segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

onze quilômetros de profundidade

a loucura
está em todos
os meus genes

de todos os lados
ela me transborda
e eu vejo
o que todo mundo vê

e isso é forte

forte como cicatrizes
como luz
como todo o mundo

a loucura
quebrando
todos nós

afortunados são os
que convivem
tão bem com ela

e alguns convivem
e as mostram como troféus
e as brindam
e o
público aplaude

outros lutam
porque a insanidade
pode ser um parque de diversões
ou o
próprio inferno

a gente tenta
assumir
responsabilidades
e qualidades
esperando
ser um ser
melhor
mas está boiando
nesse mar de loucura

cabe ao louco entender
se se
diverte
no mar
com seus amigos

ou se
usa a esperança
pra sobreviver uma sobrevida
esperando encontrar um pedaço
de terra
e comida
e amor
e calma
enquanto

afunda

em


si


mesmo

sábado, 6 de junho de 2015

Imunidade imunda

Eu amo o mundo
e o mundo me ama

um asteróide passa de raspão
mas erra seu caminho
e a curva limite que é a borda da Terra
não passa de um contorno de um enorme alvo azul

eu amo o mundo
e o asteróide explode
toda a vida que me ama
Deus e outros tantos seres etéreos esquecidos

Os oceanos agitados pelo impacto
e as ondas varrendo a superfície do globo
e o vento carregado de poeira e sujeira
escondem o Sol que outrora fora Deus

eles me amam e eu sei disso

o Sol me frita
eu cozinho por dentro
meu estômago em ebulição

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O princípio do começo, sem meio; só fim

tuas mãos em torno do meu pescoço
com o carinho do começo e do fim
um breve suspiro de inteligência
atribuída às consequências de respirar de novo

minhas mãos ao relento
na espera de um futuro mais simples
apertadas tão forte para que eu nunca largue
o meu presente

a lógica das religiões esquecidas
nos detalhes inconscientes
de uma sociedade
que conserva a
morte

o dever de agradecer por um novo dia
um dia frio
um dia escuro
um dia velho

o sono que repele as responsabilidades
com o mesmo ardor que o fogo
traz a palma
queimada

o fim do mundo
que chega antes do café da manha
e vai embora
antes de eu sair de casa

o fim do mundo
que me espera aqui
quando chego tarde
e vejo que pouco mudou

injustiça e repercursão
de memórias que custam a ser esquecidas

tatuadas na pele como borboletas
e corações
e unicórnios
e arco-íris

cores pálidas de um tempo hostil
a sujeira de um mistério viciado

o medo de sentir de novo
o pavor
de sentir
o cheiro
da morte

abaulado sob contornos
incertos
focado num universo complexo
e sem luz

antes de eu respirar mais fundo
já perdi o folego
respiro mais raso
e expiro consciente

traduz tudo isso
em jardas de especulações
imprecisas

me diz
que vai ficar
tudo bem

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Sobrevivência e salvação

A sanidade silencia o sabor de sentir

sábado, 16 de maio de 2015

O arbitrário conceito de resiliência

ando pelos meus pertences no chão como
quem procura a pedra certa para se pisar
percebo o tempo rápido demais
mais rápido do que eu

acho que a mente está vazia
enquanto o turbilhão de sempre
não se esforça em girar
e tornar-se espesso de informação

não me canso da informação
que vem como a chuva torrencial
e transborda as minhas horas
com toneladas de responsabilidades

roupas
sujas
meias
usadas
mochila
libros (en español)
e livros
e tênis
sujo
e o chão sujo
e a pele suja
de pó e vida e ressurreição e dominação

trabalho a essência
antes da forma
a essência de tudo
me roubando o tempo todo

ladroes e cleptomaníacos
lendo tudo o que tem em mim

palavras
perdidas
no
tempo

piso com cuidado
escolhendo os músculos certos
pra prover todo o equilíbrio

que vence
o prazer
de viver

sexta-feira, 8 de maio de 2015

O plebiscito dos plebeus

Somos uma horda de sobreviventes
avaliados como a nata do fracasso
julgados como o crime perfeito
o mistério sem solução

Um exército de humanos
aptos a respirar
e se alimentar
e pensar
e aprender
e a amar

Passo a passo num tortuoso
caminho
de bêbado
buscando a coerência
da existência
da vida

Merecem todo o respeito do mundo
atrapalhados pela meritocracia
revoltados pela coexistência
dos poderes

