sábado, 24 de dezembro de 2011

2012

é natal.
e a porra do teclado preto,
das teclas brancas
me diz que foda-se o natal.
é natal.
e ano novo também.
e amanhã é amanhã.
foda-se se é 2011 ou 2012.

é natal.
porra, muita merda aconteceu nesse ultimo ano.
muita merda aconteceu nesses ultimos anos.
e, acontece, é ano novo também.

e seja feliz quem
souber botar a cabeça no lugar
e conseguir manter a paciencia
e não ligar pros erros ortográficos.

a vida corre de mim.

a vida corre de nós.

sorrimos.
flash.
largamos os músculos soltos.
outra foto.
sorrimos.
flash.
ah... outro gole.

os valores estão completamente invertidos.
venera-se quem acha linda a traseira da mulher.
porra, é linda a bunda duma mulher.
mas isso não é valor.

valor.
que porra é essa?

a gente acha que se trata de dinheiro.

ou de conduta.

ou de humanidade.

... humanidade.

a gente esquece o que é a humanidade.

os valores se corromperam num orgulho esdruxulo do amor à bunda.
esse é o Brasil.
À BUNDA E AVANTE!

porra...
tem tanta coisa mais importante que a bunda...
o peito...
a barriga...
o cérebro...
a corrupção...
a privatização...

bunda
bunda
bunda
bunda.

liberdade.
ninguém não tá nem aí pra liberdade.
ou pro saneamento básico.
ou pra esperança dos carentes.

ninguém
é
humano.

vivem de preconceito.

é preto
é branco
é gay...

é bixa...

foda-se...

acabou...
tudo bixa...
querem dar...
dar pra quem quer comer...

e
o mundo já
cabou.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Castidade

De repente estou com a mesma cara que o Elefante do blog. Essa cara apática e estúpida. Me sinto como se saísse dum convento, com uma visão de mundo estranhamente pura e lindamente positivista. Enquanto o resto do mundo continua a ser o que sempre foi. As pessoas não estão dispostas a amar ou perdoar ou essas coisas que tangem os âmbitos das religiões. Estão mais interessadas em, afogadas em completo egoísmo, viver a vida. Eu também tive meus tempos de sonhos grandes, de egoísmos justificáveis, de pequenas maldades divertidas.
Olho para os outros e me pergunto como a sociedade consegue seguir esse ritmo violento de caça-caçador, onde ainda vence o mais forte. Estamos todos bem, sorrindo das nossas vidas contentes e das inteligências inferiores às nossas. Julga-se muito. E eu, a nova freira, fico com a sensação que isso tudo é sujo, que toda atitude tomada resulta em algo ou alguém prejudicado, mas não estamos preocupados com isso. Estamos preocupados com o que é amor? e com o que é ódio?
A resposta nunca importa. Aliás, nada importa, nessa passagem rápida pela Terra.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O músico

larará
larará
era uma vez
um escritor
que sentado
esperava o fim do mundo

lararará
lararará
o escritor amava música
mas não sabia cantar
e nem tinha ritmo pra batucar
tu-tu-tum-pá

gemia notas suaves
que só seus ouvidos ouviam
de suas narinas
o som anasalado
saia acanhado

hmmmm, mmm, mmmm.
hum, hm, mm.
hm, mmmmm. mmm, hmmm.

e quando alguém chegava perto
o escritor fazia silêncio
e esperava a solidão
hmmm. larará larará. hm m mmm hm. pararárarará.

o mundo não vai acabar
e logo o carros vão voar
e os robôs vão dominar o mundo
os humanos serão recicláveis
o amor morre
e fica a produtividade

quem dera terminasse agora
no auge da felicidade.

domingo, 27 de novembro de 2011

Bloco de Notas

abri o bloco de notas
isso nunca acontece
eu, geralmente, abro o blog
e vomito.

abri o bloco de notas
e olhei a tela branca
e meus dentes doem
e eu não consigo entender as coisas

eu me animo a escrever uma poesia
e começo
do jeito que está
mas logo desanimo

eu sei que não ia dar certo escrever uma prosa
um conto
sei lá
vai poesia

e sobre o que a gente vai escrever hoje?
qualquer coisa
já que não escrevemos há dias
sobreviver tem sido fácil demais

escrevo quando me dói o peito
e eu cheguei num estágio da vida
em que eu não me importo com absolutamente nada
estou seguro

então eu não preciso escrever
estou livre das dores
e dos amores
estou livre pra viver

as mulheres estão interessadas nas aparências
e eu não estou interessado em me barbear
as pessoas estão se tornando cada vez mais ignorantes
e eu não suporto ignorância

o tempo está passando
e eu não estou dando a mínima ao Sol se pondo ou nascendo
a vida está me largando pra trás
e eu deito na minha cama e me sinto estranhamente bem

eu estive sozinho
e temi a solidão
como uma criança teme o bicho papão
mas a solidão não existe

os seres humanos não se completam
eles se adicionam
e eu estou satisfeito com a minha matemática
pelo menos me vi obrigado a estar

ninguém está se importando
com o que se passa por aqui,
ou com outras coisas mais importantes do que aqui,
estão atentos à desgraça e às falhas alheias

a vida
de repente
se mostrou boa à mim
que ironia

acho que entendeu que não estava de brincadeira
e que a qualquer momento
eu estaria de corpo vazio de alma
e três ou quatro pessoas sentiriam a minha falta

a gente esquece quão importante elas são
e elas esquecem quão importantes nós somos
então elas vivem sem nós
e nós vivemos sem elas

tudo lindo demais
e fácil demais
e rápido demais
não estou sozinho

só um pouco vazio
de esperança
e de importância
cheio de sorte

ninguém quer saber se estou bem
e eu não quero saber se estão bem
estou preocupado com coisas importantes
como a verdade e a mentira e o amor e a justiça

o mundo acaba
e eu quero morrer
mas eu não morro
eu não preciso morrer

eu preciso levantar
e tomar banho
e escovar os dentes
e viver

sábado, 19 de novembro de 2011

Dicotomia

O mundo está perdido. Estamos afogados em 7 bilhões de seres humanos ignorantes e inconsciêntes. As pessoas são más e cruéis umas com as outras. Vence o mais forte e a máxima ainda é Olho por olho, dente por dente. Não nos deixam nos unir. Sempre o bem e o mal nos puxam em seu favor. Nós achamos que há bem e mal. Mal do cérebro, achar dicotomia em tudo. Bem versus Mal, Certo versus Errado, Bonito versus Feio. Quando na verdade estamos dançando sobre um tapete em que entidades nos puxam para os lados. Hoje não há certo e errado. Hoje existem pessoas que se beneficiam com um lado e pessoas que se beneficiam com o outro lado. E essas pessoas estão dispostas a vender o seu peixe com todas as suas ferramentas. E você está lá, escolhendo ser sempre bom, quando, na realidade, você está sendo mau. Realmente mau e cruel, supondo que a sociedade toda deveria acatar o seu lado do bem. Nós somos o 99%, dizia o Occupy Wall Street. E o 1% puxa o nosso tapete, fazendo com que busquemos a nossa verdade. Seja em nome de princípios econômicos, principios sociais ou principios religiosos. A verdade é que não há uma dicotomia. Somos 7 bilhões de ignorantes buscando uma vida melhor.

Futuro do pretérito

Sentados no carro, ainda meio bêbados. Radiohead nadando no ar úmido da nossa hora juntos, ali dentro. A luz alaranjada lá fora, dos postes, e a azul dentro, do som. A gente se beija e sorri. Eu pergunto a ela se sobriveremos, mesmo comigo indo embora para todo o sempre.

"Não sei. Tomara que sim. E se não sobrevivermos, que nosso amor seja que nem dos meus pais, que foi o suficiente pra fazer duas filhas pra depois acabar."

Eu queria ser pai. Eu estava feliz.
Mas a gente morreu.

sábado, 5 de novembro de 2011

Segunda feira

a gente acaba se acostumando com o fracasso
e com a solidão
e com a tristeza
é tão fácil esquecer que existe um mundo lá fora
enquanto aqui dentro o ódio acaba corroendo nosso peito vazio
a gente escolhe o vazio
mas nunca estamos sozinhos
existem boas pessoas
e existe a esperança
e a porra do amor

acredite
há amor

o mundo ainda não acabou
e ainda tem tempo pra ele acabar
só nos resta saber se vamos perder esse tempo chorando nossas mágoas
e nos odiando a cada vez que respiramos fumaça

basta acordar
e tomar um banho quente
e pensar que toda essa bosta
não é tão ruim assim

estamos vivos
e acho que isso
e só isso
é importante

a vida pode ser difícil
mas pode ser mais difícil se escolhermos não sorrir
sorrir faz bem
eu gosto de sorrir
eu gosto de fazer os outros sorrirem
eu sou um fracasso
mas estou vivo

acredite
é isso que importa

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Som da solidão

O motor do ônibus.
Está frio e as luzes do veículo já estão apagadas.
O cobrador está tentando dormir.
O motorista guia, seguindo um fluxo de circulação.
Sempre pelo mesmo caminho alaranjado iluminado pelos postes de luz.
O ônibus como uma partícula amarela na corrente sanguínea da cidade.
Ninguém sabe que você está ali.
E ninguém sabe o que você está fazendo.
E ninguém sabe o que você está pensando.
Talvez você não exista mais.
Possivelmente engolido pela escuridão.
O motor do ônibus vibrando seus tímpanos e sua caixa toráxica.
De vez em quando o freio apita agudo, bem distante.
E só se ouve o motor
Enquanto o ônibus
Te leva
Pra algum
Lugar.

sábado, 15 de outubro de 2011

Chuva

eu simplesmente odeio chuva
o céu escuro
e todas as calçadas e ruas molhadas
com toda aquela água pronta para molhar suas calças e seus tênis e suas meias
a gente fica com preguiça de sair
e parece que tudo é melancólico

chuva realmente me deprime
e ainda há quem diga que a chuva lava a alma
chuva me suja a alma
me suja as roupas
me suja o ânimo

a alma, eu lavo com boas ações
com boas conversas
com bons sorrisos
a alma não é difícil lavar
nem é difícil sujar
basta um olhar torto
ou um elogio
ou a chuva
ou o Sol

basta um nada
e a alma
está bem

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Palhaço

eu penso como são lindo os olhos dela
mas não lhe digo nada
pois eu prefiro rir da minha cara de palhaço
ou rir das caras de palhaço das pessoas
eu prefiro rir
ela ri comigo
mas eu queria lhe dizer dos olhos

e de repente
eu estou tão próximo
e enquanto nós riamos dos palhaços
ela fecha os olhos
eu consigo sentir seus lábios macios

nunca falei
dos olhos

belos olhos

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Divórcio

e eu saio dessa de cabeça erguida
afinal
será que nos teus braços seguros
eu estaria seguro?

com a felicidade de um homem livre
eu desisto de você
de novo
e você sorri

eu precisei de você,
e o teu conforto,
no meu quarto escuro,
me enganou tão bem

me segura
para todo o sempre
e me esmaga
sobre a tua pele quente

a gente se engana
ao se olhar no espelho
e fingir que está apaixonado
quando
tudo
acabou
faz tempo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Escuridão

