terça-feira, 30 de novembro de 2010

O herege

Inevitavelmente começou a sangrar.
Uma hora tinha de sangrar, isso é Justiça.
Que sorte, levantar-me e espantar-me
A vida é curiosa...

Já cansei de pensar nas tuas belezas alinhadas,
Tão docemente alinhadas.
Não tenha medo, não tenha medo,
Eu tenho medo...

É assim que termina?
Afinal, que cruel você se tornou.
Eu, sentindo falta das tuas mãos,
Enquanto você faz uma carnificina.
E antes você estava morta!
E antes eu estava vivo!
Você fica linda quando estou na merda.

Nossas almas tão agitadas.
Que tipo de orgulho é esse?
Se queimar a carne significa encontrar Deus...

(Baseado na música The Heretic, The Sound Of Animals Fighting)

domingo, 28 de novembro de 2010

Voyeurismo

Fui à cozinha pegar cerveja para o pessoal que estava na casa da Amanda. Ela entrou e parou na minha frente, entre a geladeira e eu. Todo mundo zombava de mim, pois a fama dela era de me dar selinhos. Ela sempre me dava selinhos. Quando eu queria um beijo, um abraço, um amor. Ela me dava selinhos. Olhou pra mim e deu o sorriso dela, só ela tinha aquele sorriso. Eu sorri. Ela me deu um selinho, depois outro. Tentei beijá-la, enquanto ela ia entrando na geladeira. Puxei ela dali, fechei a geladeira e encostei ela na parede, beijando-a forçadamente. Ela me empurrou e deu aquele sorriso. Uma merda de sorriso que eu sempre tento desvendar, mas eu nunca entendo o que ele quer dizer. Uma merda de um sorriso maravilhoso, talvez o mais lindo que alguém já tenha sorrido pra mim. Que merda de sorriso sem sentido. Ela me deu outro selinho e foi até a porta da cozinha. Olhou para o pessoal, que estava na sala ao lado, e disse Eu vou fechar aqui. E o cochichar e as provocações tomaram a casa, todos riam, ela também, menos eu. Não vamos fazer nada, só vou fechar a porta... É sério!, ela respondeu. Eu estava encostado numa porta sem trinco, que não dava pra lugar nenhum, ou dava, mas eu não sabia. Ela veio em minha direção e me beijou. Ela vestia um short branco, uma blusa verde decotada e uma blusinha cinza por baixo da verde decotada. E eu, pela primeira vez na vida, ganhei alguma coisa. Ela me beijava e não era mais um dos infinitos selinhos. Eu finalmente tinha o abraço, o amor. Me puxou e trocou de lados comigo, encostando as costas na porta sem trinco. O que tem atrás dessa porta?, perguntei. Nada, ela respondeu. Achei que era uma passagem pra Hogwarts, ou o quarto de um duende, eu falei. Que?, fez careta. Nada não, e beijei-a, enquanto riamos da merda que falei. Ela pôs a perna atrás da minha e tentou me derrubar. Eu me vinguei, derrubando-a no chão. Estavamos sobre o chão gelado, nos amando, sentindo que o mundo é belo. Estou com frio, vou ver se tem um edredon ali na área de serviço, ela disse. Trouxe um lençol, que estendeu no chão, e uma coberta de lã vermelha. Improvisamos uma cama e ela tirou o short, eu tirei meu moleton e minha camiseta branca. Nos beijávamos e o pessoal entrou na cozinha, tiraram uma foto e sairam. Eles riam. Nós também. Eu tinha meus motivos.

Clarice

Sinto cada vez mais que
Você me esqueceu.

O último verso

O amor pode ser uma bosta.
E todo mundo têm a sua chance de amar.
Mas eu tenho essa merda de ser escolhido pelo pior.
Essa merda de ser o pior dos piores e se sentir um bosta.
O amor é uma bosta.
Um inferno tão profundo.
Teus olhos me transformam num fantasma.
Que merda estou fazendo aqui?
Porra, me apaixonei pelos teus malditos olhos.
Eles me transformam numa merda.
Uma merda que te segue até o fim.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Saudade

