quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Amor à primeira vista

O problema é que ela era gostosa demais, se é que isso é problema...

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O insone fracassado

é de noite, quando a insônia bate forte, que todo o meu indomável positivismo se esvai. o escuro e a horizontalidade me deixam sem sono e, se o tenho, não consigo dormir, envolto em obscuridades e desesperanças. durante o dia, basta a luz do sol bater no meu rosto que entendo o poder e a magia da vida, então tenho a certeza que os fracassos são uma contínua contribuição aos conhecimentos. mas é durante as longas horas que passo ouvindo os insetos e os morcegos e os vizinhos que me sinto impotente, apto a desistir a qualquer segundo, cogitando fugir e tentar a vida onde nunca pensei em tentar. mudar, de novo, esperando mais um fracasso que me grava na memória a ojeriza e a ideia de fugir de novo.
maldita insônia que fode com as minhas manhãs perdidas de sonos mal dormidos e me põe ideias tão erradas quanto a própria morte na minha cabeça instável. amanhã é outro dia e eu vou ver beleza em tudo, então agradecerei estar vivo e saberei conviver tão bem com os meus inúmeros e ininterruptos fracassos, mas antes, eu preciso dormir...

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Me ame!

- E... o que você acha do amor?
- Como assim?
- Qual a sua opinião sobre o amor?
- Não entendi. Qual é a sua opinião sobre o amor?
- Ai, deixa pra lá. Esquece.
- Vai, ouvindo a tua resposta, eu entendo a tua pergunta...
- O amor é complicado.
- Hm.
- Ele é complexo. Ora dói, ora cura, ora entristece, ora alegra. O amor constrói e destrói. O amor é o mais forte dos sentimentos.
- Maior que o medo?
- Acho que sim.
- Você já sentiu medo?
- Claro que já. Todo mundo já sentiu medo. Mas nem todo mundo sentiu o amor.
- Tem certeza?
- Tenho. Medo a gente tem todo dia. Amor, é coisa rara, única.
- Hm...
- Entendeu?
- Aham.
- O que você acha sobre o amor? - Ela virou o rosto para ele, deitando a cabeça nos ombros. Ele tira o cabelo dela que lhe encomoda a respiração. Ela vira os olhos para ele. Ela sorri.
- Não sei.
- Claro que sabe. Você sabe de tudo. - Ri.
- Eu não sei de nada! - Ele sorri.
- Fala!
- Eu não sei se você tá preparada pra ouvir o que eu penso sobre o amor.
- Nossa...
- É, tenho uma opinião meio ácida sobre ele. E não quero acidezes na minha cama. Não agora. - Olha para o teto e passa os dedos na orelha dela, tão levemente que ela estremece e todos os pêlos das costas se eriçam.
- Quero te conhecer por completo. Acho que mereço saber o que você pensa sobre mim.
- Penso que você é minha sorte.
- Não sou seu amor? - Ela levanta o corpo e olha para ele, sorrindo. Ele olha para ela, olha para o rádio relógio do criado mudo, 3:54, não se lembra se trancou o carro, mas a essa hora isso já não importa, ou não tanto quanto o amor.
- Ai, meu Deus...
- Fala!
- Eu não acredito em amor. - Ela apaga o sorriso, sem mover mais um músculo sequer, senão as sobrancelhas que sobem um pouco, muito pouco.
- Como assim não acredita em amor? - Ela senta na pélvis dele. Ele olha o corpo dela, pensa que deveria acreditar em amor, pelo menos para não perder a sorte. Ele não era feio, nem bonito, ela era uma delícia, era sorte.
- Ah, amor. Deixa quieto... outra hora a gente tem essa conversa...
- Você não acredita em amor e eu sou o seu amor? - Os olhos delas se abrem de espanto e aos poucos se umedecem. Ele percebe a cagada que fez, tenta puxá-la para uma abraço, mas ela desce da pélvis e se senta de pernas cruzadas, ao lado dele.
- O amor é que nem religião. Eu respeito todas as religiões e respeito todos os que amam. Eu não acredito em amor. O conceito de amor, de paixão, de felicidade a dois, se confundem, é tudo muito subjetivo. O amor não existe, são reações biológicas e psicológicas que acontecem no nosso corpo, que algumas pessoas tendem a crer que é amor. Pode ser alegria, pode ser satisfação, pode ser prazer, pode ser a mistura disso tudo.
- Você pode acreditar em Deus ou não acreditar em Deus, afinal é impossível provar que existe ou não existe um Deus. Mas o sentimento... todo mundo sente! Fome, você sente fome. É um sentimento. Você não pode dizer que não acredita na fome...
- A fome é clara. Você sabe o que a fome, eu sei o que é a fome, todos sentimos fome, pessoas morrem de fome. Não é um sentimento, é uma sensação.
- Amor, as pessoas sentem amor... - Ela já levantava a voz, apoiada nos joelhos. Ele estava sentado ao lado dela, costas apoiada nos travesseiros apoiados na cabeceira da cama.
- Algumas sentem, outras não. É difícil definir amor.
- Você nunca vai me amar, né? - Ela olha para baixo, começa a chorar. Ele tem a impressão que ela está olhando para o pênis dele, mas não passa de uma impressão (que infelizmente o excita, ele sente vergonha dessa excitação).
- Não...
- Eu não posso amar alguém que não pode amar. Você acabou com toda a minha segurança!
- Não posso amar, mas isso não significa que eu não sinta!
- Amor? - Olhou para ele, o rosto vermelho.
- Sentimentos, todos eles. Você me faz feliz!
- Amor, quero saber de amor!
- É claro que não posso sentir amor. Eu nem sei o que é amor. Provavelmente eu sinta todo dia, quando o cachorro me acorda de manhã, ou quando minha mãe me liga pra dizer que sente saudades, ou quando eu te vejo entrar no carro e tua saia levanta um pouquinho. - Ele fala sorrindo.
- ISSO NÃO É AMOR! - Sai da cama, pega a calça do chão, a blusa da cadeira. Não consegue encontrar o sutien e a calcinha. Ele não sabe o que fazer. Ela entra no banheiro e bate a porta. Ele ouve ela chorar alto, como se o mundo tivesse acabado. O chuveiro liga.
- Provavelmente isso é amor... - Ele fala pra si mesmo e acende um cigarro; apaga a luz e se concentra na brasa que estala enquanto ele aspira a fumaça...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O imortal