Acordei assustado. Eu não me acostumava nunca com os tiros. Quase quinze anos, acordando todas as noites. Tiros. Tiros. Tiros. De vez em quando alguém gritava. Eu odiava a noite. A gente tinha que dormir, mas não conseguia. Ouvia-se tiros e já corria-se atrás da AK. Porra, eu dei sorte na vida. Não é qualquer nego que têm AK-47 e pode dormir numa cama com colchão. Muita gente se protege com algum Santo. Uma imagem de Santo Antônio, São Jorge, Santa Sara, Santa Maria, uns Santos que a gente nem sabe nome. Daí tem os Orixás, Oxalá, Oxossi, Xangô, Ogum, uns Orixás que a gente nem sabe que existe. As pessoas se protegem como podem. Minha santa é a AK, que a gente comprou pra defender a favela. Que merda, eu odeio violência, mas como a gente pode viver, senão com a violência? Então os tiros batem nas paredes e a gente levanta correndo, naquela escuridão, saindo de um sonho decente. A gente não vive vida decente, só sonho decente. Esses dias sonhei que tava comendo um doce tão bonito, numa rua bonita, com gente bonita, minha roupa era bonita. Daí eu ouvi um tiro e levantei. Nada aqui é bonito. Nem fé, nem Deus, nem religião. É tudo escuro, de noite.
Certa vez, um politico veio vender uma favela melhor. E o povo, ignorante, votou tudo nele. O povo têm fé. E Jesus, pendurado sobre a porta do barraco, sofria pelos moradores. O filho da mãe prometeu casas novas e um esgoto, luz pra esse povo amaldiçoado. Então ganhou os votos e se elegeu. Fez tanta coisa boa. Deve ter feito. Eu teria feito. Queria ser deputado, senador, presidente, e comer um doce bonito, numa rua bonita, com gente bonita. Ele deve ter feito isso. Gastou bem o dinheiro do povo, com um doce. Se fosse só com doce...
Daí atiraram. Quebrou minha janela e eu acordei puto. Saí do barraco e fui atrás do corno que me abriu a janela. Eu estava tão furioso e meu sangue pulsava e eu carregava aquela arma, só vestido de calças, com os pés descalços, sentindo toda a merda da comunidade entrando nos meus dedos enquanto eu descia o morro.
Quando eu me vejo, estou na frente de um prédio: SAI DESSA PORRA! SAI DESSA PORRA AGORA! E o porteiro foge correndo e eu atiro na perna dele. FILHO DA PUTA! EU NÃO QUERO TE MACHUCAR! MAS EU SEI QUE VAI DAR MERDA! CALA A BOCA E FICA NO CHÃO! VOCÊ NÃO VAI MORRER! E eu já tava no elevador. Que cheiro horrível. Cheiro de merda. Como esses burgueses conseguem subir e descer no meio desse merdaral? O elevador abre, eu olho meus pés e eu tenho merda nas minhas unhas. Sou eu que estou fedendo. Toco a campanhia do 21. E ninguém atende. E eu toco de novo, uma, duas, sei lá, toco e ninguém atende e eu estou puto. Abriram a porra da minha janela e eu tava sonhando. AAAAAH, ABRE ESSA PORRA! E eu atiro na porta, algumas vezes. Quebro tudo e entro lá. As luzes apagadas. O tal do político que a gente votou entra na sala, chorando: Por favor, eu tenho filhos! E as crianças e a mulher soluçavam no quarto, dava pra ouvir. A polícia já estava lá embaixo. Porra, tudo isso por causa de uma janela. Me diz uma coisa: você gosta de doce? Ele está confuso, está tudo escuro. ME RESPONDE! VOCÊ GOSTA DE DOCE? Ele chora e diz Mas que doce? Por favor! Eu te dou tudo o que eu tenho! E eu começo a rir. Porra, tudo o que você tem? Então eu sou o novo ganhador da Mega-Sena. Finalmente a sorte grande. Dou-lhe dois tiros, mas está tudo escuro e eu não sei se acertei. Então começo a atirar pra todos os lados e as crianças e a mulher grita tão alto. Que cheiro de merda que tá isso aqui. Abro a geladeira e lá dentro tem bolo de chocolate! Cara, que delícia.
Os policias entram no apartamento gritando, eu no chão do corredor, fora do apartamento, comendo bolo, sem ninguém me ver. Porra, como é bom ser preto, ninguém tá me vendo, bando de otários. As portas dos apartamentos se abrem e tá o Brasil inteiro naquele corredor. Ninguém me vê. Pego as escadas, desco até a garagem. De lá é fácil, pulo pro mato que tem do lado e quando vejo, estou na minha cama, cheia de cacos de vidro. Está tão escuro e eu não sei onde eu posso pisar. Que merda de noite.

sábado, 3 de setembro de 2011

Herói

Minhas mãos eram pequenas. Tão pequenas que cabiam dentro de copos de geléia. Eu vestia esses copos no punho e saia a defender o mundo. Um herói de luvas de copo. O Super Geléia da Turma da Mônica.
Eu era pequeno e assistia televisão. Estava quente e os mosquitos tentavam me devorar vivo, eu odeio mosquitos. Passava muito das duas horas da madrugada. Eu sempre ficava acordado até tarde, pois tinha medo de dormir sozinho, naquele lugar que eu mal conhecia. E meu tio apareceu de cueca branca na sala. A cueca suja, um pingo de mijo. Ele não gostava de mim, eu tinha medo dele. Tinha uma barriga redonda e um rosto redondo e mãos enormes e redondas, se não me engano os pés também eram redondos. Ele sempre estava acompanhado de um copo de geléia, mas ao invés de estarem cheios com meus punhos, tinham cerveja. Estava sempre bêbado e peidava alto, coçava a bunda e os pentelhos dele apareciam. Seus olhos eram vazios e ele ria com os filhos. Eles o amavam. Eu tinha medo, um pouco de nojo.
Todas as noites, os mendigos batiam palmas e pediam comida. Morava em um bairro barra pesada e a gente não podia andar sossegado na rua, pelo menos é o que diziam meus primos. Eu não entendia o que era esse negócio de barra pesada, pra mim, era só mais um bairro qualquer. De vez em quando, ele dava comida aos mendigos e eles respondiam: Deus lhe abençoe, Tio. Eu não acreditava em Deus e não gostava dessa atitude, eu odiava aqueles maltrapilhos e achava que eles eram amigos do Homem do Saco, quando esses mendigos carregavam sacos, eu saia correndo e me escondia dentro da casa. Nunca falaram nada comigo. Quando meu tio não lhes dava comida, os mendigos ficavam violentos e diziam: Vá a merda, filho duma puta! E a gente costumava voltar a ver tv e o meu tio e meus primos voltavam a rir.
Certa vez, um dos mendigos não se contentou em mandar meu tio à merda. Entrou na casa e resolveu que queria brigar. Eu queria correr pro quarto, mas meus primos gostaram da movimentação e queriam assistir aquilo bem de perto. Meu tio foi educado, pôs a mão no ombro do velho e pediu pra que saisse da casa. Ele respondeu com uma joelhada na barriga redonda. O tio não sentiu nada, pois aquela camada de gordura alcoólica o protegia, levou o copo de geléia cheio de cerveja até o rosto do mendigo. E o copo quebrou e havia sangue e cerveja e cacos de vidro por todo lado. O mendigo saiu correndo e ficamos olhando uns para o outro com cara de assustados. Meu primo começou a rir e meu tio disse: Cuidado pra não pisarem nos cacos. Vistam seus chinelos, não quero ninguém cortado.
Olhei o meu copo de geléia, vazio de cerveja ou mãos ou qualquer coisa senão ar, levei-o até a cozinha, desviando dos cacos, e larguei ele na pia. Nunca mais os vesti. Não sou mais herói.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Mais um emprego

Houve uma época em que eu morava no centro da cidade em uma espécie de hostel para mendigos. Era um imóvel histórico, da época de muito tempo atrás, mas estava caindo aos pedaços e a fiação só dava problema e a descarga da privada estourava num dos quartos, de vez em quando, enchendo o quarto de merda e mijo e água e morte. Era um bom lugar, custava-me 20 reais a semana e eu tinha um quarto só para mim. Existiam quartos mais baratos, mas mais lotados e fedorentos. Infelizmente, a casa sempre fedia à maconha e toda hora ratos atravessavam a sala de tv (que não tinha tv, apenas 3 sofás mofados) e gatos corriam atrás dos ratos. Não era tão ruim, pois gosto de gatos.

Nessa época, estava trabalhando em uma empresa terceirizada à prefeitura, que fazia recapeamento asfáltico. Era um bom trabalho. Ou quase isso. Éramos em 4 caras, todos em silêncio e fazendo seus trabalhos sem encher uns aos outros, isso era bom. Normalmente os crioulos (sempre trabalhei com negros, crioulos e mulatos) eram preconceituosos com a minha pele escrotamente branca. Eu tentava entrar na brincadeira, mas eu era branco e eles não gostavam que eu brincasse com a cor deles, então eu ficava na minha. As leis referentes ao preconceito são completamente unilaterais, protegendo os negros e incitando-os a odiar cada vez mais os brancos. Enfim, os caras do asfalto eram gente boíssimas e não falavam muito.
O trabalho consistia em espalhar o carvão nos buracos e depois vazar aquele piche grosso sobre os pedregulhos que preenchiam o buraco. Um cara vinha com o rolo compactador e atropelava aquela merda toda. Acredito que não era um emprego muito saudável, mas eu precisava viver. Que curioso, quase morrer para viver. O pior dos trabalhos era mexer com o alcatrão ainda líquido. Aquele petróleo quente e fedorento pegava fogo constantemente e a única coisa que você podia fazer era apagar aquilo com a mão (com luvas grossas, obviamente) e torcer pra que nada exploda. O cheiro daquele óleo já era ruim, mas quando pegava fogo, eu podia sentir o meu pulmão virando cinza. Eu sentia que estava fumando 2 maços de cigarro em uma única tragada, só que todos esses cigarros tinham plástico e óleo e querosene e gasolina e petróleo e tudo isso e eu tragava e sentia que ia morrer.
Certo dia, tivemos que recapear o asfalto da frente de uma escola. E eu estava no alcatrão. Aquele piche começou a pegar fogo direto na boca da torneira do tanque e eu estava acostumado com essas merdas diárias. Quando me dei conta, vinte criancinhas de sei lá quantos anos me gritavam: Tio, tá pegando fogo! E elas estavam em pânico. De repente eu também estava com medo e eu não conseguia apagar o fogo. Corri dentro do caminhão e usei o extintor. Os outros 4 crioulos me olharam torto, o mais alto deles disse: Tá, vamos embora. O branquelo fodeu com o piche.
Antes que me demitissem, pedi demissão. Gastei o resto da grana com pinga e tive que mudar para um dos quartos cheios. 9 maltrapilhos fedorentos, 4 reais a semana, a cama do rato era embaixo da minha cama, a do gato era a minha cama. Todos roncavam e os animais não deixavam um ou outro dormir. Eu precisava de um emprego, aquilo não era vida.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Vida, morte e filosofia barata

queria fazer tanta coisa
conhecer o mundo
conhecer gente nova
conhecer música nova

eu não sou curioso
mas não sou acomodado
gosto do diferente
e odeio o meu mundo

as pessoas são muito parecidas
todas com seus defeitos
e suas manias
e seu jeito estranho de ferir umas as outras

e eu sempre estou buscando pessoas melhores
mas elas não existem
e eu procuro mais
mas eu estou sozinho

eu estou vivo
isso tem importado muito, ultimamente
e eu não me cansei de procurar
mas tenho medo de cansar

eu quero acreditar na bondade
e no amor
e nas coisas bonitas que os hippies vendiam
mas só vejo produtos caros e mulheres vazias e a morte sondando com cara de cu

a vida não tem me tratado tão bem
e eu procuro rasgar umas lágrimas do meu olho
mas eu nunca choro
e eu acordo outra vez e bato mais uma punheta

acordar é muito difícil
é quando eu vejo que nada é como eu espero
a vida é bela
e eu não sei bem do que eu reclamo

e as minhas meias sujas estão espalhadas pelo quarto
e eu tenho umas duas cuecas limpas
e eu já não ligo mais pra mancha de vinho na camiseta
ou do rasgo ridículo na minha calça

tenho pensado em coisas mais importantes que meu sorriso
e meu cabelo
e a porra seca na minha bermuda preta
eu ainda estou vivo

e quase sempre eu preferia ser normal
e não pensar tanto
e gostar de todo mundo
e de todas as músicas

mas eu nunca me contento com tudo isso
acho que só eu estou vivo

sábado, 27 de agosto de 2011

Sociedade, solidão e um tiro no peito

Eu fui cagado no mundo, certa vez. E fui educado a andar, a falar, a estudar e ser um bom menino. E eu aprendi a andar, a falar e a estudar. Sempre, ou quase sempre, fui um bom menino. No meu berço, ser bom menino é se conectar com Deus, de certa forma. Não me ensinaram nenhum conteúdo religioso, pois meus pais não eram religiosos quando me tiveram. Mas de certo modo, todo meu ensinamento está baseado em todas as religiões. E eu sempre achei que eles foram bons pais, relativamente bons pais, considerando os altos e baixos e os problemas familiares que passaram destruindo nossa felicidade ao longo dos anos. Hoje ainda são bons pais e ainda me ensinam a ser um bom menino. Eu não sou mais menino. E acho que ainda sou bom, um pouco bom, pelo menos. Eu me preocupo muito com a sociedade. Eu sou um cara que gosta de caridade. Eu sofro pelos fracos e oprimidos. Mas a sociedade não se preocupa comigo. Eu sou carente, fraco e oprimido. E ninguém vai me dar um casaco de lã, só pela minha cara de filho da puta coitado. A sociedade não faz ideia que eu sou mais um fodido. Acham que sou um veadinho com cara de criança, mais um playboy óbvio que gosta de coisas entrando no cu. Eu não sou veado, muito menos playboy. Eu, provavelmente, vou morrer sem sentir o gosto de uma pica. Eu não tenho orgulho disso. Só acho que posso deixar isso claro, nesse texto.
Eu sou um bom menino e dou mais retorno à sociedade que a maioria das pessoas que escolhe se embriagar e se prostituir a troco de nada e que vive para foder com a mentalidade das outras pessoas. Todo o mundo se converteu em algo que eu não consegui acompanhar: uma espécie de anti-religião e bons costumes. Somos todos ateus e nos comprometemos a nos defender dos nossos inimigos, das ofensas alheias, dos nossos professores e pais, dos nossos amigos e dos nossos amores.
Eu não sei onde o trem social me largou. Agora vejo que todo mundo está lá na frente, esfregando suas línguas umas nas outras com a maior naturalidade do mundo. E todos estão tão sozinhos quanto eu, mas ninguém se dá ao luxo de se perguntar o que eu não me canso de perguntar: Eu vou morrer sozinho?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Platão

