segunda-feira, 29 de abril de 2019

O precipício do terceiro andar

tempo
de novo
girando
e dando voltas
no mesmo
derreter
sempre
passo a passo
mesmas palavras
vício contínuo
interminável
eternidade
em ciclo
a mesma coisa
tudo de novo

caio como moeda
e quico
e giro
e perco valor
valendo sempre
a mesma migalha

imperador disso aqui
o trocado no bolso da carteira
que existe só pra ajudar
quem vive nas ruas
quem se droga nas calçadas
quem tem troco ruim
ajudar e nada mais

e numa torre de migalhas
a gente salva o mundo
transformando um passado cruel
em futuro utópico

distopia grave
o meu Brasil implodindo
minha terra tem terra
e terra custa e terra vale
e de migalhas em migalhas
quico em moedas duras
que me marcam o corpo magro

migalhas e um futuro vazio
meu estômago cheio de histórias obscuras
e arroto bem grave os absurdos de existir

caindo espero o tempo acabar
o infinito mede as profundidades dos meus vazios
de escada e trena caio e treino
treino pra cair de novo

gravidade
mais forte
sempre casada
com minhas pálpebras
cansadas

escrevo em rascunho
o meu papel aqui dentro
e o rascunho virou lixo
junto com o meu contrato
vitalício

vivo e respiro
trocas gasosas
a todo vapor
e a pele quente
borbulhando gotas de amor