Chegou aos cinquenta relativamente saudável. Os pulmões, principalmente o direito (sabe lá Deus por que um pior do que o outro), não funcionavam tão bem, mas nada mais natural, afinal era fumante e aspirava diariamente toda a poluição da cidade. O fígado não doía, isso era bom, afinal dor no fígado significa que é tarde demais, então ele ainda podia beber a sagrada cerveja do final de semana e os ocasionais porres de vez em quando. O coração fibrilava mais do que batia devido aos excessos de emoções, amores, dores, horrores, exctasy e cocaína, mas não precisava se preocupar tão cedo com isso. Os olhos não viam tão bem quanto outrora viram, ele já levava o jornal lá longe para lê-lo, mas isso já fazia há muito tempo, bem antes de completar os cinquenta. Só a próstata que ele não sabia como ia, mas isso era questão de hombridade, jamais se permitiria fazer um exame de próstata.
- Doutor, quanto tempo tenho?
- Que pergunta. Sabe lá Deus quanto tempo tem!
- Quero números, doutor. Estou preso a essa vida, então preciso vivê-la, mas pra isso preciso saber quanto tempo tenho.
- Não sou eu que posso dizer quanto tempo tem. Tudo pode acontecer!
- Eu não quero morrer, doutor.
- Você tem cinquenta anos, homem. Olhando pra você, vejo que tem muito tempo pela frente, quem sabe 20 ou 30 anos.
- Eu quero mais.
- Quantos anos mais?
- Cem, duzentos. Quanto der. - O médico olhou para ele espantado.
- Ninguém vive duzentos anos...
- Doutor, eu sei que existe tecnologia o suficiente pra me fazer imortal. Só quero saber quanto custa isso...
- Isso não passa de ficção científica. As pessoas morrem, as células morrem, consequentemente os órgãos, você morre.
- Então não adianta trocarmos meus órgãos? Meu pulmão, meu fígado, meu coração. Minha próstata!
- Não, eles não precisam ser trocados.
- Claro que precisam. Se eu tiver órgãos novos, posso viver mais alguns anos.
- De que adianta trocar uns órgãos se o resto vai envelhecer de qualquer jeito? Os teus músculos, as tuas veias, o teu cérebro.
- E se colocarmos o meu cérebro no corpo de um garoto? - O médico olhou mais espantado.
- Isso não faz nenhum sentido!
- Talvez eu esteja no médico errado. Bom, muito obrigado, doutor.
- Sinta-se a vontade. Até a próxima. - Abriu a porta para o paciente.
- É, talvez daqui a uns cem anos, se você ainda estiver aqui. - Sorriu e apertou a mão do médico.

