domingo, 30 de março de 2014

Megatons

I.
há uns dias
tinha sonhado contigo

logo no início do meu sono
eu já abria o meu peito
em sinceridade desesperada

Eu quero você
Quero demais

e já mais pra perto da manhã
você já sorria pra mim
gostando tanto de eu te gostar

e logo na manhã seguinte
fiquei namorando os teus ombros
e teu pescoço
e tuas orelhas

me perguntando como
eu poderia tocar os meus lábios ali
sem causar um alvoroço

Eu quero você
Quero demais

tudo vira poesia
o desejo
se torna poesia

poesia que eu nunca escrevi
com medo de espantar
essas borboletas de dentro do peito


II.
e com a força de um asteróide
em choque com a terra
o teu beijo explode em mim

e as poesias que tanto guardei
e as memórias que tanto inventei
e os sonhos que eu me apeguei

se tornam
sentimento
e sensação

como uma bomba atômica
que devasta tudo por perto
teus lábios me faziam querer ser sincero

Eu quero você
Quero demais

todas as palavras que eu reservei pra você
latentes
indo de lá pra cá
seguindo a dança das nossas línguas

poesia
sincera e urgente

que eu só queria dizer
que eu quero você

domingo, 23 de março de 2014

Eu sou a mosca que pousou na sua sopa

se tua pele surgisse de dentro de mim
eu não me sentiria tão só

você ebulindo de mim
ou eu de ti

não me importo em ter bolhas
ou ser a bolha

o que importa é o toque

mas tua pele chega à minha
de longe

tão longe quanto a lua
ou o fim do mundo

do toque, a ebulição da minha pele
e os teus olhos tão calmos
dizendo que pra você tá tudo bem

minha pele
que se expande e expulsa meu calor
na tua
parecem apenas
pernas de formigas
de mosquito
mosca

eu
que nem mosca
sentindo o teu gosto
enquanto você quer beber o teu suco
ou ler o teu livro
ou ver a tua aula
viver o teu mundo
que não é esse meu

só pra sentir
minha pele explodir
assistindo você
me espantando com as mãos
mal sabendo
quem eu sou

tenho achado difícil me imaginar
me mostrando pra você
como um pavão formoso
ou como um macho alfa de qualquer que seja a espécie
mas acho fácil imaginar meu corpo
elástico o suficiente para dar voltas e voltas e voltas
sentindo todos os meus poros
em volta de você

só que eu só olho
perto o suficiente
pra eu pousar
toda vez
que eu puder

sexta-feira, 21 de março de 2014

Sinceramente...

Parei de escrever porque os meus textos não são mais atuais. Eles não cabem mais nesse mundo onde as pessoas só assistem a paisagens magníficas e se relacionam com pessoas extraordinárias e amam os amores mais profundos e intensos já vividos. Onde a fotografia parece arte, mas é simples exposição da beleza: sorrisos bonitos em pessoas bonitas em lugares bonitos. É que eu tenho vergonha. Quero é contar do beijo que não virou sexo, mas memória e desejo, e desejo não trabalha no pretérito. Quero escrever da paixão que virou um toque na cintura. Um toque, só um toque. Quero expôr os meus pânicos ilógicos e os meus fracassos e o futuro e o passado e o presente. A vida sem filtro. Sem tarjas, nem pudores nem censura. Sem censura. Nu com os pés na terra, molhado de suor e água de chuva. Sozinho ou acompanhado, mas sincero. E o atual não permite sinceridade. A sinceridade assusta e machuca e corrói.
O atual é o lado bom da vida. O positivismo e o sucesso. O atual é o bom emprego e o bom carro e a boa bebida. O atual é sociável numa vida noturna mais cara que o necessário. E no meu mundo, as pessoas não estão satisfeitas com seus empregos e se irritam com o trânsito e sofrem de insônia. No meu mundo os relacionamentos começam e acabam e começam e acabam incessantemente.
Tenho vergonha em expor quem finge ser feliz demais. É que eu já fui triste. A tristeza eu conheço bem. As pessoas andam tristes demais. Uma tristeza inadmissível. É época de ser feliz. Tenho vergonha de me expor demais. Então os textos que não escrevo se empilham em intermináveis colunas, afogando meu cérebro em muitas ideias. E nenhuma delas é "13 motivos para você amar a vida". Eu passo a suprimir essas colunas. E elas adensam até perder toda qualidade linguística. Até que os meus textos se tornam conhecimento. Guardam-se pra sempre como trechos que sabemos de cor, sem saber qual é o livro e quem é o autor. Fico me perguntando se as ideias são minhas ou se já as vi antes. É que não pus em papel e não trabalhei na produção do texto. Maleando as palavras até que representem o que quero representar. O texto cru se funde a mim e vira consciência. Me sinto consciente. E quanto mais consciente me sinto, mais quero suprimi-los, entendendo que o meu texto não é atual. Meu texto é sincero.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Formigas

