO É AMOR! - Sai da cama, pega a calça do chão, a blusa da cadeira. Não consegue encontrar o sutien e a calcinha. Ele não sabe o que fazer. Ela entra no banheiro e bate a porta. Ele ouve ela chorar alto, como se o mundo tivesse acabado. O chuveiro liga.
- Provavelmente isso é amor... - Ele fala pra si mesmo e acende um cigarro; apaga a luz e se concentra na brasa que estala enquanto ele aspira a fumaça...