O médico sentou-se na cadeira e chamou sua secretária pelo telefone.
- Quantos pacientes temos ainda?
- Quatro, doutor.
- Tem alguém na sala de espera?
- Não. O próximo está marcado para daqui 20 minutos.
- Desmarque todos. Não estou me sentindo bem.
- Ok.

Pegou as chaves do carro e passou em casa para pegar a bicicleta. Precisava pensar. Se todos os homens fossem imortais, onde caberiam as pessoas? Quem teria tal previlégio? Somente os ricos ou toda a população mundial? Até onde os empregos, as casas, as ruas, aguentariam o nascimento de novos seres imortais?

Estacionou a bicicleta e sentou-se num banco a beira mar para telefonar para seu sócio.
- Cara, precisamos parar com isso.
- De novo?
- Hoje veio outro, pedindo a imortalidade.
- E o que você disse a ele?
- Que era impossível.
- Ah, você percebe que me deve dinheiro, não é mesmo? Quanto a gente perdeu nesse sujeito? Você é um idiota.
- Eu não quero mais fazer isso.
- Eu só não entendo por que você precisa pensar em desistir a cada 5 ou 6 anos. Desse jeito, vou passar a eternidade tentando te convencer que o dinheiro não compra a felicidade, mas sim a saúde.
- O cara de hoje deu a ideia de colocarmos o cérebro dele no corpo de um jovem. - Riu, tentando se livrar do nervosismo.
- As pessoas assistem muita televisão. - Riu o sócio.
- Bom, eu posso ligar pra ele de novo, dizer o preço.
- Nah, deixa quieto. Não precisamos de um cara que acha que pode ser trocado por um jovem. Uma coisa é querer ser imortal, outra é ser egoísta o suficiente a ponto de crer que pode acabar com a vida de um garoto afim de viver um pouco mais.
- Obrigado.
- De nada. Acredite, outros virão. E temos bastante tempo pra salvar vidas e ocasionalmente torná-las eternas. - Desligaram o telefone e ele voltou a pedalar. Já fazia o mesmo caminho há 35 anos. Logo estava na hora de se mudar de cidade de novo. Salvar vidas em outro lugar.