Aos poucos ela ia deixando de ser uma memória e ia se transformando numa entidade sentimental. O meu coração, virgem de amor ou sofrimento ou vivência em qualquer quesito referente à experiência, batia forte quando eu pensava na pele branca e quente dela. Mas eu ia, pouco a pouco, esquecendo que ela sorria e sentia e vivia e que ela era um ser humano como muita gente que atravessa as ruas escuras da cidade. Me lembrava dos nossos beijos com cheiro de sexo e do nosso sexo com cheiro de beijo.
Ela havia se tornado uma entidade e meu peito disparava ao lembrar dos nossos momentos no quarto escuro. E de repente eu estava inventando diálogos e situações e lugares. Na minha cabeça, ela me amava, assim como eu a amava. Uma entidade criada por mim. Mais uma personagem que saia da minha imaginação e nós nos amávamos mais do que qualquer casal já se amou e nosso sexo era melhor que qualquer um podia tentar fazer.
Ela não era mais um ser humano que eu esbarrava nas esquinas e nas praças, agora ela era eu, a minha melhor parte. E ia deixando de existir como pessoa para existir como ideal.

Ontem a noite, ela me ligou: Thomas, faz tanto tempo que não nos vemos! Vamos nos encontrar? Ela parecia feliz e eu fiquei tentado em vê-la, mas eu não sabia como dizer a ela que eu amava outra. Eu estava completamente apaixonado por ela, mas a que morava dentro de mim, não a que estava do outro lado da linha telefônica. Então lhe disse que tinha compromissos e que o futuro reservava um Thomas ocupadíssimo. Ela não respondeu triste, nem feliz, nem indiferente. Olhei para ela, a minha ela, sorri e disse: Ninguém vai ficar entre nós, meu amor.
Fechei os olhos e nos beijávamos sob uma árvore, perto de um lago, longe de tudo.

sábado, 20 de agosto de 2011

Um último suspiro

Já escrevi algumas vezes que algo morreu dentro de mim, há muito tempo. E eu vivo como um zumbi, literalmente, mas sem comer cérebro de ninguém. Ando morto pelas ruas e deito morto na minha cama e espero o dia que eu realmente morra por completo. As vezes me sinto especial, um jeito horrível de pessoa especial. O tipo que está morto enquanto a sociedade vive e come e engorda e transa e ama todos os dias. Enquanto eu estou morto e morando no meio de toda essa vida. Mas eu sei que todo mundo morreu há muito tempo. Algumas pessoas são tão vivas e tão felizes que parece que algo está errado. Elas encontraram a vida e elas são realmente especiais.
Eu morri há muito tempo. E dias atrás, eu vivi durante longas horas. Respirei e senti e eu sabia que estava vivo. Viver é a pior desgraça que pode acontecer com um homem de mente fraca, como eu. Era tão bom e eu me senti tão vivo. E eu sabia que logo ia morrer novamente. Ninguém vive por muito tempo. As coisas são rápidas demais e não dá tempo nem de a gente pensar. Nós estamos presos numa gaiola enquanto Deus se diverte com os nossos altos e baixos. Ou melhor, nosso alto e a nossa rotina. E eu morri. De novo. Apodrecendo e fedendo e perguntando qual é a vantagem de viver, senão querer viver mais e querer sentir mais e querer ser feliz. Eu me sinto viciado e só quero viver. E a sapiência, que há muito não dava ares da sua existência dentro da minha cabeça morta e cansada, me disse: "Você está triste, pois sentiu que ainda está vivo. Você sentiu que ainda pode amar e sentir alguma coisa." E dos meus olhos, lágrimas pesadas e salgadas, parecendo um oceano vertical e tão claro quanto a água mais limpa e mais pura, rolavam nas minhas bochechas magras e se depositavam nos cantos da minha boca vazia e carente. Eu vivi. E morri. E não consigo acordar e ver algum sentido na vida, senão vivê-la. E tento acreditar que há vida após a morte. Mas logo eu me sinto velho e cansado e meus ossos doem e meu peito vazio já não quer ser incomodado.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Só um pescoço

Deitados juntos, eu em cima, ela em baixo, nossas pernas como dedos entrelaçados.
- Gosto do teu pescoço.
- É só um pescoço, o que tem demais?
- Nunca é só um pescoço, uma mão, um pé, tem gente que gosta de pés.
- E você de pescoços? - Ela sorria lindamente.
- Nunca é só uma barriga, um umbigo, um par de seios, uma bunda.
- Claro que é. Não vejo nada de especial em tudo isso. - Ainda sorrindo, fechou os olhos e virou a cabeça para o lado, me mostrando o pescoço que vestia um fino cordão de ouro com um pequeno pingente de coração.
Encostei meu nariz no ouvido dela e soltei o ar. Lambi levemente sob o seu lóbulo, subindo bem vagarosamente. Ela suspirou e estremeceu o corpo todo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Rancor

Eu, nu, cantava a ela: Não vou mais te deixar sem mim, pequena musa. E ela, também nua, sorria infantilmente, de olhos mareados e uma felicidade estrondosa. Cantava-lhe achando que não queria dizer o que dizia, tentando recusar o amor que de fato sentia. Ela dizia: Canta de novo! Canta, Tho! Por favor! Fazendo cara de criança mimada e sorrindo como quando a gente se esconde atrás das palmas das mãos para reaparecer com um BU! Eu corava as faces e dizia que não cantaria novamente, mas eu cantava.
De todos os amores, esse foi o mais estranho. Era tão difícil admitir que havia um pingo de sentimento dentro do meu peito. E era tão fácil traí-la com as mais frígidas mulheres, enquanto ela era uma ninfomaníaca. Vai entender o que se passa na cabeça de um homem ressentido com o amor, do mesmo modo que as pessoas normalmente se ressentem com Deus e suas injustiças.

sábado, 30 de julho de 2011

Coração

Não chegue tão perto, senão vou ter que ir embora.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Outro dia

O sol a pino esquentava a cidade. Parecia que o inverno finalmente tinha terminado. Eu estava bem, relativamente saudável e, o mais importante de tudo, sem ressaca. Na noite anterior eu decidira que pararia de beber, logo depois bebi uma tequila que me deu azia e a certeza que estava na hora de largar vícios que já não eram mais vícios. Então eu acordei bem, num dia belíssimo, com a certeza que o dia ia ser uma merda. Abri os olhos, fui ao banheiro e disse: merda...

terça-feira, 26 de julho de 2011

Playboy

Eu conseguia me apaixonar tão fácil
Os lábios dela eram tão belos
E a cintura fina me excitava
Não era fácil fingir que
Os pequenos e lindos seios dela
Não me levavam a loucura.

Apaixonado à imagem
E à beleza que ela ostenta
Nunca vi olhos mais belos
Azuis bem claros
Tão claros quanto o céu.

Era tão fácil me ver sofrendo
Pelo sorriso belíssimo
E pelo jeito de caminhar
E ela mordia os lábios
Eu sempre a amei.

Mas é tão difícil me imaginar
Numa conversa longa
E inteligente
Eu me apaixono tão fácil pela imagem
Mas eu não suporto a sua cabeça.

Como eu vou amar
E me casar
E ter uma família
Se todas as belíssimas mulheres
Mais me parecem capas de revista?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O suicida

De vez em quando eu tenho essa coisa meio mórbida. Eu sinto um desprezo pela vida e, pasmem, penso que preferia a morte a ter que acordar, a dirigir, a sorrir, a sobreviver. Você ficaria surpreso no imenso número de vezes que fechei os olhos por alguns segundos, esperando que não fosse abrir de novo, mas eu sempre abro e sempre estou vivo. As pessoas têm que dar mais valor à vida, eu penso de quando em quando, mas a realidade é que eu mesmo sinto que a vida e a morte não diferem quanto à importância e à relevância. Eu sou mórbido, de vez em quando, e quase sempre sou suicida. Mas em vez de me matar, eu passo o dia de cara fechada, esperando que um carro me atropele, que eu engasgue com a comida, que eu sofra um ataque de coração fulminante. Eu nunca morro. O que há de especial na vida, se 6 bilhões de pessoas acordam todos os dias? Não me parece um previlégio. Eu não morro e vou dormir relativamente cedo, pois não suporto nenhum tipo de convivência ou entretenimento. Até que eu acordo e é um novo dia e eu estou pronto para respirar de novo. Eu gosto de estar vivo.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Madrugada

eu acho tão estranho
quando a luz se apaga
e os sons ficam mais altos.

sempre penso que a luz
acaba abafando o som
ou coisa assim.

e o som baixinho
quase inaudível
se torna ensurdecedor.

basta a escuridão
e a música explode
nos nossos ouvidos
escuros.

domingo, 17 de julho de 2011

Gênio

Nós eramos relativamente novos.
E nós nunca brigávamos.
Quer dizer,
Eu nunca brigava com ela.
Ela adorava discutir.
E eu nunca estava nem aí pras merdas que ela dizia.
Certo dia,
A amiga dela me disse
Que ela reclamou:
Porra, o Thomas é calmo demais, ele nunca briga comigo!
O que tem na cabeça das mulheres de gostarem de homens ciumentos e briguentos e marrentos?
Depois elas apanham de um retardado desmiolado e daí é culpa do filho da puta doente.
A verdade é que eu nunca gostei de brigar.
Não por ser mole, ou sensível, ou fraco.
Simplesmente acho que sou mais inteligente que boa parte da população
E acho que uma criança loira não ia ganhar uma discussão contra mim.
Iamos gritar um com o outro,
Até que eu dissesse:
Tá, você tá certa.
Eu só preferia pular a parte do estresse desnecessário
E da minha argumentação estupidamente inválida.
Eu nunca fui calmo.
Só mais inteligente...

