sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A Luta

Sempre sonho com ela. Me sinto o maior dos idiotas, quando a ereção pós despertar se acaba. Vou almoçar infeliz. O almoço é sempre infeliz. Fico fingindo que não senti nada, nem sequer uma ereção.

Dessa última vez, estávamos no meu antigo colégio, eu, ela, mais uns amigos. Nós todos discutíamos o significado da palavra kampf, que eu dizia que deveria ser alemão, ela, francês. Mas não tem nada a ver com francês. Ela tira o iPhone branco de capa colorida e começa a procurar num aplicativo qualquer o que a palavra significava. Não era francês. Era óbvio que não era francês. Mas ela teimava. Nos meus sonhos, as ereções sempre vem de cenas óbvias de relação sexual, e por relação sexual digo uma foda épica ou um simples beijo na boca. Nesse sonho ela vestia um short e nossas pernas meio entrelaçadas enquanto apoiávamos nossos cotovelos numa espécie de palco alto, que nos batia na altura do peito. Minha perna direita entre as duas dela. As pernas dela com pelos ralos, das coxas ao tornozelos. Minhas pernas, também, mas com eles um pouco mais compridos e grossos. Eu não gosto de pelos. Então podemos classificar a perna dela como peluda. Mas isso é coisa de definição estética, de que as mulheres precisam de pernas lisas e axilas lisas e buços lisos. Penso que devem ter tudo liso. Nossas pernas entrelaçadas e ela procurando a porra da kampf naquele aplicativo que de repente se torna mágico. Ela se desata a escrever e tudo que ela escreve segue em uma linha única e infinita, enquanto a tela muda de cor e imagens de sóis e luas e cavalos trotantes e praias e flores se envolvem e desenvolvem num ritmo tão rápido quanto a digitação dela. O sonho se tornou aquela longa linha. O que era a tela do iPhone se tornou toda a minha visão e as imagens pulsando nos meus olhos enquanto as palavras se formavam tão rapidamente quanto a minha respiração ofegante.

Acordei frustrado, pois a ereção vinha do toque das nossas pernas de pelos curtos, a dela peluda, a minha depilada. No almoço, infeliz. Na internet, kampf era alemão, luta.

Devia ter fingido que não senti nada.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Universo

meu universo está nos teus passos
tua saia sobe
e desce
sem me mostrar nada
mas me deixa com sede
com fome
com vida
e eu te sigo
silenciosamente
esperando o vento
ou um degrau
ou qualquer suspiro que
transforme
quem
eu
sou.

Beleza

gostava mais quando era ninfeta
mas isso é porque sou doente

domingo, 20 de janeiro de 2013

O poeta agnóstico e seu temor pelo Criador do Universo


e se eu pudesse escreveria todos os meus poemas
que tenho pra escrever pra você
e o mundo inteiro saberia
que amo todos os centímetros da tua epiderme
que teu cheiro me exalta
e tua boca me excita

mas não posso

este poeta se fecha para o mundo
não com o medo do amor
como outrora
pois o poeta que é poeta está sempre enamorado
seja por todas as pernas que aparecem sob vestidos e shorts curtos
ou os decotes que mostram o coração e a alma
ou o movimento chicoteante dos cabelos das que andam contra o vento
ou o simples voo de um pássaro
o mio de um gato
a beleza duma flor

o poeta ama o mundo em toda a sua desgraça
pois Deus lhe fez assim
inocente de amor
e cretino o suficiente para amar tudo o que puder
o amor do mundo

me fecho com medo do Criador
que levanto bandeiras de não sua inexistência
mas da minha independência Dele
e se existe ou não
não faz parte do meu discurso
pois o poeta teme que Deus não se sinta confortável
com que Ele não seja necessitado

então o poeta não escreve mais
já que não quer que Deus ouça seus suspiros
suas dores
seus amores
e todas as divagações
boas ou más
que se passam dentro desse cérebro

se soubesse quanto te amo
e se eu pudesse largar todo esse amor
pelos meus dedos
e imprimí-los nesta tela
esvaziando meu coração desses planos que dificilmente se tornarão realidade
você fugiria de mim
e eu ficaria sozinho de novo

só com Deus

rindo de mim

e da minha solidão