Todos indivíduos solitários
marchando em coletividades apertadas
prontos para reclamar para si
mais um dia

sábado, 25 de abril de 2015

Karma

Achei que fui eu.
"- Ele para no terminal?
 - Não.
 - Não vai pro TISAN?
 - Santo Antônio."
Um casal tira as suas dúvidas.
Ele é rude. Aparentemente puto com o atraso que tais perguntas vão gerar lá no ponto final.
"- Mas vai pro terminal?
 - Sim, claro."
Ele resmunga. Eu ouço ele resmungar. Eu sinto ele resmungar. O resmungo dele arranha minhas costas. Eu explodo como uma estrela. Longe e silenciosa explosão. Não viro pra ele.
"- Porra."
Ele diz bem alto, para que eu e o casal ouçamos.
O semáforo fecha.
Eu abro meu sorriso e cumprimento o cobrador. Converso e extraio dele toda a simpatia que seus jovens bigodes são capazes de fornecer.
Me sinto bem.
Achei que fui eu.
E numa rápida conferência, vejo que meu próximo ônibus está marcado para daqui uma hora e meia.
Sorrio de novo.
As maldades se multiplicando como um vírus.
Achei que fui eu.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Fidelidade

ela me olha uma vez.
eu nao desvio o olhar.
o meu olhar veio primeiro
depois veio ela
e numa aparente inconveniência
burlamos uma importante lei que impede que dois objetos ocupem o mesmo espaço.

o meu olhar
e o olhar dela
e por experiência em lutar por minhas terras
ela desvia o olhar.
olha de novo.
sorri.
passa a catraca.

passa um senhor
passa um cabeludo
passam pessoas até que o espaço se esvazie
e o movimento se torne paisagem

a vejo outra vez, agora no terminal

ela é bonita

estudo o tempo
e o trajeto até meu conforto

entramos no mesmo ônibus
ela primeiro
eu atrás

ela me procura
ela me encontra
ela sorri
respondo com um sorriso de olhos

sento lá no fundo.

me pergunto se quebro outras leis
e acostumado com a qualidade de ser um condolecente foragido
organizo em sistemas complexos quais sao prioridade

tudo legislado
certos e errados
sob leis e decretos e retificaçoes facilmente transmutáveis
respeitando dogmas e princípios
infelizmente os da sociedade

e daí me faço criminoso lá e cá

esqueci a cor dos cabelos dela
dela a do ônibus

fico com vontade dos cabelos
ora escuros como a sombra daqui na Lua
ora claros como a penumbra que nos deixa achar que estamos imaginando o resto do astro

será que manter o olhar e responder o sorriso me faz um criminoso?

nao consigo me concentrar no próprio livro.

os cabelos
ora grossos e pesados
ora finos e leves

imagino ela nas festas com amigos
os amigos dela
os meus amigos

imagino ela bêbada
gritando alto
gesticulando pra cima
aumentando sua pequenez
transformando-se numa fada barulhenta
uma fada de loucura

e imagino todos aqueles que sentem o que eu sinto quando eu a vejo
guardadas as devidas proporçoes

imagino o olhar sincero
a simpatia sutil

imagino ela como uma fada
sorrindo com orgulho de ser bela
bela como ela nunca precisou querer ser
mas que um continente inteiro de pessoas gostaria de ser
voando de lá pra cá
com movimentos graciosos feito uma dança de uma gata que se retira por falta de interesse

sorrio com essa ideia
fico achando que ela sabe ser bela
e sabe sobreviver nesse mundo estranho

fico achando que minha mente e a dela estao em plena sincronia
mas quem pode dizer o que pensa o outro?

vai ver ela nao voa como uma fada
nao seduz sem querer
nao sorri de orgulho

vai ver se ofende
e foge
e empurra
e sente saudades de mim
saudades como um protetor

nao queria esse tipo de saudades
queria a saudade boa

estou lendo o mesmo paragrafo pela quarta vez.
diz sobre o infinito. o deserto e o fundo do mar como o infinito.

concluo que o infinito é Deus
e que talvez Deus nao seja infinito

a ponte brilha
sempre brilha
como uma grande árvore de natal
que brilha o ano todo

vai ver somos nós
e nós estamos concluindo coisas erradas sobre a evoluçao da sociedade

nós

quem somos nós?

só vejo elevados que se expandem com o pulsar da cidade
as vias vazias se entortando pra chegar no mesmo ponto
uma corrida de células sedentárias de armadura até os dentes
vermelho e verde e carro e gente

quem somos nós?