sábado, 16 de julho de 2011

Dreyer

A garotinha nasceu. Amanda queria chamar a menina de Mariana, minha opinião não era válida, então a menina Mariana tinha um nome, um belo nome. Loira e sorridente, Mariana me lembrava muito a mãe, mas todos diziam que ela era a minha cara. Amanda estava nas núvens, pois era o grande gênio por trás dessa vida humana, como uma Deusa que engordou 22kg para dar a luz a uma coisa pequena e linda e que logo logo estaria grande e linda.
Enquanto Amanda descansava no quarto do Hospital, fui a um bar de esquina ali perto. O lugar fedia e as pessoas eram realmente mal encaradas.
- Vai beber alguma coisa, patrão? - O barman me pergunta.
- Sei lá, qualquer coisa forte. Estou comemorando o nascimento da minha filha.
- Parabéns cara! Por conta da casa, o nosso melhor whisky. - Encheu um copo com Dreyer e pôs duas pedras de gelo. - Mas você não parece muito contente.
- Pois é, estou preocupado.
- Com o quê?
- Com a minha menina. Com a minha mulher. Comigo. Com a responsabilidade de ser pai. Estou me sentindo péssimo. Eu criei, com o meu esperma inconsequente, um ser belíssimo. Esse ser vai crescer e vai me deixar feliz quando aprender a andar e quando trouxer um desenho que fez na escola enquanto eu tive um péssimo dia de trabalho, e quando ela fizer 15 anos ela não vai querer mais saber de mim e eu vou ser um velho chato que ela não gosta. Ela vai ter um cachorrinho lindo que vou dar a ela, o cão morrerá e ela vai sofrer. Ela vai amar algumas vezes, ela vai se decepcionar todas essas vezes. Na melhor das hipóteses, ela vai se casar e vai se entediar e vai morrer sozinha. Enfim, vai ver os pais morrerem, os amigos morrerem, o seu amor morrer. Eu não queria ser o culpado disso tudo, mas fui eu que comecei essa merda toda. Tenho que conviver com essa culpa toda vez que a ver chorando. - Eu olhava para o copo cheio enquanto girava em círculos o conhaque, fazendo o gelo tilintar.
- Caraca, meu irmão! Você tá fodido! Cara, não é bem assim que as coisas funcionam! Pô, eu sou pai de uma ninhada. Cinco filhos. E acho que foi a única coisa boa que já fiz na vida. Meu maior orgulho é essa filharada, que as vezes passa fome, que as vezes tem saudade do pai que tem que trabalhar até de madrugada, que as vezes tem saudade da mãe que trabalha o dia todo, mas toda vez que eu os vejo sorrir... Cara... a vida vale a pena. Eles sabem que a vida vale a pena, pois é isso que eu ensinei pra eles. A minha vida vale a pena, pois eles estão vivos. E a vida deles vale a pena, justo porquê estão vivos. Não sei se eu tô conseguindo dizer o que eu quero dizer... - Deu uma gargalhada gostosa. - Irmão, tô te falando... Hoje é o dia em que você se torna o homem mais feliz do mundo. A partir de hoje, você vai ver que nada, até agora, fez sentido. Agora você tá completo... - Ele tinha esse sorriso orgulhoso estampado na cara, mostrando bem os dentes amarelados e apodrecidos. Enquanto falava, limpava o balcão grudento.
- Obrigado pelo apoio. Vou tentar lembrar disso... - Eu sorri pra ele.
- Você vai lembrar. Aliás, você vai aprender!
- Ah, e obrigado pelo conhaque... - Bebi tudo em um gole.
- O whisky, você quis dizer...
- Isso, o whisky. - Ri com ele. Foi uma longa risada que já não fazia mais parte da nossa conversa sobre a bebida. Ficamos em silêncio por alguns segundos, eu olhando o gelo no copo, ele olhando o pano sujo e fedorento, nós dois com um sorriso ingênuo no rosto.
- Mais alguma coisa, chefe?
- Me vê uma Skol. Tirar esse gosto forte da boca pra ver a minha pequena sorrindo.
- Viu? Tá pegando o jeito! Três pilas, meu querido. - Dei-lhe uma nota de cinco, ele me deu uma de dois, sorriu de novo e foi sentar-se com um grupo de pé rapados numa mesa que dava para a rua. Eu tomei um gole da cerveja, que estava geladíssima e congelou o meu cérebro. Olhei para o Dreyer e sorri.

sábado, 9 de julho de 2011

Passado

Essa tarde reencontrei uma garota que fui apaixonado aos 17 anos. Amanda tinha a minha altura, cabelos loiros ondulados, um sorriso magnífico e olhos que imitavam os de um gato. Na época eu namorava uma garota estranhamente feia, o amor é cego e vivi essa máxima no peito (ia escrever que vivi na pele, mas o problema era mais profundo). Então eu e Amanda fomos ao cinema e nos beijamos uma vez, ou melhor, eu a beijei uma vez. Ela dizia que eu amava a minha namorada feiosa e que a traição não era certa. Duas horas de um jogo delicioso de beijos de canto de boca e no pescoço. E eu voltei à minha nada bela amada, apaixonado por um beijo e uma promessa de que íamos dar certo. Ela me enrolou por séculos dizendo que não ficaríamos juntos enquanto eu não terminasse o romance com a feia. Eu terminei e ela continuou me enrolando. As mulheres belíssimas têm esse dom, o de enrolar. E ela era uma das três mulheres mais linda que já vi na vida. E todas as três me enrolaram para caralho. Ela acabou sumindo da minha vida. Namorou um cara realmente bonito que diziam ser parecido comigo, vai ver era um Thomas melhorado. Agora namora um filho da puta peludo. Enfim, Amanda estava lá, sentada e languida e bela com os seios mais belos do Brasil. Eu acho que é sorte, afinal nosso romance de duas horas aconteceu quando éramos crianças. Hoje eu ficaria depressivo com todo o vazio que aquele corpo fantástico me faria e eu me tornaria um homossexual frustrado, pois jamais beijaria uma mulher mais bela que ela, jamais seguraria tão perfeitos seios. Todas as outras poderiam ser mais engraçadas ou mais inteligentes (não precisa muito, beleza e inteligência raramente andam de mãos dadas) ou mais interessantes, mas nunca mais belas ou mais gostosas...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Papel em branco

Nunca tive problemas com a tela branca, vazia, esperando letras.
Meus dedos sempre foram mais rápidos.
Mas hoje eu não sabia como escrever o que passa por aqui.
Eu não consigo saber se quero escrever prosa
Ou poesia.
Eu não consigo saber se quero beijo
Ou abraço
Ou sexo
Ou solidão.
Eu não consigo saber se quero sorrir
Ou chorar
Ou continuar com essa cara de cu.

Hoje estou mais complicado e acho que não estou conseguindo acompanhar as minhas próprias mudanças. Eu mudei, para melhor, mas continuo apaixonadamente estúpido.

Como eu posso escrever o que eu sinto?
Se não sei bem ao certo
O que sinto?

O frio, aqui dentro, está insuportável.
Lá fora faz sol
E o dia está realmente lindo.
Quando te vejo,
Me sinto o maior idiota do Brasil.
E acho que estamos bem.

Eu acho que estou bem...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Filósofo

Eu era diferente. Ouvia o que ninguém ouvia e lia o que ninguém lia. Escrevia o que ninguém escrevia e pensava o que ninguém pensava. Eu sabia que era diferente e eu realmente gostava disso. Eu acabava sentindo que tinha um pouco de atitude e de cabeça. Hoje as pessoas são como ovelhas ou vacas no pasto seguindo ordens de um cão pastor. A opinião de todo mundo é a opinião de TODO MUNDO e todo mundo está bem com suas cabeças robóticas e vazias. Me acham estranho e maluco e eu acho que isso é uma prova de que estou no caminho certo, pensando. E quando vejo que alguém se diz louco ou estranho, trato de odiá-lo, visto que essa loucura é uma pose de pensador. Não me passa pela cabeça que outras pessoas além de mim conseguem pensar e agir e discutir e, algo que eu não tenho capacidade, mudar o mundo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Literatura

Falei de Bukowski a ela como se fosse um anjo caído. Um Deus incompreendido e fodido pela própria vida. Ela sorriu e eu senti que consegui vender bem o meu peixe. Ela me pediu para que anotasse o nome dele para que ela pudesse pesquisá-lo e lê-lo e sentir o mesmo prazer que eu sinto. Ela era sorridente e gordinha e um pouco bonita, muitíssimo engraçada e inteligente e interessante. Disse a ela que tomasse cuidado: Buk é um cafageste, fala de putaria e alcoolismo e a desgraça da vida. Ela, que não parava de sorrir, me olhou torto: Quer dizer que não posso ler putaria? Riu e mordeu os lábios. Corei as bochechas e ri também, é claro que ela devia ler Buk. Passaram-se alguns dias e ela me ligou: Thomas, o Bukowski é um gênio!

domingo, 3 de julho de 2011

Início, meio e fim

Acabei me acostumando com a solidão e acho que estou cada vez melhor. Mais sozinho e mais vazio e mais contente com o jeito que as coisas andam. Eu não suporto a ideia de amar, ou de sofrer, ou de ser traído. Eu sou o cara que as pessoas escolhem pra trair. Essa é a minha maior vocação. E eu sempre fui compreensivo e Deus sempre gostou das minhas atitudes e Jesus aprovaria todas as vezes que eu desculpei. Eu sou bastante rancoroso, mas escolho largar o rancor e o remorso no passado e acabo esquecendo tudo. As pessoas sabem que serão desculpadas e que o meu remorso passa logo e que eu estou pronto para uma nova traição. Meu coração é mole e irracional e ele gosta de pensar que o mundo está apaixonado por ele. Eu estou contente. E eu nunca estive contente antes. Já fui feliz e infeliz, já amei e já odiei, já sofri o suficiente para eu entender o que é o amor. Estar contente é tão agradável quanto estar morto e o amor é mais uma droga em que os seres humanos são viciados. E todos ficamos doentes amando e procurando amor e sentindo a solidão bater enquanto alguém pensa em você. E você está sozinho, pensando em outra pessoa. E a outra pessoa está transando e sorrindo e amando e realmente está feliz. Pois eu acabei sofrendo demais com essa droga. Todas as vezes que eu amei e odiei e sofri resultaram num cara que não espera transar tão cedo, nem beijar tão cedo, nem sorrir tão cedo. Nem sentar num bar e crer o mundo é magnífico. Eu fui traido. Eu não acredito no amor. Eu não acredito em amizade. Eu não acredito em felicidade. Eu estou vivo e isso não importa nem um pouco. E eu não tenho grandes planos para amanhã e acho que nunca vou me casar. Vou murchando a cada traição. E do grande homem sobra uma casca fina e minhas costelas estão bem dispostas e eu estou saudável e eu não sinto mais que um porre de tequila vai me tornar menos solitário. Eu estou de saco cheio. E não espero que o mundo seja um lugar melhor daqui dez anos. Eu realmente não dou a mínima para o espelho e para as mulheres e para os homens e para o dinheiro e para qualquer coisa que tenha a tendência de me deixar. Eu vou morrer sozinho e acho que estou cada vez mais ciente desse FIM.

sábado, 2 de julho de 2011

É o amor

Um dia eu achei
que eu seria o maior dos homens.
E eu sou grande
como uma bosta
de uma formiga.
E a vida vem passando
e eu vou crescendo.
Centímetro
e centímetro
e centímetro
e eu estou morto
e andando por aí
como se fosse
um filho da puta
qualquer.
Eu me matei hoje
e acho que era assim que
eu precisava viver.
Uma vida nova.
Mais uma vida nova.
E nós dois
fomos escolhidos
pra morrer
juntos.
Tão juntos
quanto estrelas
e amores
e esperanças
e a vida toda
e o vinho
e todo o sofrimento
de todos os otários dos seres humanos.
Menos o teu sofrimento.
E
que
merda...
Eu
te
amo
pra
sempre.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Revira e volta

você some por meses
e do nada reaparece
e do meu ódio do teu sumiço
fica a paixão revigorada
que merda
você some
e eu te odeio
e você volta
e eu te amo
e amo teus lábios
e amo teus cabelos
e amo teus olhos
e amo teus seios
e você
toda vez
some
é injusto
eu não poder te tocar

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Queda

Caindo
caindo
caindo
caindo
e
eu
me
canso
de novo.
Deitado no chão
esperando o fim do mundo
eu te vejo mais feliz
e me vejo mais sozinho
e o tempo passa rápido demais
e o tempo passa devagar demais
e tudo é demais
e eu
aqui
embaixo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Arisco

eu me meto nessas paredes
e vivo meu mundo
longe do mundo
dos seres humanos.

mas as vezes acho que a minha solidão
não é o suficiente
e todos os seres humanos
tendem a entrar no meu mundo.

o inimigo está por perto
vestido de amigo
ou de amor
e eu me escondo tão bem.

mas eles sempre estão aqui
tomando uma cerveja no meu sofá
ou cagando no meu banheiro
ou rindo das minhas piadas.

eu vivo nessa gaiola
pra eu sentir
o que eu nunca sinto:
um pouco de segurança.

