sexta-feira, 29 de julho de 2016

O desespero e a calma

um boato branco
e trivial
como um tiro no escuro
que desvia por ruelas
e toca a pele
por descuido

o medo incontrolável
de dormir
em público
e os sonhos
confundem a realidade
e os olhos fecham por um breve
segundo
e nasce-se outra vez

uma golfada de ar
para todo o medo
que conscientemente
juro
não sentir

um raio
e um percurso
e um trovão

uma refeição
bem preparada
que te mata

um piso
errado
e
bang

é tudo novo
golfo de novo
se é que essa palavra
existe

o ar me incomoda

não tenho medo
de nada
exceto do tempo
e da luz
e da louça
e do desemprego
e do passado
e do presente
e do futuro
e de todas essas catástrofes que não param de girar em torno de mim
como se eu fosse um imã de caos

o terreno é depilado
as fumaças negras e densas surgem esporadicamente
os carros se engavetam com lentidão absurda

um choque
atrás do
outro

acho que tem mais ambulâncias
e mais vítimas
e mais corpos sem rostos
sempre seus corpos
deitados
e uma multidão
ou um policial
ou um bombeiro
ou uma porta
sempre esconde
o rosto
da vítima

o mundo anda lindo
o céu e suas cores
e as árvores e suas folhas e flores
e o amor

o amor nos deixa cego
e nos sentimos gratos
pela vida

conscientes desse sufoco nessa merda toda
conscientemente calmos
e gratos
e vivos