Estava deitado na cama, no escuro. A tv estava ligada, mas eu não assisto tv. Ela apareceu no meu quarto e sorriu. Sua pele branca brilhava com a luz do televisor. Oi, ela disse. Eu sorri. Sentou na borda da cama e se inclinou sobre mim para me cumprimentar. Beijou o canto da minha boca. Eu sorri. Desculpa, ficou vermelha, de novo. E me deu um selinho. Desculpa de novo, dessa vez riu. Sua franja cobria metade do seu rosto, as pontas do cabelo dela tocavam meu peito quente. Beijei-a. O beijo mais longo e caloroso que eu jamais dei. Não tão longo, nem tão caloroso quanto ela merecia. Fiz meu melhor. Lá estavamos, desarrumando a minha cama. O edredon caiu no chão, o meu pé ficou preso nos lençois. Cai no chão frio e lentamente a puxei para cima de mim. Tirei a blusa branca decotada, enquanto ela mordia meu lábio inferior e arranhava minha barriga. Os olhos semi cerrados dela me fascinavam e eu era o rei do mundo, ou do meu coração, eu era feliz. Ela parou de me beijar, me olhou e sorriu. Oi, eu disse. Estava com saudades, ela respondeu. Eu também, respondi.

sábado, 20 de novembro de 2010

Palavras

Eu gosto do barulho do teclado quando digito rápido. Tec-tec-tec. E isso me motiva a escrever. O som suave do tec-tec de plano de fundo, atrás das minhas músicas calmas, ou não. Ah, se minha cabeça fosse mais auto-suficiente e conseguisse organizar os pensamentos jogados. No fundo, meu cérebro é uma pasta líquida que fica girando e girando e girando, como a descarga de uma privada, só que a merda não vai pra nenhum lugar, fica ali, girando e girando e girando. De vez em quando, eu vomito a merda toda e: Ta-Da, eu escrevi. Mas eu escrevo tão pouco. Meus dedos agitados sempre pedem mais, eu sempre quero mais. E eu sei que se meu cérebro fosse um armário cheio de gavetas com meus pensamentos organizadamente guardados, eu escreveria mais, mais e melhor. Mas não, tenho que viver com essa tontura. Girando e girando e girando.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Duas caras

Vinte e um anos e eu estava me sentindo um velho solitário. Um velho sem amigos, sem amores e sem histórias. As pessoas me cansavam e eu não conseguia sorrir para qualquer um, dia após dia. Os amigos não surgem dos bueiros, loucos para inflar nossas vidas medíocres com amor e amizade.
As mulheres sempre me foram um problema. Me apaixonei pelas erradas, outras mais erradas se apaixonaram por mim. Um enorme problema de logística. Toda vez que transava por transar, tocava um coração e a minha inconsequência se tornava alvo de um amor tolo. Elas se apaixonavam por um pênis que vinha pendurado num cara magro. Pior que o pau nem era tão grande e o cara nem era tão legal. Quando eu me apaixonava, era o menino doce e bonitinho, mas as mulheres se assustam com esses tipos. Os caras frouxos sempre se machucam e elas nunca querem machucar ninguém. Aliás, acho que pouca gente têm esse intuito. Lá estava eu, apaixonado por uma louca, enquanto ela me tratava como um doce menino frouxo. Me faltam colhões nessas horas. Só sou homem quando me convém dar uma gozada. Eu e a minha tara por loucas. E as loucas e suas taras por fio terras. Porra, tem alguma coisa errada, tem que ter alguma coisa errada. E acho que é só comigo, porque ninguém grita. Parece que estou só eu nesse mar de solidão. Que merda, apaixonado de novo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Amor, sexo e masturbação

Passei muitos meses transando. Transando várias vezes por dia. Isso acabou comigo. Me fez um peso morto nesse país fodido.
Outrora, o sexo me era uma religião. Era um vício repleto de magia. Eu era um cheirador de bocetas, um fumante de línguas. Um drogado inconsequente marcando nomes num caderno de vaginas para a contabilidade. Mas o excesso de sexo fodeu comigo. Hoje não sei o que as pessoas veem nesse ato incoerente de enfiar seus sexos nos sexos alheios. A população toda se esfregando em prol de mais um orgasmo. Uma orgia gigante que tem o mesmo significado que aquela masturbação no banheiro sujo de casa. É a mesma solidão, só que com cheiro de suor e saliva.
Não me lembro de como é fazer amor. E acho que quase ninguém lembra como é fazer amor. A porra do amor é uma neurose estressante desnecessária. Ninguém, dessa orgia insana, está disposto à neurose. Só queremos seguir rezando e fodendo e nos drogando. A mesma merda de sempre. Todos nus nas suas masturbações coletivas.