domingo, 12 de junho de 2011

Dia dos namorados

Amanda tinha amigas maravilhosas. Todas patricinhas e incrivelmente deliciosas, umas mais, outras menos, mas todas elas tão belas quanto atrizes hollywoodianas ou atrizes globais ou atrizes pornôs. Todas atrizes, fazendo papel de madames ninfetas de maquiagem carregada e de valores plastificados e de ideias nada criativas e contra todo o tipo de droga, pois as drogas acabavam com a classe da burguesia. Ou seja, droga é coisa de pobre.
Bebiam champagne na beira da piscina, achando que era suco de uvas brancas com "bolinhas". Não passava pela pequena cabeça delas que o champagne era só mais uma droga em que elas estavam viciadas. Todas de biquíni e levemente embriagadas com suas calcinhas atochadas e a parte de cima saindo do lugar, pronta para me mostrar um mamilo que está louco para dar de cara com os meus olhos vidrados.
Eu era o único homem, pois era namorado da Amanda. Todas achavam os homens repugnantes, exceto se eles dirigissem um carro que custasse mais de noventa mil reais. Eu andava a pé e devia ter um pau de ouro. Elas gostavam de mim e eu realmente gostava delas. E toda vez que Amanda ia tomar banho ou atender o telefone ou cagar no seu trono real, elas ficavam sobre mim e eu ficava sobre elas, elas com classe e eu completamente bêbado do whisky do sogrão que nunca estava em casa.
Certo dia Mariana, uma das amigas da Amanda, estava dentro da piscina e disse: vamos entrar peladas na piscina? E ninguém deu bola a ela. Eu tirei minha sunga e pulei n'água. Cheguei perto da Mari e lhe disse: Vira de costas. Desamarrei a parte de cima do biquíni, mergulhei e puxei a calcinha dela para baixo. Enquanto eu subia à superfície, Mariana ia se aproximando de mim e encostando o seu corpo nu no meu corpo nu. Ela se virou e me beijou, apertando com força a minha bunda mole. Todas as outras garotas estavam com seus iPhones e a Britney Spears ou a Lady Gaga ou a Shakira ou o Justin Bieber ou o outro Justin, o Timberlake, ou qualquer coisa parecida gritava no ouvido delas enquanto elas se torravam no sol de olhos fechados. Nos beijamos outra vez, agora, com uma mão, eu apertava com força a pequena bunda durinha dela, a outra mão ia de encontro com um mamilo endurecido num seio delicioso. Ela se virou, pegou o biquíni e disse: Amarra pra mim?

sábado, 11 de junho de 2011

Viagem

Ela me amava e eu achava que não era nenhum problema ser amado por ela. Estávamos no banco de trás do carro, junto com outro cara. Alguém dirigia e a namorada do motorista ia no banco do passageiro. Minhas mãos e pés estavam congelados e acho que as mãos e os pés de todo mundo também ardiam com o frio. Era o pior inverno desde sempre, mas o céu estava limpo e o dia agradavelmente frio. Ela estava encostada no meu peito e meu braço a envolvia. Pus a mão gelada no colo dela.
- Ai, filho da puta! Que mão gelada! - Eu ri, mas não tirei a mão de lá. O motorista passou por uma lombada e minha mão foi até o seio dela. - Duvido que você coloque a mão dentro do meu sutien...
- Por que duvida?
- Porque a tua mão tá congelando e eu vou ficar puta com você. - Eu ri de novo. - É sério! Se você pôr a mão, eu vou arregaçar o teu pau e ele vai ficar do avesso, com a cabeça apontada pra você... - Eu parei de rir e achei aquilo realmente estranho, o motorista começou a gargalhar, a namorada ria discretamente e o cara do meu lado fingia que nada acontecia em volta dele. - Vai, Tho... Quer ver se você tem coragem! - Então eu pus e o seio dela estava tão gelado quanto a minha mão, ela sorriu. Os namorados conversavam entre eles e o cara do meu lado olhava de canto de olho indisdiscretamente. Eu podia ler os pensamentos dele e ele achava que a qualquer momento o seio dela ia aparecer e ele ia bater uma punheta ali mesmo enquanto assistia a gente transar no carro em movimento. Ele era doente...
Ela fechou os olhos e eu comecei a acariciar o mamilo dela. Instantâneamente o seio ficou quente e logo a minha mão também. Fiquei nisso por décadas e ninguém falava nada sobre isso. Eu olhei pro cara do meu lado e ele ficou com vergonha de mim e se escondeu olhando para a paisagem monótona.
- Chegamos, finalmente... - Disse o motorista.
Ela abriu os olhos, ainda sorrindo e, provavelmente, estupidamente molhada. Eu me arrumei dentro da calça e saímos do carro.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Inspiração

eu não sei
fazer poesia
quando eu não quero
escrever.
e acho que todo
escritor de meia tijela
é assim.
e todo escritor de verdade
e todo mundo que pensa
e todo mundo que acorda
e escova os dentes
e dá uma mijada quente
toma um banho de duas horas
e vive um dia infernal
como todos os dias
de um escritor
e de um filho da puta qualquer
são assim.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Abstinência

Ela passou por mim, com toda a sua beleza e suas sardas e seu piercing no nariz e seu cabelo no rosto, sem nem ao menos notar a minha existência. Foda-se, eu pensei. Ela não deve saber quem sou eu, qual é meu nome, o que eu faço. Mas muita gente deve passar por mim e achar que eu passo, com toda a minha beleza, sem nem ao menos notar a existência delas. Não que eu tenha um quê de beleza, só estou supondo que existam pessoas com tal gosto escroto, o gosto por mim. E eu pensei foda-se, pois ela não sabe quem sou eu e possivelmente jamais vai saber. Eu vou passar por infinitas outras mulheres que jamais saberão que elas me excitam. Não vai ser por isso que vou parar de transar. Não me preocupo com essas coisas levianas, o sexo e o amor e a masturbação, pelo menos não agora. Acho que o sexo é inevitável, não vou ficar 20 anos sem ver uma vagina. O amor é inevitável, não vou morrer sem amar novamente pelo menos umas 4 ou 5 vezes.
Das minhas abstinências sexuais, meus maiores períodos foram de 6 meses. E 6 meses parece muita coisa quando você transa todos os dias, ou toda semana, ou todo mês. Mas 6 meses não é nada para quem não transa há 3 ou 4 meses. Fiquei 3 vezes nesse limbo sexual dos 6 meses, as 3 vezes foram resultados de fins de namoros. Nada mais justo que o luto. 6 meses remoendo um sentimento, seja amor ou ódio ou, na grande maioria dos lutos amorosos, a mistura dos dois. Depois dos 6 meses, uma foda aqui, outra ali. E o sexo vai se aquecendo e voltando a ser comum. De 1 ou 2 fodas no mês para 3 numa semana. É o curso natural da existência. As coisas vem e vão e eu não estou nem um pouco preocupado com toda a sua beleza e suas sardas e seu piercing no nariz e seu cabelo no rosto. Estou vivo, é isso que importa.

domingo, 5 de junho de 2011

Adolescência

Lembrei que estava no primeiro ano do Ensino Médio e apaixonado por uma garota que estava no segundo ano, se não me engano se chamava Amanda. Mínima idéia por que lembrei dela. Se a visse ontem, não lembraria que já passei noites em claro pensando no seu cheiro de baunilha. Hoje em dia amo perfumes de baunilha, deve ser por causa dela. Pouco mais de 1,60m, pouco menor do que eu, seios fartos e um sorriso com covinhas. Ela estava sempre sorrindo e dizendo quão lindo era meu cabelo. Quantas mulheres já não falaram sobre o meu cabelo, me apaixonei pela grande maioria delas. Durante o recreio (palavra que eu retiro do baú da minha existência) eu e Amanda ficávamos abraçados, minhas mãos na cintura dela e as dela no meu cabelo. Como era simples a paixão infanto juvenil, eu queria abraçá-la e sentir os lábios dela no canto da minha boca na hora de dar oi. Se fosse hoje eu ficaria desgraçando a minha incapacidade de tomar alguma atitude. Ia chegar em casa e bater uma bela duma punheta, pensando "velho, preciso comer a Amanda..."

sábado, 4 de junho de 2011

Open bar

Eu e o cara que era meu melhor amigo estávamos completamente bêbados enquanto o Faustão falava na TV e um pagode chulo tocava nas caixas de som. Aquilo era novidade, estar bêbado antes das 22h, das 20 quando muito. Hoje só é novidade estar embriagado em funerais.
Foi a primeira vez que o cara vomitou. Coitado. E a primeira vez que olhou pra mim e, desesperado, disse: quero mijar! A fila do banheiro é imensa e ele mija dentro de uma garrafa de Kaiser de 600ml no meio da pista de dança. 600ml de urina. Ele sorriu pra mim e pôs a garrafa sobre uma mesa qualquer, eu ri.
Agora estava pensando que um idiota mamado, não se importando em beber cerveja quente, despejou aquele mijo aguado e alcoólico dentro do copo, deu um golão, fez careta e disse pro amigo: Nossa, que cerveja horrível! Dá um gole...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Parabéns

Era aniversário da Marisa. 21 aninhos de pura delícia. Marisa, quem se chama Marisa hoje em dia? Acho que não existem as lojas Marisa lá no interior e a mãe da Marisa achava um nome bonito. Marisa, que nome estranho. Marisa me lembra lingeries e aquele perfil rosa de uma mulher. Ana Paula seria um bom nome, me lembra Ana Paula Arósio e seus peitinhos naquela novela, Hilda Furacão, se me lembro bem. Ah, como era boa a infância com os olhos azuis da Ana Paula Arósio. Podia ser qualquer nome, menos Marisa. Quer dizer, antes Marisa que Maria Lurdes (sem querer sacanear as Marias Lurdes... muito menos as Marisas) ou qualquer outro nome estranho. Enfim, Marisa fazia 21 lindos anos. Era uma mulher interessantíssima, inteligente e uma das mais belas e gostosas da faculdade. Marisa tinha amigos, muitos, mas nenhuma amiga. No aniversário eramos em mais de dez negos, Rafa e Carlos discutindo sobre São Paulo e Corinthians, Gabriel prometendo pra mesa toda que ia comer a Mariana (nome simples, interessante, nada de mais, muito melhor que Marisa!), o ser mais boçal e mais belo de toda a faculdade, uma galera comentando sobre a prova da semana passada, outra galera sobre a da semana que vem, muita gente falando ao mesmo tempo. Por incrível que pareça, ninguém nunca sonhava em pegar a Marisa. Ela era toda bonita, delicada, gostosa, mas ela tinha algo que as outras mulheres não tinham: uma pica. Brincadeira, ela entendia os homens, coisa que nenhuma mulher é capaz. Isso fazia dela um homem. Um homem bonita, delicada, gostosa que todo mundo tinha interesse, mas nunca nem pensava em "tentar alguma coisa". Eu estava no telefone com a Amanda, minha namorada, no meio daquele falatório todo e aquela bagunça. Marisa levantou-se e, com as duas mãos no decote, gritou:
- Pessoal! Um presente de aniversário pra vocês: vou mostrar os peitos!
Instantâneamente fez-se o silêncio. "Já te ligo, amor" eu disse, desliguei o telefone. Todos olhavam para a Marisa, sem acreditar no que ela dizia, mas ao mesmo tempo sedentos pela verdade.
- Vocês são muito idiotas. Eu vou cortar o bolo. Vocês querem cantar o parabéns? Eu não faço questão.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Aos covardes

Fico com tanto nojo quando me vejo no espelho e meu cabelo está oleoso e minha barba tem cinco dias e o meu peito e minha barriga estão infestados de pentelhos. Tenho tanto nojo quando me vejo no espelho e vejo um cara que desistiu. Paro de tomar banho, paro de escolher roupas, paro de sonhar, paro de escrever. Eu tenho tanto, mas tanto nojo quando me vejo covarde, como toda a humanidade é. A humanidade que tanto me dá desgosto. Eu me vejo no espelho e estou que nem eles. A ponto de continuar vivendo como um cão medroso, de rabo entre as pernas e submisso à toda merda que o mundo está disposto a jogar nele. Eu odeio covardes e seus papos de bons samaritanos e seus sorrisos maliciosos e suas vidas medíocres. Se mate, eu penso, mas eles sempre vivem sorrindo, dispostos a serem homens e só se foderem como prostitutas de quinta categoria. Putas mal pagas, os covardes. Estão ali pra se foderem gratuitamente. Não me fodam, covardes. Vocês nasceram pra se foder.
E eu tento acordar.
E eu tento me lavar.
Mas essa covardia gruda.
E eu sou mais uma bosta
que o mundo
cagou.