pelo menos os elevados passam sobre as árvores

é claro,
elas devem se sentir amaldiçoadas por conviver com uma quantidade de sombra que de repente nao respeita mais a rotaçao dos astros
mas antes um ser amaldiçoado do que um nao ser

nao sei

vejo as árvores sendo destroçadas por escavadeiras
que estupram a terra
e planificam o monte

uma faixa para onibus
um progresso sustentável

nao ser

maiores veias
para mais células

chego a conclusao que nao gostaria de ver o que imaginei
ver no sentido de assistir
repleto de visao e consciência

e muito menos pequena ou severamente inconsciente,
a imaginaçao é a semente para todo fruto de pensamento

admito que gostaria que ela fosse a fada
mas nao na minha frente

longe de mim
enquanto eu nao puder me abraçar gostosamente aos braços dela

enquanto isso
deixo elas sorrirem
e elogiarem
e gostarem de mim

é o meu ponto
surfando em pé
vejo que a menina ainda está lá
e seus cabelos sao castanho claros

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Mega Sena

O céu brilha em luz roxa. A luz se desfaz. O céu volta aos seus monótonos tons de cinza. Desde não sei quando, procuro adivinhar quando o som vai chegar. Raio. Tempo. Trovão. E no segundo certo, eu diria: Klapaucius e o trovão soaria com a mesma força e poder que o furioso bordão "RAIOS E TROVÕES!" do Dr. Victor, tio de Nino, aquele do cabelo em pé. Mas as coincidências nunca tornaram possível o meu ato. De coincidência em coincidência, agigantando um espaço amostral, tal como um hábito comum de errar. Vai ver é por isso que não entendo dos pavores de raios e trovões. Raio. Tempo. Trovão. E o meu hábito de errar. KLAPAUCIUS! Não que eu estivesse esperando 1000 Simoleões na minha conta. A questão é crer ou não na sorte. E eu deixei de crer há muito tempo. Brinco com ela, sabendo do meu importante laço com o azar.
Certa vez emprestei o carro de um grande amigo. Os carros só emprestamos pros grandes amigos e pros amores e pra família. Pois no primeiro cruzamento, numa espécie de Klapaucius invertido, exatamente como um raio sob sol a pino, um motoqueiro atravessa a ponta do carro, saltitando três ou quatro vezes no seu touro mecânico prateado, até cair um tombo feio. As coincidências costumam ser assim por aqui. - 1000 $ subindo da minha cabeça como recompensa por existir ali.
Pois os céus em monótonos tons de cinza. Fico esperando a chuva. Não sou o maior fã das chuvas. É verão e eu já estou agasalhado. O céu brilha em luz roxa. A luz se desfaz. O céu volta aos seus monótonos sons de cinza.
Em voz baixa, falo um lento e imperceptível klapaucius. O mundo vibra. Meus tímpanos e a minha caixa toráxica vibram. A estrutura do prédio e as suas janelas vibram. Eu sorrio. Eu agradeço.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Aquele usual problema do Projeto Apollo

Foi-se meu tempo.
Fui visitar a Lua e me perdi.
Virei na esquina errada.

Os suspiros me atropelam.
As minhas ideias não me protegem.
Meu estômago arde.

Não sei dizer se é fome.
Ou vontade de morrer.

Sede.
De amor.
De sexo.
De água.

As ruas eu não conheço.
Sei que sou uma barata.
Vivendo pra comer de restos.

A Lua diz que me espera.
Perdi o meu assento.
Nem sei mais como sorrir.

Lá foi o meu tempo.
Fiquei preso no engarrafamento.
Com meus braços em cruz, apertados com corda.
O importante em receber chibatadas é nunca chorar.

O choro é o fim do orgulho.
O orgulho é a mãe das ideias.

Mente vazia.
Mentecapto.
Mentiroso. Sorri gostoso.

Mente cheia.
Transbordam fatos
e esquecemos do número exato de cigarros fumados.
E quem começou com essa merda toda.

Cristovão Colombo.

Índios escravos. Negros escravos. Brancos escravos. Meus avós escravos e meus pais escravos.
Escrevo. Escravo.
Escarro.
Estrago.

Fecho os olhos e busco voltar no passado.
Mudar tudo desde o começo.
Cortar o cordão umbilical antes da hora.

Sem comida.
Sem vida.

Não sei em quem dói.
Se em Jesus.
Omolú.
Ou São Sebastião.
Se é só azia, ou gastrite,
cirrose
câncer
ou morte.

Fecho os olhos e quero voltar pro futuro.

Que futuro é esse que não existe?

Erraram a data. Me jogaram pra longe.
Errei a Lua.
Entrei na
esquina
errada.

Esperança.