Tristeza

Finalmente eu estava infeliz. Depois de meses fodendo com o Brasil e tornando a vida das pessoas o caos, eu estava infeliz. Finalmente cheio de lágrimas nos olhos e uma dor intragável no peito. A solidão finalmente me doia. E esse meu demônio ria-se. O mundo nem sempre é justo e eu concordo com esse jeito dele ser. Eu nunca pedi para que o vazio se tornasse cheio, ou para que eu fosse curado. Só queria continuar a viver. Mas ganhei esse peito ardido, essa explosão infâme de sentimentos infâmes. O vazio chupou a minha felicidade, ou a minha vida, pois a felicidade não me era presente. Não era feliz, nem infeliz, nem nada. Eu era um ser perfeito, finamente perfeito. E agora sou um mendigo carente. O mais triste dos solitários sentindo o medo de todo mundo: morrer assim, sozinho.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A mais nobre dor

Eu nunca tinha dormido tão bem.
Nadando em desejos e vivendo sonhos.
Esquecendo que o mundo é a bosta que é.
Acostumado com tudo isso.

Me sentindo bêbado e chapado.
Encarando as pernas e os lábios.
Inutilmente encarando os lábios.
Me sentindo cheio, mentirosamente cheio.

Eu já tinha me acostumado com o cheiro dela.
Com o cabelo preto dela tocando o meu rosto.
Com o lábio desenhado, o nariz perfeitamente fino e arrebitado.
Eu tinha me acostumado com os lábios dela tocando os meus

Eu tinha me acostumado com a loucura dela.
Minha sina, as mulheres malucas.
Muito lábio e pouca saliva, nem tudo é perfeito.
Me acostumei com as gargalhadas e a felicidade.

Eu realmente não nasci pra isso.
A solidão é minha melhor amiga.
E todo ser humano nasce pra isso.
A solidão é o medo de todo o mundo.

Sei que não nasci para evolução.
Todo homem é feito para isso.
Para procriação de uma espécie decadente.
Sou um fardo social, um peso morto.

A vida é gelada, assustadoramente vazia.
E nós, os solitários, nos agarramos a faíscas momentaneas.
Tolamente esperando que essa nobre dor suma.
Mas a solidão faz parte de nós e as pernas brancas e os lábios não vão nos salvar.

A vida é gelada e meu coração quente sente dor.
Sem a loucura dela.
Sem os beijos dela.
A mais nobre dor.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Corso

Muita gente morre antes de morrer. E morre há muito tempo. Tempo suficiente pra perder uma vida. Pra perder um amor. Um amor vale muita merda. E a gente vive essa merda toda, cheia de amor e cheia de merda. A gente vive, enquanto eu olho tuas pernas finas. Meus olhos me enganando e me enxendo de uma vida desnecessária. Uma vida cheia de estupidez.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Embriaguez