domingo, 22 de maio de 2011

Caju et circense

O amor é uma palhaçada, Amanda dizia entre lindos soluços. Acho tão belo quando as mulheres choram soluçando que nem crianças mimadas. Odeio quando elas gritam e sofrem e toda essa desgraça. Gosto das pequenas tragédias humanas que fazem delas lindamente vulneráveis.
O amor é uma palhaçada, concordei sem dizer nada. As mulheres são todas cruéis e os homens são piores ainda. E todos nós, humanos, estamos nesse circo, entre leões treinados, elefantes subnutridos, trapezistas alcoolatras e palhaços cruéis. Todos nós tão assustados quanto as crianças que assistem o globo da morte. O amor é uma palhaçada, mas quem consegue viver sozinho? Uma hora uma vagabunda, ou um filho da puta, no caso das mulheres, lhe fisga o coração e mais uma vez você está pendurado, nu e envergonhado, enquanto Deus ri da sua desgraça.
Abri meus braços para ela, mas ela não quis meu abraço. Queria todo o amor que o filho da puta não queria mais dar a ela.
Dei de ombros e fui pra casa.
Sempre odiei palhaços.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Escritor

Comecei a escrever em 2008. Até aquele momento, escrever significava dissertar sobre temas polêmicos e atuais. Introdução, desenvolvimento e conclusão. Eu era péssimo em concluir. Ainda sou. Então eu descobri o que é dar a luz a uma crônica, tenho que admitir que acho crônicas interessantes, mas odeio escrevê-las. Daí um conto e outro e a paixão pela escrita começa a fluir no sangue. O menino vira poeta e pára de escrever lindezas. O mundo não é belo, o piá diz. Enfim, era final de 2008 quando ele decidiu começar a escrever um romance. Um romance é muita coisa. Diferente de escrever em um blog afim de suportar um vício. Escrever é uma droga, a mais deliciosa delas. E o guri se tornou escritor. O que faz um escritor? Escreve, oras. Reinaldo Moraes diz que escritor que se preze faz lhufas. Acho justo.
Estamos na metade de 2011 e não acredito que termino meu romance nesse ano. Mas acho que consigo terminá-lo antes de o mundo acabar. Bom, ele está aí, crescendo, evoluindo, engrossando, tomando volume e cara de livro de verdade. Jack Kerouac escreveu seu primeiro romance em três dias. Em três dias devo ter batido umas três a cinco punhetas, mas não escrevi porcaria nenhuma do meu romance. Três anos na batalha. Três anos artista. Três anos viciado. Três anos de uma vida toda pela frente.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Generalizações

Ontem falei a uma socióloga que os artistas eram vagabundos. Ela ficou indignada, pois os artistas não são vagabundos. Eu, engenheiro, fiquei matutando com as minhas calças rasgadas: será que ela sabe que sou escritor? Sei lá, vai ver que eu sou um ponto fora da reta, eu e os outros poucos artistas que conheço. Vou ficar chamando povo de vagabundo só porque encho o cu de vinho, cerveja e maconha enquanto o mundo gira sem o mínimo do meu esforço?

Não, não me deixe jamais

Once I had a love.
And she fucked all my friends.
Now she's fucking another guy...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Intérprete

Todos os dias, nas minhas sinônias, me vejo caindo. Voando em queda livre. O vento secando a minha boca e meus olhos. Mas eu nunca chego ao chão. Caio do infinito ao infinito.
Essa noite me vi cair de novo, mas dessa vez eu chegava em altíssima velocidade ao meu colchão. Sentia minhas costas doendo com o impacto e as molas me empurrando para o meu devido lugar de origem, o ar. E depois eu caia de novo, e dor de novo e ser empurrado de novo.
Eu não tô pronto para morrer. Deve ser isso.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Novidade

1h da manhã e a insônia não passa de uma invenção. Deitar pensando em dormir é uma bobeira. É como cagar pensando em cagar, ler pensando em ler, pensar pensando em pensar (juro que parei uns dois segundos, só pra ter certeza que a oração saiu certa). Dormir é mais uma viagem regada à drogas. Droga sono, no caso, a que eu nunca mais vi ou ouvi falar. Só no finalzinho da aula, perto do almoço, mas é que eu estava viajando entre o meu livro e o que o professor falando. Mais uma viagem regada a uma droga: uma aula que eu não estava entendendo nada. Que vida, que droga. Só queria deitar e viajar. Sonhar um sonho lindo com a Amanda, pequena e magrela, lindíssima com seus lábios pintados de batom vermelho, combinando com as unhas e com a blusa listrada, vermelha e branca, tão branca quanto ela. Ou sonhar com a Mariana, alta, gostosa, voluptosa (nunca usei essa palavra, perdi a virgindade), lábios carnudos, cabelo liso e fino, salto alto, pra ficar mais alta do que eu, me amando de mentira, como ela sempre me ama, mas nos sonhos tudo é lindo e nós nos amamos intensa e deliciosamente. Que droga. Acordado de novo, pronto pra acordar de novo.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Rancor

Amanda tinha se mudado havia mais de um ano, mas eu nunca fui visitá-la. Morava com outras cinco garotas, todas não muito bonitas e fanáticas pelo Justin Bieber, vai ver é por isso que nunca a visitei. Pois a casa estava vazia, só Amanda e a casa.
Então nós passamos quase uma semana juntos. Ela queria ir a praia, tomar sol, sair com os amigos. Eu queria ficar embriagado e transar. Pois fizemos o que ela propôs, talvez por eu não ter proposto a minha ideia, ou por eu ser um merdão sem voz. Conheci uns amigos dela, todos bonitos e simpáticos, mas nenhuma amiga. Sempre me dou melhor com mulheres, principalmente amigas de amigas, principalmente quando elas são bonitas. E eu tentei ser simpático. Jogamos sinuca, eu e um amigo dela de dupla, nós ganhamos algumas vezes, rimos. Junto com os amigos, vem as histórias. E as vezes é melhor não conhecer o passado de uma mulher. Ela já tinha pego Deus e o mundo, a boca mais rodada do país, pegou os amigos que estavam conosco. Jogando sinuca, bebendo Heineken e ouvindo as histórias da vagina que eu não estava comendo. Foda-se ela, eu pensei, em algum momento.
A cada dia que passava, nós nos distanciávamos um pouco mais. No primeiro dia, suguei os belíssimos mamilos para dentro da minha boca. No segundo dia, nos esfregamos por debaixo das cobertas. No terceiro dia, nos beijávamos na rua. No quarto não andávamos mais de mãos dadas. Foda-se ela, eu pensei.
Ela entrou num ônibus circular, ia encontrar um dos amigos. Eu beijei a bochecha dela e não esperei ela ir embora. Amanda vestia um óculos escuro e provavelmente não olhava pra mim. Provavelmente pensava que a ideia que ela teve, de me convidar para visitá-la, foi a mais idiota possível. Estava pensando em ir pra praia e se vingar, pegando ou o amigo, ou um argentino, ou um carioca, ou todos eles, um de cada vez ou ao mesmo tempo. Foda-se, pelo menos alguém vai transar, eu pensei.
Sentei na rodoviária e cheguei a brilhante conclusão: Thomas, de agora em diante, você não quer mais transar.

Ficamos eu e Amanda em silêncio. Dias e meses e, se não fosse o meu desconforto e a minha coragem de dar o braço a torcer, anos. Tudo por causa de um rancor inexplicável. Agora falo com ela. Louco por um convite. Louco pela foda desperdiçada. Que merda, tão vulnerável à vagina...

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Dando nome aos bois

Eu e o meu cabelo curto e a minha barba por fazer e a minha barriga flácida e o meu pau entediado e o meu coração ressentido descobrimos que o amor não é divino. Desde sempre, o amor me foi uma utopia inalcançável. Vivi um grande amor certa vez, então reservei esse título à essa ocasião: a única mulher que amei. Que bobeira.
Meu primeiro amor se chamava Marcela. Ela era maior que eu, talvez mais velha, cabelos pretos cacheados, um pouco gordinha. A mãe dela, num dia qualquer, pediu ao meu pai que nosso amor fosse acabado, pois a filha dela não parava de chamar meu nome enquanto estávamos longe um do outro. Meu pai ficou perpléxo, afinal eu e Marcela tinhamos dois anos de idade.
Lembro que amei a Érica, mas não consigo lembrar seu rosto. Só lembro dos óculos e do cabelo cor de mel liso. Nós nos amávamos nos recreios, escondidos atrás da casa de bonecas do colégio. Tinhamos menos de seis anos. Nessa mesma época, uma garota chamada Lourene me amava. Me amava intensa e assustadoramente. Ela odiava a Érica, mas a Érica não lhe dava bola. Certo dia, Lourene trancou a porta da casa de bonecas, eu e ela lá dentro. Eu tinha medo, ela tinha malícia. Me deu uns beijos malandros e ficou por isso, a partir desse dia passei a ver a calcinha dela todos os dias.
Já com uns onze anos, me apaixonei pela Jamile. A Jami era uma garota extraordinariamente linda. Cabelos negros e olhos verdes, a combinação mais bela possível. Nós crescemos juntos e eu vivia o mais dolorido amor platônico. Segunda-feira era o pior dia da minha vida, pois era como se o nosso relacionamento começasse do zero, para na sexta-feira eu achar que dali a pouco estariamos casados. Mas segunda-feira acontecia toda semana. Nós perdemos contato, ela engravidou, tem uma filha tão bela quanto ela.

Amei tantas garotas que, se eu fosse contar de todas elas, precisava escrever um livro. E a premissa: o amor é grandioso, caiu. Não amei apenas uma vez, mas uma centena de vezes. O amor, que me era um Deus, agora não me passa de um humor barato.
C'est l'amour, c'est la merd.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Purgatório

Era uma quarta feira normal, fazia frio e o céu estava nublado. Quarta feira de inverno com cheiro de café, como todas as outras quartas feiras de inverno com cheiro de lã. Na casa da vó, a panela de pressão apitava. A canja estava quase pronta. Odeio o crepúsculo no inverno. Me dá saudade da infância. Duas grandes janelas que abriam para fora davam para a rua. Fazia silêncio, de vez em quando um telefone tocava. Meu coração batia forte e eu podia ouví-lo alta e claramente. Os passantes na rua e a minha vó, na casa dela, podiam ouví-lo alta e claramente. Abri uma das janelas, a outra fechei. Peguei o extintor e joguei-o na janela fechada. E o que eu temia aconteceu, o vidro não se quebrou e eu ia ter que pular pela janela aberta, o que me obrigava a pular sentado. Meu medo de pular sentado era cair em pé, quebrar as pernas e elas perfurarem meus intestinos. Eu sabia que 22 andares não iam me matar se eu caísse de pé. Eu tinha que cair de cabeça, para fraturar o pescoço, ou de costas, para que minhas costelas quebradas perfurassem meus pulmões e coração. Alguém pigarreou. Sentei na janela e disse adeus à vida. Me soltei e com os pés na parede, do lado de fora do prédio, me empurrei para frente.
Era lento. Como se eu estivesse mergulhando em água. Eu não respirava. Lá embaixo, ninguém me via cair. E eu caia. Rápido. Muito rápido. A cidade já fora mais colorida. A vida também. A calçada ia crescendo e eu ia descobrindo seus detalhes: algumas rachaduras, chicletes brancos e rosas e vermelhos e verdes, bitucas de cigarro. Será que eu vou morrer? Que medo de não morrer. E tudo ficou escuro. Preto.