domingo, 25 de março de 2012

Início

A gente começava um relacionamento. E no começo, todos os relacionamentos são iguais. Não nos conhecíamos e nos víamos pouco, mas eu sabia que aquilo era um início de relacionamento. Trocávamos mensagem pelo celular falando de coisas bobas como a chuva de verão. Qualquer coisa é coisa pra se falar nessas horas.
Era noite e eu estava em casa, como todas as noites. Sobra dinheiro e sobra tempo, mas não sobra vontade pra sair de casa e pegar uma balada e beijar umas vadias. Ainda mais quando se está começando um relacionamento. Ninguém falou nada de fidelidade, mas a gente não sai enfiando o pau em qualquer coisa que anda nessas épocas. Eu estava bebendo vinho, assistindo filme, coçando as partes. Dessas inúteis coisas que amo, vinho, filme, coçar as partes. Daí ela me pergunta o que eu faço, por mensagem. Eu respondo que coço as partes. Ela me pergunta o que eu estou com vontade de fazer. Respondo que queria ela nua no meu quarto escuro.
Ela não responde. Esse tipo de coisa não se diz pra pessoas que começam coisas. Merda. Todo relacionamento, ou quase todo, se converge no sexo, depois de algum tempo. Mas no começo ninguém fala palavrão e você jamais vai imaginar que da boca dela saia palavras como gozo ou molhada.

A segunda garrafa já passa da metade. Vinho é uma coisa estranha, não é que nem cerveja. De repente toca o interfone e ela está lá embaixo. Porra, tinha esquecido que falei aquela merda pra ela. Digo pro porteiro deixar entrar. E eu estou sentado na banqueta que fica na frente da porta, esperando ela chateada com o meu palavreado chulo. Ela toca a campanhia. Eu respiro e inspiro. Levanto e abro a porta. Ela sorri, vestido curto azul turqueza e por cima um sobretudo bege aberto. Eu sorrio e nos beijamos.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

A namorada gostosa

É fácil não gostar das mulheres gostosas. Pelo menos eu tive meus momentos. Era belíssima e deliciosa, porém estúpida e vulgar. Dezesseis anos, sétima série do Ensino Fundamental, boca de marujo, mente perversa. Falava das putarias da vida com certa normalidade, como se o sexo e a prosa estivessem no mesmo patamar. E sobre prosa, falamos de doces palavras como boceta e caralho. Na época, eu tinha uns dezoito, ou dezenove, achava aquilo tudo muito inapropriado. Eu vivia num mundo onde o sexo era feito debaixo das cobertas, regados de beijo, perfume e amor. Ela conhecia a vida melhor do que eu. Muito melhor. Ela tinha dezesseis anos.

Certa vez andávamos pelas ruas duma cidade litorânea, era fora de temporada e tudo estava completamente vazio. Passávamos na frente do Corpo de Bombeiros e ela desatou a falar, enquanto andávamos de mãos dadas.

“Eu já namorei um bombeiro daqui.” E eu não respondi nada, sequer dei sinal que ouvi. “Tá, não namorei. Peguei por uns tempos. Mas isso foi há muito tempo.” Perguntei quantos anos ela tinha, ela respondeu que fazia tempo, bastante tempo. Ela tinha dezesseis anos e era simplesmente deliciosa. Um rabo imenso, cintura fina e seios definitivamente já completamente desenvolvidos. Dezesseis anos com corpo de vinte. “Nossa, tanta história com esse bombeiro. Foi assim, eu e a minha prima andávamos na praia e tinha dois salva vidas. Que delícia de salva vidas. O outro era preto, feio de doer o coração, mas também muito gostoso. Aqui só tem salva vidas gostoso.” Caralho, o que eu fiz pra merecer isso? Continuei quieto, enquanto andávamos pela avenida principal. “Daí minha prima falou ‘Eu pego o gostoso!’, era óbvio que ela tava falando do que eu queria pegar. Daí começou a briga, né? Enfim, você já viu minha prima, né? Meio gordinha.” Ela riu maldosamente. “O bombeiro me escolheu, é óbvio. Minha prima só cortando o pretinho. Coitado. Quer dizer, coitada, né? Ele era horrível!” Um gato preto atravessou a rua. Entramos numa padaria, ela queria sorvete, eu paguei.

