domingo, 27 de novembro de 2011

Bloco de Notas

abri o bloco de notas
isso nunca acontece
eu, geralmente, abro o blog
e vomito.

abri o bloco de notas
e olhei a tela branca
e meus dentes doem
e eu não consigo entender as coisas

eu me animo a escrever uma poesia
e começo
do jeito que está
mas logo desanimo

eu sei que não ia dar certo escrever uma prosa
um conto
sei lá
vai poesia

e sobre o que a gente vai escrever hoje?
qualquer coisa
já que não escrevemos há dias
sobreviver tem sido fácil demais

escrevo quando me dói o peito
e eu cheguei num estágio da vida
em que eu não me importo com absolutamente nada
estou seguro

então eu não preciso escrever
estou livre das dores
e dos amores
estou livre pra viver

as mulheres estão interessadas nas aparências
e eu não estou interessado em me barbear
as pessoas estão se tornando cada vez mais ignorantes
e eu não suporto ignorância

o tempo está passando
e eu não estou dando a mínima ao Sol se pondo ou nascendo
a vida está me largando pra trás
e eu deito na minha cama e me sinto estranhamente bem

eu estive sozinho
e temi a solidão
como uma criança teme o bicho papão
mas a solidão não existe

os seres humanos não se completam
eles se adicionam
e eu estou satisfeito com a minha matemática
pelo menos me vi obrigado a estar

ninguém está se importando
com o que se passa por aqui,
ou com outras coisas mais importantes do que aqui,
estão atentos à desgraça e às falhas alheias

a vida
de repente
se mostrou boa à mim
que ironia

acho que entendeu que não estava de brincadeira
e que a qualquer momento
eu estaria de corpo vazio de alma
e três ou quatro pessoas sentiriam a minha falta

a gente esquece quão importante elas são
e elas esquecem quão importantes nós somos
então elas vivem sem nós
e nós vivemos sem elas

tudo lindo demais
e fácil demais
e rápido demais
não estou sozinho

só um pouco vazio
de esperança
e de importância
cheio de sorte

ninguém quer saber se estou bem
e eu não quero saber se estão bem
estou preocupado com coisas importantes
como a verdade e a mentira e o amor e a justiça

o mundo acaba
e eu quero morrer
mas eu não morro
eu não preciso morrer

eu preciso levantar
e tomar banho
e escovar os dentes
e viver

sábado, 19 de novembro de 2011

Dicotomia

O mundo está perdido. Estamos afogados em 7 bilhões de seres humanos ignorantes e inconsciêntes. As pessoas são más e cruéis umas com as outras. Vence o mais forte e a máxima ainda é Olho por olho, dente por dente. Não nos deixam nos unir. Sempre o bem e o mal nos puxam em seu favor. Nós achamos que há bem e mal. Mal do cérebro, achar dicotomia em tudo. Bem versus Mal, Certo versus Errado, Bonito versus Feio. Quando na verdade estamos dançando sobre um tapete em que entidades nos puxam para os lados. Hoje não há certo e errado. Hoje existem pessoas que se beneficiam com um lado e pessoas que se beneficiam com o outro lado. E essas pessoas estão dispostas a vender o seu peixe com todas as suas ferramentas. E você está lá, escolhendo ser sempre bom, quando, na realidade, você está sendo mau. Realmente mau e cruel, supondo que a sociedade toda deveria acatar o seu lado do bem. Nós somos o 99%, dizia o Occupy Wall Street. E o 1% puxa o nosso tapete, fazendo com que busquemos a nossa verdade. Seja em nome de princípios econômicos, principios sociais ou principios religiosos. A verdade é que não há uma dicotomia. Somos 7 bilhões de ignorantes buscando uma vida melhor.

Futuro do pretérito

Sentados no carro, ainda meio bêbados. Radiohead nadando no ar úmido da nossa hora juntos, ali dentro. A luz alaranjada lá fora, dos postes, e a azul dentro, do som. A gente se beija e sorri. Eu pergunto a ela se sobriveremos, mesmo comigo indo embora para todo o sempre.

"Não sei. Tomara que sim. E se não sobrevivermos, que nosso amor seja que nem dos meus pais, que foi o suficiente pra fazer duas filhas pra depois acabar."

Eu queria ser pai. Eu estava feliz.
Mas a gente morreu.

sábado, 5 de novembro de 2011

Segunda feira

a gente acaba se acostumando com o fracasso
e com a solidão
e com a tristeza
é tão fácil esquecer que existe um mundo lá fora
enquanto aqui dentro o ódio acaba corroendo nosso peito vazio
a gente escolhe o vazio
mas nunca estamos sozinhos
existem boas pessoas
e existe a esperança
e a porra do amor

acredite
há amor

o mundo ainda não acabou
e ainda tem tempo pra ele acabar
só nos resta saber se vamos perder esse tempo chorando nossas mágoas
e nos odiando a cada vez que respiramos fumaça

basta acordar
e tomar um banho quente
e pensar que toda essa bosta
não é tão ruim assim

estamos vivos
e acho que isso
e só isso
é importante

a vida pode ser difícil
mas pode ser mais difícil se escolhermos não sorrir
sorrir faz bem
eu gosto de sorrir
eu gosto de fazer os outros sorrirem
eu sou um fracasso
mas estou vivo

acredite
é isso que importa