Senti uma pressão nas costas. O chão molhado. Um cutucão no ombro direito.
Abri os olhos: Thomas, o doutor está esperando.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Garrafa de vinho

mais poesia e mais poesia
e mais poesia.
minha cabeça cheia de vinho tinto
gelado e barato.
não sei como as pessoas suportam
vinhos quentes e caros.
vou de carona com o meu gosto pobretão:
vinho gelado e barato.
amanhã minha cabeça vai explodir,
mas hoje eu estou bem.
pois a garrafa de vinho
me faz bem mais feliz.
mais e mais poesia.
e um beijo no canto do lábio.
o canto direito,
o meu direito,
o teu errado,
o teu conceito de arrependimento,
e a minha solidão inconveniente.
mais poesia, mais e mais.
mas o vinho
acabou.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Lamentando de novo

Me espreguicei: os braços pra cima, inclina pra esquerda, depois direita. Se arruma na cadeira, que trocou, agora está usando uma cadeira da mesa da sala de jantar. Peidando muito, sabe Deus por que.
Enfim, espreguiçei-me. Arrumado. Pronto pra escrever. Abre o blog, deixa a música entrar na cabeça, até que a cabeça exploda, eu penso. Mas a cabeça não explode. Graças a Deus.
Deixa pra lá, tenho outras coisas pra fazer. Escrever não me é urgente. Respirar é urgente. Escrever é só mais uma forma de lamento, à la Bukowski. E eu me lamento tão bem, de outros jeitos.

domingo, 24 de abril de 2011

Orgasmo

de sutien vermelho
sem sutien
os seios nas minhas mãos
lábios abrindo e fechando
os meus e os dela
ela suspira
eu sorrio
de calcinha de algodão
molhada
e meus dedos
se movendo
rapida
e intensamente
ela suspira de novo
e me diz:
Eu te amo.

Tristeza

Era aniversário da Amanda. Família, amigos e eu, sozinho, como sempre. Ela, uma vez, me amou. Eu ainda a amava, ou ainda amo, sei lá. E lá estava eu, tentando conversar com ela, pelo menos conversar. É óbvio que eu queria um amor eterno, mas um sorriso me bastava. Em tempos de crise, um sorriso significa muito. E ela sorriu, mas não para mim. Aliás, ela nem sabia que eu estava lá. Eu era invisível e ela tinha amigos e familiares e presentes e uma felicidade extrema. Extremamente angustiante. Que vida. Para aparecer, resolvi me embriagar. As vezes a bebida é realmente conveniente, as vezes nem tanto. Pois fiquei completamente acabado, louco. Cai no chão, me sujei, se não me engano, vomitei, mas nem sinal da Amanda. Então entrei na casa dela e deitei na cama do quarto de visitas. Lá eu estava protegido, eu e minha solidão, ninguém mais. Cai no sono e só acordei quando Amanda me disse: Tho, vai tomar banho. Numa voz estranhamente quente e aconchegante. Olhei para ela e ela sorria para mim, vestia um vestido azul e seus cabelos castanho-escuro caiam lindamente sobre os ombros, os lábios carnudos entreabertos mostrando os dentes branquíssimos. Eu falei: Prá quê? E me virei de costas para ela. Ela deu a volta na cama e ficou bem perto de mim. Ela respondeu: Prá isso. Abri os olhos e ela estava com o vestido levemente levantado, mostrando um pedaço das suas vergonhas nuas, lindamente nuas. Eu levantei correndo, tentei entrar no banheiro, mas alguém estava usando-o. Olhei para ela desesperadamente, ela sorria, calma: Vai no quarto do meu pai. E eu entrei correndo, sem dizer nada. Ela também entrou no quarto, trancou a porta enquanto a água já corria no box. Beijei-a, apertando as nádegas nuas dela, ela tirou minha camiseta e acariciava meu cabelo curto. Vai tomar banho, Tho! Ela falava rindo. Tirei a roupa para entrar no banho, mas antes tentei comê-la. Ela ria gostosamente, dizendo: Só depois de você tomar banho, Thomas! Eu respondi: Vem pro banho comigo. E de mãos dadas, fomos. Eu de pau duro, ela sem calcinha, debaixo dum belo e comportado vestido azul, no quarto do pai dela. Mãos e bocas e sexo e putaria. Eu não me entendo, sofro a vida toda por causa do amor não correspondido, daí ela quer me dar e eu quero comê-la. Não me passou pela cabeça amá-la, deitados na cama, nus, de conchinha, sem sexo, só amor e carinho e a certeza de que era a última vez que ela ia me amar. Mas não, fizemos um sexo violento, com gemidos altos e suspiros e beijos ardidos, mordidas nos lábios e no bico dos seios e no pescoço. Eu gozei dentro dela e me encostei na parede gelada do box, eu fervia. Ela pôs as duas mãos na minha cintura, suspirou longamente, sorriu para mim e disse: Eu esperava que a última vez que transássemos fosse triste. Eu respondi: É que essa não foi a última. Eu sorri, ela encostou a cabeça no meu peito e disse: Foi sim, Tho... Pensando bem, acho que estou triste...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Banho quente

se há algo que eu realmente amo
é tomar banho.
longas horas de banho quente.

amo ainda mais, bater punheta.
longas ejaculações
e pensamentos quentes.

melhor ainda é tomar banho
e bater punheta.
isso é amor.

melhor que tudo isso,
é transar.
sexo é uma magia.

e o que mais amo
de todos os meus amores
é transar no banho.




... mas que bosta de poesia...

Indiferente

Se te amo, ou não amo, é indiferente. Ao teu lado, meu coração anda em paz. Longe, a paz é maior ainda. Se te amo, ou não amo, é indiferente. Já que o sentimento não vai mudar. Você vai continuar a amar o teu amor e eu vou continuar sendo o solitário. Pra mim, é indiferente.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O anjo e a cigana

Haviam dois anjos brigando na rua. A multidão estava preocupada, pois nunca tinham visto anjos, nem uma luta tão sangrenta. Um dos anjos era alto, loiro, de olhos claros. Vestia uma tunica branca que lhe ia dos pés a cabeça. Era um lindo anjo de asas brancas e enormes. O outro era baixo, magro, cabelo preto e olhos castanhos. Vestia uma cueca suja de terra. Era um bom anjo de asas pequenas e desengonçadas e negras como o fim do mundo.
O anjo branco estava com os punhos machucados dos inúmeros socos que tinha dado no anjo negro. E o anjo negro sangrava e levantava e caia e levantava, sempre gemendo baixinho e chorando, não por dor, mas pelo mundo inteiro. O mundo estava fodido, ele sabia disso. O anjo branco gritou para que o negro não se levantasse mais, mas o anjo negro não ouviu. Assim que se levantou, foi derrubado, e o anjo branco, sorrindo lindamente, rasgou as pequenas asas do pobre anjo. Abriu suas enormes asas e seguiu em direção ao Sol.
Uma garota de cabelos negros e saia vermelha sentou-se ao lado do anjo. Ela disse que o anjo tinha que viver. E o anjo disse que as suas pequenas asas negras tinham sido arrancadas da pele de anjo dele. Ela repetiu três vezes: "Louco assombrado, perdido num pesadelo" E o anjo quis saber qual era o nome da garota. E ela sumiu para sempre, deixando o anjo com saudades, para sempre.

Entrei em casa suado, louco por um copo de água. Na geladeira só haviam cervejas, então abri uma lata gelada. Sentei no sofá, na sala escura, e ouvi um avião passando. Ouvi um ônibus lotado tremendo minhas janelas. Ouvi a vizinha gemendo. Ela sentia amor. Mas não sabia o que era amor. O amor morreu e meus olhos se encheram de lágrimas. Lágrimas pesadas que arrastavam o sangue do rosto para os lábios abertos. Peguei minhas asas quebradas e guardei num armário. Eu tentava encostar minhas costas no encosto do sofá, mas minha pele, que agora não era mais de anjo, ardia intensamente. Pus a mão onde ficavam as asas e um sangue negro escorria. Ele fedia a morte. Mas a morte não era tão ruim quanto o fim do mundo. Eu queria ter morrido há uns dois mil anos atrás.

domingo, 10 de abril de 2011

Missing

as vezes acho que já vivi muito.
e as vezes acho que não quero viver mais um monte de coisas.
é foda,
eu tenho consciência da minha mente
deturpada,
do meu lado suicida.
ter consciência da loucura
é a pior loucura possível.
não tenho medo,
pois sei que sou um bosta
e nunca teria coragem
de dar fim a minha vida.

mas as vezes
eu acho
que vivi muito
e que não quero mais
viver
porra
nenhuma.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Eu te amo, porra

o ódio que eu sentia
era solitário
e todas as paredes geladas
me faziam mais sozinho
e o ódio me corroia
e eu precisava de amor.
infelicidade
e dor
e tristeza
e saudade
de uma coisa que havia morrido
há muito
mas muito
tempo.

terça-feira, 29 de março de 2011

Inimigo imaginário

Eu sou quem você realmente precisava
Algo que te faltava e te fazia falta
Um inimigo pra te odiar.

E eu vou te odiar enquanto você estiver dormindo
Enquanto você estiver dirigindo
Enquanto você estiver esquecendo da minha existência.

E eu vou ser um inimigo imaginário
Que te faz tão mal quanto a poluição do ar ou a gordura trans ou os terremotos do Japão
E você nunca vai imaginar que por trás dessa educação fria e polida
Há o maior ódio do mundo.

domingo, 27 de março de 2011

E a guerra começa

é loucura minha?
porque quero tocar a tua pele.

sábado, 26 de março de 2011

Cidade Industrial

eu tenho uma fábrica de ódio no meu peito
cujos funcionários estão sempre em greve
e meu peito segue rancoroso
mas segue bem
eu vivo bem.

é raro
mas de vez em quando os funcionários trabalham
e o ódio sai do forno todo negro
e pesado
e denso
rasgando minhas costelas.

e parece que meu mundo vai acabar
que eu sou a maior merda que o mundo já fez
e que o mundo é a maior merda que Deus já fez.

é tanto ódio e dó e sentimentos fracos
que os funcionários desanimam
e vão para suas casas
chorar com suas famílias
sobre a bosta de emprego
que tem.

todos sozinhos
com seus amigos
e sua família
e tão solitários quanto vacas ao pasto.

funcionários grevistas sozinhos
e filhos sozinhos
e pais e mães sozinhos
e amores que não significam nada
fervilhando o coração
prestes a explodir.

segunda-feira, 21 de março de 2011

As outras

Ela não é bonita
Nem seu corpo é
Mas ela tem alguma coisa
Que as outras mulheres
Não tem
É o cheiro dela
Ou o jeito dela me tocar
Mas ela tem alguma coisa
Que me faz gaguejar

Algo
Que as outras mulheres
Não tem

domingo, 20 de março de 2011

Só não vá dizer que eu te amei

eu comia a tua imã
e você dizia
"que bom seria
se casassemos um dia"

amava-a de madrugada
e você dormia
e possivelmente sonharia
com um pouco de putaria

e ela nunca me amou
como você
fazia
todo
santo dia

terça-feira, 15 de março de 2011

A nova louca

Louca
Ela tinha cara de louca
Com aquele olho verde
Semi cerrado
E a pele branca
E cabelo preto.
Ela só podia ser louca
Naquele corpo pequeno
Dos lindos pés.
Nunca gostei de pés.
Mas ela tinha um lindo pé.

Deve ser a loucura.

Eu me apaixono tão fácil pela loucura.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O suicida

As pessoas tem o costume de dizer que os suicidas são covardes. Mas acho que há muita coragem em tirar a própria vida. Covarde é aquele que vive a merda por não ter mais o que fazer. Viver a merda pela merda, sem fim, nem compromisso, nem prazer, nem sequer um pingo de amor, nem que seja o amor próprio. Essa noite, depois de fracassar mais uma vez e, pela primeira vez em alguns meses, sóbrio, de cabeça fria, decidi que vou ser mais do que qualquer covarde que vive a merda. Eu acho que minha vida vale mais do que a merda. E eu juro, acredito em reencarnação, e acho que meu espirito PRECISA de um corpo novo. Um corpo bom. Como meu espirito é. Eu queria deixar claro que vivi, amei, sofri, sorri e chorei. A chuva no meu rosto, confundindo as lágrimas com as gotas, tudo isso fez sentido quando eu percebi que meu tempo aqui acabou. Amanhã tudo vai estar bem e o mundo vai ser mais feliz. Eu vou sentir tua falta. Tomara que você sinta a minha, pelo menos vou saber que ainda existia um pingo de amor.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O todo

toda vez que penso em você
me sinto um bosta.
acho que, no fundo, estou nadando
em merda.
o meu sentimento é merda.
o dia a dia é merda.
e eu tento acordar
7h20 da manhã
com cara de cu
e sem você.
e foda-se,
você não
faz parte
de
mim.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Rock

a gente acha
que o mundo acaba
cheio de suas mulheres
e suas oportunidades
e sua abundância
o mundo tá bem
se você ver bem
é sexo
drogas
rock'n'roll
e a gente tenta nadar
nessa merda toda
sem amor
sem esperança
mas com sexo
e drogas
e rock'n'roll
do jeito
que dá.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Insônia

sem batidas de coração
sem sentimentos
sem corações feridos
só diga boa noite
e pulemos a esperança
e o sexo
e as memórias
só diga boa noite
que hoje
eu vou dormir
melhor

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Deus e o Jardim do Éden

hoje vi a coisa mais linda da minha vida
e quero escrever um poema
pra eternizar o que vi
e que eu lembre eternamente.

era quase loira, belíssima
e vestia um vestido amarelo
transparente
era magra, parecia uma modelo
uma modelo gostosa
bem gostosa
e linda
vestia um sutien preto
e descia a rua
como se vestir roupas transparente
fosse algo normal
ela tinha glamour
ela era linda e sabia disso
e, graças a Deus, queria mostrar isso
a calcinha
de oncinha
e
meu caralho
que coisa
maravilhosa...