Eu nunca escrevi bêbado, mas porque não a tentativa? Bukowski escrevia bêbado. Muita gente vive bêbado. Acho que há um certo glamour nos vícios. Acho que há charme no alcoólatra. Acho que há charme no fumante. Eu fumaria, caso suportasse o gosto nojento do tabaco na minha boca. Eu fumaria, caso não tivesse problemas de infância com cigarros. Acho vícios bonitos, pois vícios deixam as pessoas mais humanas. Elas tentam se tornar deuses sem comer carne, ou tentando ser celibatários, ou fingindo ser boas. Mas todas elas são assassinas e hipócritas. Os vícios tiram essa maldade das pessoas, as tornam pessoas de verdade.
Pois enfim, vim declarar meu ódio ao amor, pois é o melhor que eu posso escrever. Talvez seja um vício, como o álcool ou como o sexo ou como outro vício qualquer. O amor é lindo, desde que se esteja de olhos fechados. Eu, de olhos fechados, tocando suas pernas finas, sentindo seus pêlos curtos e loiros, enquanto você sorri lindamente. Eu sei que você sorri. Meus olhos fechados conseguem sentir seus lábios acanhados se abrindo. Você toda se abre. Seus lábios, suas pernas, seu sexo, seu coração. Todos abertos para mais um salto às cegas. Você e todo mundo, prontos à coleção de dores e inconveniências. O amor serve para esses sofredores que não temem o sofrimento. O amor não me serve. Prefiro a solidão e meu cheiro e minhas manias. Sem cheiros e manias alheias. Sem amor ou sentimento. Sem a porra do sorriso alheio, só o meu. O amor acaba conosco e nos faz otários solitários. E vivo eu, sozinho, mas não otário, pelo menos assim penso eu. O amor como todas as armas me furando. O amor como um multirão de comunistas em prol duma utopia maior. O amor como milhões de anos de inexistência. O amor mais tolo. A infantilidade nos nossos corações. A dor nos nossos corações.
E o sexo, que se foda. O importante, é amar. Eu espero que nos encontremos no final, como as rugas encontram todo mundo. E dançaremos de novo, e de novo e de novo.

O Porco

Arrotei bem alto.
- Hahaha. - Ela riu.
- O que foi?
- Adoro quando você arrota.
- Quê?
- Acho engraçado.
- Não acha nojento?
- Por que acharia nojento? Acho engraçado. - Sorriu.
- Você é maluca.
- Por que?
- Porque você gosta dos meus arrotos.
- Ai, Thomas, você é ridículo - Continuava a sorrir. - Eu gosto de tudo o que você faz.
- Você é maluca, muito maluca.
- Tho, te amo.
- Se eu matar alguém, vai continuar a me amar?
- Claro que vou.
- E se eu deixar de arrotar?
- Não sei. Vou sentir falta dos arrotos. Mas não é por isso que vou deixar de te amar.
- E se eu te trair?
- ... - Parou de sorrir.
- Han?
- Thomas, não brinca com essas coisas.
- Vai deixar de me amar?
- Você é um idiota.
- E você é maluca!
- Seu porco. - Saiu do quarto.
- Eu também te amo. - Disse pra mim mesmo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Amor, o Criador nos deixou

Sempre achei que meu problema fosse esse meu vazio, mas a verdade é que eu nunca o tinha vivido por completo. Sempre foi um vazio com um quê de conteúdo, logo, não era vazio porra nenhuma. Depois que acabei o namoro com uma louca, me tornei vazio por inteiro, completamente vazio. A louca me amava infinitamente enquanto eu estava apaixonado pelos melhores sexos da minha vida. O amor é foda, pode acabar com a vida de muita gente saudável. E a louca era louca e eu estava em constante perigo. O meu vazio era cheio de sexo e medo de morrer. Logo, não era vazio porra nenhuma. Mas eu sobrevivi. Vivo e batendo punheta. Sem meu melhor sexo e sem o medo de morrer. Sem nada. Sem saudades ou sentimento de culpa por jamais ter amado. Só com um vazio completo. Um vazio seco e obscuro. Sem dor. Sem medo. Sozinho e vazio, como um Deus inabalável, como uma divindade superior livre dos problemas da humanidade. Sem humanidade. Vazio.

domingo, 7 de novembro de 2010

Curitiba

Eu amo Curitiba. Um amor maior que todos os amores. Mas uma coisa me enoja nessa cidade maravilhosa. Pode parecer idiotice, ou viadagem, como quiser entender... Mas a beleza das mulheres dessa cidade me irrita. Todas elas belíssimas e gostosíssimas e superiores. Todas elas sorridentes e charmosas com seus cabelos lisos, seus olhos pintados e seus cílios bem pretos. Todas elas usando calças deliciosamente justas e blusinhas brancas decotadas. Todas elas inalcansáveis enquanto eu vivo essa minha incoerente, ainda que merecida, solidão. Sozinho como todo mundo nesse mundo. Mas acima de tudo, triste, por jamais ter sentido o gosto das salivas dessas belíssimas mulheres que Curitiba ostenta. Curitiba belíssima. Curitiba que esfrega na minha cara a minha incapacidade de caçar. Curitiba que me mostra que de homem, só tenho o pau pendurado. Curitiba da minha solidão.