“Então, onde eu estava?”
Não respondi nada. “Ah é, o bombeiro. Então, a gente se pegava escondido, durante o horário de trabalho dele, quando ele tinha que ficar olhando o pessoal nadando. Uma vez o chefe dele, como é o nome do chefe do bombeiro? Tá, o chefe do bombeiro viu a gente, daí ele acabou sendo despedido. Coitado.” Eu perguntei se ele não tinha sido preso e ela perguntou daonde eu tirei essa ideia idiota. Pedófilo de merda, foda-se. “Enfim, deixa eu continuar minha história. A gente tava na casa da vó, né?” Onde estávamos hospedados, o que fez meu estomago revirar. “Era primo, prima, amigo, amiga, umas quinze pessoas dormindo na sala. Eu tinha combinado com o bombeiro de ele ir lá em casa, depois que todo mundo tivesse dormindo. Daí ele apareceu, de madrugada, entrou debaixo do meu lençol e a gente começou a se beijar. Tudo isso na sala, junto com aquele povo todo que dormia. A coisa começou a ficar quente, mas eu era virgem. Foi aí que eu fiz o meu primeiro boquete.”

Voltamos para a cidade. Liguei para os meus amigos e perguntei o que iríamos fazer. Daí dá-lhe bar e, naquela noite, beijei duas garotas. Elas eram amigas, ambas ficaram chateadas uma com a outra. Uma delas foi embora de carona comigo. Era a que beijava mal, também a mais feia das duas. Ao parar o carro na frente da casa dela, pedi mil desculpas por todo caos que eu criei. Contei-lhe da minha namorada, que era uma vadia e eu era obrigado a ouvir todas as histórias, uma mais escatológica que a outra, da vida sexual dela. Ela sorriu, abriu meu zíper... No dia seguinte, não liguei para a namorada, não que ela se importasse muito.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Felicidade

We never talk about poetry, 'cus she knows nothing about poetry.
We never talk about movies, 'cus she likes some shitty movies.
We never talk about politics, 'cus she really don't give a goddamn fuck about politics.
We never talk about art, 'cus she think that's a matter for druggies, so she hates arts.
We never talk about human beings, 'cus she don't mind if she's talking with a dog, a heartless bitch, a mindless bodybuilder, or a fuckin' human being.
We never talk about nothing, 'cus that's what she wants to talk about, but I don't have this kind of stuff inside my fuck'd up mind.

So we fuck.
Than she sleeps.
Than I read.
So she wakes up and we fuck again.
Than she, with her heartless bitches so called bffs, disappear fastly enough to make a guy feels impotent. My thing semi-hard and she's already buying lovely shoes.
Than I take my bath.
Fill my glass with pure cheap wine and light a small ganja.
Stay tunned for the next episode of Californication.
I smile.
This is love.
This is life.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Pedofilia

A minha ex namorada estava apaixonada por um menino e eu já tinha deixado de ser um havia muito tempo. Algumas pessoas simplesmente não conseguem suportar a maturidade, outras não conseguem ser maduras.

Eu estava apaixonado por uma menina e eu já tinha deixado de ser menino havia muito tempo. Ela era cinco anos mais nova do que eu, sem contar os meses, senão a gente arrendonda pra seis. Cinco anos e nove meses mais nova.