Escrever é complicado

escrever é complicado
não basta ter vontade
ou decidir que
"nunca mais vou escrever"
escrever é complicado
é vomitar as mágoas
e as vitórias
e as derrotas
escrever é complicado
não passa de um vício
que vem do nada
e vai embora do nada
escrever é complicado
a gente nunca sabe quando tem que escrever
até que a vontade vem
e os dedos começam a coçar
e a mente trabalha diferente
escrever é complicado
é que nem ejaculação precoce
a gente não espera
é rápido
do jeito que vem
vai

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O casamento do bêbado

Eu estava completamente bêbado
E as luzes brilhavam e a música fodia meus tímpanos.
Ela apareceu, pequena.
Pequena e bela.
"Quero me casar com essa mulher"
Eu pensei.
E ela olhou para mim.
E eu olhei para ela.
E ela dançava e olhava e parava de olhar.
Talvez ela quisesse casar comigo,
Ou dançar comigo,
Ou beber alguma coisa, eu pagava, qualquer coisa.
Ela era pequena, bem pequena
E seu cabelo cacheado,
Realmente cacheado,
Maravilhosamente cacheado,
Quase batia na bunda.
O nariz fino e belíssimo.
Eu tenho esse negócio
Com narizes.
Amo um belo nariz.
E ela tinha o mais belo.
Eu precisava que minhas filhas tivessem aquele nariz.
E pensei "caralho, preciso mijar"
Decidi que mijaria, depois voltaria falar com ela
E pediria ela em casamento
Ali na pista teríamos uma belíssima família
De crianças com narizes delicados
E cabelos pretos cacheados
E nos amaríamos para todo o sempre.
Fui mijar, quando voltei,
Ela tinha sumido.
Eu revirei o lugar
De cabo a rabo.
E não achei ninguém,
Até que pensei
"Aliás, como ela era mesmo?
Que merda, tô tão bêbado que não lembro como era..."

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Um brinde

era a noite mais feliz das ultimas noites.
eu estava sorrindo
sozinho.
mais sozinho que nunca.
perdido
numa porra dum mundo
errado.
mas feliz.
eu finalmente estava feliz.
feliz,
com a dor da solidão,
mas feliz.
e acho que é isso que importa.
a merda da felicidade.
não o sexo,
ou o prazer.
à felicidade,
acima de tudo.

A mais linda

Ela era linda.
A mais linda de todas.
Eu dizia que era somente... linda.
Mas era a mais linda.
Queria menosprezá-la,
Afim de que ela se tornasse,
De algum modo,
Acessível a mim.
E ela, a mais linda,
Cairia nas graças de tal homem.
Ou tal moleque.
Ou tal rato, ou tal covarde.
Ela era a mais linda e sabia.
No seu vestido preto
Que deixava suas pernas morenas a mostra
E no seu salto 13,
Que a deixava com mais de 1,80.
Ela era alta.
Alta e linda.
A mais linda de todas.
E ela sabia disso.
E dançava balançando os cabelos lisos
Enquanto todo o mundo olhava.
O mundo queria ela.
Eu queria ela.
A mais linda
De todas.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

As tartarugas

- Amanda, mostra a tartarugas pro menino! - Disse o tio do meu pai. Estávamos visitando o homem que me disse "como você cresceu!", mas que eu não fazia a mínima idéia quem era.
- Pai, acabei de sair do banho!
- Filha, ele tem dez anos... - Eu tinha dez anos, era baixo e magro, meu cabelo ia até o meio das costas, eu usava óculos e aparelho. Eu parecia uma menina.
- Tá bom...

Subi a escada sozinho e ela estava na porta do quarto dela. Era alta, grande, corpulenta, cavala. Estava enrolada numa toalha, os cabelos estavam molhados.
- Olá.
- Oi. - Respondi envergonhado.
- Tenho duas tartarugas. - Entrei no quarto, logo ao lado da porta, havia um aquário com as tartarugas pequeninas.
- Eu também.
- Que legal! Pode brincar com elas.

Sentei numa cadeira e peguei uma na mão e pus no colo, peguei a outra e deixei ela na palma da minha mão. Olhei para o lado, Amanda estava sem a toalha, completamente nua.
- Ai, desculpa! - Puxou a toalha e escondeu o corpo gostoso.
- Tudo bem, não tem problema. - Sorri docemente, pensando "imagine que eu sou uma menina, eu pareço uma menina"

Ela entrou no banheiro e voltou rapidamente, vestindo lingerie preta e a toalha na cabeça, secando o cabelo. Trancou a porta do quarto.
- Tudo bem eu deixar a porta trancada?
- Sem problemas...
- É que tem visita, tenho vergonha.
- É verdade.

E ela começou a ler um livro, seminua e deliciosa. Eu fingia que brincava com as tartarugas e ficava olhando para a bunda dela.
- THOMAS, VAMOS EMBORA? - Meu pai gritou lá de baixo.
- TÁ, TO INDO, PAI!

- Tchau, Thomas.
- Tchau, Amanda.
- Quando quiser voltar, volte. - Sorriu e me deu um beijo na bochecha, destrancou a porta.

Morte

Do lado do cemitério, havia um bar.
Bar do Cemitério, se chamava.
Abria depois que o cemitério fechava,
Em respeito aos falecidos
E aos familiares dos falecidos.
É que os falecidos tinham que ficar perto de seus túmulos
Esperando que seus familiares
Os viessem visitar.
Depois do expediente,
Todo mundo para o Bar
Do Cemitério.

O Bar enchia logo de cara.
E gritaria, jogos de carta e uma sinuquinha.
Cerveja barata e doses de pinga pros gente boas.
Eu tava passando e resolvi entrar.
Sentei no bar e pedi
"Me vê uma Skol"

Era duas da manhã
E eu tava bem bêbado.
Eu só olhava para as garrafas da parede do bar,
Nunca para as pessoas.
De algum modo,
Eu sabia que estavam todos mortos.
Do meu lado, senta uma mulher.
Eu sabia que era mulher pelo cheiro.
Um perfume gostoso, de mulher.
Viro para o lado e era um vulto.

"Oi",
O vulto disse.
Com uma voz rouca
Sensual.

"Oi... Garçon, me vê um copo prá ela"
Eu respondi.
Com um pouco de medo.

"Não bebo cerveja. Carlito, me vê duas tequilas.
Na minha conta."
Ela disse.

"Porra, Morte. Você nunca me paga!"
Carlito brincou.

"Mas te deixo vivo!"

"Por conta da casa, meu amor..."
E sorriu para o vulto.

Bebemos a tequila
E de repente
Ela tinha tirado aquele
"Vulto"
Era alta, vestia uma blusa decotada preta
Os seios saltavam para fora.
De microsaia, também preta,
Esbanjava pernas deliciosas.
Era branca como a neve
E seus lábios eram vermelhos,
Naturalmente vermelhos.

"Vamos para a minha casa, Thomas?"
Mordeu os lábios.

"A vida é bela, Morte."

"E eu?"

"Você é uma delicia..."

"Eu sei!"
Ela ria gostosamente
"Hahahaha!"
Mordia os lábios
E esfregava a perna em mim.

"Mais uma, por minha conta?"

"Não estou afim."

"Ok. Garçon, me vê a conta."
Sorri para a morte,
Beijei-a no rosto
E disse:
"Até a próxima."

E sai do bar,
Chutando uma pinha
Até o meu apartamento
No centro da cidade.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Vida

há tanta coisa na vida
além do amor e da dor
e da morte, sobretudo

a gente esquece que há
alegria e sorrisos e sexo
e também há bebidas
e música alta e diversão

lugares bonitos,
pessoas bonitas,
sentimentos bonitos
a vida não é a morte

a gente esquece de viver
que respira e inspira
que um coração bate
enquanto a gente anda, pra frente ou pra trás, não importa
o importante é andar enquanto
ainda temos pernas

enquanto ainda temos vida.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Jogo de azar

estávamos jogando sinuca.
eu e ele, ela assistindo.
e nós nos odiávamos,
só naquele momento,
pois eu gostava dele, um bom sujeito.

era questão de mérito,
eu precisava vencer.
ele precisava vencer.
e o vencedor, tinha a dama.
mas a dama não sabia disso.

era um triângulo amoroso.
eu, ela, ele.
uma porra dum triângulo zoado.
ele curtia ela, ela não estava nem aí
e eu sentia uma porra duma paixão inconsistente.

e ele era bem melhor.
botou a bola 9 para fora.
sobrou a 8, botou na boca da caçapa.
eu ainda tinha a 4, perdida.
atirei o taco, o meu caralho para o mundo.

e nessas horas a gente percebe
que nada é justo
e tudo é uma competição.
todos estamos pendurados nessa obviedade,
a competição.

a bola branca bateu na 4
que bateu na parede.
a branca bateu na parede, na outra.
a 4 foi bem devagar e pá, na caçapa.
a branca, bem devagar, pá na 8.

eu ganhei,
sorri.
mas não ganhei porra nenhuma.
e eu tava bem,
bêbado.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Por um mundo justo

"você não estava esperando
que Deus tivesse piedade, né?"
ele gargalhava, suas veias saltavam
do pescoço e da testa

"claro que não."

"tá escrito na tua cara!
claro que tava!"

"ah, foda-se..."
traguei mais uma vez.
tossi.

sábado, 29 de janeiro de 2011

A verdade

4 da manhã e eu
ouvia meu coração
batendo
forte,
fugindo de mim.
o peito
doendo
e percebi
que minha paixão
estava se transformando em
amor,
a minha cura.
eu estava livre do
vazio.
e meu peito
doia.
era tudo imaginário,
a paixão,
o amor,
o vazio.
mas a dor
era real.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Charles Bukowski

"É este o problema com a bebida, pensei, enquanto me servia dum copo. Se acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom, bebe-se para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa."

Mulheres, de Charles Bukowski

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Romance e poesia

Mariana era um romance de mil e duzentas páginas, por isso demorei 3 anos para lê-la. Era um história completa, cheia de personagens redondos e inimagináveis surpresas. Mariana tinha uma beleza diferente e uma mente diferente. Ela era diferente e a leitura foi bem demorada e muitas vezes entendiante. Um amor que me durou 3 anos, com suas diferentes intensidades, ora precisava desesperadamente lê-la por horas ou dias a fio, ora queria desistir de ler para sempre. Amá-la foi muito complicado.

Amanda
Era poesia.
Com seus
Cabelos
Lisos e
Seu sorriso largo e
Seu lindo corpo.
Era poesia
Que se

Em 30 segundos.
Uma paixão
Intensa
Que acaba tão rápido
Quanto veio.
Amanda é poesia.
Que se

E se
Relê
E se
Apaixona
E se
Reapaixona.
Ela é poesia
E não sai da minha
Cabeça.
Poesia se lê
E se relê
Para o resto
Da vida.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sonhador

eu seria um idiota
se não me apaixonasse
por você.


eu
seria um babaca
se não quisesse ver
o
s teus olhos nos meus.

eu
seria um ridículo
se não quisesse sentir
o
s teus lábios nos meus.

o
s teus seios
no meu peito.
a tua cintura
no
s meus braços.

mudei, para pior.
ma
s por você eu sou
aquele me
smo ingênuo,
alegremente ignorante,
tolamente confiante.

cabelo
s e sorriso
e lábio
s
e um beijo de canto de boca.
uma
serenata silenciosa.
eu
sorrio, você também.

eu
sou um idiota
e me apaixonei por você.
tolamente confiante
vivendo num mundo
de
sonho.