quarta-feira, 3 de junho de 2015

O princípio do começo, sem meio; só fim

tuas mãos em torno do meu pescoço
com o carinho do começo e do fim
um breve suspiro de inteligência
atribuída às consequências de respirar de novo

minhas mãos ao relento
na espera de um futuro mais simples
apertadas tão forte para que eu nunca largue
o meu presente

a lógica das religiões esquecidas
nos detalhes inconscientes
de uma sociedade
que conserva a
morte

o dever de agradecer por um novo dia
um dia frio
um dia escuro
um dia velho

o sono que repele as responsabilidades
com o mesmo ardor que o fogo
traz a palma
queimada

o fim do mundo
que chega antes do café da manha
e vai embora
antes de eu sair de casa

o fim do mundo
que me espera aqui
quando chego tarde
e vejo que pouco mudou

injustiça e repercursão
de memórias que custam a ser esquecidas

tatuadas na pele como borboletas
e corações
e unicórnios
e arco-íris

cores pálidas de um tempo hostil
a sujeira de um mistério viciado

o medo de sentir de novo
o pavor
de sentir
o cheiro
da morte

abaulado sob contornos
incertos
focado num universo complexo
e sem luz

antes de eu respirar mais fundo
já perdi o folego
respiro mais raso
e expiro consciente

traduz tudo isso
em jardas de especulações
imprecisas

me diz
que vai ficar
tudo bem