Amanda apareceu na minha vida quando minha priminha (da idade da Amanda) apareceu com sua amiguinha em casa. A amiguinha apareceu vestindo uma blusa marrom decotada com um triângulo estampado cortado pelo decote, no braço esquerdo uma tatuagem de algo que eu não sabia dizer o que era, na mão direita segurava um Bukowski ainda plastificado. Vai ver minha priminha não era mais uma criança e eu não sabia. Quantos anos você tem? Er, seis a menos que você! Jesus, eu estava ficando velho.
Amanda não falou muita coisa, mas não precisava. Eu estava completamente apaixonado por uma menina que ainda não atingira a maioridade simplesmente por ela estar na minha sala de estar, sentada na poltrona que dava pra frente pra televisão. Querem cerveja? Eu perguntei. Ai, será? Meu pai logo chega. Acho que não, Tho. Respondeu a minha priminha. Os olhos da amiguinha encontraram os meus, ela sorriu, se levantou e veio em minha direção. Eu abri passagem a ela e eu pude sentir um cheiro doce e esplêndido. Não bastava ser bela, tinha que ser cheirosa. Posso? Segurando a Heineken de 600ml. Pega copo pra gente ali. Ela deu um gole no bico. É Pink Floyd? Eu perguntei. Aham. Ela respondeu. É que falta o raio de luz. Sabe Deus se as meninas de hoje em dia tem bom gosto o suficiente pra ouvir Floyd. Ela deu outro gole e chegou perto de mim, Acho que sou só eu mesmo. Foi até a sacada e acendeu um cigarro.
Como é o nome da tua amiga, Mari? Amanda, esse é o Thomas, Thomas, essa é a Amanda. Ela olhou pra mim e me ofereceu a garrafa. Dei um gole. Mari, posso ficar por aqui? Falou olhando pra mim. Claro, mas vai pra casa dormir lá? A priminha chegou perto e tirou a cerveja de mim, deu um senhor gole. Claro, mas antes vamos sair. Nós três. Você podia chamar uns amigos teus, né, Tho? O celular da priminha tocou.
Era o meu tio, estava lá embaixo. Ela me deu um beijo na bochecha, outro na amiguinha. Quando estava saindo, se virou, Se comportem!

domingo, 15 de janeiro de 2012

Ballet

ela se levanta
e se põe a rodar
no silêncio
e no escuro

todo mundo a vê
mas ela está tão só
e gira
e gira

ela sorri
enquanto seus braços abrem e fecham
e ela se faz de bailarina
de olhos fechados

faz um movimento final
como se a música acabasse
as pessoas aplaudem
e ficam de pé

hoje ela é nova Ana Botafogo
ou a nova Natalie Portman
mas ontem ela era normal
vamos ver o que acontece amanhã

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Hank Moody

"Sure, she's done some crazy things, but I wasn't always an honest boyfriend - if she was nuts, I'd helped to get her there."
God Hates Us All, de Hank Moddy.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Fome

Mais ou menos um mês sem transar e eu já me sinto a Virgem Maria a espera de um filho de Deus. Um sacrifício divino, a abstinência sexual. Depois de um ano paradíssimo, relacionado às relações sexuais, e movimentadíssimo, relacionado às relações onanísticas, me vejo juvenilmente solitário. As vezes é difícil me imaginar como nos tempos de ouro, dias em que eu transava a torto e a direita, pois hoje eu sou um cara que não tem nenhuma representatividade social. Eu sou um estranho à sociedade. Não tenho muitos amigos. Não saio muito de casa. Não sei me divertir em grupo. Normalmente minhas diversões não passam de solidões prazerosas, recheadas de vinho ou filme ou literatura de boníssima qualidade. Não sei mais dançar, nem conversar, nem xavecar (acabei de procurar no Google qual é a pronuncia certa e me deparo com "Como xavecar garotas sem parecer um babaca", irônico), nem ficar bêbado. E nessa vida caseira, não pode se esperar muita feminilidade que não seja virtual. E por virtualidade não digo apenas pornografia, bastam as atrizes de belos sorrisos ou as fotos de belas pernas ou a caracterização de uma personagem em um livro qualquer. São nessas horas de desanimada solidão e necessidade em enfiar minhas partes em alguma bela fêmea que me dói o coração e me vem a lembrança da benção da ignorância sexual. Quando se é assexuado, não há nenhuma necessidade, basta um pouco de calor humano para que os órgãos se esquentem e se tornem vulgares e promíscuos. O cérebro fervendo à mil, imaginando poses e cenas, inventando sonhos quentes com gente que a gente nunca viu. Ah, que benção a virgindade.