você tá aí
sentado nessa tua cadeira pequena
que te dá dor nas costas
sentado todo torto em cima do computador
organizando em paleta
escalas de inteligência
negros e brancos
homens e mulheres
milionários, CEOs, diretores, gerentes, chefes de gabinete, secretárias, o pessoal da limpeza
alfabetizados e analfabetos
ateus e crentes
evangélicos
candomblecistas
marginais
mulheres solteiras
bombados
viados
sapatas
travecos
crackentos
cheiradores
maconheiros
viciados em sexo
em televisão
em amor
em solidão
suicidas
otimistas
bêbados ocasionais e profissionais
sãos
santas e safadas
mães solteiras
adultos virgens
rockeiros
metaleiros
funkeiros
vileiros
bonitos e feios
todos menos inteligente que você
você o mais negro
ou mais branco
você que sabe
o zero absoluto da tua escala
e tuas louças na pia
são banquetes de formiga
e teu bolo em cima
do microondas
é das formigas
e tuas migalhas e teu lixo e teus suspiros
são das formigas
uma longa fila delas indo
da cozinha
ao quarto
entre fendas
sobre a mesa
desenhando em linha mutante a tua parede
dentro de você
sem que te tirasse
dos pensamentos
a ideia que você
é o mais inteligente dos seres vivos.

domingo, 9 de março de 2014

AAAAH... Nós somos, lá de São Carlos...

Eu nunca escrevi sobre o CAASO. É que eu acho que precisaria explicar o que ele é. Ou porque eu gosto dos meus textos distantes. É que eu não quero pôr o nome de ninguém. Nem mesmo o meu nome. Minha literatura é assinada pelo nome de Thomas Verskitsch. Não quero que o leitor acredite que eu, Eduardo, passei pelos episódios que costumo narrar em prosa ou poesia, mesmo se eu realmente tenha participado deles.
Mas eu creio que falto com respeito com um centro acadêmico que se tornou personificado, alvo de um sentimento real de amor. Sempre me envergonhei de ser brasileiro, não preciso explicar o porque, portanto sempre me indignei com o sentimento patriótico. A tal ponto de considerar ridículo o patriotismo norte-americano. Eu não me sentiria orgulhoso de ser americano. E de repente eu me sinto patriota de algo que nem é pátria. Minha terra adotiva, minha cultura. Meus novos valores.
Sinceramente acho engraçado. Sinto o que sinto e sinto que é surreal. Quase idiótico. Foi difícil ir embora. Eu senti que terminei um namoro. Enlutado com a morte de um relacionamento. No auge do nosso relacionamento. Quando eu mais o amava e mais queria o bem dele. E foi tão longo o luto. Tão sozinho eu fiquei. Por tanto tempo. Paciente. Esperando. Eu disse que vou embora e devolvi as chaves. Mas eu estava lá. Eu não fui embora rápido assim. O fim do nosso namoro foram dois meses de processo de adaptação. Mas faz tanto tempo. Eu sou assim porque ele me fez assim.
Que difícil é esperar. Esperar por uma nova pátria. Ou os vestibulandos são brasileiros? Os vestibulandos estudam. Porque eu não apoio enfiar o semblante num pedaço de terra e dizer que é meu. Com o meu exército inteiro, esperando a ordem para atacar, matar, saquear e estuprar. Eu não apoio os exércitos. Pelo menos não o meu. Que difícil ver a morte acontecer lentamente e a vida acabar em três suspiros. As pessoas crescendo a minha volta.
Sem pátria. Dono do nada. Dono da paciência e do silêncio.Vestido do meu uniforme. Camiseta amarela. Diariamente. Sem esquecer que o fim do nosso relacionamento significa mudança, crescimento, evolução. Esperando um futuro fruto das minhas melhores escolhas. Sem negar raízes, sem perder identidade, sem esquecer o que é amor.

Raça CAASO.